quarta-feira, 21 de março de 2012

Amesterdão

Estávamos em 1979, numa pequeníssima ilha a cinco quilómetros de Amesterdão…

A história seria verdadeira se começasse assim, mas talvez demasiado longa.

Seja como for, estava lá, nessa altura, e foi nessa altura que um médico qualquer, a quem me queixei de dores nas costas, me atirou com o veredicto e quase me insultou por ser portuguesa e ter certas manias que só os portugueses tinham – suspender a toma da pílula para “descansar”. Quem, em seu perfeito juízo faz uma coisa dessas?! De que país vinha eu? E se não disse, de que buraco, foi por sentir alguma consideração, mas a palavra estava lá que eu bem a senti. Como bom holandês, escandalizou-se com a minha surpresa. Afinal que pensava eu que aconteceria?! E eu, demasiado tenra para a realidade, baixei os olhos e escondi a emoção que me rebentava o peito. Pense bem, antes de decidir, dizia-me ele. Mas eu já tinha decidido. Estava agora a caminhar num trilho de um só sentido e só pararia no fim, quando o meu filho nascesse. Esse filho, tão pequenino e já tão meu! Parte de mim.

São momentos únicos estes, momentos que se revivem sempre que nos multiplicamos, momentos contraditórios por isso mesmo – porque se revivem, apesar de únicos.

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