Três livros publicados não fazem de mim uma escritora mas 17
de trabalho com jovens fazem de mim uma educadora. Podia até ter descurado a
formação. Quantos professores não existiram por aí, a dar aulas nos liceus sem
uma licenciatura, quantos?! Mas não descurei. Nunca deixei de me atualizar,
envolvi-me com as mais diversas formas de formação, tenho sido uma aluna
constante e persistente, ingressando aqui, saindo de acolá. Participei em
cursos de formação que dariam direito a pós-graduações se eu as tivesse na
altura, as graduações, mas a minha vida tem sido feita ao contrário e a
licenciatura acabou por vir depois dos cursos, pelo que poderei, com
propriedade, dizer que tenho algumas pré-graduações, tão válidas como se fossem
pós-.
Gosto do que faço e, se de nada servisse a simpática média
com que acabei uma licenciatura em educação, teria sempre o ónus dos resultados
que fui obtendo ao longo dos anos e a sabedoria que fui acumulando, porque se
há coisa que sou, e isso ninguém me tira, é inteligente. Exatamente. Sou uma
pessoa inteligente e não tenho vergonha de o dizer. E, se por vezes a
inteligência me traz alguns amargos de boca, outras há em que as vantagens são
grandes. Não fora esta modéstia que cultivo desde sempre por a ter como
excelente alicerce de caráter e eu estaria hoje muito melhor do que aquilo que
estou, na perspetiva geral do que é estar bem.
Pois é, tenho-me mantido no meu canto, dedicada àqueles que
estão ao meu alcance, silenciando os livros que escrevi, os projetos em que
participei, as lutas que venci…por modéstia. E por modéstia aceito algumas
desconsiderações vindas tantas vezes de quem ainda terá de comer muito bife
para me tocar os calcanhares.
No entanto, as ações ficam com quem as pratica e eu vivo
muitíssimo bem com as minhas que são, sem qualquer sombra de dúvida, motivo de
orgulho.
E se hoje quebro este silêncio. Se hoje atiro às urtigas a
minha modéstia. É porque sinto que chegou o momento de chamar a atenção
daqueles que podem para o facto de existir aqui alguém que sabe. É porque sinto
que chegou o momento de chamar a atenção daqueles que podem, que existe aqui
alguém que também pode fazer a diferença. Alguém que está disposto a aplicar
tudo o que tem aprendido, e que é muito, ao serviço de quem precisa e que mais
não pede do que uma vida digna, que é como quem diz, nem cobra sequer o mesmo
que muitos bem menos capazes mas muito mais exigentes. Alguém, pasme-se, para
quem mais importante do que ser abastada é ter a certeza que contribuiu para o
progresso e para o crescimento humanos.
Meus senhores e minhas senhoras, tenho no papel um projeto educativo
inovador, capaz de recuperar para a vida social, escolar e familiar, muitos jovens
que sozinhos não o conseguirão fazer. Tenho na cabeça mais alguns projetos
capazes de aprimorar essa minha intenção – a de ajudar os mais novos porque
deles será, não o reino dos céus, mas este aqui da Terra, e seremos nós,
aqueles que os (des)ajudámos, a usufruir das capacidades que com eles
crescerem. Valerá a pena apostar em mim.