segunda-feira, 29 de abril de 2013

Os Led Zeppelin e eu



Não deixa de ser estranho ver o Robert Plant tão velho, comovido, espetador de uma pequena parcela da sua obra. Como não deixa de ser estranho ver a barriga da minha filha a crescer de dia para dia e olhar-me no espelho e perceber a passagem do tempo.
 
Mas nada suplanta a alegria de constatar que vivi tempos de criação. Que a minha juventude foi passada em tempos de mudanças profundas e que obras como esta que aqui é homenageada, e grupos como este, que aqui é homenageado, contribuíram para a pessoa que hoje sou e para a profundidade do que hoje sinto. Foram eles, e outros como eles, que me ensinaram a pensar e a desejar.
 
And “it makes me wonder” se a minha neta, e todos os netos de todos aqueles que comigo partilharam a juventude poderão dizer um dia que viveram, e contribuíram, para mudanças maiores e melhores do que aquelas de que nós fomos capazes. Quero acreditar que sim.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Depois da tempestade...

Estamos praticamente no final da semana e o meu último texto, cheio de desabafos tristes, já tem mais de 96 horas. O que é muito, visto em horas que é como deve ser visto e não em dias. Um dia tem 24 horas, como toda a gente sabe, e muito se passa nesses 1440 minutos. É por isso que não podemos medir o tempo em dias, o tempo que realmente interessa, evidentemente, aquele em que nós pesamos no mundo e o mundo se faz pesar em nós, deve ser medido em horas, em minutos ou até mesmo em segundos.
 
Aliás, o tempo que interessa é tão repentino que dura um segundo. Como dizia a Alice de Lewis Carroll, a eternidade dura isso mesmo – um segundo. Temos, portanto, 86 400 hipóteses de eternidade cada vez que a Terra dá uma voltinha sobre si mesma. E é por isso que já passaram muitas eternidades desde que aqui escrevi o último texto, cheio de desabafos tristes.
 
Dessas eternidades tenho a destacar um considerável aumento das sorridentes, que só podem significar a progressiva adaptação da minha progenitora, e a capacidade que ela afinal tem para ser feliz, sendo que, para tal, bastará o meu ligeiro afastamento, o que me leva a uma outra conclusão – pelo menos metade (50% para ser coerente com a linguagem desta miscelânea que tenho estado para aqui a escrever) das eternidades mais tristes é da minha responsabilidade. Ou isso, ou o milagre que o sol faz cada vez que se decide a inundar-nos de vitamina D.
 
Vai-se a ver e muitos dos momentos mais tristes não são senão falta de vitamina D.
 
Já agora - bom feriado.
 

domingo, 21 de abril de 2013

A minha mãe e eu

O segredo não é tão taxativo quanto eu gostaria que fosse. Não basta, para viver bem, afastarmo-nos o mais possível do que nos faz mal e aproximarmo-nos do que nos faz bem, se bem que isso é importante já que tanto um como outro tendem a formar uma espiral, e espiral por espiral antes a do bem do que a do mal.
Não se pode, no entanto, descartar de ânimo leve tudo o que nos aborrece, nos atormenta ou nos suga o ânimo porque, infelizmente, nem sempre essas coisas vêm de longe, por vezes, eu diria até muito frequentemente, elas vivem ao nosso lado, acompanham-nos uma grande parte da nossa vida e a elas une-nos um amor incondicional que por vezes se confunde com raiva e até mesmo com ódio. Os pais, disse-me uma vez uma querida amiga, a gente leva-os para a cova, de tal forma se nos entranham na carne.
Assim, dei comigo a pensar, como de resto sempre faço quando a saída não se apresenta fácil aos meus olhos, que provavelmente deveria encontrar neste incómodo, chamemos-lhe assim para não ferir suscetibilidades, que a minha mãe jurou infligir-me, inconscientemente sem dúvida, jura que, aliás, tem cumprido escrupulosamente, eu diria mesmo que em certas alturas – devotadamente -, mas dei comigo a pensar, dizia eu, que provavelmente eu deveria encontrar neste incómodo uma oportunidade de crescimento e de aprendizagem.
Não há dúvida que quem age assim precisa de ajuda. Se eu estou ou não à altura de a prestar? Sei que não estarei. Que não estou. E sei-o porque ando há anos a tentar sem ver resultados, muito pelo contrário – com a idade a coisa está a refinar e cada vez mais a minha mãe me atormenta, todos os dias, mostrando-me sistematicamente o que a vida tem de mau, a dela, a minha, a de todos, e encontrando sempre um ou mais problemas daqueles mesmo bicudos e prementes, que ela não sabe, não pode ou não quer resolver sozinha e para os quais precisa de mim como de água para a boca, não de pão que é coisa sem a qual até se consegue viver, mas de água.
A minha mãe tem sido mestre no jogo da manipulação, aquele jogo que se joga com a culpa e com os medos que na verdade não existem a não ser na nossa cabeça, e que quem joga sabe explorar como ninguém. A minha mãe é perversa, e a única atenuante que tem é o facto de nem ela saber o que isso é e, nestas questões, ao contrário do que diz a lei, quero acreditar que o desconhecimento é o suficiente para ser declarada a absolvição do réu ou, neste caso, da ré.
Perante isto, e como as hipóteses que tenho de escapar são escassas, o melhor mesmo é continuar a tentar e aprender, isso sim, a alhear-me o suficiente para me tornar imune à manipulação. Para tal, preciso de perceber que o amor que sinto por ela não me obriga a acudir-lhe cada vez que ela dá um ai, muito pelo contrário, preciso de o usar para a ajudar a crescer. Em suma, e tal como suspeito há muitos anos, tenho de lhe fazer a ela o que fiz com os meus filhos, o que faz de mim a mãe da família. Uma mãe órfã, evidentemente.

sábado, 20 de abril de 2013

O público e o privado

Rodeados de muros, portões e arames não temos como fugir das estradas sem passeio, estradas que vivem como se nós não existíssemos, estradas de automóveis grandes, médios e pequenos, de motociclos a motor, só a motor porque sem ele não existe escapatória. Estradas sem passeios. Campos vedados. Caminhos fechados.
Vivemos no campo sem dele podermos desfrutar porque tudo o que nos rodeia a alguém pertence. Não existem praças públicas aqui, neste lugar. Só propriedades. Grandes propriedades na maioria dos casos mas até as pequenas se rodearam de muros e fecharam as cancelas. Será medo? sovinice? Antigamente as áreas rurais eram obrigadas a ter caminhos entre propriedades. Chamavam-se serventias. Hoje adentra-se uma e recua-se ao fim de alguns metros, muito poucos – o caminho está vedado. O caminho que nem caminho é já. Mais do que coberto de vimes, de folhas, de lixo arremessado que por vergonha se vai escondendo debaixo do manto ainda verde, nem caminho é já. Os vimes, de tão altos, formam uma espécie de túnel que não demorará muito a esconder o sol. E isto nuns escassos metros!
Há algo neste lugar que me faz lembrar o caciquismo. Um caciquismo decadente, escondido atrás de muros, a viver no meio de uma vastidão de terras por arar, onde as ervas daninhas crescem e só os malmequeres e as papoilas se mostram capazes de contrariar a miséria que das janelas as olham e pensam, meu Deus, se aquela terra fosse minha!

O que me apetece

Fazes sempre o que te apetece, disse ele num tom descontraído depois de me ter tentado seduzir com programações antecipadas e eu lhe ter respondido que claro! Se me apetecesse. Até porque amanhã será o dia, o único da semana, em que eu farei questão de fazer o que me apetecer. Fazes sempre! Atirou ele, sorrindo, bem-disposto.
Não é verdade. Não é verdade que faço sempre o que me apetece. Quem me dera! Mas é verdade que nunca, ou quase quase nunca, faço o que não me apetece. Não faço sacrifícios, por ninguém. Não me violento. Não faço favores. Tudo o que faço faço com gosto, mesmo que seja para outros. Especialmente se for para outros. Sendo claro que os outros não serão quaisquer uns.
Não faço sacrifícios. Não acredito em sacrifícios. Quem os faz, cedo ou tarde os cobrará e eu não quero que ninguém me fique a dever coisa nenhuma. Posso não conseguir tudo o que quero, mas tudo farei para chegar a um final feliz.
Não faço sempre o que me apetece, é verdade. Mas faço quase sempre. E quando não o faço, tento. E quando não consigo, fico pior que estragada e não espero para cobrar, cobro imediatamente, não vá a coisa azedar como vejo que acontece a tanta gente por aí – velhos azedos, arrependidos, frustrados. Eu, hem!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ei-lo!

O primeiro casaco de algodão que esta avó fez para a primeira neta que chega lá para os princípios de Agosto.
 
Acabadinho de fazer. Espero que a Amália se sinta feliz dentro dele.

Sejam generosos

É muito ténue a linha que separa a poupança da avareza. É preciso ter cuidado para não a atravessar já que a poupança nos enobrece, quase tanto como a generosidade, mas a avareza amesquinha-nos e denigre-nos.
 
Mesmo em tempos de crise, cultivar a generosidade, ao contrário do que nos possa parecer, abre-nos espaços que, pelas leis do universo, mais cedo ou mais tarde serão preenchidos com tudo aquilo que precisamos.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sofra quem quiser. Eu sou feliz.

Enquanto à minha volta o mundo ameaça ruir, eu penso nos meus filhos, no meu genro, na neta que está para vir e sou a pessoa mais feliz do mundo.  

sábado, 6 de abril de 2013

Da criação, da imperfeição e do envelhecimento

A criação está longe da perfeição. Longe. Muito longe. Eu diria mesmo que está às avessas. Ao corpo não deveria ser permitido envelhecer. Já ao espírito, deveria ser dada a virtude de assimilar todos os ensinamentos da vida de forma a com eles poder crescer, crescer até se transformar em algo etéreo, capaz de abandonar o corpo, que nunca o traiu, de livre e espontânea vontade.
Ao corpo não deveria ser permitido o envelhecimento. Este fraquejar constante que o peso dos anos empurra mais e mais em direção à terra quando o espírito ainda mal começou a andar.
Ao corpo não deveria ser dada a permissão para envelhecer porque de momento não me ocorre dor maior do que aquela que acorda, sempre que a boca dos meus pais se abre para se queixarem de todas as limitações que o peso dos anos lhes tem trazido. Não me ocorre dor maior do que aquela que acorda quando nos olhos que me olham reina a confusão, a dificuldade e todas as limitações do mundo. Não me ocorre dor maior.

A não-evolução

Continuamos a insistir naquilo que os outros devem ser e a alimentar expectativas de que um dia serão o mesmo que nós, pensem como nós, sintam como nós, em vez de alimentarmos a capacidade de aceitar o que é diferente, ainda que não o compreendamos.
Continuamos a sentir-nos angustiados com esta incapacidade mas firmes nas nossas convicções. Certos de que o erro está do outro lado – nunca do nosso – porque o nosso cresceu connosco. Tem a apoiá-lo toda uma vida, um mundo de experiências que afinal vivemos apenas com o que somos, e nunca com os olhos postos naquilo que existe de diferente.
Continuamos iguais a nós mesmos.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Verdade

Eu sei que nem devia escrever. Uma pessoa deprimida não deve escrever para os outros para evitar o risco de contágio e, qui ça, epidemia. Mas, compreendam, escrever é para mim uma forma de catarse. Se não o faço rebento, apesar de ter consciência que, nestas circunstâncias, nem sequer o faço bem feito ou digo coisas por aí além, mas vocês, que poderão eventualmente estar aí desse lado, têm melhor remédio do que eu – podem não ler, enquanto eu, se não escrevo...enfim, rebento.
Em boa verdade não sei para que lado me hei-de virar. Toda a gente opina em todo o lado, incluída estou eu no molhe, e cada um desabafa aquilo que vê, que vive, que sente apesar de, como me dizia ontem uma amiga muito querida, os pontos de vista variarem tanto quanto variam as possibilidades de verdade e, acreditem, são inúmeras, o que varia muito pouco é o número de pessoas que tem consciência disso e aceita abrir a mente para possibilidades estranhas aos seus próprios olhos.
Decidi, assim, fazer todos os possíveis por abrir a minha mente embora precise, claro, que me expliquem os pontos de vista tintim por tintim uma vez que serei sempre uma novata naquilo que os meus olhos não veem. Por outro lado, decidi também concentrar-me mais nos meus instintos a fim de tentar conhecer melhor as minhas verdades não ande eu a ser enganada por estímulos pontuais e cega por instintos de sobrevivência sabe-se lá de quê!... É que reagir é mais fácil do que agir, pelo menos para mim, e nem sempre mais delicado…
Para pôr em prática este meu propósito olho o céu, que está azul que se farta, pelo menos agora, pelo menos por aqui, e interiorizo que a Primavera está aí e que essa pode ser a minha verdade de hoje. Verdade, aliás, que me acalenta a esperança da chegada do calor. No entanto, o embaciado das janelas diz-me que a temperatura baixou e que este frio, sempre polar porque o frio é assim mesmo, não há meio de desaparecer. E assim fico na mesma, a braços com uma meia verdade, ou mesmo uma não verdade, que é aquilo com que andamos a viver sei lá há quanto tempo convencidos que não senhor, estamos em poder Da Verdade, aquela, a única, a verdadeira.
E o vento, meu Deus! o vento!
 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O esquecimento de Platão ou, onde raio fica a saída da caverna?!

Estou por um fio. Aliás, creio mesmo que estou por um fio há anos. Provavelmente desde os 16, ou quem sabe, antes ainda. Eu sim, tenho vivido no fio da navalha. Atiro-me para a frente para mostrar que não tenho medo de nada, quando acordo todos os dias com o terror instalado no peito, do lado do coração. Por vezes, quase sempre, apanha-me o estômago e o início da garganta. É um terror que agita tudo o que existe por dentro. Um terror negro, semelhante ao que se sente quando se cai num lugar escuro e frio. Não que alguma vez tenha caído num lugar escuro e frio, mas não me surge outra comparação – é como se já tivesse (caído).
Estou por fio, há anos. O que, provavelmente, implicará que viverei até ao fim assim – por um fio. O mesmo será dizer que todas as minhas investidas não passam de teatralização – crio a ilusão de evolução quando, na verdade, me acautelo o mais possível para que o fio não quebre. É a chamada fuga para a frente. E nem vale a pena pôr-me a pensar em esquemas para me livrar deste estar. O mais certo é que cada um mais não seja do que o prolongamento de todos os outros, a não ser que consiga fazer como aquele tipo da Alegoria da Caverna que resolveu romper com tudo e enfrentar a luz do sol. Acontece que, para isso, preciso de saber onde fica a saída da caverna. Alguém sabe por aí? É que parece que Platão acreditava que bastava a ousadia, a dúvida e a agitação para nos dirigirmos para a saída, mas eu não estou assim tão certa disso…

terça-feira, 2 de abril de 2013

Estou a lutar

Andamos aflitos. Agarrados a boias, lutamos, ainda que cada vez mais descrentes num futuro promissor, lutamos. Talvez seja a inércia a nossa força motriz mas uma coisa é certa – se não estivermos atentos ela tende a afastar-nos uns dos outros.
Hoje falei com amigos com quem não falava há mais de um mês, e isso é muito. Tenho outros com quem não falo há mais de um ano! E outros há quase.
Navegamos, agarrados cada um à sua boia, e deixamos que a corrente nos afaste, tal é a urgência de pescar nos limites das nossas margens. Temos os olhos fixos, o olhar preso. Deixámos de nos ver uns aos outros. E quando a consciência nos alerta e as saudades apertam, sentimos, do outro lado da linha, a urgência dos afazeres misturada com aquela que nos sossega a nós e a eles. Está tudo bem, não te preocupes. Estou a lutar.

As mulheres e as bruxas, ou as bruxas das mulheres

Há uma pequena, às vezes grande, bruxa que habita em todas as mulheres. Sempre que as coisas não correm de feição, sempre que a frustração espreita, a bruxa emerge e ai de quem se lhe atravesse no caminho!
Eu sempre disse que a vida não me venceria mas, ultimamente, ando com a impressão que a bruxa está a levar o melhor de mim.

O que nos move

A profundidade, a riqueza de uma pessoa, revela-se nos motivos que estão por detrás de uma determinada atitude. Assim como a sua mesquinhez. É-se tão mais rico quanto mais profundos forem os motivos e tão mais mesquinho quanto mais superficiais forem os mesmos.
Quem avalia os níveis de profundidade ou de mesquinhez são aqueles que observam e não os atores propriamente ditos. E é por isso que a riqueza e a mesquinhez são grandezas relativas. Porque a avaliação depende do grau de profundidade, riqueza ou mesquinhez do avaliador. A uma pessoa não lhe é dado ver o que não conhece ou identificar o que nunca viu.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Dia das mentiras

Dada a banalidade em que a mentira se deixou cair, o dia de hoje passa a ser o Dia da Verdade por se entender que esta também tem direito à vida, nem que seja para existir apenas uma vez por ano.