Não faço juízos a priori e nem no imediato porque posso estar a ver mal, posso estar a ser induzida em erro pelos múltiplos factores que nos influenciam a todo o momento.
Das pessoas vou registando palavras e actos, estados de espírito, olhares – concordância entre uns e outros -, e tiro as minhas próprias conclusões que raramente são definitivas ou levam bastante tempo útil para o ser.
Dos acontecimentos acabo por não tecer juízos, fico-me pelas ideias, pelas sensações, pelo instinto, porque não existem dois acontecimentos iguais. A verdade é que a vida, ao contrário do que corre em tantas bocas, surpreende-nos a todo o momento a não ser, é claro, que já dela esperemos aquilo que achamos que é o esperado – aí, não haverá lugar a surpresas. Não nos maravilharemos, muito pelo contrário, a maior parte das vezes desiludir-nos-emos porque as expectativas estão sempre além da realidade.
Fazer de cada momento uma novidade é abrir o coração a surpresas e fechá-lo a desilusões. As coisas serão o que forem e nós poderemos vivê-las com alegria porque não há outra forma de viver o novo.
Muitos me chamam à atenção para o facto de eu acreditar nas pessoas. Sei que a intenção é boa mas divirto-me a perceber duas coisas: a primeira é que eles acham que é por inocência ou sonho; a segunda porque temem por mim, acreditando que estou mais sujeita a ser enganada.
Eu nunca sou enganada, porque a única pessoa que me pode enganar sou eu mesma e eu esforço-me, todos os dias, para que isso não aconteça. Para, sem medo, enfrentar dentro de mim o que tiver de ser enfrentado.
Quanto às mentiras dos outros elas são, grosso modo, falta de coragem e não se pode condenar a falta de coragem, apenas lastimá-la. E quando a intenção é má, verdadeiramente má, ela é tão detectável que a mentira se denúncia na hora com uma tal clareza que a situação, por caricata, acaba por ser divertida.
Sosseguem pois os que por mim temem. Nada há a temer. Eu sou forte (no bom sentido, claro).