A Bondade é um conceito claramente
ultrapassado.
O que é isso de ser Bom?!
Ah você ajudou um velhinho a
atravessar a estrada?
Tratou bem o vizinho, apesar de ele
não o deixar dormir de noite? Que simpatia!
Deu lugar a uma grávida no autocarro?
Pediu desculpa por não ter reparado em
quem estava à sua frente? Que educação!
Há muitos anos, quando eu ainda tinha
alguma vergonha de ser eu, houve alguém que se insurgiu contra mim dizendo,
alto e bom som: Ninguém é assim tão
boazinha!
Ao longo da minha vida tenho-me
deparado, com uma assiduidade considerável, com desconfianças que oscilam entre
o descrédito e a certeza de que por detrás de mim existe uma qualquer intenção
maléfica destinada a satisfazer as minhas necessidades, sejam lá elas quais
forem.
Tenho uma novidade para todos: essa
não sou eu.
Não, não sou premeditada.
Sim, sou genuinamente boa.
E mais, desde que adquiri a
consciência de que ser boa é, afinal, algo de extraordinário – consciência
aliás que me foi dada por todos quantos sempre duvidaram da existência da
bondade ou têm feito da sua vida uma campanha a favor da certeza de que todos
os seres humanos são genuinamente maus, o que faz dos Bons seres extraordinários
-, desde esse momento, dizia eu, que me tenho empenhado em apurar e aprofundar
esta minha característica, de modo a que ela se transforme no “absolutamente
mim”, libertando-me gradualmente do maior número possível de sentimentos,
pensamentos ou actos típicos dos homens maus.
A sensação de bem-estar, de satisfação
e realização pessoal é tal que não me deixa compreender esta aversão quase
geral que as pessoas têm à existência, e prática, da Bondade.
Desde quando é que ser bom é um
ridículo sinal de fraqueza, debilidade ou mesmo estupidez? Quando é que essa
ideia começou e quem é que a espalhou? Não faço a mínima ideia. Sei, de fonte
segura, que está na hora de desmistificar a Bondade. De deixar que ela saia da
concha. De a olhar como ela merece – um bem preciosíssimo capaz de trazer
felicidade à mais desgraçada das criaturas.
Se é fácil? Nem por isso. É talvez
mais fácil ser-se mau. Mas muito menos compensador. Garanto-vos.
O que me leva a deduzir que a Maldade,
essa sim, é própria dos fracos, dos débeis e dos ignorantes. Dos incapazes e
dos verdadeiramente estúpidos que ainda acreditam que a felicidade é um
somatório de momentos preenchidos por prazeres tão fugazes que até por quem
eles passa pouco recorda no dia seguinte.
A Bondade é um conceito claramente
ultrapassado? Pode até ser que sim, que tenha vindo a ser. Mas está na hora de
ser ressuscitado. Está na hora de ganhar o seu merecido lugar no teatro da
vida.
Por isso, criaturas, encontrem-na
dentro de cada um de vós – mesmo que esteja muito escondida, ela está lá.
Encontrem-na e tragam-na à superfície. Cultivem-na. Desenvolvam-na e sejam
felizes.
Está na hora.
1 comentário:
Que posso eu dizer depois de um texto perfeito, como o que acabei de ler?!
Que admirei muito o modo como expõe os seus sentimentos...
Também gostava muito de ser sempre boa, porém, nem sempre é fácil não ser má.
Por exemplo, há uma criaturinha na blogosfera que resolveu embirrar comigo, chegando ao ponto de ameaçar e até insultar 'bloogers' - que normalmente cobre de lisonjarias - quando publicam comentários meus!
Estou com muita dificuldade em lidar com esta situação! Aparece-nos cada uma!
É evidente que vou afastar-me, porque quem cedeu a chantagem deste tipo não merece nenhuma confiança.
~~~ Beijinho, Alda. ~~~
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