Cresci a ver touradas. A
estar presente na feira da Golegã. A ver embolar touros dez vezes mais pesados
do que eu. Conheci pessoalmente os toureiros Alfredo Conde e José Mestre Baptista. O primeiro cavalo que
montei era grande e branco e pertencia a um deles – não me recordo qual.
Nessa época, nas histórias
que se contavam de morte e sangue, os protagonistas eram os toureiros – homens
valentes, capazes de fazer frente a um animal feroz. Nunca assisti a uma
tourada no país vizinho. Nunca vi matar um touro. A maior emoção que senti numa
corrida foi ver o touro saltar a cerca semeando o pânico nos espectadores.
Havia, não sei se ainda há,
em Lisboa, um clube para aficionados onde serviam refeições e se falava de
touros e de cavalos. De toureiros e criadores.
Cresci a amar e a respeitar
as tradições que alguém, que não eu, fez chegar até mim. Hoje sei que não
existem tradições imortais. Que não existe tradição que não morra, mais cedo ou
mais tarde.
Hoje sei que as tradições
podem ser, e são na maior parte das vezes, forças que nos mantêm estáticos
contrariando a dinâmica da própria vida.
Há que analisar muito bem
aquilo que se defende. Há que reavaliar se a tradição em causa é ou não útil
para o crescimento humano e as touradas, por muito que me custe dizer isto – e
já me custou mais – não são.
Tenho assistido a cenas de
uma crueldade terrível. Uma crueldade que nunca vi antes porque nunca vi
crueldade nos animais. Os animais não são cruéis. São só animais. E se um
toureiro morria ou saía da arena mal tratado, eram ossos do ofício. A
responsabilidade só a ele poderia ser imputada.
O mesmo não se pode falar do
sangue que corre dos animais – quer dos touros quer dos cavalos. Esse é de uma
crueldade sem igual porque é infligido, directa ou indirectamente, por quem não é
apenas um animal. Ou não deveria ser.
Está na hora de acabar com
esta tradição. A não ser que haja, como em tantas outras, capacidade de adaptação
à nossa presente humanidade que, pelos vistos e contra certas más línguas, está
em franco crescimento.
Bem haja.
2 comentários:
~~~
~~ ESTUPENDO 'POST'!
~ Compreendo a coragem.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~ Dias felizes. ~~~~
~~~ Grande abraço.~~~
~ ~ ~ ~
Obrigada Majo :-)
Um abraço
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