domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ao meu filho

Não gosto de citações, mas há aquelas às quais não podemos fugir.
«(...)A coragem é mais do que a capacidade de suportar, é o poder de criar a nossa própria vida contra tudo o que Deus ou os homens nos possam infligir, para que cada dia e cada noite sejam aquilo que imaginamos. A coragem faz de nós sonhadores, faz de nós poetas.»*
...e o meu filho é o homem mais corajoso que conheço.
*Fitzgerald, Penelope, A Flor Azul, Relógio d'Água Editores, 2010.

Coração de mãe

Já aqui se disse uma vez que uma mãe se condena a transportar o coração nas mãos até ao fim da vida, para quem está prestes a sê-lo saiba que é verdade. E se não literalmente, imaginem-se a caminhar com as mãos em concha, em frente ao peito, sustendo um coração que pulsa e porque pulsa não pode ser apertado; imaginem-se a tropeçar numa qualquer pedra do caminho; imaginem que as mãos se fecham, porque é automático, para o proteger, ao coração. Imaginem o aperto…
Pois eu ontem tropecei. Tropecei logo de manhã quando acendi a televisão à hora do pequeno-almoço, como sempre o faço para ver as notícias, e vejo que no Chile houve mais um terramoto. A Terra não se cansa de nos assustar! E o meu filho está por lá, por aquelas paragens. Sem telefone; só com a Internet, que não é pouco se a ela tivesse acesso diário, mas não tem.
Passei o dia a olhar para as páginas do Facebook, à procura de notícias; a imaginar caminhos; a tentar perceber onde estaria ele aquando da tragédia. De mais esta tragédia.
Só hoje tive notícias: «Sobrevivi ao terramoto…», diz ele e eu acredito. Mesmo sem o ver acredito porque senão como estaria a escrever. Mas o meu coração pede mais – ouvir a sua voz pelo menos, que há tanto tempo já que não a oiço.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Hoje sossegou-me o calor da casa dos meus pais. A sua companhia; a companhia da minha filha, sossegaram-me; aqueceram-me a alma e tudo ficou, de repente, muito mais suave.

Bolas!!!!


Isto hoje foi por pouco...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O mito de «no meu tempo não havia nada disto»

Tenho na minha turma um grupo de estudantes, rapazes e raparigas, que boicotam sistematicamente cada aula que presenciam. Falam alto a despropósito; desrespeitam professores e colegas, gritam, entram atrasados, saem antes da hora, batem com as portas. É como se mais ninguém estivesse naquelas salas, só eles – quais Reis e senhores de um território privado; privadíssimo! Hoje, palavra de honra, tive vontade de os matar.
Saio dessas aulas mais cansada por eles do que pelo professor a quem, afinal de contas, pago para que me canse. E não se pense que se paga pouco só por se tratar de uma Instituição Estatal! paga-se, e paga-se bem.
À conversa com pelo menos dois professores e lendo nas entrelinhas de outras conversas, a interpretação dada a este tipo de comportamento numa população que se quer mais madura por ser universitária, é a de que a juventude se prolonga, nos dias de hoje, quase ad eternus e, por consequência, também a adolescência que a antecede. Assim, estas criaturas mal-educadas, sem sentido ético e desrespeitosas, deveriam estar, provavelmente ainda, no Secundário ou, quiçá, no ensino básico.
Pelas conversas são espécies recentes, já que há alguns anos atrás um aluno universitário era já um adulto responsável e atento a tudo o que se lhe quisesse ensinar, sendo que para um professor com falta de paciência estaria fora de questão dar aulas noutra instituição que não fosse superior.
Hoje em dia, ao que parece e segundo consta, muitos já fogem a sete pés das licenciaturas, principalmente dos primeiros anos. Muitos professores, bem entendido.
Por questões profissionais tenho em mãos uma obra, que sairá em breve, da Penelope Fitzgerald – A Flor Azul.
Trata-se de um romance baseado na vida de Friedrich Von Hardenberg, mais conhecido por Novalis, que viveu nos finais do séc. XVIII. Deixo-vos aqui uma pequena transcrição do mesmo:
«[na Universidade]Diante dos olhos esbugalhados de Fichte [o professor], os alunos, cuja reputação de desordeiros não tinha igual em toda a Alemanha, acobardavam-se por completo, transformados em crianças assustadas. (…) À noite, os estudantes andavam de cervejaria em cervejaria à procura de colegas, (…) para se embebedarem ou, se já estivessem bêbados, para se embebedarem um pouco mais.»1
1 Fitzgerald, Penelope, A Flor Azul, Relógio d’Água Editores, Lisboa (2010).

Sugiro que o Instituto da Educação da Universidade de Lisboa contrate, para este tipo de gente, um professor de olhos esbugalhados porque, ao que parece, o mal não está nos tempos mas tão só em certas pessoas. Ele, o mal, é intemporal. Tal como a falta de educação e o desrespeito.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A inexistência do amanhã

E dizia Dany Crane:

«A única coisa que há a temer é o amanhã. E eu não vivo no amanhã.»

Da mendicidade

Falava-se de mendicidade e da forma como era encarada há muitos anos atrás e como o é agora.
Antigamente um mendigo suscitava compaixão e tinha até um lugar na sociedade - existia para nos recordar a importância de dar; para nos ensinar a olhar o outro, a valer-lhe. Havia até uma teoria cristã que afirmava que os mendigos faziam falta, como faz falta um construtor ou um médico.
É claro que podemos arranjar justificação para tudo e de tudo fazer um bem, uma mais valia. Quando entornamos vinho, dizemos que é alegria... Mas hoje em dia a mendicidade está, aos olhos de todos aqueles que não a praticam, vista como um fracasso, uma falha, uma culpa. Olhamos os mendigos com um ar acusador como se de seres mais fracos e inferiores se tratasse - se não como teriam eles chegado ao ponto a que chegaram?!
Mas o certo é que não fazemos a mínima ideia do que se passou com aquela pessoa e até que ponto a responsabilidade de andar a estender a mão à caridade, que mingua de dia para dia, é apenas dela. Hoje andava um velhinho, muito velhinho, de mãos trementes, a tentar vender dois sacos - um em cada mão - de língua da sogra aos carros que paravam no semáforo da Praça de Espanha.
Não comprei língua da sogra mas estendi-lhe uma moeda porque nada me comove e escandaliza mais do que um velho, que deveria estar no aconchego de um qualquer lar, repousado de uma vida que deve ter sido de trabalho porque ninguém sobrevive sem ele, muito menos neste país, a andar de carro em carro, disfarçando a sua mendicidade com dois sacos de língua da sogra.
Não há direito! Que país é este?! Que mundo é este?! Haviam de ter visto o seu olhar...haviam de ter visto...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Solidariedade

Diz-se que é nas dificuldades que a alma humana se revela; que a dificuldade aguça o engenho e por aí fora... mas porque é que é preciso uma tragédia para nos ajudarmos, realmente ajudarmos, uns aos outros, é algo que me transcende.
Mas pronto - antes isso que nada.

Por este andar daqui a dias a Madeira voltará a ser a Madeira. Bem hajam.

No escurinho do cinema

Hoje deu-me para aqui...


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ele há coisas que nem título merecem...

Ter muito para dizer é equivalente a não ter nada. Os extremos tocam-se. Sempre.
O dia foi tão cheio de merdas, e eu que nem sou pessoa de dizer asneiras hoje disse uma muito pior do que esta que aqui vos deixo, que eu nem sei se as hei-de enumerar ou deixar-me ficar calada, até porque recordar é viver e ele há coisas que não vale a pena viver duas vezes.
Portanto fica aqui esta breve síntese porque desde os xicos espertos que às sete e meia da manhã passam por dentro da bomba de gasolina só para ganharem uns quantos lugares numa fila onde os restantes tansos esperam o dobro por causa deles; a passar pelo escandaloso serviço da Vodafone Empresas, e ponham escandaloso nisso e a acabar no enterro do candeeiro da sala que pifou de vez (o resto fica espalhado pelos entretantos), o dia foi cheio, oh se foi!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Os estragos deste Inverno intensificam-se, cá como pelo mundo.

Por aqui o sol ainda tenta brilhar de vez em quando mas o frio já colhe os seus dividendos e com ele entranhado no corpo só me apetece estar na cama, mas por outro lado não, o que eu queria mesmo era não me sentir doente, e sinto.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O que eu queria mesmo

era ter dinheiro suficiente para pagar a quem me fosse às compras. A quem tivesse pachorra para andar a escolher móveis e banheiras e tapetes e aquecedores e o diabo a sete que eu não aguento IKEAs nem Lerois nem Centro Comercial nenhum, muito menos a um sábado à tarde e ainda dizem que não há dinheiro! mas esta gente vai toda mudar de casa!?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Toda A Verdade

Agora sim! Está mais que provado que o Governo é um polvo cujos tentáculos tudo agarram! E são milhares! Milhares!
Porque é que pensam que a pianista Maria João Pires se foi embora?! E a morte súbita da Rosa Lobato de Faria?! Ah! Pois é! Ary dos Santos previu isto tudo! Diz-se até que quando morreu as suas últimas palavras foram: «Não digam que não vos avisei!» Ele já sabia! Porquê?! Porque este Governo já existe na sombra há muitos anos meus amigos! Há muitos anos! Isto está tudo planeado desde o início! E vocês vão ver o que ainda aí vem! Vão ficar de boca aberta quando a Comunicação Social vos bater à porta a pedir explicações sobre aquela conversa que tiverem no outro dia no café! Lembram-se?! Vão ter de lhes explicar tudo! Tudinho!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Blá blá blá...

Ouvi o Sócrates. Ouvi os representantes dos restantes partidos após comunicado socrático. Ouvi a Manuela Ferreira Leite.
E entreguei-me à fantasia do Lost.
Segui a minha própria vida.
A política cansa-me. A política de hoje, entenda-se. Cansa-me. Cansa-me como me cansam as reuniões de Tupperware ou as conversas de ocasião. Tal como estas, nada acrescenta à minha medíocre sabedoria.

Das convenções

Por vezes agarramo-nos demasiado a convenções e esquecemo-nos que as convenções são feitas por nós mediante determinado estado político; social e económico. As convenções servem culturas e eras, seguem-nas. Pelo que sempre que há alterações, levamos algum tempo para lhes ajustar as devidas convenções.
Estamos em época de mudanças algo profundas. Raras são as vezes que aqueles que as vivem se apercebem disso. Geralmente só quando é possível fazer História lhes damos nomes e as caracterizamos – às épocas e às mudanças.
Todas as gerações presentes numa mudança se sentem confusas e inseguras. Pressionadas pelas convenções não compreendem porque é que tudo rema a desfavor daquilo que era suposto ser.
As convenções, como quase tudo do nosso dia-a-dia, foram estabelecidas por homens e mulheres que já cá não estão, pelo menos na sua maioria. Se há coisa que o Homem tem é a liberdade de escolha; a liberdade de decisão. Hoje vive-se mais tempo; envelhece-se mais tarde; os recursos são muitos mais e muito superiores àqueles de há um século atrás, ou nem tanto. É tempo de novas convenções. É tempo de adaptação. É tempo de mudança. A vida está aí – para dela fazermos o que muito bem nos aprouver.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Coisas...

Tenho o hábito de me questionar sempre que alguma coisa me acontece, principalmente se for algo de mau ou doloroso. Não que sinta culpa ou responsabilidade mas porque acredito que se me aconteceu a mim, algo em mim contribuiu para que assim fosse. Desde que me conheço que faço isto. É automático. As coisas acontecem e eu pergunto, porquê e para quê; o que é que me estão a mostrar; o que é que posso aprender com isto?
Esta atitude acaba por me afastar dos sentimentos que os acontecimentos me despertam. Racionalizando-os, procuro as razões dos outros desconsiderando o mal ou as dores que a mim me causam. Não sei, não percebi ainda, se isso alivia ou se acentua, mas temo bem que, em certas circunstâncias, acabe por acentuar. Uma dor não desaparece só porque não lhe damos importância, ainda que, em muitas circunstâncias, isso possa minimizá-la. Parte da existência de algo depende também da dimensão que lhe atribuirmos. Mas é só parte – a parte possível de controlar. O restante existe, quer queiramos quer não. Por isso há coisas que nos doem, independentemente do que delas quisermos pensar ou fazer.
Todos nós inventamos, ao longo da vida, truques para nos protegermos. Ninguém gosta de ser magoado. As dores custam a todos. Talvez esta racionalização seja o meu truque. De facto, muitas vezes, são aqueles que aparentam mais solidez os mais quebradiços.
Desde garota que as pessoas me traem. É claro que estas generalizações são sempre perigosas e exageradas. Muitas vezes basta uma grande traição para nos marcar para o resto da vida, como aqueles ferros com que se marcavam antigamente os escravos - impossíveis de apagar. O pior é que são marcas assim que nos moldam e servem tantas vezes de suporte àquele em que acabamos por nos tornar. Quem sabe são essas primeiras marcas que chamam outras – uma vez escravo, para sempre escravo. Que as pessoas acabam quase sempre por me entristecer, é um facto. Mas com a tristeza posso eu bem, o pior são aquelas capazes de me arrancar o coração! Aquelas que têm sobre mim esse poder. Aquelas que fazem parte de mim. Se calhar por isso é que abro a porta a tão pouca gente…aliás, cada vez fecho mais portas. Por este andar, acabo sozinha.

Comparações

Entre o Carnaval do Rio, o maior do mundo – dizem, e o Carnaval de Loulé, para além de todas as diferenças abismais que existem entre um original e uma imitação rasca, aquilo que mais me saltou à vista foi o facto de no Rio, onde as temperaturas devem rondar os 30 graus, os marchantes estarem mais vestidos do que aqueles de Loulé, onde estão…o quê? 8? 10?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O dia dos namorados e a desmancha prazeres

Aos namorados que hoje festejam o seu dia; como aos filhos quando festejam o dia do pai ou da mãe e aos netos quando festejam o dia dos avós e por aí adiante…gostaria de saber porque carga d’água é que é preciso um dia especial para festejar algo que deveria ser festejado todos os dias porque quando se ama é isso que se faz: festeja-se todos os dias, agradecendo a graça que se tem por poder e ter alguém a quem amar.
Por acaso, e só por acaso, não é dor de cotovelo. Podia ser, mas não é. Nunca dei importância a este dia. Aliás nem me recordo da sua existência e não é que não tenha namorado. Namorei bastante. A verdade é que, salvo honrosas excepções, muito poucas, considero que este tipo de dias serve apenas o comércio, não que isso seja condenável, afinal de contas é legítima qualquer iniciativa que tenha em vista o aumento de qualquer negócio, desde que, evidentemente, seja feita dentro da lei, mas irrita-me sempre esta forma de exploração, porque não deixa de ser uma forma de exploração, como se valesse tudo. Exploram-se os sentimentos das pessoas, as suas fraquezas e até o seu possível mau comportamento durante um ano inteiro, fazendo-as acreditar numa possibilidade de redenção que dura um dia. É ridículo. Até mesmo para os mais pequenos que crescem a acreditar que a atenção que devem àquele que pensam amar ou a quem virão a amar, deve estar centrada em dias especiais, a saber: o Natal; o dia do aniversário do dito, quando não cai em esquecimento... e o dia dos namorados. Quanto aos restantes 362, podem relaxar que não são muito importantes...Ora! Tenham dó!
E é para aqui que o meu filho vai, depois de fazer os Andes a pé.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Desabafos

Não é que seja mau. Não é.
Criamos os filhos para os dar à vida. Tentamos prepará-los para ela e sentimos orgulho quando os vemos capazes.
Não é que seja mau. Já passei por coisas verdadeiramente más. Sei distinguir. Esta é boa. Não é a primeira vez que passo por ela. É boa.
O meu filho anda por lá, embrenhado na selva a tratar de pumas e a aprender a construir esgotos numa aldeia que não tem água canalizada. Juntou-se a uma equipa de voluntários daquelas que acredita que pode fazer a diferença. E faz. É bom. É motivo de orgulho. E é orgulho aquilo que sinto.
Mas ando há duas semanas a fugir de limpar a casa, como se fosse incapaz de anular de uma só vez os vestígios que deixou. Como se em cada grão de pó eliminado, um pouco dele voasse também; como se em cada bocado de chão lavado os seus passos desaparecessem. Assim, não limpo. Vou limpando. Aos poucos. Hoje mais um bocadinho.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Peter Gabriel

Agora é que vi o lindo serviço que o Peter Gabriel fez aqui no estaminé! Será que é por a música ser comprida que a janela também é maior? ou foi vírus que deu no youtube?

Vai-se a ver e é disto tudo junto...

Não sei se é do frio; das escutas; das suspeitas; das previsões de liberdade ameaçada (como se fosse possível andar para trás!...); dos senhores da Vodafone (e disto é melhor não adiantar muito mais...); da distância do meu filho e dos planos que tem para os próximos meses; do contrato de parceria novinho em folha; do Carnaval; da preguiça dos meninos que na verdade já estão de férias e não compreendem porque carga d'água é que têm de trabalhar (isto nem eu percebo...); do pagamento que já devia ter vindo e não veio; daquele que tem de ser feito e é grande...enfim, não sei exactamente do que é que é, mas eu estou com uma dor de cabeça de caixão à cova e, acreditem, não é nada que eu tenha com frequência...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Se calhar estava na altura de libertarmos o Mandela que há em nós...

Doida por eles


Mas tão doida que dei comigo a fazer downloads desta última temporada!

Hoje vou-me deliciar a ver o 3º episódio. É que nem quero saber se tenho de estar sentada numa cadeira em frente ao computador!

Ninguém escreve ao Coronel...

... era o que eu ia dizer, antes de abrir aqui o estaminé e ver que afinal tenho notícias do meu filho.
Como ao pé das notícias dele as outras são de somenos importância, já não me sinto tão «coronel» como há cinco minutos atrás.
Mesmo assim era de bom tom que os senhores da casa e do telefone dessem notícias que a minha paciência está por um fio...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O síndroma da pequenez

Cresci, e posso dizer que sempre vivi, em terras pequenas. E quem, como eu, as conhece, saberá que não minto quando afirmo que existe, nas terras pequenas, uma certa mesquinhez. Todos sabem, ou pensam saber, da vida de todos; todos gostam, ou parece gostarem, de maldizer, de coscuvilhar, de difamar. Nas terras pequenas as pessoas entretêm-se com o diz que disse; com o parece que fez…
Neste momento creio que o vírus das terras pequenas se espalhou pelo meu pequeno Portugal. Ou isso ou sofremos todos do síndroma desta pequenez continental que na verdade nunca descansou, nem mesmo enquanto fomos, consideravelmente, maiores.

Do medo

A vida não teria com certeza metade da graça sem todas as incertezas que nela vivem. Imaginem se soubéssemos de antemão tudo o que nos vai acontecer, como nos vai acontecer, onde nos vai acontecer… Nada faríamos. Deixar-nos-íamos ficar, quietos no nosso canto à espera, à espera que acontecesse…
As incertezas são o sal da vida, não me queixo; não duvido. Mas são elas, também, que me arrasam o coração; que me pregam nas mãos este tremor; que me trocam os passos; que me plantam na alma o medo de me perder pelo caminho; o medo de não chegar, eu! Eu que sempre disse que é o caminho que interessa! Chegar ou não, aqui ou ali, logo se verá. O que interessa são as cores que encontramos; as estradas; o sol e a chuva; as gentes que connosco se cruzam. Isso é que interessa.
Então porquê este medo agora?! Este medo de acabar torta; de não conseguir lá chegar; de não ter tempo; de ser já tarde?! Este medo que não me serve para nada a não ser para me atrasar ainda mais; para me atrapalhar. Este medo que só me prejudica! Esta merda deste medo capaz de estragar, ele sim, todos os passos do meu caminho; todos os verdes; todos os sóis e até as pedras! Este medo capaz de tomar conta de mim!
Estamos numa era de ciência e de tecnologia. Numa era rica em descobertas e invenções.
Vou lá fora. Vou entrar em todas as lojas; em todas as farmácias e para farmácias; em todas as drogarias que encontrar. Nalguma encontrarei, com certeza, um remédio para o meu medo e, se por acaso se tiver esgotado, vou correr todos os jardins até encontrar a árvore do antimedo. Depois apanho um ou dois frutos e como-os. Um ou dois. Penso que será o suficiente...

I will survive

Como não me ocorre nada de inteligente para vos dizer, deixo-vos com esta música de sobrevivência, porque todos acabamos por sobreviver, mesmo que o trambolhão seja grande e o orgulho fique amassado, sobreviveremos. Por isso Pedro não te amofines com a dimensão do teu tralho, só é pena que os óculos, de tão colados que estão, não tenham sucumbido à queda, mas enfim... ele há artefactos que têm o estranho poder de serem absorvidos pelos corpos que ocupam.


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Falsidades

Acabei de falar ao telefone com uma pessoa que não vejo há anos e veio-me à ideia que o mundo está cheio de pregadores. Gente que apregoa o que não faz e que faz o contrário daquilo que apregoa.
A última vez que falei com esta pessoa, há muitos anos atrás, foi para o ouvir dizer que era melhor eu cancelar a visita que tinha programado à sua mulher doente, convém que se diga que ambos são conhecimento de juventude, porque a sua vizinha, mulher de um muito ex-namorado meu, aliás do meu primeiríssimo namorado, poderia não gostar de me ver por lá!
Recordo-me que nessa altura, aquando do tal telefonema, vieram-me lágrimas aos olhos e pensei – como é que é possível?! Tanta insegurança! Mas o que mais me doeu foi a atitude deste meu suposto amigo, que segundo me tem chegado aos ouvidos é um homem zen; adepto da cultura oriental e todo voltado para a paz, para a harmonia e para o perdão. Imaginem!
Hoje, e porque estava na companhia de alguém para quem liguei, pediu para me falar e cumprimentou-me como se de um velho amigo se tratasse. Como não sei fingir e nem a voz disfarço, percebeu com certeza o que me vai na alma. Tanto mais tratando-se de alguém com tanta experiência em vibrações…

Do meu País

Confesso que a preocupação me tem tolhido as palavras. Deixo-vos, por isso, com aquelas desafortunadamente intemporais de um imortal.
Nevoeiro
«Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!»
Pessoa, Fernando, Mensagem, Assírio & Alvim, 2004

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Hoje troquei a televisão por isto e fez-me bem

Matar Saudades

Renúncia

Renunciei ao amor. Não ao amor em sentido lato, evidentemente, mas àquele particular – ao amor de um homem, seja ele quem for. Renunciei e não é de hoje ainda que só hoje me tenha apercebido disso. Fui, ao longo dos anos, construindo uma barreira que se interpõe entre mim e um outro qualquer. Foram talvez as muitas desilusões, ou talvez a minha incapacidade de não me iludir. O certo é que renunciei.
Ou isso ou a triste realidade de olhar em volta e não encontrar ninguém que valha a pena.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paternalismos

Hoje, porque me deixei dormir, liguei a televisão como costumo fazer para ver as notícias durante o pequeno-almoço, e dei com a Serenela Andrade numa sala de aula de pintura duma Academia sénior, a tratar pessoas que têm idade de ser pais dela por meninas e meninos! Quem terá sido a imbecil, ou o imbecil, que decidiu começar a tratar os velhos como se fossem crianças, confundindo carinho com paternalismo?! O paternalismo é talvez das formas mais gritantes de desrespeito, por ser cínica. Quem é que disse a estes ignorantes que os velhos são como as crianças?! Um velho é alguém que perdeu, talvez, algumas capacidades mas a quem ninguém pode tirar os anos que cá andou nem uma vida inteira de aprendizagem!!!! Haja respeito!

Do pretensiosismo

O pretensiosismo, tal como o nome indica, é a qualidade de quem pretende. E como só se pretende o que não se possui, os pretensiosos mostram ao mundo o que não são e o que não têm.
O pretensiosismo manifesta-se nos nomes pomposos; nos maneirismos afectados; na escolha de obras de arte pela sua cotação de mercado; na vacuidade das opiniões; na superficialidade dos sentimentos; nos olhares de cima para baixo, ou de lado, tanto faz e num certo sotaque, tão ou mais afectado do que os maneirismos. E é irritante. Irritante e pobre. Sobretudo pobre.
Ninguém é obrigado a ter ou a ser isto ou aquilo, mas os pretensiosos transportam néons que gritam – Vejam bem o que eu não sou mas gostava de ser! Vejam o que eu quero que acreditem que tenho mas na verdade não tenho!
A mim inspiram-me pena porque sempre senti pena da verdadeira pobreza. E a verdadeira pobreza é essa do espírito. Desse espírito que os pretensiosos exibem como quem exibe um majestoso troféu.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Conduzir aflitinha para fazer xixi e com a chuva a cair lá fora, como diria a minha filha, não é fixe.

Da Fé

Ontem num jantar de amigos discutiu-se política – confirmei algo de que já suspeitava – ando a leste! embrenhada na minha vida, leio apenas as letras gordas só para não dizer que não leio nada!; discutiu-se religião e fé, só para se concluir que cada um tem a sua e que podemos fazer dela o que bem nos aprouver – dar realce ao que é comum ou focarmo-nos nas diferenças…
Afinal é para isso, também, que servem os amigos, para nos mostrarem aquilo que pensamos e sentimos mas que anda escondido nos meandros do inconsciente e só se manifesta quando nos olhamos no espelho que são os outros que podem, ou não, pensar como nós.
Palavra puxa palavra, e eu ouvi mais do que falei e soube-me bem. Eu, que falo pelos cotovelos, dei por mim divertidíssima no meio dos dois a olhar um e outro na sua acesa discussão, houve momentos em que parecia estar a assistir a um daqueles debates em que os intervenientes ora se ouvem ora se deixam de ouvir e começam a falar todos ao mesmo tempo. A discussão da fé prolongou-se muito mais do que a da política e chegámos à conclusão que nenhum de nós sabia a origem da palavra. Pois aqui vai:
Fé (do grego: pistia e do latim: Fides[1]) é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém.1

1 http://wiki.sapo.pt/wiki/F%C3%A9

Assim sendo, não me parece que a fé deixe grandes margens para se poder dizer – Tenho fé nesta pessoa, até aqui. Daqui para a frente já não. Por exemplo, tenho fé em Deus enquanto tudo o que acontecer fizer sentido para mim, nesta minha terrena capacidade de entendimento. Não faz sentido! Não faz sentido ter-se fé em Deus, ou seja no que for, se ela não for absoluta. Não faz sentido dizer-se que se tem fé e depois ficarmos zangados perante certos acontecimentos que nos magoam, que achamos injustos e despropositados. Nessa altura faz mais sentido dizer que perdemos a fé.
Ter fé em Deus é acreditar que tudo o que acontece tem um propósito, mesmo aquilo que é mau e terrível, e que esse propósito é bom, mesmo que só o venhamos a saber muito mais tarde ou nunca. Ter fé é confiar cegamente em algo; é depositar nesse algo uma visão e uma sabedoria que nos é vedada. Ter fé é acreditar que o sofrimento servirá alguma causa maior. E é nesses momentos que a fé é posta em causa e pode morrer ou não.
Pergunto quantos de nós terão fé e em quê!...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A nossa vida na vida dos outros

Não sirvo para estar sozinha e não sirvo para estar acompanhada! Não sei para que sirvo! No dia-a-dia nada faz sentido sem aqueles que amo, é por eles que me levanto; que lavo a roupa; que limpo, ainda que pouco, a casa; que vou às compras; que ponho a mesa. É na expectativa da sua companhia que penso no que almoçar, ou jantar; que escolho um filme. E mesmo que ultimamente a vida nos desencontrasse e me roubasse o tempo exigido à dedicação, o certo é que me bastava o saber que a porta se abriria, que uma chave entraria, ou que alguém, no quarto ao lado, descansava.

Dou comigo à espera que a porta se abra mas ela teima na sua mudez de porta e eu antevejo o meu futuro solitário e penso na urgência de mudar de casa, de ter outras condições para a voltar a encher e a dar-lhe vida, porque a vida é nos outros que mora e não em nós. Sem os outros ela não faz lá grande sentido.

Faz hoje 78 anos

que nasceu aquela que haveria de me dar à luz; aquela que haveria de cuidar do meu pai; aquela que haveria de me ensinar a simplicidade da vida, a relatividade das coisas e a importância daquilo que é verdadeiramente importante - o amor que nos une a todos.

Faz hoje 78 anos e por isso brindámos, por entre a açorda de ovas e o sável frito, mais vinte anos de saúde e alegria com o vigor que ela continua a ter; mais vinte anos do seu sorriso incomparável; mais vinte anos é tudo o que peço, por agora...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Segunda casa

Eu poderia fazer do aeroporto de Lisboa a minha segunda casa tantas são as vezes que para lá caminho, sempre fora de horas, esperando e acenando por aqueles que mais amo. Já lá vai o tempo em que era eu que ia e vinha, várias vezes ao ano. Agora fico a ver partir e a pedir a Deus que os acompanhe e mos traga de volta sãos e salvos.
Hoje foi o meu filho para terras da América, antes da América que de África é certo mas ainda assim, ficaria mais descansada se ele se contentasse por cá, pela velha Europa. Sendo verdade também que conhecer a Europa não é conhecer o mundo, mas valerá a pena conhecê-lo tão mauzinho que ele está? Tem alma de português este meu filho e graças a Deus que existem os aviões porque eu não tenho dúvidas de que se ele tivesse nascido no tempo das caravelas seria marinheiro. Antes um viajante da era das comunicações...
Há-de tirar bom proveito da viagem e voltar são e salvo e eu por cá me vou habituando a mexer, mais uma vez, no meio destas paredes tão vazias.