quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Creepy!

Não tenho uma grande experiência de viver em apartamentos. Vivi num, quando me casei, durante algum tempo, não muito. De resto tenho vivido sempre em casas, independentes, autónomas, sem entradas de prédios ou vizinhos em frente.
Fez em Fevereiro passado um ano que me mudei para aqui e tenho, à minha frente, um vizinho, ou vizinha, que nunca vi. Há coisa de uns meses apareceram três homens que entraram no apartamento apenas para levar algumas tralhas, sei disso porque nunca fecharam a porta e foram entrando e saindo, carregando não sei o quê. Passados alguns dias, podem ter sido semanas, um edital colado à entrada do prédio anunciava que essa fracção tinha ido a hasta pública. Ainda ponderei a hipótese de me candidatar, mas a base de licitação era demasiado elevada, praticamente o valor total do empréstimo, foi o que me pareceu, ou então quem a comprou foi enganado…
O edital desapareceu e eu convenci-me que o apartamento tinha sido vendido apesar de continuar a não se ver viva alma. Neste andar só eu entro e saio. Eu, e o meu filho.
Como o meu filho trabalha à noite, tenho por hábito fechar a porta à chave quando chego. Hoje tive de a voltar a abrir para pôr o saco do lixo à porta, coisa que faço com alguma frequência porque não gosto de deixar o lixo dentro de casa e de manhã, quando saio, levo-o comigo, também não gosto de ir lá fora à noite só para deitar o lixo fora, manias… conforme me endireitei para voltar para dentro, os meus olhos pararam na porta da frente - no lugar da fechadura, um enorme buraco! Convém dizer que se trata de uma porta blindada. O metal, derretido por um maçarico, só pode, esbocelava, cor de prata, pelos contornos do círculo onde antes tinha estado uma fechadura! Aquilo deu-me arrepios! Aproximei-me da porta e empurrei-a ligeiramente, como quem não quer a coisa. Fechada! Quem tentou entrar derreteu a fechadura até a reduzir a um monte de metal, mas não foi capaz de correr as trancas.
Será que foi tentativa de assalto?! Será que estou bem aqui?!
Voltei a entrar. Tranquei a porta. Mas não fiquei sossegada, de vez em quando espreitava pelo óculo e ele lá estava, o buraco… liguei à minha filha e pensei, e ela comigo, em ligar para a polícia. Assim como assim, sempre me esclareceriam, ou não… Desliguei o telefone na certeza de que, se quisesse dormir descansada, teria de saber o que se passou na casa da frente. Polícia talvez fosse exagero. Voltei a sair, subi as escadas e fui tocar à porta do vizinho de cima, o responsável pelo condomínio.
Não, não foi tentativa de assalto, esclareceu-me ele – o Tribunal ficou com a casa mas não a consegue vender porque não tem a chave! O ainda dono recusa-se a entregá-la e, vai daí, o juiz disse que tudo bem, arrombem. Vieram de maçarico em punho, mas continuam sem sorte nenhuma..
Ao que parece, não é a primeira vez que isto acontece com este apartamento. Há alguns anos, pelo Natal e por suspeita de tráfico de droga, tiveram de arrombar a porta. Dessa vez foram mais longe, arrancaram-na da parede. Ao que parece, se quiserem voltar a entrar, terão de repetir a façanha.
Entretanto, no prédio da frente, do outro lado da rua, vive um parvalhão que tem a mania que é galo. De tal maneira que vem, de quando em quando, à varanda cantar… de galo…
Se o meu próximo livro, aquele que escreverei daqui a dez anos quando a vida mo permitir, não for um policial, é só porque eu tenho a estúpida mania de deixar passar as coisas.

2 comentários:

Sem Jeito disse...

voltas para um apartamento e calha-te logo essas confusões! que pontaria! ;)

Goldfish disse...

Que filme! Não sei o que é pior, ter sido um assalto ou ter passadores de droga como vizinhos...

P.S. - e o outro vizinho vem fazer có-co-ró-có-có para a varanda?!? Isso é que é uma rua animada!