quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Morte...

…é a nossa maior inevitabilidade, a nossa única certeza. Se o Destino existe, ela é sem dúvida o nosso destino comum, o único.
Assustadora quase sempre, consoladora às vezes, por muito que tente mostrar-nos que é até mais honesta e segura do que a própria vida, não se livra da má fama de Ceifeira que ceifa o que está pronto para ser ceifado e o que ainda, aos nossos olhos, não está. E isso todos nós sentimos como uma enorme injustiça. Mas o que sabemos nós?! Nada. Nada, a não ser que por ela seremos levados, mais cedo ou mais tarde.
Já lhe vi os olhos em outros olhos. Já estive perto dela, mais do que uma vez e sei que quando chega aquele momento em que ela nos dá a mão e diz, Vamos que chegou a hora, o medo do desconhecido é inevitável. Não é o medo dela, é o medo do desconhecido. Há certos rostos que se suavizam quase de imediato! Quem sabe se o desconhecido afinal nos é familiar e está apenas esquecido?...
O facto é que tratamos muito mal a morte, às vezes pior ainda do que tratamos a vida. Não só evitamos falar dela, como todos os dias fazemos de conta que não existe. Mas estamos sempre prontos a desafiá-la! Desafiamo-la quando entramos no carro; desafiamo-la quando ignoramos os sinais do nosso corpo; desafiamo-la quando atravessamos a estrada; quando entramos na banheira; quando mergulhamos nas ondas… desafiamo-la a toda a hora como se tivéssemos uma necessidade maior de lhe provar que não nos vence, ainda que saibamos que será sempre ela a vencer. Cada dia que se ganha é uma vitória. Talvez por isso nos custe tanto ver vidas tão jovens serem ceifadas.
Mas uma coisa é certa – não sabemos o que existe para lá dela. Não sabemos o que está do outro lado. Não sabemos para onde vamos quando nos vamos embora e, não sabemos sequer, se apesar de nos parecer uma monstruosidade, uma enorme injustiça, ela, a morte, não sabe mais do que nós, aquilo que anda a fazer…

2 comentários:

anademar disse...

Li as "Intermitências da Morte" do Saramago, e deu-me que pensar em relação a isto mesmo que escreve aqui. E se a morte deixasse de matar?! É inevitável e necessária. Se não soubessemos do fim certo, o que nos levaria a agir?

Bragança @ disse...

Só uma palavra para este texto: Excelente!

Também li o Intermitências da Morte

É muito bom!

Se a morte deixasse de matar não era assim tão bom...Todos aqueles problemas levariam-nos mais à decadência :S
"Mas o que sabemos nós?! Nada. Nada, a não ser que por ela seremos levados, mais cedo ou mais tarde."

... :S

Saudação!

Bragança @