sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O IMPOSSÍVEL NÃO EXISTE. EXISTEM, SIM, VONTADES FRACAS

Obrigada a quem não descansou enquanto não inventou o avião


Sempre quis dizer isto. Aliás, sempre soube que isto é verdade. Não foram poucas as vezes que me lamentei perante terceiros sabendo muitíssimo bem que se a coisa não tinha acontecido era tão só porque a minha vontade que acontecesse não era assim tão grande.

Querer é Poder não é treta nenhuma. É verdade. A gente é que quer pouco porque querer dá muito trabalho ou, se calhar, porque afinal não somos seres de grandes quereres, de fortes vontades – somos assim mais fraquinhos, mais pequeninos, mais de gostares. Ah! E tal, eu gostava que me saísse o euromilhões; Eu gostava de encontrar a minha alma gémea; Eu gostava…

Mas nunca acreditando mesmo que uma coisa dessa dimensão possa acontecer! Bolas! E se me sair mesmo o raio do euromilhões?! O que é que eu faço a tanto dinheiro? Será que vou voltar a ter descanso na vida? E essa coisa da alma gémea? Se me engano e passados uns anos dou por mim a viver num inferno? Ná… deixa-me mas é estar assim que para complicações já basta o que basta.

E pronto. Não passamos da cepa torta.

Excepto, claro, aqueles raros que querem mesmo muito uma coisa qualquer e não sossegam enquanto não a conseguem. Esses são uns sortudos. Uns gajos que nasceram com o cu virado para a Lua.

Eu também acho que sim, mas não por terem conseguido o que queriam. Antes por terem descoberto o que era.

sábado, 22 de agosto de 2015

Sol e Sombra – Dos touros e das touradas


Cresci a ver touradas. A estar presente na feira da Golegã. A ver embolar touros dez vezes mais pesados do que eu. Conheci pessoalmente os toureiros Alfredo Conde e  José Mestre Baptista. O primeiro cavalo que montei era grande e branco e pertencia a um deles – não me recordo qual.

Nessa época, nas histórias que se contavam de morte e sangue, os protagonistas eram os toureiros – homens valentes, capazes de fazer frente a um animal feroz. Nunca assisti a uma tourada no país vizinho. Nunca vi matar um touro. A maior emoção que senti numa corrida foi ver o touro saltar a cerca semeando o pânico nos espectadores.

Havia, não sei se ainda há, em Lisboa, um clube para aficionados onde serviam refeições e se falava de touros e de cavalos. De toureiros e criadores.

Cresci a amar e a respeitar as tradições que alguém, que não eu, fez chegar até mim. Hoje sei que não existem tradições imortais. Que não existe tradição que não morra, mais cedo ou mais tarde.

Hoje sei que as tradições podem ser, e são na maior parte das vezes, forças que nos mantêm estáticos contrariando a dinâmica da própria vida.

Há que analisar muito bem aquilo que se defende. Há que reavaliar se a tradição em causa é ou não útil para o crescimento humano e as touradas, por muito que me custe dizer isto – e já me custou  mais – não são.

Tenho assistido a cenas de uma crueldade terrível. Uma crueldade que nunca vi antes porque nunca vi crueldade nos animais. Os animais não são cruéis. São só animais. E se um toureiro morria ou saía da arena mal tratado, eram ossos do ofício. A responsabilidade só a ele poderia ser imputada.

O mesmo não se pode falar do sangue que corre dos animais – quer dos touros quer dos cavalos. Esse é de uma crueldade sem igual porque é infligido, directa ou indirectamente, por quem não é apenas um animal. Ou não deveria ser.

Está na hora de acabar com esta tradição. A não ser que haja, como em tantas outras, capacidade de adaptação à nossa presente humanidade que, pelos vistos e contra certas más línguas, está em franco crescimento.
Bem haja.