sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Tanto mar e eu aqui!"

Sempre que mergulho no passado invadem-me episódios precursores de realidades presentes menos perfeitas. Sim, eu sei que a perfeição não existe, mas “menos perfeitas” é talvez um eufemismo por incapacidade de as chamar pelo nome – indesejáveis.
Até há relativamente pouco tempo eu tinha a certeza de que tinha feito o melhor que pude e soube. Agora, cada vez mais sinto que sabia tão pouco e essa certeza abandona-me devagar, roubando-me, aqui e ali, a pouca paz que me resta.
Oiço, de olhos fechados, Sinatra e Piaf e interrogo-me se a única forma de poder gritar “no regrets” não será desenvolvendo uma espécie de perdão – sim, fiz desta maneira, podia, e talvez devesse, ter feito daquela, mas então, tal como hoje, não soube prever as consequências. A questão é se me basta o meu perdão ou se não precisarei de outros para poder voltar a acreditar que não, não poderia ter feito de outra forma; não, não é possível fazer previsões a longo prazo; não, ninguém tem a capacidade de adivinhar o futuro e não, não havia, nesse tempo, nem metade do conhecimento que há agora, já para não falar na sua divulgação.
Somos vítimas do nosso tempo. Todos nós. Em qualquer tempo. O espaço que temos para viver, ainda que mais largo de década para década, ficará sempre aquém da vastidão do mundo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Em defesa do Elogio

Creio que durante muito tempo se acreditou na capacidade construtiva da crítica.
Com base nessa teoria se educaram gerações e gerações de mentes que se foram perdendo pelo caminho por acreditarem mais nas suas incapacidades do que nas suas capacidades.
Não acredito em críticas construtivas. Acredito, isso sim, que as críticas destroem sonhos. Abafam-nos, muitas vezes, à nascença ou, tratando-se de gente teimosa, vão-lhes sugando o alimento até os fazerem desaparecer de vez.
Só o elogio alimenta sonhos. Só ele desperta consciências. Só ele tem a capacidade de fazer germinar a mais pequena das sementes.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"Prognósticos, só depois do jogo"

Não me recordo de nenhuma ocasião em que tenha tido sucesso quando, na eminência de uma escolha, sacrifiquei o presente em prol de um futuro imaginado.
Abdicar do que se tem, acreditando que o futuro poderá ser mais brilhante, é brincar aos adivinhos. O futuro está tão grávido de imprevistos que aqueles que alguma vez acreditaram ser capazes de o programar, desenganaram-se. O mais longe que podemos ir é na tentativa de garantir que ele seja, quando chegar, o mais confortável possível e, mesmo assim, nunca estaremos livres de uma qualquer partida que nos queira pregar…
Portanto, construir o presente com todos os sentidos direccionados para nada mais do que o presente é, creio eu, a melhor forma de viver e construir, já que o futuro é, e sempre será, uma terrível incógnita.
Quanto à sensação de impotência e de pequenez que esta perspectiva traz a todos aqueles que se alimentam do controle, o melhor que têm a fazer é aceitar a vossa (e nossa) pequenez e seguirem em frente, dando tudo por tudo para terem o que desejam HOJE e JÁ, ao invés de amanhã que pode ser nunca.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Dos adeuses que duram há tantos anos que já deveriam ser naturais e não são

Chegaram no dia 13 e encheram a casa. Acampámos no meu quarto que ficou transformado numa cama gigante e não foi preciso nenhuma espécie de adaptação porque o hábito é estarmos juntos ainda que eu não saiba como é que se constrói um hábito que acontece uma vez por ano durante pouco mais de uma semana.
Partiram hoje, agora mesmo, e a casa ficou de súbito tão vazia que aqueles que por cá ficam precisarão de outros tantos dias para se habituarem ao silêncio e à ausência.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Oxalá que não...

Foram poucos e insignificantes os que temeram Hitler quando este deu início à sua cruzada ocupando a Áustria. Chamaram-lhe “indexação” – afinal de contas era a sua terra natal!...
As convulsões no mundo islâmico alastram-se como rastilho em direcção a um barril de pólvora e eu pergunto-me se há alguém que tenha, já, localizado o dito. Oxalá que não estejamos a cometer o mesmo erro de há setenta anos atrás.
Entretanto os chineses conseguiram juntar dinheiro a rodos e agora decidiram dar-lhe serventia – andam a comprar o mundo.
Por mim, acordei hoje angustiada – entalada entre islâmicos e chineses a pensar que futuro terá este meu mundo que, apesar dos pesares, está e sempre esteve no meu coração. Sou europeia de gema; é o maior e mais belo Continente de sempre e eu não o quero perder. Não saberia viver de outra maneira, nem adorar outro Deus que não o meu, para além de que a Liberdade é apanágio dos povos mais evoluídos e, ainda que a nossa possa ser discutida, o certo é que a Europa é democrata e é, sobretudo, religiosamente livre.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Wii


Acabei de descobrir as maravilhas da wii!
Acho até que o meu braço já não precisa de mais sessões de fisioterapia.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Estereopsia

Estereopsia é o nome que se dá ao processo de percepção visual que nos permite observar o mundo que nos rodeia a três dimensões, incorporando-nos, assim, nele, como dele fazendo parte e ele de nós.
Este processo só está acessível àqueles que têm a sorte de possuir dois olhos saudáveis. Perde-se um e perde-se esta capacidade, sendo que o mundo passa a ter apenas duas dimensões o que implicará todo um processo de readaptação do indivíduo a um mundo onde se sente posicionado como espectador, a um mundo que ele observa mas do qual não é parte integrante ou, pelo menos, não se “vê” como tal.
Muitas vezes, quando o olho remanescente possuí uma boa visão, o indivíduo não se dá conta da perda da estereopsia.
Pergunto-me, por vezes, se não existirão casos destes relativos ao amor. Em que a perda de uma certa “visão” impeça a integração no campo amoroso, condenando quem dela sofre a viver permanentemente como observador de algo que conhece, do qual sente, até, saudades, mas que lhe está vedado como a um nadador que por uma qualquer amputação se senta na praia a olhar o mar que costumava abraçar e agora já não.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Que desperdício!

Conhecem aquela história do homem que, querendo ir de Lisboa ao Porto, foi parar a Espanha por ser obrigado a virar sempre à direita?
Pois foi mais ou menos isso que senti esta manhã, literalmente enlatada numa fila de trânsito impossível, sem fuga, com tempo de sobra para sentir profundamente o desperdício de tempo que um acidente a meio do tabuleiro da 25 de Abril; o mau tempo e a greve da CP provocam.
Foi com muito jeitinho que fui pedindo licença para, ao contrário do que convinha ao desgraçado que parou em Espanha, me deixarem chegar à direita e, tal como ele, fazer uns quilómetros suplementares para regressar ao ponto de partida.
Comecei, portanto, o dia, “passeando” por “vias-rápidas” e estradas periféricas. Vou agora ver se recupero o tempo perdido e agarrar-me ao trabalho que a vida não está para isto.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Pois é...

Diz-se que atrás de um grande homem está sempre uma grande mulher. Perdão! Parece que “atrás” deixou de ser politicamente correcto – ao lado, ao lado é melhor – ao lado de um grande homem está sempre uma grande mulher.
E ao lado de uma grande mulher? Está, ou alguma vez esteve, um grande homem? Sei, por exemplo, que a Amália Rodrigues foi “discretamente” casada com um personagem que poucos conheciam e que a Isabel Allende, casada também, se dá “ao luxo” de um isolamento bianual para poder escrever o que escreve. Ou, pelo menos, dava. Não tenho acompanhado a obra dela, pelo que não sei se tem escrito ou não. Mas, sinceramente, não sei se se podem considerar grandes mulheres… Das grandes mulheres da História parece que não rezam companhias estáveis. Isabel I, por exemplo, nunca chegou a casar.
Seja como for, sempre foi, e continua a ser, muito mais fácil, e “aceitável”, a progressão da carreira masculina no seio do casal, já que esta implica preciosas dádivas de tempo, naturalmente “roubado” à família. À mulher continua a caber o papel daquela “que se adapta”. Há excepções, evidentemente, creio até que as haverá mais nestas novas gerações. A minha e as anteriores são verdadeiras desgraças e é por isso que eu não me entendo com companheiros. Não que seja, ou tenha pretensões a ser, uma grande mulher, mas porque tenho traçado, ao longo dos últimos anos, o meu próprio caminho e não estou disposta a abdicar de nenhuma das suas parcelas. Quem quiser caminhar ao meu lado é bem-vindo, quem achar que para isso acontecer eu terei de me “adaptar”, desengane-se. Já dei para esse peditório e saiu-me caríssimo! Para além de que, provavelmente, o meu amor se gasta diariamente por aí, pelos meus filhos, pelos meus pais, pela minha família enfim; pelos livros que leio (e pelos que escrevo e hei-de escrever); por todas as crianças com quem trabalho; pela minha aposta académica… É muito, reconheço. Mas pergunto-me se mais alguma vez ele será “suficiente” para corresponder a uma única pessoa. Em particular a alguém da minha geração que acredita que a “necessidade” do outro é vital numa relação, quando eu acredito que a vitalidade está na partilha de duas almas completas, verdadeiramente autónomas e independentes.
Assim sendo, retorno à minha condição anterior, que aliás já tinha tomado por certa, e dou por terminada mais esta tentativa de vida “acompanhada” na certeza de que valeu a pena; na esperança de não ter magoado ninguém – não foi, nunca é, minha intenção – e na consciência de que o perpetuar deste meu, mais ou menos, solitário caminho, se vai afirmando cada vez mais com o decorrer dos anos.

A ignorância - um inimigo a abater

A ignorância é um dos maiores flagelos da humanidade. Ignorância em relação aos filhos, aos pais, à vida, a nós próprios.
Mitos que defendem a inevitabilidade do sofrimento para crescer, para aprender, na própria vida, devem ser banidos da nossa mente. Pais que se regem por eles criam filhos que, para além da dor que sentem, causá-la-ão a outros, descendentes e ascendentes.
Sabe-se hoje muito mais do que aquilo que se sabia há bem pouco tempo atrás. Que o conhecimento se espalhe e não pare de crescer. Que os agora pais sejam capazes de ultrapassar os erros de que foram vítimas de forma a quebrar esta corrente de gente mal-educada, em toda a extensão do termo, para que a humanidade possa, um dia, ser mais feliz.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Prosopagnosia

Sou tida como “distraída” ou “um pouco excêntrica”. A minha sócia desculpava-me com a idade quando eu, repetidamente, “desconhecia” os amigos que entravam porta adentro semanas a fio, e os meus filhos “dão-me um certo desconto” quando chamo João a um António ou Teresa a uma Alice.
Já cumprimentei gente desconhecida e já ignorei gente que era suposto conhecer.
Isto nada tem a ver com a idade porque eu fui sempre assim – não fixo rostos.
Acabo de descobrir o nome da “coisa” – prosopagnosia.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Diferenças...de opinião

Olhar e ver o outro não é tarefa fácil. Por grande que seja, ou pretenda ser, a compreensão, o outro será sempre um estranho que habita fora de nós, das nossas necessidades, preocupações e, muitas vezes, interesses. Dizer que sabemos o que está a sentir é um acto de solidariedade e simpatia, mas não passa disso porque ainda que tenhamos partilhado esta ou aquela experiência, vivemo-la, com certeza, de forma diferente.
Há alguns dias li no i uma crónica do Alberoni que, entre outras coisas, defendia a importância, e a vantagem, da diferença no seio do casal. Que a diferença é uma porta aberta a novos mundos, que é enriquecedora, e por aí fora…a apologia da diferença! Não tenho essa experiência. A diferença afasta. As pessoas gostam de partilhar e não se partilha o que não se conhece porque não se viveu.
Não quer isto dizer que uma ou outra diferença, inevitável até, não seja um tempero, um bom tempero. Mas não passa disso, de um tempero. Não constitui base para aguentar uma relação. É no que há de comum que ela se sustém. Até porque todos temos a nossa dose de narcisismo e muito do amor que se tem pelo outro mais não é do que a admiração daquilo que reconhecemos em nós, e gostamos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Smile

O sorriso da rádio apanhou-me na fisioterapia, onde se ouve a Comercial, pelo que pensei que fosse uma ideia exclusiva do Nuno Markl mas parece que não, afinal juntaram-se todos para fazer os portugueses sorrir, nem que fosse por uns escassos segundos. E parece que conseguiram!


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

2 de Fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias

Diz que é dia de Nossa Senhora das Candeias.
Há 79 anos uma mãe pegou na mão da filha de oito dizendo:
- Vamos a casa do senhor João. A dona Maria teve uma menina!
Talvez por ter nascido neste dia a minha mãe tenha sobrevivido a uma meningite grave e a mais umas tantas maleitas que afectavam à época tantas crianças. Dos oito filhos que teve, a minha avó só guardou quatro. Todas meninas. Uma delas é aquela que nasceu neste dia, o de Nossa Senhora das Candeias, e que vinte e seis anos mais tarde me geraria a mim.
E esta aproximação ao seu nascimento, trazida pela memória da menina que tinha então oito anos e que hoje nos acordou às 8 da manhã para lhe dar os parabéns, comoveu-me.
Comovem-me tempos que nem foram meus! Como se o passar do tempo, só por si, fosse um milagre!