segunda-feira, 29 de julho de 2013

J.J. Cale

Ligavam-nos músicas como Cocaine ou After Midnight que ouviamos muitos decibéis acima do recomendável ainda antes de entrarmos no recinto do 2001, no Autódromo do Estoril. Não tinha rosto porque não eram dele as performances. Só tinha nome. À época não existiam computadores e os poucos canais de televisão, nacionais como eram, não transmitiam essas músicas malucas que a malta nova gostava de ouvir. Ficávamo-nos, assim, com as fotos que conseguiamos encontrar em revistas como “Salut les Copains”, que nem todos liam porque não trazia uma palavra em português e o francês era, à semelhança do que continua a ser para muita gente, uma dor de cabeça - não para mim, registe-se -, ou pelas capas dos álbuns onde se exibiam os músicos mas não os compositores. Esses eram nomes, e o dele ficou na memória por ter sido muito bem escolhido. Quem o fez sabia da poda.
 
Ora um nome sem rosto, principalmente um nome que cria sons como os que vibram no mais profundo de nós, facilmente se transforma num mito. São os rostos que nos humanizam. Um homem sem rosto pode muito bem ser um deus.
 
Morreu no sábado, aos 74 anos. A sua foto circula agora pela Internet, exibindo toda a sua humanidade. E foi a olhar para essa humanidade que me comovi com uma das suas mais dignificantes características – a humildade. Aqui está um homem, pensei eu, que viveu para nos enriquecer, sempre, ou quase sempre, escondido atrás dos panos que separam os bastidores das luzes da ribalta, e foi feliz.
 
J.J. Cale, aqui.

sábado, 27 de julho de 2013

Já dizia Sartre - O Inferno são os outros

Cada vez há mais pessoas sedentas de protagonismo. Eu existo; Eu conto; Eu tenho uma palavra a dar e essa palavra é importante.
 
E pode até ser. Pode até ser. Mas só a necessidade desse reconhecimento tira-lhe a importância. Só essa incapacidade de autovalorização tira-lhe a importância. Essa exigência daquilo que é dos outros tira-lhe essa importância.
 
Cansam-me as pessoas que directa ou indirectamente me exigem atenção e reconhecimento. Quem sou eu para importar?! Ninguém! A minha opinião não interessa nada. Só é importante para mim, para mais ninguém. Os outros terão as deles e é com elas que devem viver. Com elas e com a certeza de que cada um tem as suas e de que todas, sem excepção, devem ser respeitadas.
 
Odeio dependências. Odeio mesmo. Odeio toda a fraqueza que se esconde atrás da frustração, do exibicionismo, da presunção e do ataque. Odeio. Odeio toda a fraqueza que se esconde atrás das queixas, dos lamentos e da maledicência. Odeio. Odeio gente que não sabe crescer.
 

Pronto. Talvez odiar seja uma palavra demasiado forte. Agora, que já a escrevi tantas vezes, reconheço que sim. Sei lá eu odiar!
 

terça-feira, 23 de julho de 2013

O respeitinho é muito bonito

Gostamos de acreditar que lemos para ficar mais informados mas, na verdade, lemos apenas o que nos interessa, que é como quem diz – lemos tudo o que podemos para corroborar aquilo que acreditamos saber já.
 
E isto acontece principalmente a quem estudou. Não, não me baseio em nenhum estudo. Aliás, nem sei se há estudos sobre o tema. Baseio-me naquilo que vejo à minha volta, que não é menos do que aquilo que outros, com a mesma idade que eu, já viram também e, por muito que isso moa certas pessoas, vale tanto ou mais do que as leituras que fiz e continuo a fazer.
O que separa a experiência pessoal de certos estudos é a ausência de registo, de submissão às estatísticas e de aprovação oficial. De resto, depende apenas da intensidade com que cada um vive e das voltas que a vida vai dando – a uns mais do que a outros. Desprezar esse conhecimento só pode ser ou inveja ou ignorância.
Estou em crer que o ser humano tem um limite de armazenamento que, uma vez atingido, faz com que passemos a recusar o novo que vem dos outros, salvaguardando assim um pequeno espaço para as surpresas que a vida nos vai pregando pelo caminho.
É óbvio que tudo isto não impede que continuemos a querer acreditar que a nossa experiência, conhecimento e sabedoria ultrapassam grandemente os do vizinho do lado quando no fundo, cá bem no fundo, sabemos que quanto mais agitamos a bandeira do eu é que sei mais revelamos as nossas incertezas e uma necessidade primordial de sermos aceites e respeitados, sobretudo, respeitados.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Fresquinho e brejeiro (proibido a intelectuais)


Do alto da minha rua
Vejo a rua onde ele mora
E quando  passa um navio
Sei que a sua alma chora
 
Foi com mágoa que partiu
Para terra tão distante
Foi com mágoa que assumiu
O estatuto de emigrante
 
Mas a vida é mesmo assim
Quem sabe até faz sentido
Quer a terra de cada um
Não seja um sonho perdido
 
E se a terra onde se nasce
Não sabe cuidar de nós
Que a alma não descanse
Enquanto não tiver voz.

domingo, 21 de julho de 2013

Dos sonhos, das guerras e da inocência

Existe no sonhador uma certa inocência que permite aos destruidores de sonhos  tomar nas suas próprias mãos o poder da realização ou não realização dos mesmos.
 
Não basta sonhar para que as coisas aconteçam. Não é verdade que “sempre que um homem sonha o mundo pula e avança” e muito menos verdade é que isso aconteça com a mesma facilidade com que uma bola, colorida ou não, se deixa manipular pelas mãos seja de quem for.
 
Não é que não goste do poema. Muito pelo contrário – sei-o de cor e sempre que posso canto-o a plenos plumões. Acreditar na possibildade do sonho é ainda maior do que sonhar e os poetas têm esse poder – o de nos fazer acreditar na possibilidade dos sonhos.
 
Contudo, para quem quer mesmo transformar sonhos em realidade, é bom que saiba que só o poderá fazer se os seus sonhos coincidirem com os interesses dos controladores de sonhos, individuos que existem longe, muito longe, do alcance das comuns vistas e que têm o poder de matar todo e qualquer sonho que se interponha entre eles, os seus interesses egónicos e as suas crenças mesquinhas.
 
Assim, convém empenharmo-nos a ensinar às nossas crianças o Bem. Ensinar-lhes todas as vantagens e extrema importância do Bem. Porque é dentro desse Bem que mora a vergonha que impede, por exemplo, a corrupção e é dentro desse Bem que mora o Amor por tudo o que existe e o prazer de sentir que à nossa volta todos, ou quase todos, são felizes.
 
Desta forma, talvez daqui a muitos anos tenhamos colocado lá em cima, no lugar dos controladores de sonhos, gente que não precisa de provar, nem a si nem a ninguém, o seu poder de controlar mas antes a sua capacidade de Amar e espalhar esse Amor pelo mundo.
 
De outra forma, tudo o que se fizer de pouco ou nada servirá. Muitas guerras são perdidas por tácticas erróneas e aquelas que movimentam muita gente não têm segredos para um inimigo que é exímio em guerra de guerrilha.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Crescer

é basicamente libertarmo-nos, independentizarmo-nos, autonomizarmo-nos.
 
Pelo menos para mim.
 
A maturidade passa pela transformação do eu preciso para o eu amo; do eu preciso para o eu estou porque gosto de estar, porque isso me dá prazer.
 
A libertação, o desapego de tudo aquilo que não poderemos nunca levar connosco, é fundamental para um verdadeiro crescimento e, dado que não é fácil, é raro. A maior parte de nós faz o percurso inverso – vai-se agarrando cada vez mais à terra, mesmo sabendo que está por cá provisoriamente -, e arranja como justificação para essa incapacidade de libertação, a necessidade de deixar legado, esquecendo-se que a maior parte das vezes, se não todas, os filhos desprezam o que lhes é deixado, por preferirem, tal como os seus antecessores, viver a sua própria vida e acumular as suas próprias merdas.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pedro Bidarra - Filhos do 25 de Abril

Duras estas palavras do Pedro Bidarra. Esta é a minha geração e sei que há excepões. Conheço-as. São elas que confirmam a regra. Mas de uma coisa o Pedro se esqueceu - quem decretou as passagens administrativas não foram os estudantes, foram os professores e os responsáveis da altura - os velhos que ele quer ressuscitar e que cresceram num regime pequeno e mesquinho, fechado ao resto do mundo e que, por isso mesmo, fizeram uma revolução mas não souberam cuidar dos filhos adolescentes que, sem qualquer tipo de preparação, ficaram por sua conta e risco, ao sabor da tão sonhada liberdade.
 
Nenhuma geração existe separada da anterior. Não vale a pena, por isso, responsabilizar uns sem responsabilizar os outros. Somos todos responsáveis seja lá por o que for.
 
O percurso, o nosso - de todos -, é feito por todos e é com ele que vamos aprendendo - com as vitórias e com os erros. Responsabilizarmo-nos a nós directamente, pode parecer uma atitude de consciência, mas não passa de um desvario em tudo igual ao sacudir a água do capote.
 
Ter consciência da realidade é compreender o papel de todos no processo. Ver os papéis separados é falta de humildade ou falsa humildade, o que vai dar no mesmo.

terça-feira, 16 de julho de 2013

O que é isso - preparar os filhos para o amanhã?!

Uma criança nasce num determinado contexto socio-cultural. Os pais, porque a amam, tudo fazem para que ela se insira nesse contexto e tenha sucesso. Empurram-na, apoiam-na, incentivam-na... É esse o dever dos pais.
 
Contudo, só serão bem sucedidos se o contexto socio-cultural se mantiver mais ou menos inalterável. Mas se ele mudar, se ele mudar radicalmente, lá se vai a integração, lá se vai  o sucesso, lá se vão as ferramentas tão apropriadas ao contexto anterior.
 
E a verdade é que nunca sabemos o que vai acontecer. Não quer isto dizer que não devamos preparar as nossas crianças, muito pelo contrário – temos o dever, num mundo que muda a toda a hora, como este em que vivemos, de as preparar para o improvável, para aquilo que ainda não é mas pode vir a ser, para os preparar, dentro dos possíveis, para quase tudo.

Estar vivo nem sempre é o contrário de estar morto

Habituaram-nos a pensar a vida como uma obrigação, um tem de ser, uma coisa que nos acontece e que temos de cumprir com sacrifício, esforço e espírito de cruzada e acreditar, apesar de tudo, que fomos abençoados só pelo facto de termos nascido como se tivéssemos feito muito mal a alguém e agora estivéssemos a  pagar por isso.
 
Nunca consegui engolir essa história. Ainda que seja obrigada a reconhecer que ela vive entranhada em mim e condiciona certos dias, certos momentos.
 
Curiosamente, condiciona-os muitas vezes pela negativa. Eu explico. Sou tão contrária ao sacrifício que sempre que me disponho a fazer qualquer coisa, não porque goste mas porque aprecio os resultados do depois e não tenho dinheiro para pagar a quem o faça, fico com o mesmo humor dos sacrifícios e das contrariedades apesar de o meu coração se sentir feliz com os resultados.
 
Ontem montei dois móveis e pendurei dez quadros. De dia para dia, e desde que entrei de férias, a casa está a compor-se, a deixar de parecer um acampamento cheio de caixotes e de coisas por fazer, para passar a ser um lar que dá vontade de cuidar. Até já me apetece regar as plantas! É verdade, nem as plantas mereciam a minha compaixão tal era a desarmonia! Não me dou bem com desarrumação. Não gosto de viver no caos. Gosto de ter as coisas no seu lugar e dá-me um prazer imenso vê-las cuidadas à minha volta e isso, só por si, deveria ser motivo de alegria e o suficiente para me aliviar o semblante que durante todo o processo se deixa pesar julgando ser sacrifício o que não passa de opção, escolha consciente e voluntária.
 
E não o são todas e sempre?
 
Não, nem todas são conscientes e muito menos voluntárias. Montámos uma máquina que não trabalha sem nós e quisemos acreditar que somos nós que não funcionamos sem ela. E como ela é, na verdade, contrária à nossa natureza – que nos impele à liberdade, ao desprendimento e à preguiça -,  resolvemos mudar, teoricamente, a tal natureza e espalhámos por aí que somos seres predestinados ao sacrifício e à dor.
 
Assim, à excepção de uma meia dúzia de sortudos que podem pagar a quem de direito para arrumar o seu pequeno mundinho. Os outros, como eu, suam as estopinhas para o fazer. Mas uma coisa é certa – o gozo que eu hoje sinto quando olho para os móveis e para as paredes, eles desconhecem.
 
E posto isto, estou quase a chegar à conclusão que afinal os sacrifícios valem a pena. Foi assim que nos enganaram. Se eu tivesse podido, já tinha as coisas mais que prontas e a esta hora estava, com certeza, a fazer algo muito mais interessante e a sentir-me ainda mais feliz, que isto de estar vivo tem que se lhe diga – sem os mínimos, na minha opinião, não vale a pena.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O que me apeteceu e o que não me apeteceu

O que é que vais fazer hoje? Perguntou ele antes de sair. O que me apetecer, respondi com a mesma convicção com que se afirma que, naquele momento, se está com sede.
 
De facto tudo indicaria que sim que, tendo o dia por minha conta, dele faria o que muito bem me aprouvesse. Em parte assim aconteceu, noutra não e cheguei aqui, praticamente ao fim do dito, com um rol de cumprimentos de meter inveja a um vulgar dia de trabalho.

 
É pena que exista uma fdp de uma regra que sempre me acompanhou, pelo menos desde que me lembro – um dia que começa bem, nem sempre acaba da mesma forma. Muito pelo contrário.

 
E se hoje me levantei cheia de energia e de vontade. Deitar-me-ei, por certo, com uma disposição bem diferente.

 
Amanhã, deixo-me ficar a fazer, só, o que me apetecer.

 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Do Pessimismo

Sem dúvida uma perspectiva diferente de ver a vida. Mas não é disso que se precisa? de perspectivas diferentes?
 
Esta está com muita graça e, apesar da existência de um ou outro argumento menos sólido e da dúvida sobre aquilo que a sustém - eu preciso de perceber a base de todas as teorias. Sem isso não sou capaz de as corroborar. Trata-se daquela minha mania da importância da dualidade e da subsequente crença na existência de um Bem e de um Mal maiores que disputam a hegemonia aqui e ali (o ali fica ao vosso critério) e que, tanto um como outro, utilizam tácticas muitas vezes contrárias a si mesmos. Afinal é uma mania como outra qualquer. Apesar de disto, dizia eu, contribui em muito para algo que considero fundamental - a capacidade de distinguir o que é, daquilo que parece ser.
 
E posta que está esta introdução, fiquem-se com o discurso que vale a pena.
 
 

sábado, 6 de julho de 2013

Respirar de alívio, o tanas!

E pronto, digam lá que não sentiram um certo alívio na reposição do normal e até lhes passou pela cabeça que do mal o menos e que até talvez quem sabe as coisas estivessem a andar e mais vale ficarem lá eles do que gerar uma crise política que como se viu num único dia vai dar cabo disto tudo por causa dos tais mercados? Hem?!
 
O meu companheiro está a construir uns canteiros elevados aqui no quintal. O que já está pronto é para uma pequena horta (quando tiver hortículas, prometo fotos) e o outro, que ainda está em construção, vai transformar um dos cantos do quintal numa espiral de aromáticas. Só o nome é convidativo! É claro que vamos ter de arranjar manobras de diversão que tanto podem passar pela criação de um ambiente equilibrado onde, por exempo, aves insectívoras façam os seus ninhos para nos comerem as moscas e as lagartas que eventualmente nos possam visitar. Como podemos tentar resolver todos os problemas com a exposição de espantalhos e esperar que todos os seres indesejáveis se assustem na sua presença.
 
Mas nem sempre os espantalhos são eficazes. Nem toda a gente se assusta assim e, mais cedo ou mais tarde, os rabos que ficam de fora deixam-nos a pensar nas coisas.
 
Por exemplo. Ontem noticiou-se o encerramente da Maternidade Alfredo da Costa.
 
Ora, a minha neta está a pensar nascer lá porque, para além de estar sempre cheia e de já termos reservado espaço para ela, a MAC está equipada com a melhor tecnologia que por aí se vê.
 
Então, por que carga de água vai chegar?! Vamos lá pensar um bocadinho! Quem beneficia com o seu encerramento? O Hospital D. Estefânia que nem lhe chega aos calcanhares?! Claro que não! Os privados! Ora bem! Os privados!
 
E, meus caros, é isso que nos andam a fazer, a tentar eliminar tudo aquilo a que temos direito – porque o conquistámos. Exactamente. Conquistámos. E quem tem comido a sopa que nos querem enfiar pela garganta abaixo de que temos andado a viver acima das nossas possibilidades, espreite aqui, ou noutro sítio qualquer, porque o problema prende-se com manipulação de massas através de informação tendenciosa.
 
Bom, seja como for, eu quero que a minha neta nasça na MAC e farei todo o ruído que puder para que isso aconteça.
 
Já agora, deixo aqui registada uma outra dúvida que me tem assolado. Das tretas, truques e enganos com que nos tentam manipular, a gente lá se vai apercebendo de um ou de outro. Mas que truques, tretas e enganos tem quem de direito vendido aos nossos, e aos dos outros, supostos governantes? – e digo supostos porque já estamos todos carecas de perceber que não passam de meros espantalhos pregados na horta para nos assustar. Será que o fim do mundo está próximo e lhes prometeram lugar na poucas naves que, escondidas, os levarão para um novo mundo?!

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Ana Drago e Raquel Varela, ou vice versa, tanto faz

Numa altura em que quase todos os políticos me causam náuseas, estas duas mulheres têm-se destacado. No bom sentido, evidentemente. Quando as oiço sinto que talvez haja esperança, que, num futuro, não sei se próximo se longínquo, pode ser que isto se endireite. Pode ser que elas não se corrompam. Pode ser que consigam singrar.
Esta:

E esta: E, já agora, oiçam-na aqui.

Os sovinas das notas

Não, não são notas de música e muito menos daquelas com que se compram as bananas, e todas as outras coisas que gostamos, ou gostaríamos, de comprar. São notas classificatórias estas de que vos falo, e os sovinas são alguns dos velhos professores que acreditam que ficam mais pobres se as derem e nem sequer percebem que, ao guardá-las para si, estão a limitar a concorrência dos nossos jovens às universidades internacionais.
 
Eu explico. Por exemplo, alguns dos professores do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, mais conhecido por ISCSP – outra coisa que não se compreende muito bem já que custa tanto a pronunciar -, principalmente na licenciatura em Ciências Políticas, acham que 14 é uma nota extraordinária. Tão extraordinária que dá direito a bolsa de mérito!! E quem não acredita pode ir lá espreitar. Estão lá os nomes daqueles que, tendo terminado a licenciatura com média de 14, foram agraciados com uma bolsa de mérito.
 
Ora, meus senhores, 14 é um cocó de uma nota em qualquer cidade europeia. Se querem ver os nossos jovens a frequentar mestrados nas melhores universidades da Europa, têm de ser menos sovinas. Até porque, se alguém merece bolsa de mérito, merece um 18 ou um 19.
 
Mas…espera! Se calhar não querem! Tu queres ver que é isso! Os fulanos não querem ver os nossos jovens nas melhores universidades da Europa porque eles também estão vendedores de mestrados! Tão queridos estes tugas! Depois de formados até podem andar à procura de um trabalhinho qualquer lá fora. Pode até ser a servir à mesa. Mas, para gastar em mestrado que o façam por cá.
 
Outra coisa que não deixa de ser curiosa é o facto de se tratar de política e de políticos. Sim, porque muitos do professores do referido Instituto, que é público para quem não sabe, são tipos que estão, ou já estiveram, ligados ao governo - a este ou a outro qualquer. E correm por aí vários boatos que esta gente não é de fiar, que coça para dentro, que tem enchido os bolsos à nossa custa. Enfim...da fama não se livram e quando uma pessoa que, como eu, que sabe tão pouco disto, se põe a pensar, surge-lhe logo um quadro duvidoso, nada favorável às boas intenções e seriedade dos referidos.
 
Contudo, e por muita maldade que circule por aí, a vida segue o seu próprio rumo e muitos dos nossos jovens, quer vocês queiram, quer não, estão determinados a procurar reconhecimento e mérito por outras paragens. Paragens mais fiáveis, mais sérias, mais isentas de interesses próprios e, mesmo que não consigam entrar, como gostariam, nas universidades de topo, entram noutras e piram-se daqui para fora.
 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A eterna luta entre o Bem e o Mal

Têm-se desprezado certas banalidades acusadas de serem exatamente isso - banalidades -, embora as próprias nem tenham conhecimento do que delas pensam certas pessoas. Aliás, as mesmas que espalharam o que muitas vezes não são mais do que boatos. E um boato, por mais inocente que seja ou possa parecer, é sempre iniciador de uma mudança se for capaz de agradar primeiro a este, depois àquele, e mais tarde ao outro. Assim se mudam valores.
 
Assim se mudam valores.
 
E não quero com isto dizer que tudo se deva manter como inicialmente. Mesmo que não se saiba quando foi esse inicialmente. Ficarmos atidos a coisas antigas, dizeres milenares ou tradições que só faziam sentido em determinados contextos que já não existem, não faz sentido nenhum.
 
Contudo, há valores humanos que por serem isso mesmo constituem as nossas bases. E os boatos que os transformaram em banalidades, fazendo de quem deles fala alguém que abre a boca para falar de lugares comuns, não são inocentes.
 
Se calhar era bom que recomeçássemos todos a dizer certas banalidades como, por exemplo, as mudanças fazem-se a partir de dentro, e, não faz sentido querer mudar o mundo quando ainda não nos mudámos a nós, ou mesmo, cá se fazem, cá se pagam e a vida é curta há que fazer com ela o melhor que se sabe não vá o diabo tecê-las e a alma ser mesmo imortal…
 
Estas e outras banalidades que nos recordem a nossa verdadeira dimensão e lugar, bem como as nossas obrigações morais e éticas, só podem ter sido conspurcadas por quem defende interesses que não são, não de perto nem de longe, os comuns.
 
Pensemos em Walt Disney e na sua crença de que a sabedoria do mundo era simples porque era dual – o bem e o mal e a sua eterna luta. Quem sabe o homem tinha razão? Quem sabe as coisas afinal até são simples e o problema maior reside nos indecisos que as duas fações da vida disputam incessantemente?

terça-feira, 2 de julho de 2013

Viver no campo #2 ou O circo continua

Sem inspiração nenhuma, sento-me à frente do computador e deixo os textos  correrem, mais por hábito do que por interesse. A noite mal dormida, ou pouco dormida, o que vai a dar no mesmo, transtornou-me o resto do dia e sinto-me pior do que quando saímos de um lugar a uma hora e chegamos a outro umas horas antes. Até porque não sou pessoa de sofrer de jet lag. Se reina a Lua, durmo, se reina o Sol, estou acordada. Sou bastante primitiva nesse campo, e provavelmente noutros também, por isso não me afetam as viagens e os desnortes. Agora, o que me afeta e, ao que parece, cada vez mais, são as trocas horárias. As necessidades de trabalhar com a Lua e dormir depois mais um bocadinho quando o Sol está tão acordado. Isso sim, desnorteia-me. E foi isso que aconteceu hoje – trabalhei pela noite dentro e como não fui capaz de dormir a manhã toda, deixei-me cair no sofá depois do almoço e ferrei de tal maneira que quando finalmente consegui espreitar pelo canto do olho, já se tinha ido o dia praticamente todo e estava aí a hora do jantar.
 
Certo é que acordei quando ele entrou ou, para ser mais precisa, espreitei pelo canto do olho quando ele entrou porque para acordar precisei de mais meia hora, mesmo com ele a tentar chamar a minha atenção com as notícias, frescas para quem passou a tarde a dormir – o Portas demitiu-se! De imediato me senti desgovernada, sentimento que, aliás, já tinha tido ontem aquando da demissão do Gaspar mas, ainda assim, nada que se compare com a aflição que me deu quando soube quem é que o ía substituir. Então ainda no domingo eu tinha estado a ler uma coisa qualquer com swaps e uma Maria Luís e agora a gaja ía para ministra?!
 
Há pouco, após a tal sensação de desgoverno, dei por mim a pensar que o Portas é bem capaz de ter em mente um protagonismo maior para a sua pessoa e por isso é que se demitiu. Ou então é verdade que ficou agoniado, como eu, com a tal Maria Luís. Uma coisa é certa, sinto-me feliz por viver no campo. Para quem não sabe, é uma forma milenar de nos mantermos mais ou menos alheios a certas movimentações de gente que não interessa nem ao menino Jesus. O grande senão é que viver no campo já não é bem o que era e eu, apesar de ainda estar sob o efeito da troca de horas, não posso deixar de me sentir angustiada quando me ponho à procura de soluções em forma de substitutos e não consigo vislumbrar ninguém.

Nota de última hora: Ao que parece o Passos recusa-se a entregar ao PR a demissão do Portas. Começo a sentir o mesmo frenesim que senti há muitos anos, quando o Scolari nos convenceu a pôr bandeiras nas janelas e a apoiar a selecção. Agora sim, compreendo todos estes laços, quase nós cegos diria mesmo, entre o futebol e a política. Estou em pulgas para ver o resultado dos próximos jogos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Viver na Margem Sul

A cadela mal se mexe. Deitada no sofá que ocupou selvaticamente desde o dia em entrou cá em casa, não diz ai nem ui a não ser quando a desafio para sair e, mesmo assim, a meio do caminho já leva a língua pendurada e olha-me com olhos de quem suplica o regresso porque já não aguenta o calor.
 
Tosquiei-a há três dias. Parece um rato pelado. Um vizinho aqui da rua admirou-se com a elegância do bicho. Parecia tão gordinha! Afinal é toda elegante! Elegante é um eufemismo. A criatura ficou com patas tão altas e magras que parece que a qualquer momento se vai desconjuntar. Cada vez que a olho lembro-me dos saltos que costumava usar e da agilidade com que corria em cima deles. Agora…nem dois passos daria. A idade modera-nos os exageros.
 
Quanto a mim, sinto-me bem dentro de casa embora me apeteça sair. Pensei em dar início à época balnear já que tenho o privilégio de viver a cinco minutos das praias e de não trabalhar durante a semana. Provavelmente vou pôr essa ideia em marcha. É bem capaz de me fazer bem. Levanto-me cedo, desço a rua e vou a banhos. À tarde posso até dormir uma sesta depois do almoço. Roiam-se de inveja aqueles que têm de enfrentar filas intermináveis debaixo de um sol abrasador.
 
Ainda ontem, quando regressava a casa depois de sete longas horas de trabalho fechada numa redação sem ar condicionado, os vi a todos. Às onze da noite entupiam o IC20, a A33 e a A2. Os acessos à Ponte 25 de Abril estavam atulhados! Faço ideia a que horas chegaram a casa! Bem, pelo menos viajaram pela fresca. Ou mais ou menos, porque mesmo a essa hora ainda estava calor. O idiota que disse um dia que esta margem era o deserto devia estar naquela fila a ver-me passar, ligeira, a rir-me deles, a caminho de casa.
 
E se acham que isto é ser má, é porque ainda não se debruçaram bem sobre as notícias que por aí se passeiam. Boa semana de trabalho, para quem ainda não está de férias.