segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Falta de criatividade

Sente-se, por esta blogosfera fora, um entupimento criativo. São raros os blogues que mantêm a traça inicial, e por mim falo que vivo de oscilações. Sente-se apreensão e sobretudo falta de garra, de genica, como se a realidade já nos tivesse vencido - essa realidade que nos têm insistentemente vendido e à qual nós, mais cedo ou mais tarde, acabamos por sucumbir.

Os momentos mais criativas da minha vida não aconteceram nas alturas mais felizes, nessas carregadas de  euforia, de ânimo, de visão e confiança no futuro. Os momentos mais criativos foram precisamente os que se seguiram aos momentos de desânimo, aos momentos de, tantas vezes, profunda tristeza, desilusão e medo – aos piores momentos. Os momentos mais criativos foram sempre aqueles em que o espírito se entregou porque já não havia mais nada que temer e uma estranha paz o invadia. Uma paz que levava o corpo ao abandono e o cérebro, a reboque dos dois, se abria plenamente à vida. Vazio. Livre. Pronto para criar.

Espera-se, por isso, que muito em breve volte a criatividade à blogosfera. Que muito em breve as pessoas se manifestem realmente ao invés de se limitarem a mostrar obra que afinal é de outros e que, merecendo ser divulgada, acaba por se tornar repetitiva. Espera-se que, muito em breve, a paz regresse a todos os espíritos porque já pouco ou nada há que temer. Afinal de contas continuamos a ser nós os condutores das nossas vidas. Só temos, quando muito, de adaptar as nossas ferramentas às novas circunstâncias, nada mais.

Faz-de-conta...

Grave é hesitar, vacilar, confundir.

É inocente quem acredita que o mundo premeia sempre a competência.

Ficaríamos todos pelo caminho, ou quase todos, nesta desenfreada corrida, não para a perfeição, mas para a subtileza do erro e, sobretudo, para a manutenção de uma atitude.

Sim, sinto-me amarga. Rodeada de faz-de-contas. Faz de conta que somos competentes. Faz de conta que somos sérios. Faz de conta que somos justos. Faz de conta que somos sábios…E depois olho à minha volta e o meu espírito descansa mais no que existiu e luta por existir no que agora existe. Em vão. E dou comigo a sentir o que o meu avô sentia e manifestava e eu sem coragem para tal!...Mas olho a arte, por exemplo, e sem pensar busco o que foi, no que é. Sem pensar. Porque se penso sou bem capaz de dizer que talvez não tenha tempo; talvez eu veja pouco; talvez não saiba ver; talvez o defeito seja meu. E o mundo aplaude de pé. É isso que quer ouvir.

Grave é hesitar, vacilar, confundir…

Grave é considerar sequer a hipótese do defeito ser nosso! Isso sim, é grave. Comem-nos vivos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ai Ai Ai que não sei nadar!

Um dos maiores riscos desta crise que anda a aterrorizar toda a gente, é a falência absoluta dos valores humanos.

Já se nota, aqui e ali, a reacção do afogado. Gente que deixa de ver gente à sua frente para ver um objecto onde, desesperadamente, se agarra.

À que manter a lucidez, a calma e a dignidade. De outra forma corremos o risco de nos encontrarmos, todos, no fundo do oceano.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Distúrbios domésticos

Não sei o que se passa com a vida mas tem alturas em que parece oferecer um excesso daquilo que não se precisa. Eu preciso de descanso. O Verão atribulado por que passei, esgotou-me. E agora, que preciso tanto de mim, não sei onde hei-de desencantar forças para o caminho – e já falta tão pouco para lá chegar!

Foi nesse propósito que rumei à casa dos produtos naturais e vim apetrechada de melatonina; tirosina, serotonina, gengibre, taurina, ginseng, guaraná e taurina. Enfim, uma panóplia de plantas que espero me ajudem a equilibrar o sistema e a ressuscitar as vontades e as forças.

Dei início ao tratamento na noite de sábado e todos sabemos, ou quase todos, que estas drogas ditas naturais não são, na maior parte dos casos, de efeito imediato. Ando, por isso, há duas noites a deitar-me na esperança de que “hoje sim, vou dormir sem sobressaltos”.

Acontece que na primeira noite fui vítima de uma extraordinária baixa de temperatura que me obrigou a andar a caminho da casa de banho, em estado de sonambulismo e incapaz, por isso, de tomar uma decisão de fundo como, por exemplo, colocar uma mantita na cama e dormir um bocadinho mais aconchegada. Na segunda noite, a de ontem para hoje, fui brutalmente acordada por desavenças no andar de cima! E foram elas, as desavenças, que me trouxeram hoje aqui, à vossa beira.

Pois que no andar de cima vive um casal de idosos que tem uma filha que eu nunca vi, e já cá moro há mais de um ano! Pelo que sei não vive longe, mas dos pais quer distância. A senhora sofreu, há coisa de seis ou sete anos, um AVC que a deixou paralisada e o marido, que já passou dos oitenta pelo menos há dois anos, tratou de se munir de cadeiras de rodas (2) e de andarilhos (2) que espalhou pela casa de forma a facilitar a mobilidade da mulher e a poupar, penso eu, as forças dele – ou não.

Este casal que está por sua conta e risco precisa de ajuda e foi isso que eu lhe fui dizer esta manhã depois de ter passado uma noite inteira a ouvir gritos e pedidos de socorro. Depois de ter, à uma da manhã, saído da minha casa para me postar à porta deles de dedo na campainha sem que alguém me abrisse a porta. Depois de ter sonhado, nos poucos momentos em que cheguei a passar pelas brasas, com os maiores horrores domésticos que uma mente pode imaginar.

Não chamei a polícia. Tive vontade de o fazer mas não o fiz porque conheço o senhor e sei que ele precisa de ajuda, não de denúncias. Embora saiba também que um gesto desses pode, evidentemente, implicar a vinda da tal ajuda. Enfim, não estou tão certa disso. Não conheço os trâmites da nossa lei nem da sua prática.

Seja como for, deixei bem claro, esta manhã, que eles precisam de ajuda e que eu estou disposta a fornecê-la. De resto não tenho outro remédio – ou os ajudo a resolver a situação ou dou em doida e não há ervas que me valham.

Se alguém que me leia tiver conhecimento dos passos a dar em situações como esta, agradeço. Qualquer indicação me será útil. Já sugeri ao senhor que tentasse meter a mulher num lar da Santa Casa, que sei que é bom, mas o facto é que ele me parece relutante em fazer seja o que for. Na verdade parece-me que é caso para ser avaliado in loco por alguém da assistência social. Será que isso existe?! Vou tentar informar-me.

Obrigadinha por me ouvirem. Estava mesmo a precisar de desabafar.


domingo, 18 de setembro de 2011

Intelectualidades

Há uma coisa que me irrita sobremaneira e cada vez mais – esta tendência que os intelectuais do nosso tempo, professores, historiadores e até investigadores têm para serem, ou papagaios das palavras de outros que falaram antes deles, ou críticos dessas mesmas palavras, mas críticos dos que se limitam à crítica, incapazes de qualquer verdadeira mais-valia.

Eu sei que parte do conhecimento é construído a partir de obras já existentes e que é estúpido, e uma enorme perda de tempo, andar em cima dos passos que outros já percorreram. Daí que é fundamental saber quem é que já fez o quê. A questão é saber quem é que pega nas pontas e desenvolve, realmente, préstimos que não se fiquem pelas ideias, que por vezes são as mesmas com outras formas.

Desculpem. Ando cansada de papagaios e farta da gigantesca falta de imaginação que grassa em certas classes que se dizem estudiosas. Gente que menospreza qualquer tipo de conhecimento que não tenha sido adquirido a ler aquilo que foi a experiência dos outros. O conceito de tábua-rasa tem, na minha opinião, de ser erradicado – não é realista acreditar que um ser humano esqueça tudo aquilo que aprendeu com a experiência vivida, quer ela seja grande ou pequena. O desprezo pelo senso comum é prejudicial e, tal como um artista tem toda a vantagem em ouvir a opinião de um leigo acerca da sua arte, um investigador, especialmente se operar em áreas humanas, tem de ter em consideração o conhecimento “desarrumado” do senso comum.

Deixo-vos com um parágrafo da autoria de Maria Teresa Estrela na Revista Portuguesa de Educação:

“Nos tempos actuais, em que correntes do pensamento, de origem e natureza vária, tendem a pôr em evidência o valor da linguagem enquanto processo de construção e limite do nosso mundo e em que as ciências sociais tendem a desvalorizar a ordem dos factos para se constituírem, na expressão de Boutinet (1985), em ‘acto de palavra sobre a palavra dos outros’, começa a ser difícil a distinção nítida entre a ordem das coisas e dos eventos e a ordem das representações e intenções.”

Interpretem-no como entenderem.

De Abertura Fácil

Comprei um tónico cerebral muito fácil de tomar. Na caixa destaca-se a expressão: Cápsulas de Abertura Fácil. Quanto às instruções da toma, é preciso agitar, abrir, tirar a tampa, e beber o conteúdo “de imediato”.

São cápsulas cilíndricas, em plástico. Bastante robustas. À primeira vista parecem ter uma tampa que entra pela cápsula dentro e é a partir desse pressuposto que se agarra na cápsula com a mão esquerda e na tampa, que possui uma extremidade em forma de bico, com a mão direita, e se tenta ”tirar a tampa” – rodando? empurrando? puxando? Tudo isso. Não sai à primeira, não sai à segunda e nem à terceira ou à quarta. A “abertura fácil” transforma-se num pesadelo com efeitos nocivos para um cérebro que precisa de tónicos.

Muda-se de táctica – empurra-se para lá e puxa-se para cá, em movimentos sucessivos que não fazem moça nenhuma a um plástico grosso e, de certa forma, maleável. Vai e vem e fica na mesma. Recorre-se aos dentes. “Mastiga-se” praticamente o bico da tampa enquanto se vai agitando o conteúdo, conscientes que já passou o prazo que medeia os três passos: agitar, abrir e beber “de imediato”. A tampa balança mas não cai e continuamos sem perceber se um pequeno cilindro vai sair de dentro de outro como a textura transparente da cápsula e o comportamento do líquido lá dentro nos faz crer, ou não. Aumenta o receio de uma abertura explosiva que atire com o líquido para parte incerta. Desiste-se dos dentes quando se vê o bico da tampa amassado e ela sem sinais de abertura. Procura-se na caixa o resto das instruções que tenham, de preferência, um desenho do procedimento – nada. Volta-se à azáfama de empurrar para trás e para diante o estupor da tampa que resiste, mais por descargo de consciência do que por se acreditar que algo de bom saia dali.

Finalmente a tampa cede! Cede e parte-se tal e qual como as de vidro – por um grosso e resistente picotado que tem na base. O pequeno cilindro que dentro do cilindro principal dá a ilusão de se tratar de uma tampa que encaixa no frasco, afinal não passa de um reforço! A tampa parte-se, tal como as de vidro, é preciso é ser persistente e não desanimar. Está ultrapassada a primeira barreira que nos faz crer que afinal somos capazes! Mas, se o seu cérebro estiver deveras cansado, recomenda-se que entregue a uma segunda pessoa a tarefa da primeira abertura, não vá você desanimar...

sábado, 17 de setembro de 2011

O lado bom das coisas más

É a terceira vez que se parte o cabo da embraiagem! Desta vez partiu-se, mal passei as portagens. 

Saí do automóvel com ar de polícia de trânsito e abanei as mãos para que compreendessem que a coisa estava para ficar. Cheguei mesmo a passar os dois dedos da mão direita pela garganta num gesto de corte, não fosse algum condutor não ter entendido bem a gravidade da situação. É que da última vez houve um expert que acreditou ser capaz de pôr o automóvel em movimento mesmo sem cabo, ou isso ou achou que eu tinha interpretado mal o estalo seguido de pedal morto debaixo do meu pé esquerdo.

Parece que à terceira a hipótese de ficar apenas pela substituição do cabo é muito, mas mesmo muito, remota. Diz o mecânico que ou substituo a embraiagem ou não me garante que o desgraçado não morra jovem, que é como quem diz, não rebente na primeira esquina.

Não sei se o facto de ter mudado de companhia de seguros terá alguma relação com o reboque mas, provavelmente, tem. Nem todas as companhias de seguros trabalham com as mesmas empresas, digo eu…a verdade é que eu nunca tinha visto um reboque como aquele que nos foi buscar, a mim e ao twingo, mesmo à entrada da ponte. Houve momentos em que receei que nós seguíssemos e o twingo ficasse para trás e foi por isso, e só por isso, que não tirei os olhos do retrovisor nem a mão do apoio, apesar do condutor ter ficado convencido que o meu problema estava relacionado com as dores das costas por causa dos solavancos – ao que parece ele, coitado, padece disso. Ainda lhe tentei explicar que a melhor defesa seria uma postura semelhante à da equitação mas não sei se ele percebeu.

Em tom de desabafo vim aqui só para dizer que por muitas contas que se façam há momentos em que as surpresas não param de acontecer e vinha eu a aproveitar o acontecimento para desfrutar da brisa da manhã num passeio a pé que é coisa que ultimamente tenho feito pouco, quando me pus a pensar que se fosse rica nada disto acontecia porque trocaria de carro de dois em dois anos, mas também não passava por estes momentos de improviso que, desde que se saiba, podem ser uma verdadeira lufada de ar fresco no ramerrame do dia-a-dia. Ah! e conheci o menino do reboque que era giro que se farta.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Do ainda não ser

Não é fácil adaptarmo-nos a um mundo em que a maior parte do que é não parece e o que parece não é. Gente importante sem importância nenhuma. Sábios que sabem pouco. Gente que enriqueceu com o trabalho dos outros. Escritores que não escrevem. Cantores que não cantam. Actores que não o são. Até a música chega a ser duvidosa porque na sua maioria tem um público surdo e a arte, tantas vezes, um público cego.

Mas, de tudo isto, o pior é esta embriaguez em que se vive e que impede constantemente toda esta gente de crescer.

Vivemos num mundo povoado por gente que ainda não o é.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

As correntes existem. Mas em qualquer momento podem ser quebradas. Basta não cometer os mesmos erros.

Um mundo à medida de cada um

Uma das coisas mais difíceis de digerir é o facto de o mundo não ser como o idealizamos, ou achamos que deve ser. Os outros não agirem como nós achamos que devem agir; não pensarem como nós achamos que devem pensar, não serem, enfim, quem nós gostaríamos que fossem.

Nunca é. Nunca são.

Levamos anos para aceitar isso! Anos para deixar de sentir essa raiva interior, essa revolta, essa vontade maior de “endireitar” tudo e todos. Anos para deixar de gritar e blasfemar. Anos para deixarmos de nos chatear com aquilo que o mundo é, e anos para perceber que nem o mundo nem os outros seriam perfeitos se fossem como nós gostaríamos, ou melhor – achávamos que deveriam ser.

Depois disso é mais simples. E mais rápido, também. Depois disso é só aprender a gostar do mundo e dos outros tal como são. Eventualmente pode acontecer que o mundo e os outros, com o tempo, se aproximem consideravelmente das nossas expectativas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Inspiração

Olhar-te a imagem
Guardá-la pr’a mim
sem te ter nunca falado
(ou quase nunca)
saber de ti
como o mar sabe da espuma
e as folhas do vento
Esperar-te e não ter medo
saber-te aqui
num prelúdio de amor
por instinto anunciado
Não vacilar na certeza
e antever a grandeza
de um presente enamorado
Querer-te.
Chamar-te pelo nome.
E ter-te a meu lado.

Imagem: A Espera - Óleo de Helena Lobato

Das redes sociais

Tão dispares as realidades quanto o são os lugares. E pese embora o facto das redes sociais unirem o mundo, o certo é que a sua contribuição para a mobilidade social é ainda tímida.

Repositórios extraordinários, permitem a cada um a manutenção daquilo que acredita ser os seus interesses. E é assim que certos miúdos, de certos meios, mergulham em acontecimentos e notícias que os puxam ainda mais para o núcleo comezinho, e tantas vezes pobre, das suas realidades culturais.

Damos demasiado valor à insignificância e demasiado crédito àqueles que esmiúçam a insignificância.

Diz O Segredo que é fácil, basta pedir e acreditar que já se recebeu.

Dizem os intelectuais que O Segredo é um disparate.

Diz a minha experiência que O Segredo não é disparate nenhum e que fácil é o tanas!

Não é disparate nenhum conseguir-se o que se quer, quando realmente se quer, i.e., quando se quer MESMO, as coisas acontecem. O difícil está em saber-se o que se quer e em ter-se a força necessária para se acreditar quando tudo à nossa volta nos diz o contrário.

Desde cedo que sei melhor o que não quero do que aquilo que quero. Até que ponto é que estando focada no que não quero me acontecem, now and then, coisas aborrecidas, não sei. Mas é possível.

A realidade muda conforme o lugar para onde se escolha dirigir o olhar. A dificuldade maior está em não nos deixarmos envolver por uma realidade não escolhida.

Tenho feito algum esforço, ultimamente, para me focar no que quero sendo que aquilo que quero é bom para mim e, portanto, me faz sentir bem. E é aí que está o busílis da questão: Sentir-me bem nem sempre é fácil e, mais difícil ainda, é sentir-me SEMPRE bem. As noites e as manhãs são o pior, como se uma triste e negra (não leda) realidade (e não madrugada) esperasse à esquina do meu endormecimento para me atacar sem dó nem piedade. E não é fixe, como diria a minha filha – não é fixe.

Assim dedico, nos dias que correm, um esforço por vezes titânico à concentração no bem-estar sabendo, como sei, que o movimento é de dentro para fora e não de fora para dentro. Umas vezes sou bem-sucedida, outras não.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Carta a S. Pedro #2 (tanto quanto me lembro...)

Querido S. Pedro,

Gostaria sinceramente que tivesses em consideração o facto de todos nós, à pala da crise e de todas as merdas que ela acarreta, andarmos instáveis; nervosos; indecisos; pouco confiantes no futuro… medrosos enfim, sem saber o que fazer; que posição tomar…neste momento estão-se-me a esgotar os adjectivos – o meu vocabulário é limitado, mas isso é uma coisa que tu já sabes porque sempre que me dirijo a ti é para dizer a mesma coisa: Tem lá atenção ao estado do tempo, se não te importas.

Desta vez, porém, aproveito para te chamar a atenção para uma realidade que talvez tenhas descurado, mais por hábito do que por despeito, estou certa disso. Toda esta argumentação vai no sentido de te fazer ver que a carga começa a ser maior do que o burro porque suportar a instabilidade atmosférica não é pêra doce se durar muito tempo, mas em conjunto com outras instabilidades como as que acabei de referir pode levar um cidadão, ou cidadã que para o caso tanto faz, à loucura.

Assim, por favor esclarece-me que tempo pensas tu fornecer durante este mês de Setembro. Podemos contar com mais uns dias de praia? Não podemos e o melhor mesmo é começar a pensar no edredão que as noites já começam a esfriar? Vai chover? Não vai chover? É para andar de alças ou é melhor começar a substituir os trapos? Enfim, preciso de respostas para estas perguntas que até podem, à primeira vista, parecer supérfluas mas não são.

Já agora aproveito para te dar a conhecer os meus desejos. Então é assim: Se fosse possível ter manhãs de Verão; tardes de Primavera e noites chuvosas, eu agradecia. Penso até que agradeceríamos praticamente todos e tu passarias a ser, não tenhas dúvida, muito mais venerado.
                                                                                              
Sempre tua,

Euzinha

Processo

Primeiro perdi a vontade de ler os outros. Pouco depois a vontade de me ler a mim e um pouco mais tarde a de escrever acabou por seguir o mesmo caminho. É que quanto mais a lia, mais fúteis, incompletas e redundantes me pareciam todas as palavras. E foi assim que emudeci.

domingo, 11 de setembro de 2011

À Junta de Freguesia da Charneca da Caparica

Não sou contra as iniciativas especialmente se visarem actividades lúdico-didácticas, desportos e outros entreténs ditos saudáveis, que quanto mais se ocuparem as gentes, miúdas e graúdas, mais fácil será a manutenção da ordem. Mas cuidado! Cuidado! Não se faça transparecer a intenção no meio da acção! Refiro-me àquela que na verdade se está nas tintas para a arraia-miúda e que o que lhe interessa mesmo é sobrelevar os seus feitos e dizer à boca cheia: “Estou aqui e fiz isto. Olhem para mim e pensem bem em quem votar nas próximas eleições.” Atenção! não se esqueçam estes senhores que o público, e mesmo aqueles que nem isso chegam a ser porque se deixam ficar por casa; porque decidem por mais interessantes paragens ou porque simplesmente não estão nem aí, é sempre em maior número do que os participantes – mesmo contando com quem só finge participar quando se passeia de um lado para o outro, fazendo vento e não produzindo nada. São em maior número meus senhores! É preciso, portanto, pensar bem neles quando se organizam estes eventos que fecham estradas, acessos e caminhos, encurralando as gentes! É que há quem não goste, mesmo nada, de se sentir encurralado.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Nevoeiro

Sou uma besta. Deixei passar o Julho e o Agosto sem pôr os pés na praia.

Não que tivesse estado um Verão inesquecível, que não esteve, mas houve bons dias de praia, e eu em vez de os aproveitar estatuifiquei-me a carpir mágoas, desgraças e infortúnios, convencida que me estavam vedados todos os momentos de descanso e lazer – quem é que merece descanso quando tudo à volta se desmorona?!

Foi ela, a velha, recôndita e lúgubre vontade de me penalizar, dentro da máxima – mea culpa, mea maxime culpa, a responsável pela miséria de vida que levei durante estes dois meses. Quem é que, em seu perfeito juízo e a viver a três minutos das melhores praias do país, se deixa ficar em casa?!

Agora, resolvidas que estão as situações mais prementes, prometida que está a bem-aventurança, despertou-me a realidade de um ano inteiro sem sol, sem banhos de mar, sem passeios, sem iodo e sem vitamina D que é como quem diz, sem paliativos para as dores disto e daquilo - os ossos a protestarem! os tendões a protestarem e a tristeza a acomodar-se na quantidade de meses que ainda nos separam da próxima oportunidade…e rumei à praia na quarta-feira fazendo contas de cabeça a três diazinhos, assim seguidos, que é melhor do que nada.

Hoje a bandeira vermelha exibia-se mais pela falta de visibilidade do que pelas correntes, que o mar até nem estava bravo, e dizia-me o arrumador, pouco depois das dez da manhã - Isto vai levantar! - O senhor acha?! – Eu não acho! Eu tenho a certeza!

Foi a acreditar nas palavras deste entendido que, perdida num cenário sebastiânico e de pernas imersas numa água quase morna, passei a manhã à espera do sol. Esse, lá continuou mascarado, mesmo à minha frente, de pálido círculo escondido por detrás do nevoeiro.

Cerca das onze e meia começou a levantar-se uma brisa que obrigou a humidade a entranhar-se nos ossos, mas nem eles nem os tendões, que me têm azucrinado o juízo ultimamente, me agradeceram, por isso ainda não era meio-dia quando decidi subir a falésia.

Cá a cima já o nevoeiro tinha chegado. Resta saber se continua a subir ou se se espalha. Se subir pode ser que ainda seja uma boa tarde de praia. Eu… vou trabalhar.

domingo, 4 de setembro de 2011

Lástima


Percebo-a bem – o cansaço tomou-lhe conta do amor. Mas não deixo de me encarquilhar por dentro sempre que a oiço dizer que não sabe, não percebe nada do que ele diz. Não é imediata a descodificação dos sinais mas basta alguma boa vontade, daquela que no meio do amor passa silenciosa, para se manter uma conversa que pode até ser interessante. Ele não tem mais problemas de compreensão e de memória que aqueles que nasceram por ali, à volta do tempo que foi também o dele, muito pelo contrário – quem tiver um bocadinho dessa paciência que vem com a boa vontade, depressa se aperceberá que está a falar com alguém que está bem vivo e não é parvo.

O cansaço tomou-lhe conta do amor e é pena. Por ele, e por ela também.

Da inércia e do medo

A inércia não está dependente apenas das leis da física. Ela existe em tudo o que é movimento, até no movimento provocado pelo decorrer da própria vida.

Ficamos presos a uma situação, por um período que pode ser maior ou menor, consoante a intensidade exercida por essa mesma situação na nossa vida, mesmo depois de ela terminar.

Na passagem de uma situação boa para uma situação má, levamos algum tempo a adaptar a nossa forma de estar à nova situação e há até quem chame Negação a esse tipo de comportamento. Eu prefiro chamar-lhe Inércia.

Não é diferente quando se passa de uma situação sofrível para uma consideravelmente melhor. Leva-se também algum tempo a “digerir” a nova situação. E é em grande parte por esta semelhança que eu prefiro chamar-lhe Inércia a chamar-lhe Negação. Quem, em seu perfeito juízo, negaria uma situação boa em detrimento de uma menos boa?!

Quem me tem acompanhado, ao longo destes dois anos e alguns meses, sabe que a minha vida, como provavelmente a vida de tanta gente, é um poço de mudanças – umas para melhor, outras para pior mas isso é coisa que só se sabe quando passa a tal inércia e eu adapto o meu estado de espírito à minha nova vida, cercando-me de medos ou libertando-me deles, ainda que temporariamente.

Uma coisa é certa – à medida que as experiências se acumulam e as situações se ultrapassam, o medo vai tendo cada vez mais dificuldade em ocupar certos espaços. Ainda assim o energúmeno arranja sempre maneira de entrar.

Eu estou hoje a dar início ao movimento contrário, pelo que estou numa de gozar este momento vedado ao medo. Tenciono prolongá-lo o mais que puder e tenciono, sobretudo, aproveitá-lo para construir algo que possa servir de barreira intransponível ao endemoninhado, porque se há coisa que vale a pena combater é o Medo.

Amigos para sempre. Ou talvez não...


Houve tempos em que o amor e o sexo viviam assim como que separados, não completamente apartados mas numa relação que às vezes sim outra vezes não.

Com o passar dos anos foram-se aproximando. Cada vez era mais difícil um viver sem o outro e ambos abrandaram o passo, não tiveram outro remédio, porque nem sempre é fácil um encontro entre estes dois.

Agora há um que se recusa a sair de casa sem a companhia do outro. Por vezes a amor ainda sai, não lhe faz grande transtorno a ausência do companheiro – é bastante independente. Já o sexo…

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Um desabafo. O meu.


Venho. Espreito. Clico aqui e ali só pelo prazer de clicar como aqueles que se estendem pelos maples de comando na mão e olham apáticos para as imagens sem som que deslizam pelo écran. Nem leio o que outros escrevem! Nem sei se procuro ou não algo que me desperte, que me libere deste amorfismo macarrónico feito mais de saturação do que de cansaço. Quem tem protocolos a cumprir acaba necessariamente a desprezar a falsa ordem das coisas. Como é que nos deixámos enredar em gigantescas teias repletas de ávidas aranhas?! Quando é que isso aconteceu?

Fica-nos a consolação do orgulho de não termos sucumbido. Ainda.