segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A certeza de que um dia morrerei tranquiliza-me

Ainda bem que morremos todos e que nada disto terá a mínima importância daqui a alguns anos porque, se assim não fosse, estaríamos a viver um verdadeiro Inferno.


Espero não vos aborrecer com este pequeno episódio. Conto-o por acreditar que ele é apenas uma sombra do tanto pior que se passa dentro de cada vez mais casas, e pergunto-me até que ponto é que os responsáveis por esta sui generis realidade se lembram que também morrerão um dia e que, dado que não se sabe o que acontecerá depois disso, convém jogar pelo seguro, digo eu...

Por mim, partirei com a certeza de que me esforcei, todos os dias, por fazer o bem.

Cá vai:

Na sequência das alterações económico-financeiras levadas a cabo pelos governos que se seguiram ao início da crise, passei a ter de pagar IRS apesar dos meus rendimentos não terem aumentado.

Em 2014, consegui fazer o pagamento relativo a 2013 mesmo “à rasquinha” mas, em 2015, já não me safei e tive de esperar por Dezembro para conseguir a quantia que as Finanças me pediam e que tem correspondido, grosso modo, a um mês de salário.

Considerando que ele é baixo, gostaria de saber como é que estas pessoas que fazem as leis dormem tranquilas e cheguei à conclusão que elas não fazem a mínima ideia da luta que pessoas como eu travam diariamente ou então, tal como faz sentido nos dias que correm, estão-se nas tintas para as pessoas. O que interessa, verdadeiramente, são os números. Pena é que sejam tão frios. Os números.

O meu azar foi que quem me paga não o conseguiu fazer antes da primeira semana de Janeiro, pelo que foi nessa altura que eu liquidei o IRS relativo a 2014.

Ora, em 2010, por ocasião da compra de um apartamento que me tem dado água pela barba e que me deixou até hoje intrigada com o que levou um banco a fazer-me um empréstimo, chegando sempre à conclusão que só pode ter sido para me perseguir sem tréguas até ao fim da minha vida – considerando que, se não o vender antes, terei de o pagar até aos 80 e tal anos. Por ocasião dessa compra, dizia eu, entrei com um pedido de isenção do IMI que me foi concedido pelo período de oito anos.

Assim, e tal como está indicado no portal das Finanças, eu estou isenta de IMI até ao ano de 2017.

Imaginem então o meu espanto quando, anteontem, ao abrir o dito portal dou de caras com uma etiqueta vermelha, daquelas com que se marcam os piores dos caloteiros.

O que é que tinha acontecido?

Fácil – como eu não tive dinheiro para pagar o IRS antes do final de 2014 e deixei a coisa arrastar-se até à primeira semana de 2015, levantaram-me a isenção não alterando, contudo, a informação que figura no espaço “isenções” do portal das Finanças.

Desta forma, sou castigada por não ter tido dinheiro para pagar o IRS – sendo-me exigido mais daquilo que não tive!

No rescaldo desta aventura, dou de caras com uma notícia quase extraordinária,


“A paróquia de São Martinho das Moitas, em São Pedro do Sul, foi multada em 6.300 euros por prestar apoio social a mais seis pessoas do que estava habilitada pela Segurança Social. O Centro Paroquial ainda recorreu para o Tribunal de Trabalho de Viseu, que baixou o valor da contra-ordenação para 2.500 euros. Um valor “desproporcional”, considera o padre responsável.”


É a lei, dizem as pessoas. É a lei, dizem as Finanças. É a lei, dizem os tribunais.

A quem servem estas leis? pergunto eu. 

Que legado ficará para os nossos filhos? para os nossos netos?