quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Acordei com a voz do meu pai a dizer ó---brigado



Faz hoje 86 anos que o meu pai nasceu. Filho único do meu avô, nasceu de um amor proibido. Um desses amores que, talvez por o serem ou talvez porque sim, crescem mais e mais e dão frutos maiores do que tantos outros consentidos.


Faz hoje 86 anos que o meu pai nasceu, fruto de um amor maior, ou pelo menos mais rebelde, e talvez por isso tenha vindo ao mundo tão cheio dele, tão cheio que com o passar dos anos era amor o que dele brotava, muitas vezes em silêncio, tantas vezes sem ser sequer apercebido porque, para vermos o amor, temos de olhar nos olhos com olhos de ver e o meu pai, no seu silêncio tantas vezes confundido com alheamento, passava quase despercebido nesse amor que brilhava como o sol no olhar que nos deitava.
Faz hoje 86 anos que o meu pai nasceu e 57 dias que partiu.
Quantos dias faltarão para que este vazio parta com ele, também?


Três horas depois de ter escrito este texto, um dos meus alunos entrou na sala com um saco de plástico de onde tirou um bolo, talheres e pratos que dispôs na mesa. No bolo espetou duas velas - um 3 e um 1. Pediram-me que lhes ensinasse a cantar os parabéns em português e eu escrevi no quadro a letra toda, completa, com o Dia de Festa e tudo. Acenderam-se as velas. Cantámos todos. Batemos palmas e o aniversariante apagou as velas.


Insondáveis que são os caminhos de Deus!