domingo, 10 de julho de 2016

Ser Bom – um conceito decadente


A Bondade é um conceito claramente ultrapassado.

O que é isso de ser Bom?!

Ah você ajudou um velhinho a atravessar a estrada?

Tratou bem o vizinho, apesar de ele não o deixar dormir de noite? Que simpatia!

Deu lugar a uma grávida no autocarro?

Pediu desculpa por não ter reparado em quem estava à sua frente? Que educação!

Há muitos anos, quando eu ainda tinha alguma vergonha de ser eu, houve alguém que se insurgiu contra mim dizendo, alto e bom som:  Ninguém é assim tão boazinha!

Ao longo da minha vida tenho-me deparado, com uma assiduidade considerável, com desconfianças que oscilam entre o descrédito e a certeza de que por detrás de mim existe uma qualquer intenção maléfica destinada a satisfazer as minhas necessidades, sejam lá elas quais forem.

Tenho uma novidade para todos: essa não sou eu.

Não, não sou premeditada.

Sim, sou genuinamente boa.

E mais, desde que adquiri a consciência de que ser boa é, afinal, algo de extraordinário – consciência aliás que me foi dada por todos quantos sempre duvidaram da existência da bondade ou têm feito da sua vida uma campanha a favor da certeza de que todos os seres humanos são genuinamente maus, o que faz dos Bons seres extraordinários -, desde esse momento, dizia eu, que me tenho empenhado em apurar e aprofundar esta minha característica, de modo a que ela se transforme no “absolutamente mim”, libertando-me gradualmente do maior número possível de sentimentos, pensamentos ou actos típicos dos homens maus.

A sensação de bem-estar, de satisfação e realização pessoal é tal que não me deixa compreender esta aversão quase geral que as pessoas têm à existência, e prática, da Bondade.

Desde quando é que ser bom é um ridículo sinal de fraqueza, debilidade ou mesmo estupidez? Quando é que essa ideia começou e quem é que a espalhou? Não faço a mínima ideia. Sei, de fonte segura, que está na hora de desmistificar a Bondade. De deixar que ela saia da concha. De a olhar como ela merece – um bem preciosíssimo capaz de trazer felicidade à mais desgraçada das criaturas.

Se é fácil? Nem por isso. É talvez mais fácil ser-se mau. Mas muito menos compensador. Garanto-vos.

O que me leva a deduzir que a Maldade, essa sim, é própria dos fracos, dos débeis e dos ignorantes. Dos incapazes e dos verdadeiramente estúpidos que ainda acreditam que a felicidade é um somatório de momentos preenchidos por prazeres tão fugazes que até por quem eles passa pouco recorda no dia seguinte.

A Bondade é um conceito claramente ultrapassado? Pode até ser que sim, que tenha vindo a ser. Mas está na hora de ser ressuscitado. Está na hora de ganhar o seu merecido lugar no teatro da vida.

Por isso, criaturas, encontrem-na dentro de cada um de vós – mesmo que esteja muito escondida, ela está lá. Encontrem-na e tragam-na à superfície. Cultivem-na. Desenvolvam-na e sejam felizes.

Está na hora.