terça-feira, 30 de agosto de 2011


Ter muito é quase a mesma coisa que não ter nada no que toca a material contável – não do que se conta em forma de números mas daquele que se conta em forma de letras.

Calo-me quando não tenho nada para dizer e calo-me quando o que tenho é tanto, mas tanto! que me entope toda e qualquer veia criativa.

Por estes dias tenho andado entupida.

sábado, 27 de agosto de 2011

Preciso de gente tranquila


Preciso de gente tranquila. Gente “de bem com a vida”. Gente que olha o horizonte, sentada em poltrona de verga e de copo na mão goza a brisa da tarde e olha o pôr-do-sol sem vacilar um segundo na certeza de que tudo está bem, de que tudo vai bem e que a vida é bela.

Preciso de gente tranquila. Gente que me mostre que é possível, sem me atirar em cara o meu fracasso. Gente sem arrogância nenhuma. Gente que sabe o peso das circunstâncias e que por isso agradece as suas. Preciso de gente tranquila.

Gente que me alivie um pouco esta carga que já não sei se foi ou não por mim chamada. 

Preciso de gente tranquila.

Gente sem medo. Gente de coragem. Gente que caminhe determinada pela vida. 

Tranquilamente.

Preciso de gente tranquila.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Mentecaptos


Não sou contra a ambição, nem contra a exigência de qualidade, muito pelo contrário. Não sou contra a incessante procura do belo. Muito pelo contrário. 

Mas sou contra a extravagância; o novo-riquismo e a ostentação.

Sou contra torneiras de ouro quando um terço, pelo menos, da população mundial passa fome.

Sou contra cintos de segurança banhados a ouro. Sou contra todas as extravagâncias que não servem nada nem ninguém – nem mesmo a beleza - a não ser o desperdício! E o não saber mais o que fazer de tanto!

Não passa pela cabeça destes mentecaptos salvar a humanidade, e quando digo salvar é salvar mesmo, em vez de se entreterem a forrar a merda dos cintos com o único metal que vale, nos dias que correm, qualquer coisita?! Se não sabem o que fazer ao ouro, não faltam para aí alternativas!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Desperdícios


Desperdiçamos energias sempre que nos irritamos. Desperdiçamos energias sempre que envidamos todos os esforços para contagiar a opinião alheia e desperdiçamos energias sempre que nos adiantamos no discurso, pressupondo realidades que podem muito bem não o ser.

Hoje vi-me aflita para me libertar de um senhor muito bem-intencionado que me chamou a atenção para o facto de eu ter parado o carro num lugar para deficientes, e “que ele está mesmo aí, não se demora nada e depois chama o reboque…” e eu a tentar interrompê-lo só para lhe dizer que não, que não estava estacionada, só parada e vou ali àquele prédio, está a ver, o da esquina, levantar uma coisa na portaria, volto já já, não chega a um minuto, e ele nada – e patati patata… e nunca mais se calava, fui obrigada a virar-lhe as costas mas o homem não se calou! Sempre a explicar o que eu já estava cansada de entender! Cumpri a missão no espaço de duas palavras! Cansou-se a ele. Cansou-me a mim. Deixei-o a falar sozinho.

Ao fechar da porta, ainda ouvi: “é que depois rebocam-lhe o carro, está a ver?!...”

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Facebook

Vamos vivendo e convivendo na nossa multiplicidade, tentando, sempre que possível, aproximarmo-nos da imagem que guardamos de nós, mas não somos sempre os mesmos – não somos.

Somos A para o Manel e B para a Maria – somos pais; irmãos; primos; filhos e enteados; amigos; conhecidos; colegas de trabalho… um nunca mais acabar de papéis – os públicos e os privados. E é no encontro destas duas espécies que, por vezes, a porca torce o rabo.
Lembram-se daquelas festas para as quais somos convidados porque conhecemos o anfitrião e depois deparamos com um mar de gente que nunca vimos na vida? Procuramos desesperadamente a meia dúzia que sabe quem somos para nela nos refugiarmos, caso contrário tremem-nos as mãos e o suor ameaça dar-nos cabo da maquilhagem.
O Facebook pode ser uma festa parecida com essa. Depende, evidentemente das pessoas que escolhemos para aceder à nossa sala privada. No entanto, é inevitável que acabamos por reunir uma mão cheia de gente de diferentes proveniências – gente que conhecemos na infância; gente que conhecemos depois; gente da escola; da faculdade; do emprego…família, evidentemente – a família está lá sempre; e os amigos dos filhos; e aqueles que, não tendo ainda atingido o estatuto de amigos são meros conhecidos…há de tudo nessa sala que pelo facto de ser virtual não deixa de ser uma sala.
Então, o nosso comportamento tem necessariamente de ser aquele que adoptaríamos na tal festa – apenas com a ressalva do isolamento – no facebook não é prático, nem correcto, isolarmo-nos em grupinhos fechados correndo o sério risco de ofendermos, desnecessariamente, quem não merece ser ofendido. Portanto, é o lugar ideal para darmos o melhor de nós, aproximando-nos o mais possível, se não daquilo que já somos, daquilo que somos, com certeza, capazes de ser.

sábado, 20 de agosto de 2011

“Prognósticos só depois do jogo” ou a teoria do caos


Isto vai ser uma desgraceira só! O euro vai acabar! Volta o escudo, e a miséria não vai ter limites! As pessoas não vão ter dinheiro para pagar as casas! Nem compradas, nem alugadas, nem o c********** É o fim do mundo! 

Em cuecas, diriam os meus pais há umas dezenas de anos atrás.

Na boca destes profetas da desgraça o melhor mesmo é tratarmos já de arrumar as botas porque não sobreviveremos ao que aí vem e, a fazê-lo, será debaixo das pontes a comer restos. E o que acontecerá às casas?, pergunto eu. Ficam vazias, ao abandono, a acumularem degradação tal e qual as contas que quando não se pagam acumulam juros de mora? O que acontece aos ricos quando todos os outros deixarem de consumir? Será que se aguentam mutuamente, numa economia fechada onde os bens circulam ali, e só ali? Quem é que já foi ao futuro? Em que altura funcionaram rigorosamente as previsões? Que papel desempenhamos nós nesse futuro que se avizinha tão negro?

Pela parte que me toca recuso-me a baixar os braços, da mesma forma que me recuso a ter medo até porque me sinto incapaz de ver tanta negridão, antes pelo contrário – vejo alguma luz na possibilidade de o meu futuro ser construído por mim com as decisões que for sendo capaz de tomar à medida que as circunstâncias assim o exigirem, sem medos, mas sobretudo sem me deixar envolver naquilo que é o mais perigoso patamar de todos os processos de crise – a lei da sobrevivência. Desumaniza-nos e a desumanização, a existir, será o escorrega mais íngreme e, por isso mesmo, mais rápido, para o caos e para a desgraceira que alguns gostam de apregoar.

Mantenhamos pois as cabeças frias, unamo-nos e não nos esqueçamos nunca de que somos gente e que ser gente significa amar o próximo, ampará-lo, considerá-lo sempre parte da solução e não parte do problema. Significa ser íntegro, moral, justo e digno e significa, sobretudo, ser capaz de não embarcar na vergonhosa “lei” do “salve-se quem puder”. Tanto quanto sei, e mesmo que seja pouco é qualquer coisita, os proveitos que essa lei pode trazer são sempre demasiado efémeros quando não ilusórios. “A união faz a força” é, e sempre foi, uma verdade muito maior.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

E pimba! Hoje é que foi.


Talvez haja sinais, quem sabe. Talvez certos acontecimentos mais não sejam que sinais. O certo é que hoje não fui abalroada mas abalroei. A coisa andava a prometer e hoje cumpriu-se na curva da estrada, no vira à esquerda – zumba. Quando vi já estava em cima. Já não havia nada a fazer a não ser encolher-me e esperar que a coisa não fosse demasiado séria. Não foi. O meu ficou praticamente na mesma que entre os pára-choques rijos como cornos e as inúmeras riscadelas que se diluem na idade, nem dá para se notar – é mais risco, menos risco. O outro coitado, ou a outra neste caso, já não pode dizer o mesmo e, como não parou, deixou que eu lhe varresse o lateral – da dianteira à traseira – sem sair do mesmo lugar, que é como quem diz, eu parei e ela não e foi no que deu – uma participação à companhia de seguros com a qual fechei negociações há pouco mais de um mês por me fazer um preço mais em conta. Ora toma lá que tantos anos sem sinistros é de mais e a vingança serve-se fria – cá para mim isto foi mezinha da companhia anterior, Querias pagar menos?! É no que dá! Agora levas com o agravamento que até andas de lado!.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O chá das insónias


Não sou da noite. Nunca fui, de resto. Adoro a manhã e a única oportunidade que tive de assistir a um nascer de sol nunca encontrou igual nas inúmeras despedidas do astro rei a que assisti. O fim da tarde adormece-me enquanto a manhã não se limita a acordar-me – envivece-me. Daí que tenho estranhado este horário para lá do comum que tenho experimentado nestes últimos dias. Chegar a casa às onze da noite é estranho. Não é desagradável – é estranho. Como tudo aquilo que se muda, mesmo que temporariamente.

Mas continuo a não gostar da noite. E por isso dou por mim a zarpar – que é mesmo o termo – a zarpar o mais depressa que posso para chegar depressa a casa, espreitar-vos por aqui e dormir, depressa também que amanhã o dia começa muito cedo. 

Creio que hoje não devo ter sido a única com esta pressa que existe sozinha, sem fundamento nem propósito. Em cima do tabuleiro da ponte estavam enfaixados três. Rodas para um lado, carros para outro. Ninguém se magoou mas os estragos eram consideráveis. E a pressa, que todos os dias passa de mim para o carro, recolheu-se em mim e só espero que me deixe dormir porque duas noites seguidas de insónias é que não pode ser.

Pelo sim e pelo não, já bebi um chazinho.

Dos peões e isso...

Eu sei. Eu sei que todos somos peões e que só alguns, às vezes, são condutores. Mas então há em nós, enquanto peões, um complexo qualquer de inferioridade que nos faz avançar para a passadeira como para os cornos do boi.

Há uns anos atrás, tinha eu acabado de sair do hospital com o meu filho, foi o meu carro abalroado por um peão que, de phones nas orelhas e olhos nas nuvens, nem o viu nem ouviu avançando para ele de tal forma que lhe escavacou os vidros laterais, da janela e do retrovisor. Quando ouvi o estrondo só pensei que tinha atropelado alguém que nem sequer me tinha passado à frente do imaginário e acreditei, por breves instantes, que aquela aventura operativa a que o meu benjamim tinha acabado de ser sujeito me tinha toldado os sentidos. Mas não, a criatura, gigante de compleição mas demasiado jovem para se precaver contra os atropelos da vida, meteu o pé à estrada precisamente no momento em que eu e a minha pequena viatura íamos a passar. Foi um imbróglio que meteu ambulância e polícia numa manhã em que eu já tinha a minha conta.

Já vi, Já vi que este exemplo não é exactamente elucidativo do que comecei por dizer. Acontece que hoje, em cerca de quinze minutos de percurso, fui forçada a parar três vezes de repente. De repente porque os peões, os que deveriam parar na borda do passeio e olhar para a esquerda e para a direita como a minha mãezinha tão bem me ensinou, fizeram da estrada a continuação natural do seu percurso como se possuíssem, por direito próprio, a estrada como o passeio – tudo deles! Tudo deles!... E nem sei porque carga d’ água é que não abalroei eu hoje um, toldada que estou pela inglória luta que travei durante mais de metade da noite com fantasmas de todas as proveniências! Amor, desgraça, criatividade…tudo me visitou esta noite! Mas isto já é outra conversa.

O mais das vezes...


Não digo que não existam coisas difíceis de entender. Palavras rebuscadas; frases intrincadas, onde tropeçamos sem querer.

Mas o mais das vezes são as conversas a perderem-se pelo caminho, como quem morre sem lá chegar porque o destino não chama.

O mais das vezes são as conversas que se cruzam porque não se destinam senão ao próprio. O que para aí há de gente que se alimenta da própria voz!

O mais das vezes são palavras mascaradas, que fingem ser isto quando não passam daquilo. Palavras que saem do coração, o mais das vezes.

E depois dá nisto! Incompreensões; mal entendidos; provocações; reacções…

Tudo porque não se ouve. Tudo porque não se diz.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Orgulho


Havia muitos anos já que eu não trabalhava num outro lugar que não fosse o meu. Hoje, ou melhor - ontem, estreei-me num imenso espaço que é a redacção de um jornal e compreendi a paixão dos que lá trabalham; a emoção das escolhas – das imagens; das palavras – a adrenalina do fecho; do “está na hora”; do “tem de ser já”.

Convidaram-me para substituir alguém durante as férias e folgas e eu aceitei. É mais uma experiência, mais uma aprendizagem. Rever o conteúdo de um jornal diário in loco e em sete horas, não é o mesmo que rever um livro no silêncio das minhas quatro paredes. É, sem dúvida, uma nova experiência. Uma maravilhosa experiência. Assim eu a continue a merecer.

Esta primeira maratona vai durar uma semana inteira e vai coincidir com a reabertura do meu Centro, pelo que, a partir de terça-feira, e durante quatro dias (não é assim tanto) trabalharei doze horas por dia. Os restantes, a contar com o de hoje que foi o primeiro, ficar-me-ei pelas sete horas diárias.

Pode parecer estúpido, mas hoje sinto-me orgulhosa de mim – é que não correu mal. Não correu nada mal. E tive de aprender a trabalhar com um programa que nem sabia que existia! Pode parecer estúpido, mas hoje estou orgulhosa de mim.

domingo, 14 de agosto de 2011

Temperos e manias

Ninguém convence a minha mãe de que há coisas com as quais se tempera a comida que não devem ser lavadas. Nem o filho, que é cozinheiro noutro país há um ror de anos. Diz ela que isso são manias lá do lugar onde ele vive, porque cá, Deus nos livre de enfiar no bife uma folha de louro sem primeiro a limparmos minuciosamente debaixo de água corrente! 

- Como se o louro não viesse das árvores e não estive exposto ao pó; às moscas e a todo o tipo de imundice! - diz ela com ar de nojo.

Por mim, há muito que deixei de pôr louro nos bifes - não deixa sabor nenhum!

Helpless

Há muitos anos atrás deliciei-me com o filme deste espectáculo -A Última Valsa.

Hoje acordei helpless.

Fiquem-se com esta maravilha. Eu vou trabalhar (depois conto tudo).

sábado, 13 de agosto de 2011


Hoje fechava os olhos e dormia
Pegava-te na mão e voava
Hoje dormia.
Fugindo de tudo ao encontro de ti, dormia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mau perder

Estou em crer que não tenho espírito desportivo - detesto qualquer competição se não for ganha por mim.

Sou daquelas pessoas  que assim que sente no ar um cheiro a derrota se retira a pretexto de uma dor de cabeça ou de um cancro de última hora - tem mesmo de ser algo que suplante qualquer um. Perder é que nem pensar! 

Se por acaso acontecer eu perder, é por falta de investimento - nunca invisto em coisas insignificantes.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Em que momento é que a ordem se transforma em caos?

Há alturas da vida que são fáceis; controláveis, digamos assim. Alturas em que sossegamos na ilusão de tudo estar “sob controlo”.

Outras há menos fáceis, em que nos sentimos a perder o controlo ao mesmo tempo que alimentamos a certeza de que tudo vai ser como dantes.

A coisa fica um bocadinho mais negra quando, em vez da certeza, passamos a alimentar a esperança. Quando entramos no campo do medo, está tudo prestes a desabar.

Qual é a fronteira que separa a ordem do caos é o que me tenho perguntado ultimamente. O estranho é caos; a desordem é caos; o descontrolo é caos.

Uma guerra é trágica, mas não é caótica porque sabemos, ou julgamos saber, que bases a sustentam; porque é que existe; o que se pretende com ela – qual a finalidade da violência que encerra.

O caos é a desordem total; o nonsense; o desvario.

Será reconhecível? Reconhecê-lo-emos nós no meio desta sede de tudo explicarmos? Reconhecê-lo-emos se o virmos? E quando estaremos nós aptos a vê-lo? Primeiro foi França, agora Inglaterra! O que é que se passa com as nossas crianças? O que é que lhes fizemos? Ou não fizemos?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

"Ser ou não ser..."


Nem todos gozamos da mesma sensibilidade. E ainda bem.

Nem todos gostamos de poesia. Nem do amarelo e ainda bem.

Mas todos temos essa consciência. Enfim, quase todos…

Ignorar não é incompreender. Muito menos desrespeitar. E perverter uma qualquer imagem no sentido da fealdade é talvez sinal de pobreza.

Os mais jovens, aqueles que ainda não são “carne” e já não são “peixe”, têm uma enorme tendência para reagir dessa forma perante todos os objectos, situações ou ambientes que ameacem tocar-lhes a alma. É uma reacção de defesa – o aporcalhamento, a perversão.

Uns mais do que outros. Como sempre.

Arrepio-me, só de imaginar a quantidade de variações que se podem fazer em torno da expressão - «ainda não são “carne” e já não são “peixe”».

O amor que falta agora


Não é que nunca tivesse sido amada. É que nunca amei.
Antes amei o amor que voa no vento da conquista.
Não é que nunca tivesse sido amada. É que nunca amei…
E é esse amor que me falta agora
Esse que alimenta a alma e tudo ilumina
O Amor que alivia o semblante e às pernas dá leveza
Aquele que a vida nos mostra por detrás dos duros troncos e das bravas ondas do mar
É esse o Amor que falta
Aquele que se espelha nos olhos de quem conquistar sempre quis
Esse Amor que nunca morre por não ter nascido
Mas que sempre existiu na mais pequena de todas as pedras
É esse o amor que falta agora

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

E se eu agora de repente te escolhesse?




E se eu agora de repente te escolhesse? Que dirias?
Se eu agora de repente te olhasse e desejasse e tu me visses? Que dirias?
E se eu agora de repente te escolhesse?
Se no meio de toda a gente eu te apontasse e te quisesse? Que dirias?
Que dirias? Tu que pensas saber do amor. Que o misturas com desejo e o confundes
A ele que nem sabe bem quem ser. Porque umas vezes é isto – um dedo que aponta.
E outras apenas alguém que deseja.
Tu que pensas saber do amor como se existisses dentro dele e não o contrário.
Que dirias? Se eu te escolhesse?

Sonhos de infância


Conheço uma pessoa que nasceu em Portugal, criou-se por cá, estudou por cá, na verdade sempre viveu aqui… mas não é de cá.

Conheço-a desde miúda e desde miúda que é completamente vidrada nos EUA. Completamente. Os pais faziam parte do clube dos respeitados e prósperos patrões de uma pequena cidade, e as festas na casa dela eram de arromba com acampamento no jardim e tudo. Uma das máscaras, das várias máscaras, que ela tinha para o carnaval, e que eu cheguei a vestir, era de índia e era linda! Provavelmente teria também uma de cowboy, não me recordo. Mas sempre a ouvi dizer que havia de ir para a América.

Nunca foi! Vá lá saber-se porquê! Os pais perderam com o 25 de Abril a fábrica que tinham, e a Câmara lá do sítio tanto andou que conseguiu ficar com a propriedade por um preço muito inferior ao que ela de facto valia. Mas ninguém da família, e eram vários irmãos, ficou mal – não ficaram. Só não se puderam dar ao luxo de viver dos rendimentos, isso não. E ela acabou por dar início a uma tímida carreira de actriz, sonhando com Hollywood.

São raros os sonhos de infância que se concretizam. Uns mais raros do que outros porque mais ambiciosos. Talvez ela devesse ter rumado à América enquanto era tempo, quem sabe não teria feito carreira?! Agora vai alimentando de forma tão discreta as suas personagens que é raro vê-la no écran. Mas continua a sonhar com a América.

“Encontro-a” de vez em quando no Facebook. Tudo o que por lá diz, ainda que escasso, é em inglês. Confessou-me, há já algum tempo, que adorava ter um grupo de amigas, daquelas que se juntam a meio da tarde para tomar chá. Cá para mim a minha amiga enganou-se na geografia no momento em que decidiu cá voltar. Para a próxima, com certeza, não nascerá portuguesa.

Não me sinto no Verão. Não sinto o Verão. Está sempre esta aragem mansa, agradável até!, que não tem nada a ver com o Verão passado. Aqueles dias de quase quarenta! Um calor abrasador e eu na praia, com as crianças – na praia e a trabalhar. Este ano, nem uma coisa nem outra…

domingo, 7 de agosto de 2011

Tão mau como o convencimento de se pertencer à equipa dos supra-sumos, é aquele de pertencermos à outra – a dos ignorantes. A primeira tolhe-nos os sentidos, tesos que ficam com o inchaço, impedindo-nos a obtenção de mais conhecimento, para a qual é necessária alguma maleabilidade. A segunda empurra-nos constantemente para o abismo que representa o descontrolo da própria vida que, desta feita, anda sempre ao sabor de outras correntes ou, mais precisamente, das correntes dos outros que, vai-se a ver, e pouco ou nada sabem que nos ultrapasse – ou ao nosso saber…
Se o fundamento da nossa passagem pela vida, ou um dos fundamentos, é aprender ou, mais concretamente, ultrapassar determinada dificuldade, a minha prende-se, com certeza, com o stress causado pelas mudanças. Se não, que outra justificação existiria no facto de a minha vida ser praticamente constituída por elas?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Estou em crer que há mais mulheres do tipo D. Quixote do que homens. Mas posso estar enganada…

Há qualquer coisa que não bate certo.

Não, não tenho feito tudo bem. Fiz asneiras, com certeza. Tomei decisões que, se calhar, não deveria ter tomado, deveria ter tido a coragem de esperar para ver; de deixar correr; de não entrar em pânico.

É essa a maior lição que tiro da vida – há alturas em que a coragem de esperar traz mais vantagens do que a sede de resolver.

Mas tenho sido fiel a mim mesma; tenho sido trabalhadora; íntegra – não me vendo; nunca me vendi, apesar de sentir o quão difícil é o mundo para as mulheres…e agora está muita gente a pensar – Que disparate! 

Pensem que só estão a pensar assim porque partem do princípio que uma mulher quando diz que não se vende, está a dizer que não se prostitui. Ele há tantas formas de prostituição! E as piores são as dissimuladas: As da secretária que conquista o chefe; da mulher que aguenta, durante anos, humilhações, desrespeitos, enxovalhos, e sabe-se lá mais o quê, para garantir uma vida estável; da divorciada que persegue o gajo com dinheiro… Ele até há homens que entendem isso como natural e oferecem estabilidade em troco de companhia. São capazes de tiradas do tipo – Estás assim porque queres! que é como quem diz, Eu até te resolvia o problema…

Tal não faz parte da minha natureza e como não sei senão ser fiel a ela, tenho acreditado no meu valor; nas minhas capacidades; na minha força...

Neste momento está difícil. Os resultados desta postura não se têm revelado os mais brilhantes. Todos os dias me cruzo com gente que chegou muito mais longe, com muito menos esforço (refiro-me, evidentemente, à parte material da vida, àquela com que se compram as "bananas"). 

E olho constantemente à minha volta à procura de outros como eu - de gente que é como se deve ser - e encontro-os sempre atarefadíssimos, em plataformas abaixo dos menos que são os outros. E se há cada vez mais gente a abandonar esta equipa talvez seja porque os resultados tardam e há quem seja obrigado a desistir (será?). E chamo-lhes resultados e não recompensas porque entendo que uma recompensa é o produto de uma acção extraordinária, e ser-se como se deve ser não é ser extraordinário.

O mundo está às avessas.

Mas não, não trocaria se pudesse. Gosto de ser mulher. Sempre gostei. E, apesar dos pesares, continuo com fé que ainda hei-de ser capaz de não me deixar ficar mal.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Hoje sinto-me como Camões - desconcertada com o mundo

Grosso modo recuso-me a acreditar numa geral injustiça, mas tenho dias em que sinto o seu cheiro impregnando tudo até ao horizonte.

Tanta gente válida e desprezada! Tanta gente que podia até fazer História! Gente de bem. Gente capaz. Gente feliz; equilibrada e sã, se vivêssemos num mundo justo. Num mundo de valores humanos.

Mas, vai-se a ver, e anda gente dessa de mão estendida; de coração na boca; arriscando a própria vida enquanto a outra, aquela que pouco ou nada acrescenta, vive refastelada e segura, em casulos transparentes, a dar-se ares de muita importância.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Verão, a chuva e a terra molhada

É nostálgico este Agosto de praias desertas e céu acinzentado, com pingos de chuva a largarem da terra um cheiro a infância.

Havia dias assim, quando eu era criança – dias de Agosto. Surgiam desvairados no meio do calor infernal que nos empurrava para o pátio, altas horas da noite. Vinham para aliviar a sede da terra. Agora vêm em vez do calor. Trocaram a ordem os estupores. Se não com que direito surgiriam, se a terra ainda não teve tempo de aquecer?!