sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O coletivo e o particular


Há algo nas manifestações coletivas que me comove. Provavelmente a sensação de pertença, o sentir que todos somos parte de algo maior. No entanto, colado a este sentimento, vem um outro já antigo, uma necessidade que a minha geração defendia com unhas e dentes – a de nos destacarmos da “carneirada”.

O coletivo remete-me para os “rebanhos” de gente manipulada por forças que se mantêm à parte, empenhadas em minimizar, se possível anular, o que cada um de nós tem de único, aquilo que nos distingue do outro, aquilo que cada um, na verdade, É, e que se destaca apenas naqueles que fazem questão de manter as massas “agrupadas em rebanhos”.

Os grupos são comoventes, e até necessários em determinadas alturas, mas não nos podemos esquecer que aqueles que mudaram a História não faziam parte de nenhum grupo, lutaram sozinhos – gente como Madre Teresa de Calcutá; Martin Luther King, Nelson Mandela; Jesus Cristo ou Mahatman Gandhi.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

No rescaldo do Natal que se quer Feliz

Uma pessoa aborrecida diria que foi mais um que passou; uma entusiasta, que aconteceu de tudo neste Natal. Tanto uma como outra são exageradas mas eu prefiro a segunda, sem dúvida! E, neste Natal, ainda que não tenha acontecido de tudo, porque o tudo é imenso, aconteceu muita coisa. E ainda que as pessoas, na sua maioria, tenham sido as mesmas, este Natal foi diferente.
 
Este Natal tive a minha neta a dormir no meu quarto toda a noite. Levantei-me duas vezes para lhe dar o biberão, dormi com um olho fechado e o outro aberto mas ninguém foi mais feliz do que eu.
 
Este Natal a minha filha resolveu oferecer-me um tablet (sim, eu queria muito um e não, isso não significa que esteja a ficar xexé ou a entrar na terceira idade, que é como quem diz a retornar à infância) e estou encantada com o facto de ter, em grande mas perfeitamente transportável, o que ainda ontem tinha em pequeno (refiro-me ao écran do telemóvel).
 
Este Natal faltou a luz várias vezes, o que nos obrigou a mudar todos os planos que tínhamos para o bacalhau que deixou de ser no forno, para tristeza de alguns, e passou a ser cozido, como manda a tradição que, aliás, estamos prestes a quebrar porque já se percebeu que há muita gente que na verdade não gosta de bacalhau e, se dantes acreditávamos que era por serem crianças, hoje, ao vê-los já adultos a engolir o bicho por obrigação e com os olhos postos nos sonhos, nas filhós, nos coscorões e sabe Deus mais em quê, concluímos que nos enganámos e que o melhor mesmo é arranjar um substituto para o fiel amigo.
 
Este Natal tive o meu filho comigo de manhã à noite, na cozinha, ao meu lado, a amassar filhós e coscorões, a fazer fatias douradas e bolos de Natal.
 
Este Natal tive duas crianças barulhentas ao almoço que me fizeram sentir que era mesmo Natal.
 
Este Natal foi maravilhoso e passou demasiado depressa como tudo o que é maravilhoso, mas não deixou aquele sabor que muitas vezes fica quando algo é bom e passa depressa – o de ficarem coisas por fazer -, e isso faz que este Natal tenha sido ainda melhor.
 
E, por isso mesmo, quando terminou, mesmo há bocadinho, estendi-me no maple, fechei os olhos e dormi, bem umas duas ou três horas.
 
Feliz Natal
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Feliz Natal


 
Eu sei que é Natal, época da Boa Vontade, da extrema Paciência e, se possível, de alguma Bondade, mas estou tão cansada desta merda deste país, sem querer ofender ninguém, carregado de incompetências, amadorismos, oportunismos e todas as terríveis sombras projetadas por quase meio século de má formação a todos os níveis. Tão cansada!

Desde a companhia de seguros que anda há dois meses para me enviar um cheque de indemnização e que, após instruções mais do que precisas em cartas reais e e-mails, acaba por mo enviar para uma morada que já não existe; a passar pela Zon que cobra serviços de qualidade francamente duvidosa e pela PT que agenda instalações para períodos entre as nove da manhã e a uma da tarde e que a esta hora – são 12:49 – ainda não apareceu e nada disse a não ser informar-me, em resposta a um telefonema meu, que ainda estavam dentro do período agendado apesar de não fazerem ideia de quantas horas, minutos, segundos precisarão para fazer o trabalho. Quem sabe entrarão pela tarde dentro…a mim cabe-me calar e esperar.

Mas a pérola, a pérola são os serviços Tributários e Aduaneiros que me enviam cartas a solicitar pagamentos por conta do IRS baseados num ano em que declarei mais-valias pela venda de uma casa. Uma carta em que se diz que a minha obrigatoriedade cessa “quando verificadas as condições do n.º 4 do artigo 102.º do Código do IRS” que me abrange sem qualquer sombra de dúvida e quando, a título de confirmação não vá o diabo tecê-las, resolvo ligar para o 707******, único número indicado nos mails que teimam em enviar e cujo custo todos nós sabemos que é elevado, a senhora que me atende me vai mostrando, passo a passo, que sabe menos disto do que eu. Fica muda quando lhe leio o n.º 4 do artigo 102.º do Código do IRS e quando eu, incomodada, a questiono sobre os seus saberes, ela me confessa, após vários minutos de conversa, que o seu ramo é mais aduaneiro e que de tributação pouco ou nada sabe, eu fico zangada porque me está a fazer perder tempo e dinheiro e ela desfaz-se em desculpas com voz de quem devia estar já reformada.

Estou tão cansada desta merda deste país!

Mas é Natal. É Natal e em breve será um Novo Ano – sabe Deus o que aí vem!... E eu quero desejar a todos, mesmo aos incompetentes que, se calhar, nem culpa têm de o ser, mesmo aos menos bons, mesmos aos amadores que andam há anos a brincar aos profissionais. Quero desejar a todos – amigos e menos amigos – que eu não tenho importância suficiente para ter inimigos -; conhecidos e desconhecidos; muito ricos, ricos, remediados, pobres e muito pobres um Natal de Paz; um Natal Sereno e Quente. Quero pedir-vos que dediquem alguns segundos, se não puderem ser minutos, ao Silêncio que tão desprezado tem sido e tanto tem para nos dizer. Mas! Atenção! Não é um silêncio de boca - é um silêncio Maior, um silêncio de alma, de mente, de espírito. Só esse é o verdadeiro Silêncio.

FELIZ NATAL.

 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O maior bem


Fala-se da juventude como do maior dos bens. Só quem não a viveu em pleno pode desejar o seu prolongamento. Que cansaço!

Arrependimentos? Não creio que haja quem os não tenha. Pelo menos um há de se encontrar quando se olha para trás. E depois?! Qual é o problema?! Não se fez o melhor que se soube naquele momento?! Como seria a vida hoje se não tivesse havido enganos? Que tamanho teríamos sem eles?

A juventude é como tudo na vida – boa quando deixa de existir. Quantos de nós não desejaram que ela passasse depressa? Quem não quis ser adulto para poder dar ordens ou, pelo menos, não ter de as receber, para poder trabalhar para ser independente? Com sonhos de grandezas e vitórias sem fim? Quem?

O maior bem nem sequer é andarmos por cá. O maior bem é sermos capazes de amar e sermos felizes enquanto andamos por cá. Isso sim, é o maior bem.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Sonho


Tolda-me a consciência o coração cansado de tanta espera.

Nem sei porque ainda sonho
                        se todos os motivos para acreditar se desvanecem na espera.
E contudo…
Julgo prosseguir na minha busca,
                        ainda que me saiba paralisada na vontade intransformável.

Buscar é isso – o sonho de conseguir.

Cessam as buscas. Morre o sonho.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

DEP Nelson Mandela





Passar invicto pela vida.

É esse o legado de Mandela  – a certeza de nos podermos manter puros perante a podridão do mundo; de nos podermos manter justos, quando a injustiça desaba sobre nós; de nos podermos manter castos, quando à nossa volta tudo é corrupto.
 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O filho é meu. Faço com ele o que muito bem entender (?????)


Com o advento da crise, como tem acontecido ao longo da História, nascem alternativas como cogumelos e multiplicam-se os grupos revolucionários, reacionários ou ambos, contestatários e combatentes da ordem vigente com soluções que passam pelo desprezo total por todas as conquistas técnicas e científicas num saudosismo do passado, que é tanto mais ousado quanto o recuo do que se pretende recuperar, e acabam num outro extremo com visões de um novo mundo que se adivinha artificialíssimo.

Os meios-termos existem mas não são fáceis. Há quem ande a tentar recuperar o passado com ferramentas do futuro, sem grandes resultados ou, pelo menos, sem resultados acessíveis à maioria, como, por exemplo, a agricultura e a pecuária biológicas que ainda não se conseguiram impor às grandes produções e, à semelhança daquilo que muitos dos que as defendem combatem, são acessíveis apenas a uma minoria de privilegiados que conseguem pagar os preços exorbitantes que os revendedores, por exemplo de carne de bovino, pedem por embalagens que não dão para a cova de um dente.

Mas tudo isto é legítimo porque o Homem sempre foi livre de Ser e de agir conforme a sua própria visão e consciência. A questão que aqui coloco prende-se com o direito que temos de impor de uma forma perentória as nossas visões às nossas crianças.

Sei de pais que se recusam a vacinar os filhos e que acham que um homeopata é mais fiável do que um pediatra. E isso, meus senhores, deixa-me os cabelos em pé.

Com que direito se recusa a uma criança que não pode escolher, a proteção que levou anos de conquista, em todas as frentes – quer na científica, quer na política -, e que permitiu uma redução drástica das taxas de mortalidade infantil?! Com que direito, a não aquele que acreditamos possuir por sermos pais?! Direito abusivo, esse que acredita que um ser humano é propriedade seja de quem for!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Estranhos

É tão difícil compreender quem cresce com valores diferentes dos nossos quanto mudá-los, mais de meio século depois.
 
“Estranho” é a palavra que nos vem à cabeça quando deparamos com reacções cuja interpretação nos foge, e raramente temos abertura para qualquer tipo de análise, até porque isso implicaria pormos em causa coisas que nos impingiram ao longo dos tempos e que nós fomos comendo como quem come uma carcaça seca acreditando tratar-se da maçã mais suculenta que qualquer macieira teve, algum dia, a gentileza de nos oferecer.
 
É talvez esse o maior desafio quando decidimos partilhar a nossa vida tardia com um outro alguém que cresceu longe do nosso meio, do nosso mundo, do nosso planeta.
 
Estranho.
 
E, mais difícil ainda, é ter a abertura suficiente para não nos deixarmos cair na tentação de provar que o certo, o lógico, o “normal” está em nós. O outro é que tem comportamentos desviantes, culturas limitadas, cresceres marginais.