terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Amour


Quero isto.

Não exactamente assim. Se não for pedir de mais preferiria a coisa sem o incómodo dos ataques, das paralisias e de todas as incapacidades que não estejam directamente ligadas às vicissitudes da idade. Mas quero isto. Quero este amor, este cuidado, esta amizade sublime que reserva para si tudo o que é íntimo. Quero esta dignidade. É assim que quero partir.

É claro que isto, exactamente isto – mesmo exceptuando os tais ataques -, já não poderei ter. Aquele que era suposto ser o companheiro da minha vida, ou aqueles, ficaram pelo caminho, provavelmente porque tudo indicava que isto, eu não teria. Mas como para se ter isto não é preciso uma vida inteira – vinte ou trinta anos podem muito bem bastar -, eu quero isto. 



Vou ser avó


Ao que tudo indica, de uma menina, mas é demasiado cedo para certezas. Nascerá lá para os fins de Julho, o que dá imenso jeito já que o Agosto é aquele mês em que não se faz nada, a não ser, é claro, ajudar a cuidar da neta, ou neto, ainda que eu tenha por mim, desde o princípio, que será neta. Enfim, o que for que venha bem, e saudável, e feliz. Vai ser a minha primeira criança neta. Com a minha idade já a minha mãe era uma especialista.

Agora não é só a saturação que este Inverno tem depositado em mim que estou farta de frio e de chuva. É também a ansiedade de ter nos braços um bebé que também é um bocadinho meu.

Que venha o Verão.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nós e as moscas


Há momentos em que duvido de tudo. Ponho em causa todas as certezas e minimizo a importância do mundo. Não, não se trata de relativizar. É muito mais do que isso. É desvalorizar tudo aquilo a que nos atracamos na convicção de que tem valor universal. É desvalorizar todas as certezas, por as acreditar improváveis e temporâneas. É desvalorizar todos os dramas, por os encontrar insignificantes no meio desta vastidão que é o universo. É desvalorizar todas as lutas, por as acreditar pequenas e vãs, incapazes de vencer as forças que têm, verdadeiramente, mantido o comando – as daquela natureza que também é a nossa mas que teimamos em incompreender.
Um amigo muito querido, que não via há muito tempo e com quem hoje almocei, contou-me uma história de um grupo de cientistas que se reuniu para estudar o voo da mosca. Cada um, na sua especialidade, foi concluindo que a mosca não pode de forma alguma voar – tem peso excessivo para a envergadura das asas; não possui o aerodinamismo necessário para o empreendimento… enfim, este grupo de cientistas concluiu que a mosca não pode voar e toda a gente ficou a saber que a mosca não pode voar.
Toda a gente, menos a mosca.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Que se lixe a modéstia. Chegou a hora da verdade


Três livros publicados não fazem de mim uma escritora mas 17 de trabalho com jovens fazem de mim uma educadora. Podia até ter descurado a formação. Quantos professores não existiram por aí, a dar aulas nos liceus sem uma licenciatura, quantos?! Mas não descurei. Nunca deixei de me atualizar, envolvi-me com as mais diversas formas de formação, tenho sido uma aluna constante e persistente, ingressando aqui, saindo de acolá. Participei em cursos de formação que dariam direito a pós-graduações se eu as tivesse na altura, as graduações, mas a minha vida tem sido feita ao contrário e a licenciatura acabou por vir depois dos cursos, pelo que poderei, com propriedade, dizer que tenho algumas pré-graduações, tão válidas como se fossem pós-.

Gosto do que faço e, se de nada servisse a simpática média com que acabei uma licenciatura em educação, teria sempre o ónus dos resultados que fui obtendo ao longo dos anos e a sabedoria que fui acumulando, porque se há coisa que sou, e isso ninguém me tira, é inteligente. Exatamente. Sou uma pessoa inteligente e não tenho vergonha de o dizer. E, se por vezes a inteligência me traz alguns amargos de boca, outras há em que as vantagens são grandes. Não fora esta modéstia que cultivo desde sempre por a ter como excelente alicerce de caráter e eu estaria hoje muito melhor do que aquilo que estou, na perspetiva geral do que é estar bem.

Pois é, tenho-me mantido no meu canto, dedicada àqueles que estão ao meu alcance, silenciando os livros que escrevi, os projetos em que participei, as lutas que venci…por modéstia. E por modéstia aceito algumas desconsiderações vindas tantas vezes de quem ainda terá de comer muito bife para me tocar os calcanhares.

No entanto, as ações ficam com quem as pratica e eu vivo muitíssimo bem com as minhas que são, sem qualquer sombra de dúvida, motivo de orgulho.

E se hoje quebro este silêncio. Se hoje atiro às urtigas a minha modéstia. É porque sinto que chegou o momento de chamar a atenção daqueles que podem para o facto de existir aqui alguém que sabe. É porque sinto que chegou o momento de chamar a atenção daqueles que podem, que existe aqui alguém que também pode fazer a diferença. Alguém que está disposto a aplicar tudo o que tem aprendido, e que é muito, ao serviço de quem precisa e que mais não pede do que uma vida digna, que é como quem diz, nem cobra sequer o mesmo que muitos bem menos capazes mas muito mais exigentes. Alguém, pasme-se, para quem mais importante do que ser abastada é ter a certeza que contribuiu para o progresso e para o crescimento humanos.

Meus senhores e minhas senhoras, tenho no papel um projeto educativo inovador, capaz de recuperar para a vida social, escolar e familiar, muitos jovens que sozinhos não o conseguirão fazer. Tenho na cabeça mais alguns projetos capazes de aprimorar essa minha intenção – a de ajudar os mais novos porque deles será, não o reino dos céus, mas este aqui da Terra, e seremos nós, aqueles que os (des)ajudámos, a usufruir das capacidades que com eles crescerem. Valerá a pena apostar em mim.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mudanças profundas estão prestes a acontecer

Mudanças que acredito determinarão a forma como viverei o resto da minha vida. É claro que esta é uma afirmação que só por si nada garante - ninguém sabe o dia de amanhã –, mas também é verdade que a probabilidade de ser verdade aumenta na exata medida em que o caminho encurta.
 
A verdade é que estou, creio que como nunca estive, a preparar-me para isso. Todas as outras foram vividas com a incerteza da passagem e a segurança do momento. Esta, ou a sua visão, ou o seu anúncio, está a ser vivida com o receio do momento e a tranquilidade imaginada do futuro.
 
Talvez por acreditar que é a última sinto profundamente o vazio deixado por tudo o que ficou pelo caminho.
 
Talvez por acreditar ser a última sinto o peso de tudo aquilo que não voltarei a ser.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mudanças e febre


Todas as mudanças custam. Mesmo que seja para melhor, mudar começa sempre por ser sinónimo de abandonar. Todas as mudanças doem. Aliás, só a perspectiva já dói por muito entusiasmo que se ponha nelas. É terrível aquele período em que ainda não é e já quase que não é. De vez em quando, pela calada, esbarramos com um pormenor e sentimos um murro no estômago. Vacilamos. Precisamos de nos sentar, respirar fundo e passar em revista todas as razões que nos arrastaram para a mudança. Só depois, voltamos a sossegar.

Este vai ser um ano de mudanças. Fundamental mesmo é que estas se operem ao nível da consciência, do estado de alma, porque as mudanças doem precisamente por serem, na maioria das vezes, exteriores.

Este vai ser um ano de mudanças. Um ano de libertações. De alterações. De catarses.

E para começar o processo aí está ela! A gripe! Nada como uns bons dias de recolhimento em que o corpo se verga ao peso da febre.