domingo, 31 de outubro de 2010

Giboiar

Um velho amigo atirou-me, pela primeira vez e há muito tempo, com este termo «giboiar», numa tarde chuvosa de domingo, para me dizer o que estava a fazer em casa àquela hora.
Hoje sou eu que giboio e sabe-me bem. Leio o que me apetece e dormito pelo meio; oiço o vento lá fora e aconchego-me no meu espaço cheio de luz apesar das nuvens que deambulam por esse céu.
Há muito tempo que não tinha um dia assim. Será talvez por isso, por falta de hábito, que, de vez em quando, a meio de um sonho estremeço como estremece o ladrão quando é apanhado! Como se o tempo na verdade não me pertencesse! Como se o estivesse a roubar sabe-se lá a quem!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010



Não sei se serei o cavalo se a árvore. Nem sei se me cansarei, um dia, mais do que aquilo que já estou, ou se ele, o vento, acabará por me derrubar. Mas é assim que me sinto - Running against the wind...
Em dias como o de hoje penalizo-me por não ter comprado um Jeep.
Ou um barco...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Azar

Falar com os olhos e não ter medo do que se diz, tem as suas vantagens, principalmente em situações em que existe apenas um visado.
Não sei se uma certa loucura já se instalou entre nós ou se sempre cá esteve e fui eu que não dei por isso. O facto é que ando com azar no que diz respeito a consultórios médicos, eu, que só os frequento uma vez por ano que é quando dou conta de tudo o que há para dar e fico despachadinha desta deambulação pelas capelinhas dos especialistas!
Ontem foi a vez da oftalmologista, de quem gosto muito e por quem tenho uma grande consideração (só por isso é que não abri a boca, note-se).
Então não é que a meio da consulta um dos colegas da dita entra pelo consultório adentro e, como se eu não existisse, desata a falar sobre o fim-de-semana, a fazer perguntas e à espera que a colega lhe responda entre máquinas e medições de tensões oculares! Não é que o animal, que não tem outro nome, não se calava, não se ia embora e não deixava a outra trabalhar! Não é que foi preciso eu parar e fixar o meu olhar no dele para ele perceber, (perceber, e não «tomar consciência» que este tipo de gente não toma consciência de nada), que o melhor seria pôr-se a mexer?!
Desconfio bem que Deontologia foi uma cadeira à qual muitos se esquivaram, afinal não é com ela que se abrem barrigas; se tiram dentes ou se curam cancros…daí que pode muito bem passar para segundo plano, a gente copia ou faz isto à rasquinha que depois logo se vê…
Ou é isso ou então há uma grande necessidade, diria mesmo - urgência, em rever as matérias dessa cadeira em particular, se calhar estão desactualizadas, se calhar remontam ao Estado Novo…

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ainda o Acordo Ortográfico

As publicações infanto-juvenis já vêm de acordo com o Acordo, o que faz todo o sentido. De resto já tive oportunidade de expressar aqui a minha opinião relativamente a este assunto.
Contudo, e como disse na altura, num dos comentários ao meu post, esta menina, a supressão do acento da terceira pessoa do singular do Presente do Indicativo do verbo Parar faz uma confusão danada!
Não me queixo de mais nada, mas da falta deste acento, sim!
Ontem, altas horas da noite, deparo com a seguinte frase: « ...mas ela não para para pensar...»! Eu parei! A primeira reacção foi tirar um dos «para» - estava a mais, pensei eu - e espetar-lhe com uma vírgula: ...mas ela não, para pensar... Voltei a trás e não fazia sentido! Foi quando percebi!...
Pode até ser uma questão de hábito. Mas que faz confusão, faz. Para além de que fica feio! Olha uma pessoa explicar isto a um estrangeiro que queira aprender português!...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

De como pode ser terapêutica uma ida ao médico

Temendo a aproximação de uma ligeira depressão, apressei-me a marcar uma consulta de Psiquiatria.
Assim que entrei no consultório julguei ter entrado num quarto onde alguém, dormindo, corria o risco de apneia de tal forma era ruidosa a sua respiração! Obeso naquilo que me parece o limite da obesidade, o senhor respirava a contragosto, num esforço incomodativo e perturbador. Agarrado a uma caneta de onde sobressaiam unhas roídas para lá do sabugo e peles levantadas até se ver sangue, não me olhou sequer! Ao cabo de duas perguntas, desatou a escrever e, quando se preparava para me responder à, creio que única, pergunta que lhe fiz, um telefone tocou! O senhor deitou a mão a um dos bolsos do casaco de onde tirou uma pequena bolsa, de feltro verde bandeira. Na pequena aba, as quinas. Não era aquele que estava a tocar – pousou-o suavemente na secretária, ao seu lado, e meteu a mão na outra algibeira de onde tirou uma outra bolsinha, igual à primeira mas, desta feita, vermelha! Falou entusiasticamente ao telefone, desligou, pousou a bolsinha ao lado da que lá estava - uma bandeira portuguesa passou a marcar presença naquele consultório, e voltou à escrita. E o que escrevia o senhor?! Uma receita que comportava injecções e três espécies de comprimidos! Quando o indaguei sobre os efeitos, respondeu-me que eram antidepressivos.
E foi assim que, sem me conhecer; sem saber fosse o que fosse da minha história ou mesmo dos meus sintomas, este senhor decidiu que eu precisava de me encharcar em medicamentos!
Saí de lá convencidíssima que estou em muito, mas muito melhor estado do que ele, coitado!...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

El gran casino europeo from ATTAC.TV on Vimeo.

«Cheio de medo e assustado...»

Caem corpos à minha volta. Não são corpos, ainda. São ensaios de corpos, ensaios de quedas. Ensaios de quem sabe ou teme que, se ainda não caiu, cairá.
Hesito em usar palavras negras, termos caóticos, dramáticos. Fazem-me mal. Fazem-nos mal. Mas têm o condão de nos acordar, e o cerco adensa-se e é isto que vejo: gente aflita; gente em pânico! gente que não compreende porque é que de repente corre o risco de não ter que comer; de não ter casa!
Hesito em usar palavras negras, termos caóticos, dramáticos. Mas até quando é que nos vamos esconder atrás de um falso optimismo? E como iremos nós, portugueses, viver mais esta privação? De braços caídos e olhar submisso? de almas conformadas? Durante quanto tempo? É que, em média, costumamos aguentar cerca de 50 anos...

Tristeza...

...por favor vai-te embora, que nem a luz do Sol te afugentou!
Tens até ao fim do dia para te pirares.

domingo, 24 de outubro de 2010

À geração dos trinta que nunca tive por rasca. Ao André Valentim Almeida e ao documentário «Uma na Bravo outra na Ditadura»

Posso estar enganada mas parece-me que entre os 30 e os 40, mais precisamente quando se entra nos 30, as pessoas tendem a fazer balanços à laia de despedida que é para o que servem os 10 anos que os separam dos entas.
Inevitavelmente esses balanços visam as vitórias e as derrotas; as responsabilidades e as oportunidades, ganhas ou perdidas. E, nesse arrastar de razões e des-razões, vem sempre à baila a geração anterior, aquela que nos legou isto e aquilo, de bom e de mau, quase sempre de pouco… nunca, aos olhos dos filhos, os pais fizeram o suficiente muito pelo contrário, fizeram merda pela certa porque senão eles estariam muito melhor do que estão.
Eu estava quase a bater nos entas, faltariam talvez três ou quatro anos, quando decidi «cobrar» da minha mãe o que «havia para cobrar»; desprestigiar o mais possível a geração que me antecedeu olhando-os como incapazes e ignorantes, uma cambada de carneiros!...e por aí fora que, logo a seguir, se o arrependimento matasse eu tinha caído naquela hora sem ter tempo de dizer ai! Ainda não tinha acabado de «despejar» o que me ia na alma e já um nó no peito ameaça parar-me o coração.
É claro que, antes de mim, já eles, os meus progenitores e outros como eles tinham, se não feito, pelo menos sentido e pensado o mesmo em relação àqueles que os trouxeram ao mundo e os educaram. É mesmo assim, se assim não fosse seria sinal de inexistência de evolução e de crescimento, seja lá isso o que for…
Mas vem isto a propósito de uma série de zunzuns que para aí andam e que visam a minha geração, já que foi ela que deu à luz as criancinhas que nasceram encostadas ao 25 de Abril ou alguns anos depois, enfim, a geração dos que dobraram agora a barreira dos 30.
Meus queridos, se vocês se sentem defraudados imaginem nós! Imaginem aqueles que foram educados desde a mais tenra infância numa verdade incontestável para depois e de repente, a meio da juventude, lhes dizerem que afinal era tudo mentira!
Mas há uma coisa que eu percebo perfeitamente. É que nós já tivemos o nosso protagonismo, afinal de contas vivemos uma revolução!... Agora chegou a hora do vosso. Falem sobre vós; contem a vossa História; insultem e apontem dedos mas, fundamentalmente, olhem à vossa volta com olhos de ver e deliciem-se com a oportunidade que têm de mostrarem o que valem. Esta é a época da consolidação ou da ruptura e são vocês que a têm, ou podem ter, na mão. Vocês são hoje mais velhos do que eu era aquando do 25 de Abril! Mexam-se. Mudem! Endireitem esta merda. E não me venham cá dizer que estamos agora a empurrar para cima de vocês a merda que fizemos! Fizemos o que fomos capazes de fazer e foi, sem dúvida, mais do que aquilo que nos legaram a nós! Façam o mesmo na certeza de que, ainda assim, hão-de ouvir das gerações vindouras o mesmo que nós e outros antes de nós.
Se me piquei?! Piquei-me sim senhor! Não se nota?!

sábado, 23 de outubro de 2010

O complexo raciocínio nacional

Tenho à minha frente o Nº x de uma revista cultural cujo tema é Arte e Design. A revista é composta de vários artigos, uns mais longos do que outros, de autores nacionais e estrangeiros. A minha missão é a de a rever.
Os artigos traduzidos, dos autores estrangeiros, são claros, directos, entendíveis até para um leigo que de Arte e Design nada saiba. Alguns até têm o condão de prender o leitor mais curioso.
Pois bem, vamos para os nacionais! Atenção que ainda não acabei o trabalho, podendo, por isso, estar a generalizar injustamente mas, até agora, como são os artigos escritos pelos autores portugueses?
* Carregados (mas carregados ao ponto de ser obrigatório ter ao lado a página das notas já que elas se sucedem umas às outras!), de referências a autores estrangeiros. Do estilo: Fulano diz isto; sicrano diz aquilo e o beltrano então! Nem se fala! (mas fala-se…). É como se não tivessem opinião própria ou, simplesmente, não a quisessem dar e gastam páginas e páginas a enunciar o que os outros disseram.
* E fazem-no numa linguagem de bradar aos céus; num intrincado de termos e frases que parecem existir só para nos confundir ou para esconder o pouco que sabe o autor sobre a «coisa»…
* Last but not least como diriam os nossos amigos britânicos, numa completa ignorância no que à acentuação diz respeito! Atenção que não se trata de ausência de acentuação. Trata-se de acentuação deficiente…
Que tal acrescentarmos à já demasiado extensa lista de disciplinas e matérias (algumas com um francamente baixo nível de utilidade) uma que ensinasse os portugueses a serem Práticos; Directos e Objectivos? Se gostam de pensar, pensem, mas pensem com objectividade, racionalizem os pensamentos, estruturem-nos, não divaguem que para divagar temos os rios, os montes e os pôr-do-sol que são tão lindos! E as paixões também… tanta coisa com a qual podemos e devemos divagar, não lhes parece?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

E se parássemos um bocadinho para pensar?

Talvez a maior diferença entre cada um de nós esteja na forma como se «adapta» às constantes mudanças que o Homem, talvez pelo seu crescente número, tem vindo a produzir ao longo dos tempos.
E digo « talvez pelo seu crescente número», porque acredito que, na verdade, ninguém gosta de mudanças e que todos nós seríamos mais felizes se elas não se fizessem sentir de uma forma tão dramática e tão constante.
Há mesmo quem defenda que a sociedade não gosta, nem anseia por elas. Ora se a sociedade não gosta e nem anseia por elas, cada um de nós, que compomos essa mesma sociedade, também não pode gostar ou ansiar. Ansiamos, isso sim, pela estabilidade e pelo sossego.
Então, porque é que não paramos para pensar?! É que cada vez mais produzimos, e nos produzimos, seres sociais e cada vez mais nos afastamos da nossa individualidade; da nossa privacidade; daquilo que somos e que nos compõe como seres únicos e particulares. Cada vez mais aceitamos que sejam «outros» a determinar as nossas necessidades, divorciando-nos da responsabilidade de sermos felizes. Cada vez mais aceitamos que sejam «os outros» a ditar as regras do nosso bem-estar e da forma como caminhamos no nosso dia-a-dia!
Cada vez mais nos entregamos e nos afastamos de nós mesmos, até adoecermos sem compreender porquê; até deixarmos de existir; até nos tornarmos transparentes, simples números numa tabela estatística.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Alegoria

Hoje tirei de cima do móvel alguns valores que escondi dentro de um armário.
Não que desconfie da empregada de limpeza ou que ela alguma vez me tenha dado motivos para tal. Mas porque entendo que não tenho o direito de tentar seja quem for.
É claro que exibir valores não é a mesma coisa que expô-los com um cartaz onde se escreve: Leve o que quiser. Cada peça custar-lhe-á um ano de trabalho.
Neste caso a pessoa faria contas e, com os olhos a brilhar perante a possibilidade de usar algo com que nunca sonhou, aceitaria o acordo.
Entretanto, por via de uma má gestão, eu entraria em recessão e exigir-lhe-ia não um, mas dois anos de trabalho gratuito. A coitada, que fez contas a um ano, espernearia e considerar-se-ia enganada e eu, do alto de toda a minha sabedoria e de todo o meu poder, responder-lhe-ia:
- A responsabilidade é sua! Não tivesse aceitado a oferta!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Das biografias

Tenho um preconceito, estúpido, com biografias.
Sempre que me aparece uma, seja sob a forma de filme ou de livro, a primeira reacção é de rejeição.
Isto, provavelmente, daria um excelente tema para ser analisado no divã do psicanalista, se eu tivesse um. É que, ultrapassada a rejeição, acabo sempre por concluir que as biografias podem ser óptimas conselheiras.
Não são só as crianças que aprendem com os exemplos - somos todos nós, e um bom exemplo de vida é sempre uma fonte inesgotável de energia já que, por muito díspar que seja a vida do outro, acabamos sempre por encontrar, aqui e ali, nem que seja à lupa..., paralelismos ou semelhanças que nos deixam a dizer de nós para nós: Estás a ver?! Estás a ver?! Assim é que é! Tudo é possível! Se ele(a) conseguiu, eu também consigo!
Isto para não falar das lágrimas que acabam sempre por correr, não pelo outro evidentemente, mas por nós mesmos quando acreditamos «sentir exactamente o mesmo que ele(a)».
Excelente terapia, as biografias...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dos lucros de certas Empresas e da sua desigual repartição

Os privilegiados deste país não se reconhecem como tal. Presos ao seu umbigo sentem que trabalharam toda a vida, e não duvido que o tenham feito; que estudaram mais do que os outros, e não duvido que o tenham feito; e que, portanto, têm direito à disparidade de ganhos existente entre eles e «os outros».
Esquecem-se, contudo, que sem «os outros» não os poderiam ter obtido e esquecem-se ainda que se no fim de cada ano distribuíssem os lucros das empresas de uma forma mais equitativa, provavelmente teriam trabalhadores mais empenhados, mais felizes e mais dispostos a produzir mais, aumentando, dessa forma, a possibilidade de competir com os mercados internacionais, objectivo que tanto ambicionam e tão necessário é, pelos vistos, à nossa salvação.
Esquecem-se que, se sempre o tivessem feito, se calhar não estávamos como estamos. Esquecem-se que se, mesmo a reboque da crise mundial, estivéssemos como estamos hoje, talvez até pudessem agora baixar os salários – os «dos outros» e os deles evidentemente, porque provavelmente os trabalhadores estariam mais dispostos aos tais sacrifícios que agora lhes são pedidos porque teriam sempre no seu horizonte a justa repartição dos lucros a que estariam, justamente, habituados.
Mas acima de tudo esquecem-se que, se estudaram mais do que «os outros» e se chegaram onde chegaram, ainda que trabalhando, é porque já eram, à partida, privilegiados. Porque num país como o nosso as oportunidades, se não são ainda hoje, não foram de todo, durante muitos anos, iguais e que, se eles trabalham muito, há «outros» que trabalham, suam e sofrem muito mais, e que talvez seja por isso que a produtividade é o que é.
Ao invés de nos dizerem que é necessário produzir mais para depois distribuir os lucros de forma equitativa, distribuam-nos primeiro. Talvez a produtividade cresça.
A uma sociedade que estava habituada a ter tão pouco e a quem fizeram acreditar que podia ter quase tudo, não podem agora tirar esse «quase tudo» sob pena de transformar este pequeno país num grande manicómio.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Preparem-se...

...para começar a pagar o oxigénio que respiram. Já estivemos mais longe de andar com um aparelhómetro qualquer agarrado ao corpo que meça os litros de oxigénio que respiramos e pimba - quem respirar mais, paga mais.

Criatividade e jogo de cintura

Com as surpresas que há por aí, não vale a pena fazerem-se grandes planos - geralmente saem furados e perde-se demasiada energia a tentar encaixar o planeado em cenários que já nada têm a ver com os anteriores. E para quem acredita que «assentou», desengane-se - a vida só acaba quando fechamos os olhos de vez. O melhor mesmo é ser criativo e ter jogo de cintura, muito jogo de cintura, para chegar ao fim mais inteiro do que se estava à partida. Se não mais inteiro, pelo menos não demasiado quebrado.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Eu apito!

Vá lá saber-se porquê, mas apito! Apito quando entro e apito quando saio de qualquer loja ou supermercado, e hoje passei pela vergonha de virem atrás de mim para me conferirem a factura. É claro que estava certa. Por enquanto...
A menina, cheia de boa vontade, voltou a passar tudo pela máquina para desmagnetizar, mas o facto é que eu continuei a apitar! E, apitando, voltei a entrar noutra loja. E quando de lá saí assustei-me com a estridência do apito!
Cá para mim alguém me enfiou um chip qualquer sem eu dar por isso...
Preciso de ir ao Porto e estou indecisa entre o avião e o comboio.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Força; a Fragilidade e a Resistência

A Força é filha da Fragilidade e do Instinto de Sobrevivência. É um movimento com a mesma direcção e sentido oposto à Adversidade. Os Resistentes não a têm porque não precisam dela. Basta deixarem-se estar. Para eles, as Adversidades são como moscas que poisam e que eles sacodem sem olhar. Não há Adversidade que quebre um Resistente.
Só os Frágeis são fortes. Aos Resistentes basta-lhes resistir.
Eu sou forte porque sou frágil, e a minha força dissipar-se-á à medida que me for tornando resistente.
No entretanto, espero não me partir irremediavelmente e peço ao que me une que não me transforme num ser empedernido para que consiga, apesar de tudo, conservar alguma resiliência.

Carta ao Ministro das Finanças ou O País dos Mamões

Exmo. Senhor Ministro das Finanças,
Tomei conhecimento através da Comunicação Social que o Governo indemniza certas Empresas que, tendo sido concebidas para um determinado número de utentes, estão a funcionar, vá lá saber-se porquê, a meio gás. Soube também que estas indemnizações são calculadas a partir do número de utentes previsto inicialmente e o número que, na verdade, a empresa consegue angariar.
Ora a minha Empresa foi projectada para receber cerca de cem utentes mas, infelizmente, ainda só conseguimos cinquenta pelo que venho por este meio, junto de V. Exa., reclamar a minha quota-parte de indemnização.
Não o vou maçar com a descrição das inúmeras providências que já tomei para resolver a situação; das dores de cabeça que tenho tido; das noites de insónias; das faltas de ar… Mas não posso deixar de manifestar o meu desagrado perante a falta de informação! Soubesse eu da existência, da possibilidade, de um contrato desta natureza e não me teria preocupado como me preocupei; não me teria esforçado como me esforcei; não teria, em suma, posto em causa a minha saúde, física e mental.
Assim, agradeço desde já toda a celeridade na resolução deste problema, que não é só meu é de todos já que as Empresas são o sal de Portugal, e digo «sal» no sentido figurado evidentemente – naquele sentido em que o Padre António Vieira a ele se referiu, e apresento os meus melhores cumprimentos certa de que, esta noite, dormirei muito mais descansada.

De V. Exa.
Atenciosamente
Esta sua criada

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Da ordem das coisas. Da ordem da vida.

Questionava-me há dias sobre esta ordem, um tanto ridícula, que o Homem imprimiu ao Mundo e à vida. Tentei imaginar uma outra qualquer, onde o trabalho não fosse tão essencial; onde as trocas não exigissem moeda…sei lá, qualquer outra coisa até, que ainda ninguém foi capaz de inventar ou de que ninguém se lembrou mas que nos trouxesse mais felizes, mais descansados, mais virados para nós mesmos – a Humanidade.
É que se formos a ver bem o Homem sustenta-se com as coisas mais disparatadas, como se o único propósito fosse o movimento, quer de bens quer de braços. Como se, na verdade, não fossemos capazes de estar parados e inventássemos coisas que não adiantam nem atrasam mas nos trazem distraídos, ocupados, vem-me muitas vezes à ideia a imagem daquele que sobe a montanha a empurrar um pedregulho gigante para depois o deixar rebolar por ela abaixo para que o possa empurrar outra e outra vez. Mas, a verdade, é que é disso que precisamos. Precisamos dessa ilusão de utilidade activa. Um ser parado é um ser inútil.
Não sei quem é que nos meteu essa na cabeça! Não sei até se foi alguém ou se já nascemos assim! Mas olho para certas pessoas, como a minha mãe por exemplo, e vejo que a sua luta consiste na manutenção da actividade. O prolongamento da sua vida sustenta-se no facto de ser necessária fazendo e cuidando de coisas e de outros. Sem isso, a vida deixaria de ter propósito. Talvez nos falte aprender que para sermos úteis não temos, necessariamente, de andar activos, e muito menos de criar necessidades e, com elas, preocupações, que na verdade podem, muito bem, não existir.
Será tarde, certamente, para mudarmos as coisas a não ser a partir daquilo que já temos. Estamos demasiado embrenhados nesta ordem, qualquer outra que venha será apenas um sucedâneo desta. Mas se tivéssemos de começar do zero o que faríamos?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Evolução, ou de como eu comecei a compreender o poder alienante do futebol

Há alguns anos atrás eu não era propriamente uma adepta de futebol. Isto para não dizer que não lhe achava gracinha nenhuma e que, cada vez que olhava um jogo, via negócio; interesses…enfim, tudo menos desporto.
Hoje já não sinto nada disso, principalmente se se tratar de jogos de selecção. Aperta-se-me a garganta quando oiço o hino; vibro com cada aproximação à baliza e salto cada vez que a bola entra, na deles evidentemente.
Hoje vejo uma selecção jogar e parece-me uma nobre forma de batalha; um levantar de cabeças, que andam baixas, todas elas, à pala da crise.
Hoje vejo uma selecção e creio, durante uns escassos 90 minutos, que tudo está bem, que os Homens são fortes e que a vitória, mesma que seja a deles, será sempre nossa.

Ultimamente...

...oscilo entre o stress que me tira o sono e me deixa exausta e um estado meio catatónico que me dá algum descanso mas me baixa os braços.
Não sei qual deles o melhor...
Acho que me estou a transformar numa bipolar!

Afinal voltaram!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mas que raio de altura para a RTP1 ter um colapso!!!

Então cala-se assim um ex-presidente?!!
O que é que terá acontecido na Aula Magna para deixar o país inteiro à espera, quase de esperança perdida, para acabar de ver isto?

De um momento para o outro...

...os orçamentos das famílias baixam, as necessidades mantêm-se e, consequentemente, os problemas aumentam.
Andamos todos a tentear o possível na esperança de mantermos as mesmas soluções a preços mais baixos, sem compreendermos que, baixando os preços, baixam também as possibilidades de quem os cobra; sem nos lembrarmos que quem vende também compra e, das duas uma, ou baixamos todos as calças ou não baixa ninguém. É que não pode ser andarem uns de cu à mostra e outros de calças de veludo!
Há uns tempos dizia-se de certas pessoas que queriam galinha gorda por preço magro. Agora acho que já ninguém quer galinha gorda - o que realmente as pessoas querem é continuar a comer galinha, mas como o dinheiro que têm para a pagar vai sendo menos, ou temem que seja e poupam-se a gastá-lo..., querem a galinha mais barata. O que é legítimo dadas as circunstâncias. Mas, convenhamos que não é assim muito inteligente! É que quanto mais barata for a galinha, menos dinheiro fica para quem a vende e mais baratas ainda terão de ser as outras coisas todas. Já pensaram nisso?! Se calhar vale mais, em vez de duas galinhas comprar só uma mas comprá-la pelo preço justo. Não sei, digo eu...Outra coisa que me parece valer também a pena, só assim para ver se conseguimos não transformar isto num verdadeiro pandemónio, é fazermos tudo o que pudermos para enfrentar o terror e não desatarmos para aí, quem pode e tem evidentemente (e não são assim tão poucos), a aferrolhar como se não houvesse amanhã! É que assim, dessa maneira, não haverá mesmo! Sabem porquê? Porque o dinheiro fez-se para circular. Não circula - é o pandemónio! e - adeus Amanhã!

sábado, 9 de outubro de 2010

Diz-se que...

...a vida não é feita de escolhos mas de escolhas. A merda toda é que há certas escolhas que exigem escolhos e uma pessoa não pode fazer nada contra isso...

Acho que já falei disto aqui, mas pronto...

A vida encarrega-se de nos ensinar aquilo que nenhuma escola ou livro nos ensina. E não é pela quantidade, porque se um mesmo tipo de coisa nos vai acontecendo uma e outra vez é porque a aprendizagem com certeza não foi bem feita à primeira e nem à segunda…mas é pela variedade de obstáculos que nos vai colocando pelo caminho.
Assim, são aqueles que mais obstáculos enfrentam que mais aprendem. Quer queiram quer não. Os outros, aqueles para quem a vida é suave, ou é porque já nada têm para aprender ou porque ainda não estão preparados para tal. Mas que ela nos ensina a todos, ensina. Seja agora ou mais tarde, na próxima ronda…eu como acho que já aprendi umas coisitas, gostava que o resto ficasse para a próxima ronda, se faz favor.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Do Senso Comum

Tem algum jeito que, sendo eu sapateiro, decida desatar a dar conselhos ao meu vizinho carpinteiro?! – Ah! e tal…você veja lá! Quando serrar tenha cuidado com os dedos! Olhe que a madeira tem farpas!..
E não será natural que o carpinteiro, nestas circunstâncias, me mande dar uma curva e me diga – Meta-se mas é na sua vida que você percebe é de sapatos que para madeiras estou cá eu?!
E o que é que se pode pensar de um sapateiro que, perante uma reacção destas se sinta ofendido e ainda diga com desprezo – Pois, você é que sabe tudo!...
Mas isto não é senso comum?! O cada um saber do seu métier; o não se dar conselhos sem que nos peçam?! Isto não é senso comum?! Isto não faz parte daquelas coisas que toda a gente sabe que é assim mesmo que não se saiba porquê?!
Ou há certos homens que ainda vivem num mundo em que as mulheres, coitadas, nunca sabem verdadeiramente nada de coisa nenhuma, e se sentem na obrigação de as «ajudar»?!! É que se é isso, convém que acordem para a vida; se olhem ao espelho com olhos de ver e tenham mas é juízo. É que se continuam com essa predisposição tosca; saloia; provinciana, eu sei lá… sujeitam-se a ouvir o que não gostam.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um pouco de calmaria

Devagar vou tirando do caminho os obstáculos. Devagar como quem separa trigo e joio. E a vida vai-se reajustando mais uma vez e, mais uma vez, eu me perco na esperança de um dia ela ser, só ser; suavemente, sem grandes percalços, sem grandes agitações...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Da (des)educação judaico-cristã

Há momentos em que a realidade me atinge de forma tão feroz que tudo em mim se crispa.
Mulheres de outros tempos, educadas para a obediência e para a submissão. Ontem dos pais, hoje dos maridos. Mulheres que não sabem, não sentem, que têm direitos. Que se culpabilizam por sentimentos humanos de cansaço e saturação e, por se culpabilizarem, não agem – nem sabem como! Vêem-se vítimas das circunstâncias e sentem-se na obrigação de aguentar o mais firme que podem, carregando até ao fim a cruz que não pediram, que não desejaram, que nem sonharam sequer.
E, quando o cansaço vence, sucumbem porque nada mais há a fazer senão sucumbir. Qualquer solução que lhes seja apresentada é uma agrilhoada de culpa insuportável de aguentar. Zangam-se para dentro porque lhes ensinaram que não se podem zangar para fora.
É nestas alturas que dou graças a Deus, passo a contradição, de já não impingirmos às nossas crianças a filha da puta (porque só uma filha da puta castra desta maneira) da educação judaico-cristã.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Viva a Anarquia!

Faz cem anos a República! Se sair ao Manoel de Oliveira durará, talvez, mais três ou quatro, quiçá cinco…duvido que muitos mais.
Há quem lhe chame a terceira. Outros há que afirmam que não senhor, que é a segunda já que o Estado Novo lhe contrariou todas as regras. Segunda ou terceira tanto faz.
Reis e Rainhas; Ditadores ou Presidentes e Primeiros-ministros têm servido e mantido os povos pequeninos, de gente ignorante e tacanha que pouco se tem esforçado por crescer e continua a precisar de quem dela tome conta. E é para isso que servem todas essas figurinhas – para tomarem conta de nós; para tomarem decisões por nós; para serem progenitores até ao fim e nos manterem nessa doce ilusão de que não precisamos de crescer, nem de nos responsabilizarmos por actos que, afinal, não são nossos mas deles.
Eduquem-se os povos; responsabilizem-se os cidadãos; cortem-se os cordões umbilicais e deixaremos de precisar de manda-chuvas.
Nem Monarquia; nem República! Está na hora de nos prepararmos para a Anarquia – a mais elevada forma de governação! Aquela que é, realmente, a governação de e para todos.
VIVA A ANARQUIA! VIVA!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

De como o rádio matou o carro

Agora que a senhora aqui do lado já desligou o frenesim brasileiro, já vos posso contar como tudo aconteceu:
Há uma série de anos atrás, eu nasci...
Há uma série de anos atrás o rádio do meu carro (sim, é velhote), decidiu stressar sem motivo aparente e, quando eu o ligava, as estações sucediam-se ininterruptamente, como loucas, e o som, esse, nem ao longe... Levei-o ao mecânico que me disse que o rádio não tinha nada, para além de uma qualquer loucura, e que bastava desligar a bateria e voltar a ligá-la que o tipinho fazia reset; pedia-me o código e voilá! música no ar!
Como sou boa de aprender, quando passados mais uns anos (sim, é verdade, o carrito é velhote mesmo), aconteceu a mesma coisa, eu não fui de modas - desliguei-lhe a bateria; voltei a ligá-la; introduzi o código no rádio e resolvi, sozinha, a questão.
Anteontem, depois de ter passado quinze dias no mecânico que me levou o couro e parte do cabelo (felizmente tenho muito porque senão tinha ficado careca...), o rádio voltou a endoidar. Na altura não tinha chave que servisse na bateria e estacionei-o à porta de casa na promessa que, assim que saísse, desligava a porcaria da bateria.
Foi hoje de manhã. Mas, na pressa de chegar a Lisboa não deu para o fazer à porta de casa. Como o trânsito parecia de domingo cheguei suficientemente cedo para o fazer no parque de estacionamento da faculdade e, com a ajuda do jardineiro, lá desligámos a coisa.
Funcionou! Tal como de costume, o rádio ressuscitou. Alegria das alegrias! Ainda estive um bocadinho lá sentada, de sorriso estúpido nos lábios, a ouvir uma música qualquer, até ao momento em que o jardineiro disse - ponha-o lá a trabalhar.
Pimba! O rádio matou o carro! Tive de chamar o reboque! E por mais que o mecânico me diga que não tem nada uma coisa a ver com a outra, o facto é que o carro ainda trabalharia se não fosse o rádio...

Eu e a música

Não gosto de andar no carro sem música. Aborrece-me. No entanto, quando estou a trabalhar preciso de silêncio. Ao que parece o universo deve ter percebido tudo ao contrário porque, se o rádio do carro avariou, este aqui da senhora do lado não pára de gritar em brasileiro e eu, com tanta coisa que me tem acontecido ultimamente, estou prestes a entrar em órbita! Se isso acontecer quem se vai ver às aranhas é a senhora que gosta de dar música (brasileira) ao desbarato.

domingo, 3 de outubro de 2010

Ao homem cá da casa não lhe invejo a sorte, que vive rodeado de mulheres que só lêem lêem e ele, coitado, quer é ver televisão...

Do amor livre, esse grande hipócrita

Acho uma graça do caraças (estou a ser irónica) a esses gajos que andam por aí, na maioria tipos da minha geração, a apregoar a liberdade no amor quando o que na verdade fazem é fingir que são muçulmanos mas sem as chatices que esta religião exige a qualquer homem que queira ter mais de uma mulher, i.e., sustentá-las financeiramente já que, de resto, é essa a raiz de tal tradição: há mais mulheres que homens; as mulheres não trabalham; logo, um homem que é rico ostenta a sua riqueza, sustentando tantas quantas puder…
Mas não! O que estes ocidentais na verdade querem é divertir-se o mais que puderem sem terem de se chatear. Assim, dizem à boca cheia que a forma mais honesta de vida é aquela em que, se se «amam» duas; três ou mesmo quatro, ao mesmo tempo, então distribuem-se quecas que são, evidentemente, a manifestação mais eloquente da promiscuidade e pouco ou nada têm a ver com amor, que estes tipos nem sabem, na verdade, o que isso é.
Depois há mulheres que vão na conversa. Umas porque se estão nas tintas para eles ou para outros quaisquer e o que querem realmente, tal como eles, é irem satisfazendo uma necessidade que, quer queiramos quer não, é fisiológica. Outras porque se apaixonam por estas mentes «espantosamente diferentes» e no fundo, lá muito no fundo, alimentam a esperança de serem elas a ficar, um dia, com eles para sempre… (evidentemente que essas são as que mais sofrem quando verificam que este tipo de gajos não ama ninguém e o que realmente lhe interessa é ir passando uns momentos agradáveis, de preferência com corpos mais jovens do que os deles…)
Amor livre, my ass, estes gajos sabem lá o que é o amor!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Parabéns ao meu filhote

que faz hoje 23 anos e que sonha alto e muito.
Sempre que um filho faz anos é inevitável a lembrança do dia em que nasceu, como é inevitável uma certa nostalgia pela distância que nos separa dos melhores momentos da vida, porque não há, nem haverá nunca, outros iguais.
Parabéns meu muito querido, que todos os teus sonhos se concretizarão, disso não tenho dúvidas, apesar de aos olhos de alguns a tua busca soar a inconstância, eu diria que és um homem deste tempo - um homem multifacetado, capaz de atender às mais diversas e estranhas formas de vida. E se há quem não veja um fio condutor nas tuas escolhas, eu vejo; e sei que serás dos poucos capaz de responder às exigências desta era em que vivemos e está, outra vez, prestes a sofrer profundas mudanças.
Que esta nova etapa não te desiluda como te desiludem, tantas vezes, as pessoas de quem esperas sempre mais e melhor. Há caminhos, meu amor, que se fazem solitários mas que a dada altura do percurso se enchem de gente feliz.
E feliz, e orgulhosa, é o que eu sou cada vez que te vejo e oiço.