sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo

Estamos a chegar ao fim de mais um ano, ainda que um bocadinho aldrabado este tempo que determinámos para as voltinhas que a Terra dá, o facto é que, mais minuto menos minuto, ela lá deu mais uma volta connosco por cá.

O fim do ano e o meu aniversário são datas quase religiosas, que gosto de interiorizar como se realmente fossem, e não representassem apenas, um novo começo.
Raramente traço objectivos mas gosto de desenhar intenções. Intenções que se prendem, fundamentalmente, com aquilo que sou e aquilo que ainda posso vir a ser. Estas datas são, para mim, momentos em que interiorizo tudo o que fui capaz de aprender, respiro fundo e começo de novo, cá dentro.

Este ano vou repousar lá para os lados do Alentejo, numa herdade pacífica, onde as galinhas da canja são alimentadas a grãos e a dita traz ovinhos. Vou namorar, que bem preciso, vou jantar ensopado de borrego, também ele criado a erva, e vou entrar o ano de mão dada a passear pelo campo. É isso que vou fazer. Vou estar em paz.

E é essa paz que vos desejo a todos aqueles que aqui vêm, e aos que não vêm também. Que entrem em 2011 com o coração cheio de amor e a alma carregada de paz, que cada um chame a si toda a força que puder e que nem o engenho nem a arte nos falte.


Por favor não se zanguem se eu não atender o telemóvel.

Um MUITO FELIZ 2011.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um dia destes sou despedida

Fora de brincadeiras, não sei como há quem me ature, e isto é sincero!
Mora em mim um egoísmo resinoso, não sei se mais resinoso até do que o altruísmo que também cá habita, que se manifesta sempre que os objectivos são mais prementes.
Eu explico: Sempre que uma puta de uma coisa se me mete na cabeça não descanso enquanto não a levo a bom termo.
Não se pense, no entanto, que as coisas me nascem assim do nada! Ainda que ontem, num dos muito fraquinhos momentos em que fui capaz de parar o meu cérebro para olhar para mim e pensar um bocadinho, a suspeita de que preciso disto para viver me tenha atormentado… Mas o facto é que são coisas que têm de ser feitas, na medida em que seja o que for “tem de ser feito”, evidentemente. Se forem feitas talvez! talvez! as coisas corram melhor! É isso – talvez!...Mas se eu não as fizer nunca chegarei a saber se elas tinham melhorado se eu as tivesse feito…
Adiante, aquilo que interessa é que, no meio desta azáfama vertiginosa em que me envolvo, até parece que não gosto, que não amo, que não quero. Quando, na verdade, gosto, quero e amo. O problema é que sou incapaz de consolidar as duas coisas em momentos de crise como este. Não sou capaz de dar “uma no cravo e outra na ferradura”, como se diz por aí. Então, trato de despachar o mais depressa possível o que há para fazer, se eu pudesse nem comia nem dormia até terminar, para poder, depois, dedicar-me à partilha da vida e das coisas.
Ora não é qualquer pessoa que aguenta isto: Olha, agora, se não te importas, espera lá uma ou duas semaninhas que eu não estou por cá, tenho muito que fazer!...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Despeito...

...do latim despectu-, significa "olhar do alto, de cima"; no dativo, quer dizer "desprezo".
Muito semelhante ao ódio, ao rancor e, até ao amor, não tem origem no outro, mas em nós mesmo. É claro que não aparece por geração espontânea, mas nem o ódio, nem o rancor e nem o amor, aparece por características internas e não externas, e vira ao contrário qualquer um.
Tem, em relação aos outros sentimentos, a desvantagem de ser gerador. Odeio porque fui despeitada; detesto pela mesma razão e sou bem capaz de amar, ou pensar que amo, porque me deram atenção…
São raras as pessoas que não se deixam dominar pelos sentimentos, nem que seja temporariamente. Portanto, são raras aquelas capazes de vislumbrar o papel que desempenharam em cada acto da sua própria vida.
Fui abandonada, enganada, despeitada e, por isso, sou vítima e o outro, ou os outros, são os culpados, aqueles sobre os quais eu hei-de, mais cedo ou mais tarde, despejar a minha raiva e o meu ódio!
Há até quem alimente aquela velha máxima da «vingança que se serve fria», sem perceber que, à espera que arrefeça, terá de não deixar morrer os sentimentos que a justificam e se vai envenenando por dentro, porque é isso que certos sentimentos fazem - envenenam. E, muitas vezes, o outro só seguiu o seu caminho. Muitas vezes o outro só tentou ser feliz, porque, convenhamos, não é muito comum abrirmos, assim, mão da felicidade. Todos nós a procuramos, alguns a vida inteira… A mudança de rumo é, na grande maioria dos casos, apenas a concretização de algo que já existia, nada mais do que isso.
Odiar em certos momentos é compreensível e até saudável. Alimentar esse ódio ad aeternum, é doentio. Estendê-lo a quem nada tem a ver com o assunto, é irracional. Mas os sentimentos são mesmo assim – irracionais. E ainda bem que o são.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Manuel Maria Carrilho

É de Julho, mas vale a pena ler e reler. Pode ser que nos acalme um pouco e nos ajude a desacelerar em 2011.

«Sem tempo, nem paciência!...
por Manuel Maria Carrilho, Diário de Notícias, 29.07.2010

Se há ideia com que se tenha identificado a evolução técnica e tecnológica do último século, foi sem dúvida com a da promessa que ela propiciaria mais tempo à humanidade, libertando-a de diversas pressões que condicionam a vida quotidiana dos indivíduos.
E contudo, apesar da proliferação dos inventos que substituem o trabalho humano, e da multiplicação das inovações tecnológicas que permitem fazer tudo mais depressa (fax, Internet, telefone portátil, etc.), que tornaram possível que hoje se trabalhe metade do que se trabalhava há cerca de cem anos e se viva muito mais longamente, é exactamente o contrário que se verifica: vivemos hoje com a noção de, afinal, não ter tempo para nada…
Tudo se passa como se uma lógica mais forte se impusesse a todas essas ilusões, contrariando-as. E essa lógica existe, é a da aceleração: isto é, a de um aumento constante da velocidade que, na perspectiva do sociólogo alemão Hartmunt Rosa (autor de um magistral estudo sobre a aceleração), se tornou num traço central dos tempos modernos, que se tem vindo constantemente a intensificar.
Uma aceleração que começou por ser técnica e incidir nos meios de transporte. Que depois alterou os ritmos de produção e as características das relações colectivas, atingindo todos os modos de vida. E que por fim se tornou social e cultural, transformando-se um imperativo constante que atravessa todas as actividades humanas, sejam elas profissionais, pessoais ou políticas.
Uma boa imagem deste facto encontra-se, como lembra H. Rosa, na circunstância de se terem passado 38 anos entre a invenção da rádio e o momento em que a sua difusão atingiu os 50 milhões de aparelhos, enquanto bastaram três ou quatro anos para a conexão à Internet atingir a escala das centenas - e, depois, dos milhares - de milhões.
É a aceleração que, a nível subjectivo, se encontra na raiz do stress, da hiperactividade, da depressão, pelo modo como ela bloqueia o desenvolvimento de qualquer projecto individual. É a aceleração que, como Maggie Jackson explica num livro extraordinário, Distracted, provoca a erosão da nossa capacidade de atenção, seja de concentração em algo, seja em relação às mudanças que ocorrem à nossa volta, seja ainda de adaptação a essas alterações. É a aceleração que multiplica simultânea e contraditoriamente os apelos de urgência e os comportamentos reactivos, estropiando o tempo de reflexão necessário à decisão esclarecida e eficaz nos domínios económico, social ou político. É a aceleração que conduz à consagração do curto-termismo, como se ela fosse na verdade, na bela expressão de Milan Kundera, o único êxtase do homem moderno.
A aceleração dilui a percepção do tempo, condenando-nos a viver num presente perpétuo em que os acontecimentos se multiplicam na razão inversa da compreensão do seu sentido. A torrencial multiplicação dos pontos de vista tem como único efeito seguro o de privar o homem contemporâneo de qualquer perspectiva consistente sobre o quer que seja.
O curto-termismo, que decorre automaticamente desta aceleração e se impõe em todas as vertentes da vida contemporânea, é o que melhor define a mutação radical que ocorreu na nossa relação com o tempo. É ele que nos priva de qualquer horizonte onde se possam instalar verdadeiros projectos de vida, individuais ou colectivos. É ele que cria novas formas de irresponsabilidade, como se tem vindo a observar no decurso da crise financeira, com a cínica generalização da máxima "I'll be gone, you'll be gone". É ele que fragiliza todos os processos de deliberação, colocando-os sob a pressão das urgências mais diversas. É ele que estropia a atenção à complexidade das sociedades contemporâneas, impondo-lhes um registo de instantaneidade e de imediatismo de natureza suicidária. É ele que empurra todas as actividades humanas para o modelo do turboconsumo e das múltiplas dependências que ele cria.
Vivemos, em suma - a analogia é de J.L. Servan-Schreiber, no livro Trop Vite -, como se nos deslocássemos de noite num automóvel cuja velocidade aumenta à medida que o alcance dos faróis diminui. É por isso que, mesmo em férias, se torna tão difícil desacelerar? Habituados que estamos, por um lado a viver como se a velocidade por si só desse sentido à vida e, por outro lado, a associar a aceleração com a intensidade, é cada vez mais comum reagirmos com ansiedade a qualquer vislumbre de lentidão e identificarmos a mais pequena desaceleração com uma assustadora ameaça de tédio. Como se, quando finalmente há tempo, faltasse a paciência? »

In http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1629529&seccao=Manuel%20Maria%20Carrilho&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco#AreaComentarios (visionado em 28-12-10)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

À simpática Anónima que alegrou o meu dia com um comentário que, infelizmente, tive de recusar

A inveja é uma coisa muito feia mas ainda bem que há quem a tenha. É que se não fossem essas infelizes que se envenenam por dentro, eu era bem capaz de me esquecer o quanto valho.
Muito obrigada à invejosa “anónima” que teve a gentileza de me dar a conhecer o seu estado de espírito. Animou-me.

Decidi esticar o cabelo e agora ando com um colchão em cima da cabeça.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Estou bem. Estou a lutar.

Ultimamente, quando me perguntam como estou, respondo num tom sério, profundo – Estou bem. Estou a lutar.
E apercebo-me que estou, realmente, a lutar há muito tempo! Provavelmente toda a minha vida, ou uma grande parte dela. E não estaremos todos?
A lutar. A lutar por aquilo que queremos, por aquilo que acreditamos ser o nosso caminho, até mesmo quando parece que não fomos nós que o escolhemos mas aquele que nos saiu em sorte, estamos a lutar.
E à medida que o tempo passa, esse estar entranha-se e aos olhos dos outros somos uns lutadores. É, ou passa a ser esse o nosso orgulho, o nosso suporte quando vacilamos. Afinal não podemos, somos lutadores e um lutador não vacila. Pode perder, mas perde a lutar. Não vacila, não baixa os braços, não baixa as defesas. E, de repente, estamos transformados em verdadeiras fortalezas, penosas para quem quer entrar. Tão penosas que corremos o risco de ficar entrincheirados…
Lutar é indispensável. Tão indispensável quanto o é a salvaguarda daquela reserva de fragilidade que nos habita, e a certeza de que, se a utilizarmos, não sucumbiremos.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Um dandy

Não a via há 15 anos. Saímos juntas uma meia dúzia de vezes mas as nossas diferenças acabaram por nos separar. Ela corria atrás de homens e dinheiro como quem corre atrás de pão quando a fome aperta. “Eu…é mais bolos…”. A autonomia e o amor sempre me gritaram mais alto.
Encontrei-a hoje. Próspera, parece ter, finalmente, encontrado o que sempre procurou. Vive numa mansão que é também o seu local de trabalho. Trata da facturação do negócio que o companheiro de há seis anos gere. De sorriso nos lábios fez questão de o chamar para me apresentar. Uma amiga de longa data, gritou ela para o outro extremo onde ele se encontrava. A criatura nem se moveu. Alto, todo branco, com o cabelo a cobrir-lhe a parte de trás do pescoço, virou-lhe a cara como se ela nem existisse e a mim, atirou-me um sorriso amarelo e um fraco menear de cabeça. O “chega aqui” que ela lhe gritou, perdeu-se no espaço que os separava.
Saí de lá a pensar que ela encontrou, realmente, o que procurava. E eu também…

Feliz Natal


Este ano, vá lá saber-se porquê, tudo o que eu pudesse dizer para além disto me pareceria supérfluo. Feliz Natal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vamos lá a ver se é desta...

De vez em quando dá-me para desafiar o instinto. Agarro-me à razão, compilo todos os factos e sigo-a, ainda que o instinto me continue a azucrinar o aparelho digestivo gritando que há algo que não bate certo.
Vamos lá a ver se é desta que o desgraçado se engana…

Raposa

Eu sou como a raposa da fábula. Quando as uvas estão demasiado altas, digo que estão verdes, que não prestam...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

De volta ao estado de graça

Ora bem - criar filhos não é nada fácil, que não é. Exige uma grande capacidade de sofrimento e um grande poder de abnegação, que é como quem diz – esquecermo-nos de nós para nos centrarmos, única e exclusivamente, neles.
Assim, sempre que tivermos de os contrariar, contrariamos e aguentamos firme a dor de os ver contrariados. Nem que tenhamos de nos enrolar sobre nós mesmos como quem se agarra ao estômago quando ele, insuportavelmente, dói.
Pouco importa o que nos custa a nós. O que importa é o que lhes vai custar a eles, mais tarde, a nossa incapacidade de sofrimento.
Sempre ouvi dizer que é preferível que chorem quando são pequenos do que mais tarde, depois de adultos…

....

Irrita-me a ignorância e, sobretudo, transtorna-me a incapacidade de educação de certos pais!
Ó gente! Um compromisso é um compromisso! Um programa é um programa! Existe como um todo. Não se inscreve uma criança para um programa de três dias para depois permitir que ela decida se vai ou não e quando!
Ah! E tal!...ele hoje prefere ir para ali.
Mas o que é isto?! Ele é que manda?! E não se percebe que ao aceitar este tipo de comportamento se está a dizer às crianças que os compromissos não valem nada?! Que não faz mal saltar por cima deles?!
Depois surpreendemo-nos com homens que dizem uma coisa e fazem outra! Pois pudera! Foi assim que foram habituados!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Objectivos para 2011

Encher o meu coração de amor; os bolsos de dinheiro e o corpo de saúde.
Vou amar tudo e todos; vou andar em estado de graça. Vou trabalhar nisso todos os dias – olhar para tudo e ver o belo e o bom. Dá trabalho. Um trabalho que é mais do que diário, é horário. Mas já o comecei e estou a conseguir. Quando chegar a 2011 serei uma expert na matéria. Atrás disso virá o resto, por arrasto – os bolsos encher-se-ão de dinheiro e o corpo de saúde.
O mais difícil vai ser deixar de fumar. Provavelmente terá de esperar uns meses. Mas far-se-á.

sábado, 18 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Vamos lá perceber isto...

Quando eu andava na escola primária as festas de Natal eram um must; uma excitação, como se vivêssemos o ano inteiro para aquilo. A vida parava e nós atropelávamo-nos por uma cadeira. Nem todos faziam parte do elenco teatral mas toda a gente participava, nem que fosse apenas no coro ou como figurante.
Hoje os putos vão à escola de manhã só para não terem falta e fogem para casa. É uma seca! dizem eles da festa da escola. Uma seca!...

Relatividades

Dizia o meu irmão há cerca de dois dias:
- Aqui (numa ilha do Mar do Norte) o dia está lindo! O sol brilha e estão 3 graus ACIMA DE ZERO!! UAU!!! QUE FELICIDADE!!!!
Pois aqui está um frio de rachar! Estão 11 graus positivos! Brrrr.......

Dos filhos e enteados

Quando acabei de escrever o meu primeiro romance, há uns bons anos atrás, imprimi uma série de cadernos que enviei para tudo quanto era editora.
Nos meses que se seguiram fui recebendo cartas: “Obrigado, mas…”; “Lamentamos que…”. Até que um dia o telefone tocou e uma voz do outro lado do fio se fez anunciar como representante de uma grande editora, das maiores à época e agora, ainda. Perguntou-me Quem eu era! Ninguém, respondi, apenas alguém que escreveu um livro e gostava de o ver editado. Mas pertence à família de…? - insistia a criatura. Não, não pertenço. Gostámos do livro. Entraremos em contacto consigo.
E isso bastou-me. Esperei…em vão. Passaram alguns anos. Tirei o livro da gaveta e revi o que tinha escrito, cortei aqui e ali, acrescentei acolá e voltei a enviá-lo para uma série de editoras. Passados uns meses recebi um outro telefonema. Uma pequena editora estava interessada. O livro foi para as prateleiras.
Mas a editora era, e é, francamente pequena. De parcos recursos não divulgou, não publicitou, não teve poder de negociação perante os livreiros, e o livro, que durante os primeiros dias teve honras de destaque em FNACs e Bertrands, acabou escondido nas prateleiras; invisível no meio de tantos outros.
Ainda assim esta pequena editora entusiasmou-se com o segundo e repetiu a proeza. Mas, fosse eu filha de fulano ou íntima de sicrano e seria hoje uma conhecida escritora, a viver, apenas e só, das vendas dos livros. E pouco importa se escrevo bem ou mal – seria. Porque é assim que a selecção é feita neste país e, nos entretantos, lá vão aparecendo, por sorte, aqueles que até merecem…

Assim Acontece...

Era uma pessoa alegre. Não me parece que a vida lhe tenha pesado muito, beneficiou daquilo que o país tem de melhor: as cunhas e os compadrios. O desfecho não lhe deu as mesmas oportunidades, veio sem aviso... Que descanse em paz.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Reencontros

Éramos três. Dois rapazes, uma rapariga. Dois brancos, um preto. Inseparáveis. Nos primeiros anos do liceu, para onde ia um, íamos todos. Magros, brincávamos com as nossas parecenças. Gostávamos de dizer que, embora não fossemos irmãos, tínhamos sido feitos com o mesmo molde.
Fomos crescendo; começaram os namoros; fomo-nos afastando até que eu voei para a Holanda e, pouco tempo depois, um deles também. Eu voltei, ele ficou. Perdemos o contacto. Lembro-me dele muitas vezes e, em conjunto com um outro amigo que não o primeiro, esse nunca mais o vi, procurámo-lo no Facebook mas nada, nem sombra! Houve momentos em que nos passou o pior pela cabeça…
Há coisa de dois ou três dias, numa bomba de gasolina, um condutor duma carrinha deu-me passagem. Não me olhou mas eu olhei-o – era um do trio, o branco, o que ficou por cá! Ainda lhe fiz sinal mas, como eu não aproveitei a oportunidade de passagem, ele desapareceu no meio do trânsito. Deu para ver que está bem. E gordo!
Hoje, esse outro amigo que comigo lembra o que não voltou, ligou-me para me dizer que o I. estava cá!
Andei de beco em beco para me lembrar da morada da família. Passaram mais de vinte anos! Encontrei a mãe e, numa outra casa que não a dela, o filho.
Abraçámo-nos de lágrimas nos olhos. Está bem. Muito bem. E, tal como o outro – bastante maior! Gostei tanto de o rever!

Um dia destes...

...deito fora tudo o que tenho nos armários. Tudo.
E compro tudo novo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Particularidades

Sou daquelas pessoas a quem o Verão ilumina e o Inverno envelhece.
Para quem não sabe a quantas anda, que me olhe. Transporto comigo as estações como composições da alma e, no meio de tudo isto, é imperativo que deixe de fumar.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

E pronto, é isto...

Estou muito cansada, sem inspiração e a sentir-me estúpida porque, mais uma vez, me armei em Madre Teresa...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Encontros

Um dia destes faço uma compilação de disparates e enganos. Tenho para dar e vender.
Ontem fui conhecer esta menina. E para todos aqueles que gostam muito de dizer mal da Internet, esqueçam, trata-se de uma ferramenta que, como todas as outras, tem de ser bem utilizada e as vantagens podem ser, e são, inúmeras. Mas como eu dizia, fui conhecer a CF. Já nos lemos uma à outra vai para dois anos e as pessoas vão-se conhecendo e reconhecendo naquilo que escrevem e lêem, por isso decidimos encontrarmo-nos e jantar.
Ela veio de longe e, como quem vem de longe chega sempre primeiro, vá lá saber-se porquê!..., chegou primeiro do que eu. Pelo telefone trocámos marcas e cores de viaturas e foi com a marca e a cor, do carro dela, na cabeça que entrei disparada no parque de estacionamento. Não foi difícil avistar o dito - a cor; a marca; o modelo - luzes acesas e uma menina lá dentro. Estacionei mesmo ao lado e saí disparada direita a ela que entretanto também saiu para me receber. Dois beijinhos, isto não se faz a ninguém - esperar meia-hora, disse eu em tom de desculpa quando a vejo perplexa a fixar-me e me pergunta pela R.! Mas quem é a R?! pergunto eu e ficámos a olhar uma para a outra - isto deve ser engano!...
A CF, dentro de um outro carro assistia à cena convencida que eu não era eu mas uma outra qualquer que tinha ido ter com aquela que esperava, sentada, num carro igual ao dela.
Na verdade não nos conhecemos ontem, porque já nos conhecíamos. Apenas tratámos de encaixar as imagens que fomos construindo, na realidade das nossas figuras. Acabou por ser um encontro a três já que fomos ouvir este menino tocar. E como a nossa maior riqueza é constituída pelas pessoas com quem nos cruzamos, a minha vida ficou um bocadinho mais rica.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A geração do silêncio

A minha geração não esteve, nunca, autorizada a contar aos pais aquilo que fazia – as bebedeiras que apanhava; as experiências malucas; os namoros às escondidas…Não havia comunicação que permitisse isso nem mesmo depois de adultos. Os pais da minha geração não estavam, nem estão, preparados para saber pormenores do crescimento dos filhos ou da sua vida íntima.
Mais tarde, a tendência de muitos foi quebrar o mais que pudesse essa barreira, com os filhos. Eu caí, muitas vezes, em exageros de confidencialidade, numa sede de proximidade que faltou com a geração anterior. Essa sede foi criticada, e as confidências, ou desabafos, mortos à nascença – os filhos não são, não podem ser diziam eles e muito bem, confidentes dos pais. Pelo menos enquanto não se tornarem verdadeiramente adultos.
Tiveram contudo o privilégio de poder confessar o que muito bem entendessem confessar, e nunca sofreram, pelo menos uma grande parte deles, dessa distância feita de ignorância e secretismo. Hoje, mercê deste fenómeno de comunicação global que é a internet, todos os pais podem, se quiserem, saber o que os filhos fazem, fizeram; deixam ou deixaram de fazer – basta ir ao Facebook.
Quanto a nós, lá vamos deixando, de vez em quando, escorrer qualquer coisita mas o hábito faz o monge e há coisas que permanecerão secretas para todo o sempre. Coisas que, uma vez caladas, caladas para sempre.
Assim, a minha geração é, costumo eu dizer por graça, a geração do queijo e do fiambre. A geração entalada entre duas sem ter podido, na verdade, confidenciar com nenhuma. A geração do silêncio.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quanto terão eles pago...

...às duas senhoras para dizerem que o fundador da WikiLeaks as tinha molestado?

Mode Disparate

O mode Disparate é aquele mode em que se abre a boca, ou se estica os dedos no teclado, para dizer tudo aquilo que nos vem à cabeça sem nos lembrarmos que quem vai ouvir ou ler pode não estar no mesmo mode que nós.
Eu tenho alturas em que funciono neste mode. Geralmente são momentos de ansiedade e alguma insegurança que precedem outros de importância alta, pelo menos para mim. São momentos em que faço questão de vomitar tudo o que penso e sempre de uma forma tão desgarrada que sai uma espécie de salada cujos ingredientes, para serem identificados, têm de ser mexidos e remexidos por quem tem paciência para o fazer e são poucos os que a têm…Daí ser um mode em que tudo o que sai soa a disparate desconexo vindo de uma cabeça que não pensa, pensa pouco ou se está nas tintas para o que os outros pensam – o que não é, de todo, verdade.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O barato sai caro

Não me canso de comprovar isto mas parece que nunca aprendo. Entre um disparate e outro pode até mediar muito tempo mas, mais cedo ou mais tarde, acabo sempre por cair nesta armadilha das baratezas.
Fui comprar lenha «barata». Na verdade a metade do preço!... A estupor, para além de não querer arder - tem mais água lá dentro do que madeira..., vem cheia, mas cheinha mesmo, de formigas gigantes!
Tenho formigas a passearem pela casa cada vez que enfio um tronco na lareira. A minha mãe leva o dia todo a «caçar formigas» e a rezar para que elas não descubram a marmelada...
Entre a água e as formigas sobra muito pouca madeira! Metade do preço my ass!

Os Críticos...

...são aquelas pessoas que percebem imennnnnnso de uma coisa, embora não sejam, na verdade, capazes de fazer nada.
Avaliam pormenorizadamente um quadro, ainda que nunca tenham pintado nenhum. Uma obra literária, embora as suas se fiquem pelos textos críticos.
Os críticos são, ao fim e ao cabo, aquilo que todos nós também somos - perfeitamente capazes de resolver os problemas alheios.
Os críticos não fazem a mínima ideia do que é ter necessidade de «estar dentro do convento para saber o que vai lá dentro», porque eles sabem tudo, e mais alguma coisa...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Foi um fim-de-semana frio. Muito frio. E eu andei a cirandar entre temperaturas – aqui está quente; aqui está frio – o resultado foi uma daquelas constipações que passam pela garganta e pelo nariz, e seguem directamente para os brônquios porque houve uma altura em que os médicos cortavam amígdalas e adenóides por dá cá aquela palha e como se não houvesse amanhã.
Mas ter quem se levante a meio da noite para fazer chá e tratar de nós não é para todos. Por isso, e só por isso, estou muito melhor.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quando for grande...

...quero ser gestora de uma empresa pública.
Um estudo da Deco revela que as Empresas Públicas são as mais mal geridas, e como os seus gestores são mais bem pagos do que o Presidente da República, deste e doutros países como os Estados Unidos e a Alemanha, é isso que eu quero ser - Gestora de uma Empresa Pública.
Não há para aí uma vaga?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Nós - os portugueses

Não vou dizer mal do 25 de Abril, nem da nossa entrada na UE. Temos hoje, apesar de tudo, um povo mais instruído do que aquele que tínhamos em 1974. Talvez, por isso mesmo, tenha chegado o momento de ler Eduardo Lourenço, Agostinho da Silva e, porque não?, Fernando Pessoa. Talvez tenha chegado o momento de nos virarmos um pouco mais para nós, porque a globalização é boa – dá-nos uma visão do mundo e do nosso lugar nele, mas cada povo tem as suas particularidades e o seu próprio temperamento.
Somos um povo «manso», de «brandos costumes», e lamentamos, muitas vezes, um certo divórcio político, de participação activa. Fechamo-nos, tantas vezes, cada um de nós, na nossa individualidade e na nossa humanidade, sem saber que, se calhar, partilhamos, todos nós, estas características. E é essa ignorância do todo que impede que nos organizemos e que tomemos parte verdadeiramente activa no que nos está a acontecer.
Tenho por mim que as tendências humanistas são difíceis de conciliar com a ambição de poder, mas trazem vantagens que aqueles que partilham essa ambição não têm. Tenho por mim que o destino da humanidade é humanizar-se e, assim, distanciar-se, mais cedo ou mais tarde, das mesquinhas questão da ambição, do poder e da riqueza conseguida à custa da miséria das bases. Tenho por mim que nós, os portugueses, poderemos ser grandes candidatos à liderança humanitária. E tenho por mim que só aumentando os nossos conhecimentos; só investindo numa educação que contemple, sobretudo, quem somos e do que somos capazes, conseguiremos cumprir o nosso fado.
Está na altura de nos conhecermos.