terça-feira, 29 de novembro de 2011

Agiotismo

Corrijam-me se estiver errada: Os juros agiotas que estão a ser cobrados a todos os que precisam, devem-se à escassez de fundos. Certo? Mas então, se há escassez, onde é que se vai buscar a matéria-prima que gera lucros destes?!

É claro que se estivesse a falar de calças, de sapatos, ou mesmo de vinho num restaurante qualquer ali da esquina, lucros entre os 8 e os 10% surpreender-me-iam pela positiva. Mas é de dinheiro que falo! Lucros destes estão ao nível dos agiotas de Gil Vicente. Daqueles que iam, sem qualquer hesitação do dramaturgo, direitinhos para a Barca do Inferno.

Cortes nos subsídios

Afinal já só são cortadas as pensões milionárias acima de 600 euros! Felicidade. Felicidade.

O truque consiste em anunciar medidas drásticas, para algum tempo depois as aliviar ligeiramente, em termos de escala digamos que sobem menos de meio ponto (aqui ficava bem a palavra "percentual" mas nem vale a pena fazer as contas, tão irrisória que é a diferença) e o povo respira de alívio e bate palmas de contente – afinal a coisa não é tão má como parece!...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ser velha

Não sei se quero ser velha. Ter de me arrastar por corredores no assombramento da memória.

Não sei se quero ser velha. Não sei se saberei aceitar a perda do que foi e o ganho do que será. Não sei se saberei, até lá, preparar o meu espírito para todas as provações.

Não quero ser um trapo velho que se mantém por piedade. Um fardo. Um dever. Sei lá eu se sou amada! Ou se serei, nessa altura! Sei lá eu! Sei de quem amo, o que é já uma glória, que muitos nem disso sabem.

Hoje vi-a gritar por ser cega. Não vejo nada, queixa-se ela. E grita! Não grite que assusta as pessoas! Não é com vinagre que se apanham moscas. Mas ela quer lá saber disso! Ela não quer apanhar ninguém, quer apenas aquilo a que tem direito – alguma companhia enquanto ali está, já que é obrigada a estar porque o que ela queria mesmo era ir para a cama. Também eu, confesso. Há lá melhor sítio para se estar com este frio, este nevoeiro!

Mas isso é que não pode ser, diz-lhe a terapeuta. Cama é que não! E é tudo o que ela quer – deitar-se. Deitar-se e esquecer, nada mais.

Não sei se quero ser velha. Perdem-se tantos direitos, com a velhice! Quem é que se importa realmente com o que um velho, mesmo velho, quer?!

Não sei se quero ser velha.

domingo, 27 de novembro de 2011

Estranha Forma de Vida



Já lá vão alguns anos que levámos a jantar ao Clube do Fado dois ingleses. Apesar de não terem percebido uma palavra do que ouviram, posso jurar que um deles chorou.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Fama

O cancro do filho do jogador de futebol despertou uma onda de dadores de medula óssea e a vontade, por parte da RTP, de fazer programas sobre crianças com cancro. É simpático lembrarem-se dessas crianças já que elas existem há tantos anos e só quem nunca pôs os pés no IPO de Lisboa é que não sabe como proliferam.

Posto isto, e sem desejar mal a ninguém, dou comigo a pensar que se a fome batesse à porta de uma figura pública…quem sabe…

Desejos

A mulher que limpa a escada sonha com o homem do segundo andar. Não há alminha que passe por ela que não tenha de ouvir o que ele fez e não fez, a forma hedionda como trata a mulher e o quão sovina é, não se sabe se de finanças se de amores que isto de se falar de mais sobre alguém traz sempre água no bico. Ele já passou dos oitenta mas ainda tem figura para assombrar os quase setenta da mulher que limpa a escada.

No início a conversa versava o mal que ele tratava a respectiva, praticamente inválida, a forma como gritava com ela e a insistência em não contratar fosse quem fosse só para não gastar dinheiro – “Que ele tem! É é um grande sovina, isso sim!”
A seguir foi o lar onde ele finalmente a meteu, que isto de ter passado dos oitenta e ter de tratar de uma inválida, não é para todos – “Não podia ser pior! Veja lá vossemecê que até proibiu as visitas!...”
Ontem apanhou-me a sair do prédio – “Já cá tem a sua vizinha de volta!”, informou-me ela com o ar de despeito que só tem quem é despeitado, “ trouxe-a para casa, só para não ter de pagar ao lar!...e tão bem tratada que ela era!...”

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Imperfeições


São omnívoros; gostam de mel - quem é que não gosta?! estão muito mais protegidos do frio, e são maiores, muito maiores! mais fortes! mais resistentes! Por que carga de água é que eles hibernam e nós não?!!!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Breves

Ontem sentiu-se mal. Subiu-lhe muito a tensão e tiveram de lhe meter um comprimido debaixo da língua. Há 36 anos a preocupação com a saúde era coisa que não lhe assistia. Agora aterroriza-se ao mínimo sinal de alerta.

“Que não lhe assistia”! é extraordinária a forma como certas expressões invadem o nosso quotidiano! Entram na moda e depois morrem. Eu gosto desta, como gostei de outras – “eu é mais bolos…”; “paletes delas…” – que hoje já não posso ouvir.  Causam-me nervoso miudinho.

À parte as expressões o facto é que ao meu pai não lhe assistia a preocupação com a saúde como lhe assiste agora. Há 36 anos a vida encarregou-se de lhe mostrar que é uma preocupação mais do que legítima – necessária.

Eu ando a tentar libertar-me desta prisão que é inventar soluções para a própria vida. Preciso de aprender a aceitar as coisas como são e deixar de me sentir responsável por tudo o que acontece à minha volta. Já chega. Há 36 anos que ando nisto!

A má disposição de ontem passou-lhe com descanso. Faz hoje 79 anos. O almoço é cá em casa. Que aguente mais uns minutos. Já estou a caminho.

domingo, 20 de novembro de 2011

As palavras são como as cerejas

Chovia desalmadamente quando cheguei à porta do restaurante tentando que um chapéu nos cobrisse aos três. Lá dentro caras de há mais de trinta anos – long time no see – e só o correr da noite trouxe as memórias mais vadias, aquelas que nascem dos cruzares e dos encontros mais esporádicos. O Loução animou a festa que se deixou animar por ele. Um medronho de qualidade superior circulou por entre as gentes que apreciam este tipo de bebida. Eu passei. Bebidas brancas não dão comigo, queimam-me as entranhas. Não vi ninguém a cair e pensei que foi preciso chegar a esta idade para sermos capazes de ser sem precisar de empurrões. Só o Jorge e nós, aos pulos.

É bom sentirmo-nos em casa. Gostei tanto de estar convosco! Foi como um oásis, uma ilha de passagem que naquele momento me recebeu, aconchegou e me fez sentir parte de qualquer coisa.

Passou o efeito quando desci a rampa em direcção ao carro. Já não era tanto a chuva, mas a escuridão e o silêncio. Um grupo de três rapazolas anda há dias a roubar quem quer que passe pela rua de onde eu saio, obrigatoriamente, todos os dias. Onde me detenho a fechar grades, noite escura, e a olhar por cima do ombro, tal e qual fiz quando de visita ao Brasil.

Já não me sinto em casa no meu próprio país!

Um cão. Um cão poderia ser uma solução, para isso e não só. Mas a Laika não é esse cão. Muito maior do que parece aqui no écran, não pára de ladrar numa zanga que se lhe entranhou na alma e que não somos nós que vamos curar. Tanto que há para cuidar por aqui!...Não, a Laika não. Talvez uma outra, quem sabe…

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Somos descobridores - descubramos, então.


                                "Em Direcção à Luz", Licínio Saraiva

Cansado e desiludido, Deus suspira bafejando o horizonte. A luz chega-nos opaca e triste e, nas nossas almas, entranha-se, lentamente, a escuridão.

Rasgue-se o céu com novas preces. Inventem-se palavras. Abram-se horizontes. Descubram-se novos caminhos.

Hoje não chegará o regresso a Ítaca. Hoje, é urgente encontrar a Inusitada Ilha.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Por hoje, estou perdoada

Se eu pudesse voltar atrás e mudar um momento crucial da minha vida, escolheria aquele em que decidi não me inscrever na Escola João de Deus e rumar à Holanda. Foi precisamente no dia em que as pautas saíram que eu decidi que o melhor que tinha a fazer era pôr-me a mexer daqui para fora, longe de casa e da imagem do meu pai, sentado no canapé, enveredando todos os esforços para mexer uma mão que até hoje se recusou a obedecer às suas ordens.

Esse seria o momento que eu mudaria. Hoje, evidentemente. Provavelmente em um outro dia qualquer mudaria um outro qualquer momento. É assim que somos – insatisfeitos; imperfeitos e mal de nós se formos demasiado exigentes.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Laika

Cá em casa decidimos ter um cão. Ou melhor, uma cadela. Terá de ser de porte pequeno e pelo encaracolado para que não nos leve a reboque e possamos adormecer sem pelos espetados nos edredões. Convém que seja adulta. A energia da juventude só serve a quem a sente e por cá há muito que se esfumou, dando lugar à paz e à calmaria. A raça não é importante. Importante é que cumpra com estes requisitos.

No próximo sábado vamos visitar esta menina. Dizem que é desconfiada. Pode ser que em nós confie.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Em duvidoso equilíbrio

Não me recordo em que altura da minha vida passei a viver empoleirada numa trave olímpica. Já fiz ginástica desportiva e garanto-vos – as paralelas assimétricas são muito mais fáceis. A trave é um tortuoso exercício de equilíbrio poucas vezes bem realizado e sempre, sempre, muito tenso. Em cima de uma trave olímpica os saltos não são saltos, são saltinhos, dados a medo não vá o pé resvalar. A deslocação é sempre feita com um pé em frente do outro, o mais junto possível para não se perderem, ou pior, trocarem que isso sim seria catastrófico principalmente se não existisse colchão para amortecer a queda. Depois os braços, de preferência abertos ou em arco levantados mas sempre como varas equilibrantes, sempre.

Pois eu, provavelmente, não deixei a minha trave olímpica e ando, ainda hoje, a lutar por um estável equilíbrio enquanto avanço passo a passo, com jeitinho, a ver se não troco os pés.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Chega de enganos

Somos 7 000 000 000. Quantos de nós atingem notoriedade? Quantos de nós conseguem, sequer, realizar metade das certezas que nos sustentam os primeiros passos? E, no entanto, não paramos de nos injectar possibilidades, criando, no seu não cumprimento, frustrações imensas que nos roubam as forças e as vontades e nos separam, cada vez mais, dos poucos que, muitas vezes por força de circunstâncias, são a excepção que legitima os constantes enganos que nos atacam por todos os lados fazendo-nos crer que podemos. Não, não podemos! E quanto mais ambicionamos, menos podemos. E quanto menos pudermos, maior será a frustração.

Neste momento precisamos de Velhos do Restelo. Não precisamos de mais disparates destes. Precisamos de aprender a viver com uma realidade que é diferente dos sonhos. Precisamos de sonhar em outras direcções. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Pai Natal


Talvez devêssemos nunca ter acreditado no Pai Natal. Alguns de nós podem não recuperar de tamanha desilusão.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Equilíbrio vs desequilíbrio


Ontem a Daniela recordou-me uma teoria demonstrada de forma simples por estes senhores e que prova a vantagem de entrar em desequilíbrio para se dar um passo em frente. O equilíbrio mantém-nos estáticos. Experimentem. 

No meio de uma sala mantenham-se de pé, equilibrados. Depois, têm duas formas de desequilíbrio – inclinando o corpo para trás, ou para a frente. Escolham avançar, é sempre melhor. Sem moverem os pés, inclinem o corpo para a frente. 

Chegará o momento em que serão obrigados a avançar, mais um passo, em direcção ao futuro.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Da selva



Há uma táctica coerciva, vulgarmente adoptada por incompetentes, que consiste em apontar no outro falhas e erros, antes que os seus se manifestem. É uma táctica defensiva, e a maior parte dos utilizadores não tem uma consciência clara da sua aplicação, fá-lo por instinto. Mas tem, contudo, consciência das suas incompetências e envergonha-se delas.

Já os outros, os desavergonhados, ainda que por vezes inicialmente incompetentes, já não a utilizam. Muito pelo contrário, dão-se à morte quando alvos do enxovalho, acabando por assimilar o ensinamento, o que lhes permite a transformação gradual em seres competentes, acabando por abandonar o grupo a que inicialmente pertenciam.

Os primeiros, pelo contrário, tendem a permanecer para sempre presos na vil e triste incompetência e na ignorância que lhe assiste.

domingo, 6 de novembro de 2011

Da paixão


             Imagem daqui - Paixão Segundo S. Mateus de António Dulcídio

A paixão só é útil quando sentida pela vida em si,  mantém-nos vivos enquanto tal. Do particular, ela deve ser abolida - confunde o amor; estraga a criatividade e baralha o raciocínio.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Longevidade

Entre 1960 e 2009, a esperança média de vida passou dos 66,4 anos para os 82,1. Já a taxa de natalidade desceu dos 24,1%0 para os 9,4%0, sendo que em 2010 subiu ligeiramente para os 9,5%0. Quanto à taxa de mortalidade, não oscilou grande coisa, pelo que se pode depreender que não se morre nem mais nem menos do que se morria há cinco décadas atrás. Resta-nos portanto o facto de vivermos cada vez mais anos – o que é, sem dúvida, um resultado do progresso; e de nascermos cada vez menos – o que é, sem dúvida também, um resultado do progresso. Só que a jogar em campo contrário.

Ora até que ponto é que o progresso está, efectivamente, a contribuir para a nossa felicidade global e colectiva é a pergunta que eu gostava de ver respondida porque me fico com a sensação de que tendemos a debruçarmo-nos sobre o particular e perdemos de vista a totalidade, pelo que corremos o risco de estar a dar uma no cravo e outra na ferradura sem passarmos efectivamente de cepa torta ou, na melhor das hipóteses, andamos a iludirmo-nos por algumas décadas em que tudo brilha como ouro, e mesmo assim só para alguns, para depois sacrificarmos outras tantas ou mais ainda a vivências miseráveis em que a humanidade parece regredir a uma velocidade impensável e se, em outras épocas históricas de queda e recuperação, existiam talvez uma ou duas gerações felizes, agora parece que nem isso, i.e., o espaço entre a ascensão e o declínio está a ficar cada vez mais curto, ou é da minha vista.

Pela parte que me toca, em meio século já me baralharam, pelo menos, duas vezes, o que, convenhamos, não é nem agradável nem um bom sinal. E se formos a ver bem não nos encontramos sequer perto do epicentro…

É claro que haverá sempre aqueles que vivem em negação e que, neste particular, gostam de afirmar que a imigração tratará de equilibrar a falta que fazem as crianças que deixaram de nascer por essa Europa fora. Esquecem-se contudo estas boas almas, que no nosso tempo de emigrantes – que já aí está outra vez – pouco dinheiro ficava no país onde se trabalhava a vida toda. Um emigrante raramente deixa de sonhar com o regresso e sempre que pode vai construindo “lá na terra” a “casa” dos seus sonhos, seja lá isso o que for.

Por outro lado é importante que se saiba que as reformas dos pensionistas são pagas com os descontos de quem agora trabalha e não com o dinheiro que descontaram esses mesmos pensionistas durante o seu período activo. Pode parecer estranho, mas há quem não tenha disto consciência. Ora, assim sendo, as reformas de quem agora trabalha serão pagas por aqueles que estiverem, nessa altura, a trabalhar, sendo que a pirâmide demográfica estará, pelo andar da carruagem, praticamente invertida, i.e., haverá muitos reformados para poucos trabalhadores.

Digam-me portanto os especialistas, que ando eu por cá a fazer mais de oitenta anos sem dinheiro para comer ou para pagar a minha casa. Que ando eu por cá a fazer, mais de oitenta anos, se não tiver condições de vida? A mim parece-me que a resposta é só uma – andarei a sobrecarregar ainda mais os poucos que por cá ficam a trabalhar; sentindo-me miserável e desejando, provavelmente, que o progresso tivesse, em determinada altura, seguido por um caminho diferente daquele que até hoje ainda não se cansou de seguir – o da longevidade. 

E, já agora, em que momento é que os cientistas, envoltos no entusiasmo da descoberta, deixam de pensar na humanidade para pensarem apenas na descoberta? E quem diz cientistas, diz as pessoas. Todas. Quantas existem verdadeiramente capazes de pôr a humanidade acima dos seus próprios interesses? Quantas as capazes de abrir mão seja do que for em beneficio do bem comum? Quantas?

E calo-me. Aliás era suposto tê-lo feito em “longevidade”. As minhas desculpas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"O Senhor Doutor"

E passou-se praticamente uma semana desde a última vez que por aqui passei. É assim. Tem dias em que as palavras não me cabem cá dentro e outros em que se esfumam mal ameaçam nascer.

Não, a tristeza não me abandonou. É pena. Gostaria de ter melhores notícias para vos dar. Infelizmente não tenho. A tristeza oscila, lá isso…pesa mais nuns momentos que noutros e tenho até rasgos de riso. Riso! O riso, só por si, e como sabem, não é indicador de alegria, pode até não passar da manifestação de uma sede de a possuir. A ela que anda tão esquiva… Mas “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”. Por isso rio sempre que posso. E hoje pude.

Quando era miúda tive lá por casa o livro do Oliveira Cosme As Lições do Tonecas. Este livro esteve durante muitos anos afastado de todos os públicos e foi uma série de televisão com o mesmo nome que o fez renascer para estas gerações mais novas que, na sua maioria, nem conhecem a obra senão alguns dos textos que foram aproveitados para a dita série. De resto, provavelmente, também foge ao conhecimento de alguns que o livro de que falo se editou a partir de um programa de rádio que o autor tinha em 1934 no Rádio Clube Português com o nome de “O Senhor Doutor”, mas isso também não interessa para nada, como diria uma outra senhora, desta feita da televisão. O que interessa para aqui é que aos miúdos de agora, como àqueles do meu tempo de criança, caiu-lhes no goto os disparates do maior cábula da história. Cábula, mas cheio de graça e de presença de espírito.

Não sei se por osmose se por contágio, alguns miúdos, especialmente rapazes, apanharam-lhe o espírito e hoje um levou-me às lágrimas com uma cena que mais parecia acabadinha de sair da boca do Oliveira Cosme apesar de ser totalmente original.

Não a vou relatar aqui. Perderia parte da graça. Mas afianço-vos que há coisas, simples, muito simples, capazes de despertar a imaginação mais empedernida e de transformar um rapazinho simples, muito simples, em alguém muito especial e, mesmo que esse momento dure quase nada, a semente da especialidade foi deitada à terra e depois, é só regar.