quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz 2009

Por todo o lado oiço dizer o quão difícil será este novo ano que se aproxima a passos largos. Quem sou eu para desdizer tal coisa?!
Por isso aqui ficam os meus votos:

Que saibamos manter toda a paz interior necessária para vencer qualquer adversidade.
Que a saúde não nos falte.
E que tenhamos muita, muita sorte.


Um Excelente 2009 para todos.

Até para o ano.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Carta Aberta a Fernando Dacosta

Caríssimo Senhor,
Antes de mais um muito obrigada pel'Os Mal Amados. Há muito tempo que um livro não me levava do princípio ao fim quase sem respirar.
No início temi que a minha motivação se prendesse com algum saudosismo, alguma nostalgia. Depressa percebi que afinal se prendia com as revelações e com o efeito que elas sempre têm - uma certa abertura de consciência; o ressurgir de verdades abafadas; a vitória sobre o medo de pensar.
Vivemos num mundo tão globalmente denso e povoado que nada do que foi se poderá repetir. Nem o bom, nem o mau. O planeta mudará de côr e com ele o próprio universo. Cabe aos excelsos guardiões da História a tarefa da memória, pois sem ela não há futuro.
Se alguns de vós foram esquecidos, é só porque chegaram a ter voz. O Fernando faz parte, ainda, de uma geração a quem foi permitido ter voz, uma voz clara, consciente, verdadeira e nobre. Sobretudo nobre. Para as gerações que se lhe seguiram já tudo "pia mais fino". Nem a nobreza e nem a consciência fazem parte dos interesses das massas. Valham-nos os blogues que serão, estou certa, preciosas fontes para a História a escrever. Será através deles, de todos estes anónimos, que a História será escrita. Será em torno deles que os nossos vindouros tentarão compreender estas novas indumentárias de mais uma Idade Média.
Que Deus lhe dê forças, a si e a mais meia dúzia, se tanto, para que, antes de partirem, possam ir sussurando (porque gritar será difícil), o tanto que sabem. Que possam continuar a dar voz aos verdadeiramente visionários que se foram. Que as vossas obras perdurem no tempo.
Ámen.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Blue Moon

Um dia hei-de cantar isto.
E há-de ser verdade.

Diário de bordo

29 de Dezembro de 2008, 19.19 h
Hoje o mar esteve agitado durante a tarde. Foi, com certeza, esse motivo que levou ao desnorteio de 3 dos marinheiros encarregues das contas e do registo dos víveres. Fui obrigado, como comandante da embarcação, a puxar dos meus galões de forma a repor a ordem. Momentos houve em que temi que se amotinassem. As ondas levantavam o casco mais alto do que o suportavel e a chuva não deu tréguas. Não há nervos que resistam a este tipo de intempéries.
Graças a Deus que a nortada acabou por sossegar e os marujos levaram as suas tarefas a bom porto, salvo seja.
Faltam 3 dias para o fim do ano. Vamos lá a ver se, até lá, avistamos terra...

O que nos afasta

Os homens não gostam das mulheres. Talvez já tenham gostado, não sei. Mas agora não gostam. Exceptuando as filhas. Essas são, na sua maioria, verdadeiramente amadas pelos pais, talvez porque são a prova provada da sua virilidade incontestável.
Antigamente a doçura, a submissão e a ignorância das mulheres faziam-nas amadas. Eram seres frágeis, a proteger. Seres que a toda a hora testemunhavam a força, a capacidade, a virilidade do homem. Por sua vez elas amavam também. Apaixonavam-se pela protecção que recebiam e pela tranquilidade que ela lhes dava. Acreditavam na superioridade dos seus companheiros, na sua magnificiência, na sua sabedoria. Entregavam-lhes as suas vidas e quando, por qualquer motivo, se sentiam ludibriadas, tinham medo de o expressar e guardavam o seu descontentamento, a sua desilusão, até ao sufoco.
Hoje são os homens que se sentem ludibriados. Perdidos entre a imagem ainda fresca, afinal um século não é nada, da mulher dócil e submissa; carinhosa e compreensiva e esta, da mulher exigente e lutadora, mais capaz que muitos deles. Esta, da mulher que não confirma a todo o momento a sua extraordinária virilidade, se é que a confirma alguma vez.
A partir do momento em que a humanidade compreendeu o papel que o homem desempenha na procriação, carregou sobre o sexo masculino uma responsabilidade que extravasa, muitas vezes, a sua competência. Até a sua vontade. Deu-se ao sexo uma importância primordial, creio que com Freud a encabeçar a dita, e agora todos nós sofremos com esta incapacidade de comunicarmos uns com os outros, de nos conhecermos, de nos darmos, de confiarmos, de nos amarmos.

Um país cheio de sol - parte II

Um dia mau é aquele em que acontecem coisas más. Um dia bom é aquele em que não acontece nada de mau.
Porque se algo de bom realmente acontece nem se fala nisso, não vá o diabo tecê-las...
Somos viciados em sofrimento. Morremos de saudades como se tivessemos vivido, numa outra vida qualquer, aventuras tão extraordinárias que, embora tenhamos consciência de que nada na vida se repete, procuramos incansavelmente reviver. Reproduzindo-as. Repetindo-as. Se não elas quaisquer fantasmas delas.
Devemos ter vivido situações tão extremas que não conseguimos dissociar o prazer da dor. Tornámo-nos algo masoquistas. Precisamos da desgraça para nos sentirmos vivos. Precisamos tanto dela que ela acaba por vir. Devagar, dissimulada, mesquinha, porque são as pequenas desgraças do dia-a-dia que nos alimentam e não aquelas catástrofes que vemos, pela televisão, devassar outros lugares. Essas não as chamamos por medo que venham e depois não teríamos mais motivos para sermos, mesquinhamente, infelizes.

Um país cheio de sol

Como é que um país cheio de sol, com uma luz como há poucos, gerou um povo tão cinzento?
De onde nos vem tanta tristeza? Tanta ausência de alegria!
As crianças arrastam-se para as escolas. Os adultos para o trabalho. Se algum entusiasmo se sente, pela manhã, ele não está no trabalho em si mas nas pessoas que lá vamos encontrar. Sei de alguém, uma só, que chorava nas férias porque sentia saudades de sítio onde trabalhava. Na verdade sentia saudades do chefe por quem se tinha apaixonado.
Não conseguimos encontrar alegria em nada que façamos. Não conseguimos encontrar recompensa.
Pagamos pelos bens essenciais tanto quanto os outros mas usufruímos de salários que envergonham qualquer um. Nada nos resta que possamos usar em nosso proveito. Sentimo-nos parte de uma engrenagem sem sentido. Lutamos hoje. Para quê? Para podermos continuar a lutar amanhã.
- A vida é uma luta - já diziam os avós, e os avós dos avós e continuamos nós a dizer o mesmo.
Talvez ela deixe de ser uma luta quando deixarmos de o afirmar. Quando nos recusarmos a que seja.
Talvez que sejamos um povo que precisa de algum individualismo. Talvez que sejamos um povo que se perde nas massas. Talvez que devessemos olhar para cada um de nós, para cada uma das nossas crianças e tentar perceber o que nos faria, o que as faria, felizes. Completas. Realizadas.
Como é que uma geração de gente cinzenta pode entusiasmar as camadas mais jovens sem lhes transmitir este cinzentismo? Como iremos nós quebrar esta merda desta corrente?
Quantos de nós responde, quando lhe perguntam como vai?, com um sorriso nos lábios, com um olhar verdadeiro - estou bem, está tudo muito bem.
O olhar é sempre triste. A voz acabrunhada. Cá vamos, puxando a carroça...
Que carroça? Desde quando a vida é uma carroça?! Mas isto faz algum sentido?! O que raio andamos cá a fazer? Então e aquela obrigação que dizem termos, de sermos felizes?!
Depois admiram-se que andemos todos doentes e que as depressões abundem nesta terra de tanto sol e tanta luz...

sábado, 27 de dezembro de 2008

Feiticeiro, precisa-se

Devolva-se a coragem ao Leão.
O cérebro ao Espantalho.
O coração ao Homem de Lata.
Leve-se a Dorothy de volta a casa
Tragam o Feiticeiro.
Feiticeiro, precisa-se.
Viage-se até Oz.
(e onde raio fica Oz?!)

Que nome se dá?

Que nome se dá a um amor que se deixa estragar?
Pequeno?
Não!
Inseguro.

O meu filho

O meu filho que ao contrário
Da irmã foi planeado
E aos santos invocado
É ainda muito jovem
Mas o esforço que ele faz
P´ra deixar de ser rapaz
Faz já dele quase um homem

É feito de boa cepa
E coragem não lhe falta
Tem uma boa cabeça
E raramente se exalta

Às vezes vacila na escolha
Do caminho por onde ir
Às vezes perde-se um pouco
Às vezes treme a sorrir

Mas tem já sabedoria
Coisa rara nesta idade
E cativa a simpatia
Com grande facilidade

Luta com as contradições
Que vivem dentro de si
Mal sabe ele que ao vencê-las
Outras virão mesmo assim

O meu filho é grande e lindo
Tem um coração de ouro
Uma alma nobre e rica
Será sempre o meu tesouro

Podem dizer que não prestam
Estes versos que lhe dou
Mas os versos têm dias
Nem sempre saem formosos
Às vezes soam vadios
E no amor são pirosos...

Fujo

Fujo.
Fujo sempre que as pernas me tremem.
Fujo para não cair.

Interrogações, mais do que esclarecimentos...

Haverá ainda alguém que acredite no amor?
Haverá ainda alguém que lute por ele?
Deixámos de acreditar no amor ou, simplesmente, deixámos de o identificar?
Ou deixámos de lutar por ele porque o secundarizámos?
Ainda não há muito tempo morria-se de amor.
Ou não?
Ou será que se morria de impossibilidade?
Hoje tudo é possível, ou quase tudo, por isso já ninguém morre de amor.
Vai-se morrendo...

O Tédio

Se tivesse de eleger um número Um na lista de inimigos a abater, provavelmente elegiria o Tédio.
Traiçoeiro como só ele, vai minando o dia-a-dia sorrateiramente, disfarçadamente, criando esperanças vãs de que na próxima esquina surgirá, claro que surgirá, algo de realmente empolgante, algo de novo, algo acabado de nascer e, quando damos por nós, já não é a sua ausência que nos empurra, não é, porque ele lá está, sentado ao nosso lado, é antes a esperança que ele morra, a esperança que nasça algo que o mate. Nem que seja por mais uns anos.
Meu Deus! Onde é que se consegue arranjar "combustível" para aguentar isto por mais tantos anos quantos aqueles que a esperança média de vida, sempre a crescer, nos promete? Por favor não deixes que o meu falecido avô me contagie. Ficávam-se-me os cabelos em pé sempre que o ouvia dizer: -Já vi tudo o que há para ver.
Coitado, nunca percebeu que não era a falta de novidades, que na verdade abundam neste mundo "em perpétuo movimento". Era talvez a falta de imaginação. A falta de paciência.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Celibato

O celibato vicia-nos tanto quanto a partilha.
Andamos uma quantidade de anos a partilhar a vida com um outro. Habituamo-nos a caminhar a quatro pernas e, de repente, um qualquer imprevisto deixa-nos coxos.
Levamos algum tempo, muito tempo, a reaprender a caminhar sozinhos. A maior parte das vezes, com o passar do tempo, acabamos por gostar ou por nos adaptar de tal maneira que nos fechamos na nossa concha e, mesmo que cá no fundo queiramos voltar a partilhar, esquecemos como. Deixámos de coxear e quatro pernas incomodam-nos, atrapalham-nos, desamparam-nos, deixam-nos coxos...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal

Como ainda não sei adicionar videos ou imagens alusivas à quadra, não terei outro remédio senão escrever os meus votos.
É um facto que os votos, virando um pouco mais para a direita ou um pouco mais para a esquerda, se não são todos iguais são, francamente, parecidos, o que os torna monótonos e exige muito mais de quem pretende marcar uma diferençazinha, o que não é o meu caso. Gosto dos votos habituais e estou-me nas tintas para a monotonia.
É claro que ficaríamos todos muito felizes se hoje, no céu, se reunissem todas as estrelas avisadoras dos acontecimentos mais importantes de todas as religiões e que esse milagre obrigasse toda a gente a parar e trouxesse para a realidade aquele episódio da guerra do Raul Solnado.
Mas como nada disso vai acontecer, desejo-vos uma noite de Paz e que, pelo menos nas vossas cozinhas, o stress da consoada não dê cabo da harmonia. Que todas as famílias possam comungar e que a noite seja tal que a sua memória perdure por tempo indefinido de forma a dar às pessoas a vontade inabalável de voltar a sentir toda essa comunhão.
FELIZ NATAL

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Os Maus Contra Os Bons

Dizia-me, hoje de manhã, um miúdo de dez anos:
- Eu quero ser dos Maus.
- Porquê? - perguntei eu.
- Porque são mais fortes do que os Bons e por isso ganham sempre.
- Por acaso até nem é assim. Os Bons são mais fortes e, no fim, ganham sempre.
- Não, não. Ainda ontem dei um murro no estômago do...para ele aprender a não me chamar...
- Agora imagina que ele te está a chamar isso outra vez e que tu, em vez de lhe dares um murro no estômago, olhas para ele e viras-lhe as costas em seguida. O que é que é mais difícil?
Ele fixou em mim uns olhos muito abertos.
- Virar-lhe as costas.
- Pois é - sorri eu. - É muito mais difícil ser Bom. Ser Mau é fácil.
Quedou-se mudo a olhar para mim, sempre de olhos esbugalhados. Passado um bocado perguntou:
- Porque é que mataram Jesus Cristo?
Este é o miúdo que, não sei há quantos posts atrás, nos dava conta do juízo. E dá,claro. Continua a dar. Enfim, talvez um pouco menos. Na realidade tudo se resume à porta de entrada. Assim que se descobre onde está, entra-se e tudo pode melhorar...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Amigos

Poucas coisas há que reconfortem tanto como os amigos.
Amigos daqueles que se gosta porque sim. Daqueles que já fazem parte de nós, mesmo que não estejam connosco tantas vezes como desejaríamos. Daqueles com os quais se podem partilhar alguns silêncios e alguns disparates também. Sim, amigos desses...

O Que Eu Gostava Que o Pai Naltal Me Trouxesse

Acendi a televisão para me fazer companhia ao almoço. No écran Walter Matthau, disfarçado de Albert Einstein, inventava, com a ajuda e o apoio de alguns amigos, todos os estratagemas possíveis para que Meg Ryan, a sobrinha, e Tim Robbins, o eleito, ficassem juntos . Uma comédia romântica em que o génio da Física se transforma no génio do Amor e, no Amor tal como na Física, não sossega enquanto não leva a água ao seu moinho.
Eis o que eu quero que o Pai Natal me traga - o Walter Matthau disfarçado de Einstein.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Menopausa

Menopausa é a capacidade que o nosso corpo adquire de, num abrir e fechar de olhos, absorver todo o calor e todo o frio do universo.
Toda a confiança e todo o medo.
Toda a lógica e toda a confusão.
Todo o desejo e toda a indiferença.
Todas as capacidades e todas as incapacidades.
A menopausa é um bicho que se aloja no nosso cérebro e o torna vulnerável.
A menopausa é um desafio. Uma nova aprendizagem. Um recomeço.
Uma canseira...

sábado, 20 de dezembro de 2008

A Minha Filha

A minha filha foi a primeira.
Não posso dizer que tenha sido planeada. Não foi. Mas desde o primeiro momento em que a senti, senti-a minha e nada no mundo me poderia separar dela.
Se me tivessem perguntado nessa altura como é que eu a queria ou como a imaginava, os meus desejos teriam ficado muito aquém da mulher que hoje ela é. Da pessoa em que se tornou - Linda por fora. Linda por dentro.
Tem uma alma enorme. Uma alma que se alegra na alegria que transmite e dá, incansavelmente, a todos os que ama.
Possui uma rara franqueza que desarma qualquer um e que faz dela alguém em quem se pode confiar em absoluto.
O orgulho e o amor que sinto quando a olho não são diziveis. Não há palavras.
Dizem-na parecida comigo. Ela é muito melhor do que eu. Muito mais bonita, muito mais capaz, muito mais forte.
A minha filha é Autêntica.
É Única e é Adorável por tudo isso.
A minha filha é, e seria mesmo que não fosse minha filha, um Ser Humano muito especial. E, se nada mais eu tivesse para me orgulhar, já é orgulho que baste.

Ó Tempo Volta Para Trás

A primeira vez que ouvi esta expressão foi pela voz do fadista António Mourão e irritou-me bastante o saudosismo implícito.
Os anos foram passando e ainda que continue a achar que saudosismo é doença, aconteceu-me há muito pouco tempo dar comigo a pensar se, acaso fosse possível voltar atrás, faria tudo exactamente como fiz. É claro que faria. Pois se fiz o que fiz como fiz foi porque não soube fazer de outra maneira.
No entanto, de repente, talvez até eu, euzinha, que tanto tenho a mania de quebrar mentalidades, se pudesse voltar atrás, sabendo o que sei hoje (Nossa senhora, aí está! Aí está a tão criticada frase!) enfim, se me fosse dada essa oportunidade, coisas há que eu faria de forma diferente.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Notícias

Um dia destes acordo, ligo o televisor e o notíciário não está lá porque não há notícias daquelas notícias a que os média estão habituados.
E depois, nos dias seguintes, qual morte que tirou férias, o problema manter-se-á e aí, confusos e obrigados a reestruturar toda a filosofia noticiosa, os jornalistas passarão a dar todas aquelas notícias que não podem dar agora porque perderiam audiências. E isso obriga-los-á a puxar pela imaginação e a inventar uma maneira diferente de apresentar notícias e cativar as tais audiências.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Amar

Para amar é preciso ter-se jeito.
A mim sempre me irritaram MUITO os desajeitados dos afectos. Mas é que me irritam mesmo!
Gente que não é capaz de dizer o que sente quando sente, no que ao amor diz respeito. Mas não se ensaiam nada para a crítica! Dizer que gostam e que admiram, está quieto. Para dizer mal ,estão aí para as curvas.
Não haverá por aí uma escola qualquer que ensine isto?
Se alguém souber de alguma, que me diga. Estou a precisar de uma reciclagem.

A Minha Sócia

A minha sócia tem idade para ser minha filha e eu esqueço-me disso tantas vezes quantas me esqueço da idade que os meus filhos ainda têm.
Exijo de todos, e se não exijo dou por mim a esperar, um comportamento conforme à minha experiência e não à deles.
A minha sócia não se apercebe que eu me apercebo do seu nervosismo e do seu medo, só porque eu não lhes dou grande importância. E ela não sabe que não lhes dou importância porque acredito e confio nela, porque sei das suas capacidades mais do que ela.
A minha sócia sente muitas vezes que eu não valorizo o seu esforço - está muito enganada.
A minha sócia pensa que eu não aceito as nossas diferenças quando na verdade eu sei que as diferenças são enriquecedoras, é preciso é que eu as veja como diferenças.
A minha sócia não sabe que aquilo que espero dela é conforme ao respeito que sinto por ela. Como também não sabe do quanto eu gosto dela. Não sabe porque eu nunca lhe digo e, provavelmente, parva como sou, nem nunca lho demonstro.

Zangas

Estou convicta que 99,9% das zangas, ainda que não nos apercebamos disso, são connosco e não com os outros.
A partir de hoje gostaría que, em vez de me perguntarem com quem estou zangada, me perguntem - O que é que fizeste, desta vez?

Mal-entendidos

Dado que a esmagadora maioria dos mal-entendidos são fruto de dessintonias, sugiro que, sempre que se tratar de comunicação oral, o emissor tenha o cuidado de se sintonizar na frequência do receptor.
Assim serão evitados muitos mal-entendidos.

Obesidades

Existem dois tipos de obesidade. Aquele em que as pessoas ocupam fisicamente mais espaço do que o que seria desejável e aquele em que as pessoas ocupam todos os espaços.
O primeiro tipo, a obesidade física, abrange mais de um milhão e meio de portugueses mas trata-se com algumas idas ao nutricionista e uma reaprendizagem do acto de bem se alimentar.
O segundo tipo, a obesidade de carácter, é muito, mas muito mais complicado. Primeiro porque não há estatísticas que nos demonstrem a gravidade do problema e, acreditem, ele é grave -trata-se de uma doença que tende a propagar-se e que se não atingiu já o estatuto de pandemia estará por lá muito próximo. Em segundo lugar, e este está directamente ligado ao primeiro, tratando-se de uma doença tão generalizada as pessoas tendem a considerá-la uma parte dos chamados ossos do ofício de quem é humano.
Mas não é. Não é uma parte dos ossos do ofício de se ser humano porque nas épocas e nos lugares onde a educação e o respeito costumavam ser características importantes e, essas sim, dadas como normais, aqueles que sofriam de obesidade de carácter eram tão constantemente reprovados que cedo acabavam por desistir da prática e, tratando-se de uma doença possível de controlar quando é atacada no início, a coisa nunca se propagava por aí além.
Não se sabe o que aconteceu nem quando aconteceu. Sabe-se porém que, à traição, despercebidamente, as pessoas desataram a ocupar todos os espaços. Talvez tenham começado por deixar marcas nos espaços alheios - roupas espalhadas; pégadas de lama; pequenos objectos a despropósito, e depois tenham pensado que já que deixavam também podiam ir buscar. E foram. E vão.
Mais grave ainda é a aflição que isso causa em toda a gente. É de tal forma que andamos todos a exagerar na nossa individualidade só porque a sentimos ameaçada. Vai daí, é bordoada a torto e a direito. Uns a quererem tirar, os outros a quererem conservar. Uns a quererem ir, outros a quererem estar.
A agravar esta situação temos ainda o facto de uns terem muito e os outros não terem quase nada.
Enfim, ponham-se a pau, podemos estar a caminhar para uma guerra civil...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Conceitos

Amor é a capacidade de nos esquecermos de nós enquanto esperamos que o outro se esqueça de si.

Liberdade é a capacidade de irmos onde nos apetece enquanto somos obrigados a permanecer no mesmo lugar.

O que me faz sentir viva

O calor do Sol.
Um banho de mar.
A Liberdade.
Uma paixão.
O sucesso.
Os meus filhos.

E não necessariamente por esta ordem...

Contradições

Dizia-me ontem um rapaz de onze anos que, por motivos de força maior, passa a maior parte do tempo sozinho:
- Eu venho todos os dias.
E eu a tentar explicar-lhe que todos os dias não seria possível já que nós não iríamos estar abertos todos os dias, porque era Natal, e tal...
- Eu venho todos os dias. A mãe vai estar de serviço no Natal e até nos anos dela...Eu VENHO TODOS OS DIAS. Venho logo de manhã e depois piro-me. Assim fico com o resto do dia para mim. Mas venho todos os dias.
E eu olhava para ele a fingir que não via as lágrimas que teimavam em se mostrar, mesmo à entrada dos olhos.
- Mas olha que todos os dias não vai dar. Fazemos assim...
E ele continuava a olhar para mim sem me ouvir para afirmar depois da minha explicação:
- Eu venho todos os dias, logo de manhãzinha. A que horas abrem?
- Às nove.
- Às nove estou aqui.
- Está bem - acabei eu por dizer. - Logo ligo à tua mãe e a gente combina isso.
Ao fim do dia perguntava a minha colega, com ar de quem não percebe:
- Mas porque é que queres vir logo de manhã?
- Para me despachar depressa - respondia ele.

O Universo a Nosso favor

Resolvam-se as nossas idiossincrasias; ajustem-se os nossos medos; acalmem-se as nossas angústias e todo o universo se conjuga a nosso favor.
Na verdade basta detectar os problemas, encontrar as soluções e tomar a decisão de as pôr em prática, e o mundo à nossa volta muda como que por magia. Se formos a ver os problemas ainda lá estão. Mas é já como se não estivessem. Os estupores desapareceram, substituidos que foram pelos resultados das decisões que acabámos de tomar e, tal como já disse, o universo entra em harmonia connosco:
Amigos que não víamos há muito, aparecem. Almoçamos e jantamos com eles, matamos saudades. Entes queridos, cujas vozes não escutávamos há demasiado tempo, ligam-nos de terras distantes e, à noite, quando regressamos a casa, ainda que sozinhos, trazemos nos lábios, não - na alma, uma palavra: Obrigada. E um sorriso até às orelhas :). Às vezes a vida vale a pena.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Insónias

De vez em quando a vida premeia-nos com momentos de terror que nos tiram o sono. O mais chato destes momentos é o facto de virem disfarçados, o que nos leva a ter más noites sem percebermos muito bem porquê. Chamamos-lhes insónias e ficamos à espera que passem tal como chegaram - de um momento para o outro.
Comigo nunca resulta. Ou dou com o cerne da questão ou estou feita num oito...não durmo ou durmo mal. Acordo cinquenta vezes durante a noite com um aperto terrível no peito. Durmo aos soluços e, de manhã, quando é hora de levantar faço-o com o sacrifício de quem não sossegou, para já não falar do tal aperto que aperta assim que os olhos se abrem...
Eu sei que aquilo que está por detrás destas insónias é o medo. É sempre o medo. Não do que está a acontecer mas do que pode vir a acontecer se nada for alterado.
Quando me lembro disso sossego um pouco. Quando dou início às alterações, sossego mais um pouco e quando volto a pôr tudo no lugar, sorrio porque, para além de saber que vou passar a dormir melhor, volto a sentir-me feliz e a gostar de andar por cá.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Cão de Pavlov

Pegue-se num emigrante requentado e ponha-se-lhe na mão um telefone. Coloque-se a mistura na sua habitação e estabeleça-se uma ligação com o seu país de origem. A língua pátria sairá fluída, sem hesitações e medianamente clara.
Em seguida coloque-se a mesma mistura no seu local de trabalho e estabeleça-se a mesma ligação. É vê-lo a embrulhar as palavras, a misturar duas línguas, enfim a meter os pés pelas mãos...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Diabinhos

Por mais experiência que os anos me dêem não consigo deixar de sentir uma profunda tristeza e um terrível desconforto quando me deparo com uma criança detestável. Porque sim, há crianças detestáveis. Há crianças más e detestáveis. Há crianças más, detestáveis e drasticamente mal educadas.
Há até crianças que nos deixam confusos quando chega o momento de atribuir responsabilidades e que, assim, deitam por terra todas as teorias que apregoam a sua inocência e a culpa dos pais, ou de quem quer que tenha o cargo de as educar. Deixam-nos confusos porque chegamos a colocar a hipótese daquele pai ou daquela mãe simplesmente não poderem fazer nada porque o diabinho já nasceu assim. Não poderem fazer nada porque ele não deixa.
Há até crianças que nos levam a pensar que a maldade é nata.
Mas talvez não seja o caso deste menino de onze anos que nos anda a dar cabo de toda a sanidade mental e a impedir-nos de trabalhar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pais e Filhos

Mais cedo ou mais tarde surge, na vida de quem tem filhos, o momento que testa a nossa credibilidade, a nossa confiança. Até que ponto confio eu neste Ser que criei? Até que ponto confio em mim, no meu trabalho? E é na qualidade e na quantidade do que estou disposto(a) a arriscar que posso medir o meu nível de confiança.
Posso ser alguém que nutre por si mesmo(a) uma média/baixa auto-estima e que, por isso, não confia muito, nem no que fez nem no que fará. Posso ser alguém com uma média/alta auto-estima mas que tem consciência do peso da experiência e que, por isso, exige provas de quem ainda agora mesmo começou (e a experiência necessita de tempo para se manifestar). Ou posso ser alguém que, simplesmente, confia. Confia em si e, por consequência, confia no seu trabalho. Porque, quer se queira quer não e digam lá o que disserem, um filho é uma obra. Mesmo com toda a sua singularidade, ele ou ela, nós - na verdade todos nós - transportamos aquilo que desde cedo nos transmitiram. E estou convicta que, ao fim e ao cabo, é parte disso (uma grande parte) que se manifesta quando se manifesta alguma coisa. Tal como num edifício as fundações são absolutamente essênciais. Quer queiramos quer não, somos filhos dos nossos pais. E os pais que têm filhos, quer queiram quer não, directa ou indirectamente, é para eles que vivem e, no dia em que se forem embora, tudo o que cá fica será deles. Então porque não confiar e colocar já ao serviço deles o que se pode? O que se tem? porque é já que eles precisam e, sei-o por experiência própria, que um voto de confiança faz milagres. E milagres não são precisos para quem tem boas bases, excelentes fundações...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Consentimentos

Levei muito tempo a despertar para o facto dos outros precisarem sempre do nosso consentimento para nos ferir, para nos fazer mal. Levei depois outro tanto para perceber que quando se gosta de alguém, ou mesmo não gostando assim tanto, temos por obrigação o não consentimento das atitudes mais nocivas.
Quando se consente diz-se - Isto está certo, podes continuar.
Ninguém aprende se não lhe for dito - Isto está mal, não podes repetir.
Jovens namoradas deste país ACORDEM. Não só estão a ser mal tratadas, como estão a contribuir para uma géração de homens ainda mais mal preparada do que a dos vossos pais.
Daqui a pouco tempo, cansadas de tanto disparate, batem asas, correm com eles e é mais uma geração de desencontros e frustrações.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Escritores

Um escritor amado por todos, enriquece.
Um que seja amado por uns e odiado por outros, arrisca-se a ganhar o Nobel.
Dos restantes, não reza a História.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Singular vs Plural

Se, por vezes, me expresso no plural é porque não me sinto sozinha na minha singularidade

Fazeres

Agora que já sabemos fazer tudo, vamos aprender a estar sem fazer nada.

Inteligência (como capacidade de adaptação a novas circunstâncias)

Queixamo-nos da rotina como se ela fosse o inimigo público número um, mas quando ela nos escapa, quando surgem as inesperadas alterações à dita, sentimo-nos invariavelmente perdidos, sem saber o que fazer com o tempo que estava já destinado.
Precisamos urgentemente de reabilitar a nossa inteligência...

Dos Textos

Um dos fascínios dos textos é a diversidade de interpretações a que se prestam.
Lê-los é descobrir um mundo de ideias.
Na maior parte dos casos o que Um lê ali, Outro lerá, ali, algo radicalmente diferente.
Quanto mais polémico o texto for, mais caminhos nos dá para desbravar.
Fundamental é ter a consciência de que as primeiras imagens que os textos nos transmitem são aquelas que habitam, há muito, dentro de nós...

Cabaré

As cadeiras do Teatro Maria Matos são desconfortáveis.
A encenação que o Diogo Infante apresenta de Cabaré é boa. Poderia ser muito boa se as cantorias se tivessem ficado apenas pelas cenas do cabaré. É muito raro não sentir incómodo quando as pessoas em vez de falarem, cantam. Quando se trata de actores/actrizes da velha guarda, pior um pouco.
Tem cenas individuais demasiado longas e nem todas se justificam (a não ser talvez para aumentar o tempo de palco). Cheguei a ficar um bocadinho farta de ouvir a Isabel Ruth falar/cantar os lamentos da sua vida sem que isso trouxesse valor acrescentado ao enredo.
Gostei bastante do desempenho da Ana Lucia Palminha e do Bernardo Gama. Gostei do som e da forma como a orquestra foi incluída no cenário. Gostei fundamentalmente das cenas de cabaré.
Aplausos para o elenco. Força para Diogo Infante. Que continue. Almas novas são precisas. É mau sinal deixarmos todo um género (musical) nas mãos de um único (La Féria).

Relatividade

Quanto mais eu cresço, mais o mundo se reduz.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Conto Infantil

Há muitos muitos anos,num pequeno lugar à beira mar, vivia um povo muito simples e unido. Eram tão poucos que formavam uma pequena aldeia. Não necessitavam de líder. Aliás, nem tal coisa lhes tinha passado, nunca, pela cabeça. Trabalhavam a terra, uns; manufacturavam bens, outros. E assim íam progredindo, sem grandes preocupações ou desavenças. Dir-se-ia que, de um modo geral, eram felizes.
Um dia chegou à aldeia um homem alto e em tudo diferente dos demais. Vinha de muito longe e trazia a cabeça cheia de ideias. Ideias para melhorar as habitações; ideias para melhorar a alimentação; ideias para melhorar a saúde (coisa que os habitantes nem sabiam existir...) e, finalmente, as melhores e mais complexas ideias de todas: as ideias para melhorar a produção.
A vida da aldeia nunca mais foi a mesma. É claro que esse homem foi aclamado o primeiro líder da comunidade. O entusiasmo era geral. Alguns dos habitantes passaram a precisar de coisas que nunca tinham visto. Outros nem tanto...
O certo é que a aldeia mudou. Mudou muito.
De aldeia passou a cidade. De cidade a país. De país a império...
E, aos poucos, os habitantes foram-se esquecendo de como costumavam ser felizes.

A Crise

Acabei de me registar no IAPMEI. Decidi acreditar que a vontade política de salvar as pequenas e médias empresas é genuíno. Decidi enfrentar a crise que aí vem de cabeça erguida e peito aberto.
Venham os financiamentos, venham eles que se a gente se aguentar mais um aninho depois é que ninguém nos pára.
Vocês vão ver, assim que os narizes começarem a emergir das turvas águas da crise é que vai ser! Vai ser festa até ser noite(outra vez). Quem sobreviver terá o futuro garantido.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Feridas

Sei de uma criança, uma menina de onze anos, que anda há mais de um mês com um dedo entrapado por causa de um golpe que fez. Foi cosida. Tiraram-lhe os pontos e o golpe não há meio de fechar.
Ele há feridas assim. Fundas. Tramadas. Feridas que levam muito tempo a sarar e outro tanto a dessensibilizar.

O Antónimo de Ciúme

Há poucos dias perguntaram-me qual é o antónimo de ciúme. Apanhada de surpresa ainda hesitei mas depressa concluí que não existe nenhuma palavra que seja antónima de ciúme.
Mas então dá-me uma palavra que possa servir, pedia-me o meu amigo. Voltei a pensar e veio-me à ideia que o contrário de ciúme só poderia ser amor.
A que é que se apela quando se quer combater um sentimento tão destrutivo como o ciúme? Ao amor. Quanto mais amo, menos quero possuir. O amor é um sentimento tão espesso que não deixa lugar a mais nenhum. É, portanto, a maior arma. Difícil de manobrar. Mas a maior.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Do Natal

Diz-se por aí, creio que há vários séculos, que o Natal é a época da Boa Vontade.
Também é costume dizer-se que Natal é Quando Um Homem Quiser.

Se o Natal é a época da Boa Vontade
Se o Natal é Quando Um Homem Quiser
Então a Boa Vontade é Quando Um Homem Quiser

Assim se desfaz uma importante característica desta linda quadra.
O que fica então?
A Festa.
Fica pois a Bela da Festa. Cheia de tradições, de reuniões, de acepipes e de bacalhau.
Bacalhau! Amado por uns. Odiado por outros.
Os que o amaram, amam e amarão, continuam a comê-lo como manda a lei - cozido, com as batatas e as couves, tão portuguesas grrrr.
Os que o odeiam, reinventam-no só porque temem mandar a tradição "às couves". Assim têm nascido alguns interessantes pratos do dito bicho. É claro que quanto mais trabalho se tiver a encontrar o bacalhau, mais interessante o prato se torna, pelo menos para os desapreciadores.
Os que detestam as couves, escolhem os grelos. Os grelos são sempre excelentes substitutos do verde obrigatório. Há ainda aqueles que se calam e vão depenicando só para fazer tempo para a sobremesa e se alguém lhes diz - Só isso?! - Eles respondem, prontamente - É para deixar espaço para o resto...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Gostar ou Não Gostar - Eis a Questão!

Porque de antagonices se trata. Vale a pena clicar no título.

Civilidade

A grosseria e a falta de respeito são absolutamente antagónicas ao bom e são convívio, à vida em sociedade.

Se queremos um povo civilizado e minimamente educado, temos de ter uma escola que eduque verdadeiramente, que instrua.

Sou a favor de uma disciplina específica que ensine todas as leis do convívio; que explique às pessoas onde é que começam os direitos dos outros e que seja rigorosa ao ponto de impedir todos os que não conseguirem ter bom aproveitamento, de: tirar a carta de condução; habitar a menos de 500 metros do vizinho mais próximo; frequentar espaços públicos... e por aí fora...
Não há cu para tanta falta de respeito!

A Nossa Natureza

Como seríamos se seguíssemos a nossa natureza?
Reinventar-nos-íamos a toda a hora ou fixar-nos-íamos num conjunto de características que se acentuariam com a idade?

Há alguns anos atrás em conversa com um amigo disse-lhe que aquilo que serei amanhã pode não ser o que sou hoje. Disse-lhe que o meu dinamismo não me permitia dar garantias de nada. Que o amanhã é sempre uma incógnita, quer em relação aos acontecimentos, quer em relação à nossa reacção a esses mesmos acontecimentos. Mudamos a toda a hora. Somos incapazes de ser rigorosamente os mesmos.
Ele olhou-me espantado. Discordante, claro. Para ele, como para quase toda a gente, é fundamental que nos alicercemos. É fundamental que a nossa personalidade assente sobre sólidos pilares, para que possamos ser fieis. Precisamente - Fieis.
Fieis a quem? Aos outros ou a nós mesmos?
Fieis ao retrato que os outros foram pintando de nós, ou fieis à nossa natureza. Àquela natureza que levamos toda uma vida para descobrir e que, na maior parte dos casos, morremos sem conhecer?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dia Mundial

Ultimamente tenho tido alguma dificuldade em compreender a filosofia emanente ao "Dia Mundial De...". Sempre pensei que a atribuição de uma data específica a algo, tivesse subjacente a intenção de homenagear esse algo.

Temos o Dia do Pai; o Dia da Mãe; agora também o Dia dos Avós. Temos o Dia da Mulher, o Dia da Criança e o Dia do Idoso. Temos o Dia do Trabalhador, o Dia do Estudante e o Dia do Reformado. Temos o Dia da Árvore; o Dia da Água e o Dia da Terra. O Dia do Não Fumador.
E o Dia da Sida.

Indiferenças

Nós não somos, obviamente, indiferentes às desgraças alheias. Se olhamos a miséria de lado é porque ela nos aterroriza e isso, ao contrário do que possa parecer, humaniza-nos.


Lembro-me muitas vezes de uma história que ouvia contar quando era miuda:


Em tempos que já lá vão, um homem percorria, coxeando, a baixa lisboeta. Entrava em todos os estabelecimentos e escritórios. Era reconhecido por todos os que julgavam conhecê-lo e todos, ou quase todos, lhe depositavam o que podiam na palma da mão que ele estendia em concha, mirando-lhe de lado a perna torta e murcha, arrastada por um pé mais morto do que vivo. Vinha sempre à mesma hora - pela manhã, quando tudo estava ainda sonolento. E desaparecia muito antes dos almoços começarem a ser servidos. Muitos se perguntarão porquê, porque é que o homem não aproveitava a hora de ponta. Não se sabe. Não aproveitava. E os empregados dos restaurantes agradeciam, dando-lhe as boas vindas aos pequenos-almoços.


Um dia, nunca se soube porquê, o homem atrasou-se. Batia o meio-dia quando virou a esquina, esbarrando com alguns comensais mais esfomeados, daqueles que fecham as portas dos gabinetes cinco minutos antes da hora. Assustado com o inesperado encontro, o bom homem endireitou a perna torta, fincou bem o pé no chão e desatou a correr como se não houvesse amanhã.


A sorte dele foi ter tido o bom senso de não voltar a aparecer por aquelas paragens onde, durante anos, foi humanamente sustentado por piedosos cristãos, porque sei, de fonte segura, que a indignação foi dando lugar à humilhação e esta à raiva de "ter sido comido" durante tanto tempo sem nunca ter suspeitado sequer! "O sacana dava um excelente actor. Andam por aí muitos talentos perdidos!"


De Gostar De Estar

São raros os momentos em que gostamos verdadeiramente de estar como, onde e com quem queremos estar.
Se estamos sozinhos, o sentimento de abandono tende a crescer exponencialmente transportando-nos para as margens dos rios onde correm a morte da vontade e a muito baixa auto-estima.
Se estamos acompanhados, somos invariavelmente perseguidos pela saturação, que tende a disfarçar-se de quotidiano, de hábito ou de rotina, e que vai crescendo tão exponencialmente quanto crescia antes o sentimento de abandono, do qual nos esquecemos ou que simplesmente não nos queremos lembrar.
Este é o sentimento, ou o estado de espírito, que nos transporta para as outras margens dos mesmos rios. Aquelas onde corre a auto-estima e a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, arranjaremos muito melhor, de que mais vale só do que mal acompanhado e, sobretudo, sobretudo - de que ainda não foi desta que encontrámos o amor da nossa vida, mas que ele virá, sem dúvida virá, se possível até, montado num típico cavalo branco.
É o síndroma do António (o Variações) em todo o seu esplendor.
E é assim que nos "livramos" duma rotina para cairmos, invariavelmente, noutra - a nossa.
Voltam então os momentos em que quase desaparecemos outra vez, sugados pela tristeza de vermos o tempo passar e olharmos para o lado e não vermos ninguém a amparar os nossos desequilíbrios. Aí, juramos amor ao próximo (amor, entenda-se) quando, na verdade, somos incapazes de amar o que temos, quando temos.
Agora digam-me lá - alguma vez ouviram a boca de alguém dizer que não quer ser feliz?