terça-feira, 31 de março de 2009

Não há pachorra

Ele há gente do caraças! Gente que lê, que vai a congressos, que acredita circular em meios culturais mas que não aprende praticamente nada. Gente que se enaltece com a ideia de cultura sem compreender que a cultura serve para abrir caminho à humanidade, à humanização do Homem, e não para ostentar como um troféu.
Gente que não entende que se não souber aplicar o que lê e o que ouve ao serviço das suas relações com os outros e consigo mesmo, mais vale estar quieto porque de enciclopédias ambulantes está o mundo cheio.
Pessoas que se masturbam a despejar em cima de quem lhes apetece as extraordinárias vivências que tiveram, sem ninguém lhes perguntar nada e sem sequer se preocuparem se o que estão a relatar interessa ao outro ou se o outro está com pachorra para os ouvir. Despejam e pronto, têm um orgasmo intelectual. Sentem-se importantes. Alguns chegam mesmo a acreditar que estão a prestar um serviço merecedor de agradecimentos.
E depois ainda são capazes de ficar ofendidos se uma pessoa os despacha!
Valia a pena explicar a esta gente que o bom senso manda que se olhe um bocadinho para além do nosso umbigo. O bom senso e a boa educação, também.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Na Lua! Completamente na Lua!

Levanto-me da cama e vou de encontro ao móvel. Baixo-me para aliviar a dor do pé e esqueço-me da ombreira da porta quando me levanto; porque não parei de andar, mesmo ao pé-coxinho. Fico com o ombro negro das pancadas sucessivas que vou dando nas ombreiras que me empecilham o caminho.
Ponho canela no peixe e alho moído no chá porque esta gente não sabe enfrascar especiarias e os frascos são todos iguais.
Troco as voltas ao canário que já não sabe onde ir buscar a água e o comer.
Entro para o banho e só quando saio reparo que não apanhei o lençol do estendal.
Espero às meias horas para ser atendida no posto dos correios e quando chega a minha vez não tenho dinheiro para pagar. Nunca entendi porque é que não há multibancos neste posto do terceiro mundo! Saio para a rua, procuro uma máquina milagrosa que me dê dinheiro; arrependo-me de não ter vestido casaco e, por momentos, esqueço-me do que ia fazer.
Já com o dinheiro na carteira, volto a abstrair-me e enfio pela rua que não é. Olho em volta e pergunto-me o que raio é que estou ali a fazer.
Ponho espinafres ao lume mas só me volto a lembrar deles quando os oiço a reclamar com a tampa da panela; nessa altura já é tarde, já tenho o fogão todo verde. Fico apreensiva com o cheiro e estranho o silêncio. Pois é, tenho o exaustor desligado.
E é assim que estou hoje…forçada a andar por cá. É que eu, por mim, emigrava. Hoje eu emigrava.

Porque o céu está limpo

Porque hoje é segunda-feira
Porque a boa disposição é sempre bem vinda
Porque acreditar é preciso
Aqui vai o que eu ainda não vejo mas quero ver


domingo, 29 de março de 2009

Vampiros

Todos precisamos de amor, de paz, de equilíbrio e de energia para enfrentar a vida e desesperamo-nos quando olhamos à nossa volta e não conseguimos encontrar o que precisamos. Andamos esfomeados, carentes, à procura no outro daquilo que nos faz falta e, quando o encontramos, sem dar por isso, vamos absorvendo tudo aquilo que podemos, na esperança de aliviar o vazio, de preencher faltas.
É assim que se esgotam a maior parte das relações, nesta tentativa de satisfação pessoal, nesta vampirisse inconsciente. Porque é isso mesmo que parecemos – vampiros.
Quando crescermos, se crescermos, descobriremos que andamos à procura no sítio errado; descobriremos que afinal tudo o que precisamos se encontra dentro de nós; descobriremos que, afinal, somos autónomos e independentes e, quando isso acontecer, se acontecer, estaremos finalmente prontos para partilhar, para dar, para amar sem medos e sem necessidades. Quando isso acontecer, se acontecer, estaremos com os outros porque sim e não porque não podemos estar de outra forma. E aí, só aí, nos enriqueceremos em vez de nos esgotarmos.

sábado, 28 de março de 2009

Do sucesso

Qualquer causa, qualquer projecto, necessita de uma entrega rigorosa e inequívoca. Caso contrário correrá, à partida, o risco de sair logrado.
Qualquer causa, qualquer projecto, por muito bem projectado que seja, por muitas e grandes perspectivas de sucesso que acarrete, se não for alvo de uma dedicação total, de uma crença absoluta, de um amor verdadeiro, corre o risco de morrer prematuramente.
Não se constrói nada do dia para a noite e os primeiros anos são os mais sensíveis e, também, os mais determinantes. Nenhuma causa, nenhum projecto, que se queira vencedor, tem lugar para dispersões, para desatenções, para adiamentos.
Nenhuma causa, nenhum projecto, que se queira vencedor, deve ter como motor principal o lucro imediato ou fácil. Os seus alicerces devem ser feitos de vontade de criar, vontade de mudar, vontade de dar, de ajudar, de fazer a diferença.
Só assim, uma causa ou um projecto, terá hipóteses de crescer sólido e saudável.

Toca a desligar as luzes

Hoje, às 20,30 h e em nome de um planeta que sofre, pede-se a todos os habitantes que usufruem da luz eléctrica, que a desliguem por uma hora.
Ainda que se trate duma iniciativa simbólica, não é uma hora às escura que vai arrepiar caminho para a salvação da Terra, quem não estiver de olhos postos na televisão para ver Portugal jogar, pode sempre olhar as estrelas. É na escuridão que se revelam. Depois até, quem sabe, ao olhá-las consiga uma maior ligação com este pequeno globo em que vive e passe a ter mais cuidado na sua preservação.
Como não me canso de dizer, só podemos amar aquilo que conhecemos, aquilo que observamos. Olhar as estrelas pode ser meio caminho andado para gostarmos um pouco mais desta nossa pequena casa.

Entretanto, e já agora, não se esqueçam que o dia de amanhã terá apenas 23 horas. Quando pensarmos que é uma da manhã, serão já duas. Não sei se isso terá tido influência nesta visita que o vento e um certo friozito nos fizeram, mas que eles estão por cá outra vez, estão.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Do conhecimento

Uma das regras que considero fundamental para o conhecimento é a observação.
Se queremos conhecer algo, temos de o observar primeiro. Observar sem intervir.
Tudo aquilo em que tocamos se altera e perde, assim, a sua natureza ou afasta-se dela.
Como é que eu posso melhorar a vida seja do que for sem conhecer primeiro o objecto em questão? Como posso eu saber o que é melhor para ele, sem o conhecer? E como posso eu conhecê-lo se não tive tempo para o observar?
Esta verdade estende-se a tudo aquilo que passa pela nossa vida e, contudo, raramente a pomos em prática.
Conhecemos uma pessoa pela primeira vez. Acreditamos que gostamos dessa pessoa e o que fazemos? Tentamos que ela goste de nós. Se tivermos sorte, se isso acontecer, partimos do princípio que está tudo bem e avançamos no nosso maravilhoso entusiasmo, prontos para fazer parte, para intervir, na vida dessa pessoa. É quase como se, na nossa cabeça, essa pessoa não tivesse vida antes de nós. Como se só nós soubéssemos como é que ela deve agir, como se deve comportar, o que deve ou não fazer, nesta ou naquela circunstância.
Temos tanta pressa que encurtamos, às vezes de uma forma abrupta, a natural distância que separa duas pessoas que, afinal de contas, ainda se estão a conhecer. No nosso entusiasmo essa distância que, para além de natural é necessária, aflige-nos como se o objecto desejado estivesse a fugir-nos por entre os dedos. Então encurtamo-la. Encurtamo-la e estragamos tudo.
O amor passa pela observação e pela distância que essa observação exige. A pressa de nos apoderarmos seja do que for não é amor, é necessidade.

Trabalhar a terra é duro

E preparar um terreno de alguns metros quadrados, que não via ancinho ou forquilha há vários anos, para receber meninos em actividades ao ar livre, revelou-se um trabalho árduo.
E pensar que houve tempos em que sonhei com terra onde pudesse plantar couves, alfaces, tomates e afins. Pensar que houve tempos em que acreditei que podia, sozinha, viver daquilo que a terra me desse…eu, que hoje não posso com uma gata pelo rabo só porque andei a manhã inteira a acartar vegetação, de forquilha em punho…
Não há dúvida que a nossa imaginação fica sempre ou muito aquém, ou muito além, da realidade.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sorry

Vocês desculpem. Eu não sou de citações. Quem costuma passar por aqui sabe que é verdade. Mas não resisto a partilhar convosco uma passagem de Edgar Morin em Os Sete Saberes Para a Educação do Futuro, até porque tem um pouco que ver com o meu discurso anterior.
Aqui vai:
"O inesperado surpreende-nos. Porque nos instalámos com demasiada segurança nas nossas teorias e nas nossas ideias e estas não têm nenhuma estrutura para acolher o novo. Ora o novo brota sem cessar. Nunca podemos prever como se apresentará, mas devemos contar com a sua chegada, quer dizer contar com o inesperado (...). E uma vez chegado o inesperado, é necessário ser capaz de rever as nossas teorias e ideias em vez de fazer entrar pela força o facto novo na teoria verdadeiramente incapaz de o acolher."
E pronto. É isto.

Da partilha

Aprender a partilhar. Não coisas, mas espaços. Eis a minha grande dificuldade. Até os meus filhos se queixam – tudo tem de estar à minha maneira.
Não me espantaria se fosse uma pessoa habituada a viver sozinha. Mas não sou. Tenho tido, ao longo da minha vida, períodos, sempre curtos diga-se de passagem, em que todo o espaço me pertence, mas, grosso modo, tenho tido uma vida de partilha. Isto não é, portanto, uma questão de hábito.
Uma vez, danada com o caos criado pelos meus filhos, a casa era grande e eu tinha a sensação de que não havia espaço para mim já que tudo estava ocupado com as tralhas deles, fi-los sentar à minha frente e, com voz grave, anunciei que não tinha saído de casa dos meus pais para a casa dos meus filhos. Fi-los sentir que também eu tinha direito a ter a minha casa, o meu espaço; um espaço onde me sentisse bem e em paz. Compreenderam e muita coisa mudou a partir daí. Mudou a arrumação e mudou a minha contenção. Penso que foi a partir desse momento que eu “ganhei” verdadeiramente o tal espaço e que agora não estou disposta a voltar a perdê-lo.
As crianças precisam de irmãos para aprender a partilhar. Eu tenho. Com pouquíssima diferença de idade, crescemos verdadeiramente juntos. Partilhámos soldadinhos, carrinhos e berlindes. Só não partilhámos as bonecas porque ele não achava grande graça, não porque eu me opusesse. É que, assim de repente, quem ler isto é bem capaz de dizer – pois, partilhavam tudo o que era dele. Não é verdade. Partilhávamos tudo o que nos apetecia, aos dois.
Vivi em casas pequenas e em casas grandes. Nunca me fez diferença nenhuma. Agora faz-me. Tenho essa consciência. Faz-me diferença. Incomoda-me a movimentação de outros num espaço ordenado por mim.
O meu filho está a chegar. Tenho muitas saudades dele. Senti-lhe a falta. Vai ser ele que me vai recordar, mais uma vez, que ninguém é uma ilha e que a ordem das coisas não é, de facto, muito importante.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Comentário escabroso, delitado

Há pouco fui surpreendida, antes não o tivesse sido, com um comentário absolutamente escabroso e fora de contexto a um texto publicado neste blog.
O comentário vinha, aparentemente, de alguém que conheço e cujo blog costumo acompanhar.
Confrontado com a minha surpresa e, ao que parece, já habituado a estas andanças, o meu amigo esclareceu-me.
Trata-se então de alguém que só pode ser completamente doido e que anda por aí a denegrir a imagem do presumível atacante. Esta senhora. Sim, é uma mulher. A espumar de raiva por algo que não interessa para o caso, tudo fez e continua, pelos vistos, a fazer para denegrir a imagem deste meu amigo junto de todos aqueles que dele se aproximam, quer por via do blog quer, penso eu, por outra via qualquer.
Ainda hoje deixei aqui escrito que já nada me surpreende, ainda que não deixe de me sentir fascinada com certas coisas. Talvez esta senhora, que não me conhece de lado nenhum, tenha querido aproveitar a minha ausência de surpresas para me surpreender. Não resultou. A única coisa que conseguiu foi despertar-me pena. Pena de alguém tão cheio de ódio e de frustração que dedica todo o seu precioso tempo a engendrar formas de prejudicar uns e ofender outros.
Para essa senhora, caso aqui volte, recomendo tratamento. Trate-se querida. Trate-se que os maus sentimentos só servem para a consumir a si. Um dia destes vai-se a ver e o cancro que anda a alimentar já a minou e não haverá volta a dar.

Da agressividade

Por que razão atacamos?
O que nos leva a atacar alguém?
Provavelmente o facto de nos sentirmos ameaçados.
Como todos os animais, atacamos para nos defendermos. A questão que se põe é se nos defendemos de ameaças reais ou se nos defendemos de ameaças previstas e imaginadas por nós.
Segundo Edgar Morin, apenas 2 por cento do nosso sistema neuro-cerebral conecta o nosso organismo com o exterior. Os restantes 98 por cento dizem respeito ao seu funcionamento interno. Quer isto dizer que as probabilidades de fantasiarmos factos são muito maiores do que as probabilidades dos factos serem, efectivamente, factos.
Se, antes de atacarmos alguém, nos debruçássemos sobre a vontade que antecede esse ataque, talvez descobríssemos algo dentro de nós que nos mostrasse a vacuidade da acção. Talvez evitássemos assim muitas acções geradoras de outras igualmente agressivas. Talvez até, quem sabe, nos descobríssemos a nós mesmos.

Repto

Uma das coisas que a vida nos vai roubando sub-repticiamente é a capacidade de nos surpreendermos.
É claro que podemos, se quisermos, continuar a maravilharmo-nos. Mas cada vez é mais difícil surpreendermo-nos. É como se o que existe mais não fosse do que uma sucessão de repetições só que com outras formas. Creio que começamos a ficar velhos quando podemos dizer que já vimos porcos a andar de bicicleta ou que são muitos anos a assar frangos e a levar com o fumo na tromba. E é triste. É triste porque se há coisas que dão gozo nesta vida são as surpresas; o espanto espontâneo, genuíno, de quem está a ver uma coisa pela primeira vez, de quem está a viver uma coisa pela primeira vez.
Por isso peço aos criadores deste mundo que criem.
Criem coisas nunca vistas. Atrevam-se a navegar por mares nunca dantes navegados. Inventem ó inventores. Mostrem-nos uma flor desconhecida; um animal sem nome; uma máquina extraordinária, mais extraordinária ainda do que a Bimby. Vamos lá rapaziada, toca a trabalhar que ainda há muito que fazer.
P.S. - Se estiverem a atravessar um período de escassez de ideias, aqui vai uma:
Inventem um aparelho, uma máquina, um estado de espírito, o que for preciso para impedir de uma vez as contracções musculares
.

"O Fado é q'induca; o vinho é q'instrói e quem não é do Benfica não é bom chefe de família"

Eu sou do Sporting. Torço pelo Sporting. Fiquei muito, mas muito, mal disposta com o resultado da final da taça e com o erro do Lucílio Batista. A decisão da comissão disciplinar de castigar pessoas que se manifestaram contra uma injustiça, contra um erro, ainda me deixa mais mal disposta. Mas fazer disso abertura de noticiário?! Será que não há nada verdadeiramente interessante a acontecer no mundo? Ou, assim como assim, sempre se vai desviando a atenção das pessoas?... Afinal de contas não é a primeira vez que o futebol serve para “embriagar” as massas…

De como o meu pescoço ganhou, subitamente, uma importância disparatada

Há dois dias que ando direitinha que nem um fuso.
Impedida de olhar, quer para a esquerda quer para a direita, pareço uma daquelas pessoas importantíssimas que não se dignam a olhar os outros nos olhos, a não ser que os outros olhos se encontrem no mesmo e limitadíssimo campo de visão dos meus.
Não, não é mania. Não é que me ache demasiado importante para me mover. É que não posso mesmo. Tenho o pescoço, literalmente, feito num oito. Por isso, se se cruzarem comigo nestas circunstâncias, por favor não levem a mal, não tomem a minha postura com uma qualquer afronta pessoal, são só os discos cervicais que não dão sossego aos músculos do pescoço que, coitados, se contraíram de tal maneira que se esqueceram da sua, natural, elasticidade.

terça-feira, 24 de março de 2009

Do Medo e do egoísmo

Antigamente azucrinavam-nos a cabeça com a vergonha de ser egoísta; ninguém nos perguntava o que sentíamos, do que gostávamos ou o que queríamos realmente da vida.
Era como se tudo estivesse já determinado. Como se não fosse permitido ter opinião, ser criativo, diferente.
É claro que essa treta ficou de tal forma implantada em nós que, tal como os nossos educadores, acabámos por transmitir isso aos nossos educandos. Mesmo que, tal como os nossos educadores, tenhamos introduzido algumas nuances, alguma abertura. Ainda assim, não foi suficiente. Não foi suficiente para lhes dar coragem, para lhes espantar o medo.
E assim fomos crescendo, nós e eles, no meio dos medos.
De todos, o pior é o medo da vida.
Venho agora tentar desfazer o que, provavelmente, também fiz sem querer. Venho agora confessar aqui que todo o medo que os meus filhos possam ter não é deles, foi meu. Venho agora dizer a todos os filhos de todos os pais que o medo que apanharam por osmose, mais não era do que o medo de os perder e que agora, que são já crescidos, não precisam mais dele. Podem deitá-lo fora. Já não vos faz falta.
Venho agora aqui dizer que não há motivos para ter medo. Que tudo tem um propósito. Que tudo correrá bem. Que podem ser egoístas. Que devem ser egoístas. Porque só assim, sendo egoístas, terão oportunidade de se conhecerem e só conhecendo-se se podem admirar e só admirando-se poderão, um dia, admirar os outros.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Porque tenho saudades...

de ver a minha filhota dançar, aqui fica uma sugestão coreográfica que conta com a participação de todas as alminhas.

Cada um vê o que lhe apetece, quando lhe apetece

“Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.”
António Gedeão, D. Quixote

Não há ruína que não possa ser vista ao olharmos um moinho.
São raros aqueles que ainda ostentam a traça antiga e menos ainda os que servem para alguma coisa. Agora os moinhos são outros. Gigantes brancos de três pás que giram incansavelmente, não para moer os cereais mas para gerar energia. Não deixam de ser moinhos por isso.
Já me aconteceu ir na A8 e ser surpreendida por um conjunto desses gigantes brancos que pareciam estar atrás dos montes à minha espera, só para me assustarem. E assustaram. Nesse momento decidi que não haveria de gostar destes moinhos e tive saudades dos outros, dos redondos e singelos moinhos de cereais. Mas já mudei de ideias. Afinal de contas os gigantes brancos têm a sua beleza e, fundamentalmente, a sua extraordinária utilidade. Quanto aos outros, ainda que em ruínas, continuam a realçar o bucólico que uma paisagem pode ter.
Por mim podem continuar a existir, todos eles. E se houver quem recupere os mais antigos, melhor ainda. É que, tanto uns como outros exibem a liberdade do vento, ainda que estejam, irremediavelmente, presos ao chão.
Moinhos e Gigantes. Gigantes e Moinhos. Qual deles teria Miguel de Cervantes escolhido se tivesse conhecido os dois? Provavelmente nenhum. Ou todos, quem sabe?
Na verdade, quer o António Gedeão, quer o Miguel de Cervantes, estavam-se, provavelmente, nas tintas para os moinhos. E isto só prova que a objectividade, de vez em quando, não só não serve para nada como pode até estragar tudo.
Uma coisa é certa, se alguém, no momento em que passei na A8 e vi os gigantes pela primeira vez, me tivesse dito que aquilo eram moinhos, eu tê-lo-ia mandado dar uma curva; teria gritado – São Gigantes - e ter-lhe-ia pedido – Deixa-me ficar com a minha visão.
Depois, mais tarde, num belo dia de sol, eu teria voltado a passar por lá e teria visto uns belos de uns moinhos, imponentes e brancos. Brilhantes obras de engenharia.

sexta-feira, 20 de março de 2009

E se os castrassemos hem?

Existem animais estranhíssimos que comem ou matam as crias assim que elas nascem.
Já ouvi dizer, dos coelhos por exemplo, que isso acontece quando enlouquecem. Dos cães, a mesma coisa. Certo é que quando isso acontece na nossa casa ou no nosso quintal, o destino dos enlouquecidos fica automaticamente traçado – o coelho vai para a panela e a cadela, na melhor das hipóteses, nunca mais terá a mesma vida. Isto se não se entender que o melhor é mandar abater.

Ontem, dia do pai, o Menino Mais Triste do Mundo, sentado num degrau de uma escada, relatava com uma voz sumida, que tinha ido ter com o pai para lhe oferecer uma daquelas coisas que as crianças nas escolas costumam fazer para estes dias especiais, mas que o pai não a tinha aceite porque tinha assinado um papel a dizer que não queria ser pai dele.
Este menino tem uma irmã e estão ambos a cargo dos avós já que, ao que parece, nem pai nem mãe se interessam por eles.
- Agora tenho de ir entregar isto ao meu avô, dizia ele de olhos no chão.
Saturno devorou os filhos. Estes homens e mulheres limitam-se a mutilá-los.
Nós matamos as coelhas e, quiçá, as cadelas. Porque não arrancar uma perninha a esta gente? Porque não, deixar estes pais e estas mães fisicamente incapacitados? Não se cortam mãos, em certos lugares do globo, por muito menos que isto?

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dia do Pai

Diz que hoje é o dia do pai.
Quando eu era miúda não existia este dia. Eu, pelo menos, não me lembro dele. Havia o dia da mãe, mas do pai, que eu me lembre, não.
Procurei aqui pelas nets uma justificação, uma história. Num dos sites dizia que este dia tem mais de 4.ooo anos, imagine-se! E que começou algures para o Médio Oriente. Outro dizia que começou nos EUA e que serve para homenagear S. José. Porquê hoje, 19 de Março? Não faço a mínima ideia. Vai-se a ver e ainda há quem diga que foi o dia em S. José nasceu…
Seja lá como for, ou pelo que for, é hoje. E é justo. Se existe um dia da mãe é claro que faz todo o sentido que exista um dia do pai. Os meus votos vão para que este dia sirva para que muitos pais sejam mais pais do que têm sido ao longo dos tempos, já que a maioria tem andado demasiado ocupada com os afazeres para poder dedicar-se aos filhos que, vai-se a ver, até dão algum trabalho.
Mas não foi para isto que eu vim até aqui.
Foi para falar do Meu Pai.
O meu pai foi, durante a minha infância e o início da minha adolescência, um ícone para mim. Foi ele quem me transmitiu este amor que tenho aos livros. Foi ele que me mostrou a importância de se estar receptivo ao outro, mesmo que seja diferente de nós. Foi ele que deixou que o meu espírito se abrisse ao desconhecido, e me mostrou a importância do livre pensamento.
Foi ele que me ensinou a nadar. Que me protegeu quando me atacaram. Que me mostrou que o respeito se deve a toda a gente, por muito jovem que seja, e que todos merecem uma oportunidade.
A porta da minha casa esteve sempre aberta para os amigos. Os dele, os nossos…todos. O meu pai enchia a casa, enchia a mesa. Foi dele que herdei este prazer que sinto em juntar amigos, em juntar a família, à volta de uma mesa.
Todas as crianças acreditam que os pais sabem tudo, é verdade, mas o meu sabia. Sabia muito mais do que os outros pais todos e a alegria que ele sentia junto de nós, nas brincadeiras, nas conversas, até nos silêncios das noites televisivas ficou gravada na minha memória. É a ela que recorro quando me sinto mais frágil, à força, à segurança, à coragem que o meu pai sempre me transmitiu.
Hoje é um homem tranquilo. Um homem que fez as pazes com uma vida que o atraiçoou, que o incapacitou cedo de mais, que o impediu de nos acompanhar, a mim e ao meu irmão, até onde seria suposto um pai acompanhar os filhos. Contudo, sempre que eu e o meu irmão comentamos as consequências deste acidente de percurso, chegamos à conclusão que o nosso pai, no pouco tempo que teve, fez muito mais do que muitos fazem numa vida inteira. No pouco tempo que teve deixou as suas marcas e têm sido elas, essas maravilhosas marcas, as nossas eficientíssimas muletas, muita da nossa força. Hoje basta-nos a sua presença, o seu sorriso e o seu, quase permanente bem estar. Basta-nos vê-lo a cuidar do jardim. Basta-nos que ele exista, que esteja por cá. E, sabendo eu que às vezes o desânimo lhe bate à porta, peço a Deus que o nosso amor lhe seja motivo suficiente para continuar.

Eu...

Acredito em Deus e acredito no Homem.
Acredito na imortalidade da Alma e na Reencarnação.
Acredito nas inúmeras possibilidades do Cérebro Humano.
Acredito no Poder do Amor.
Acredito no Carma.
Acredito na Evolução e no Conhecimento.
Acredito na Boa Vontade.

Não acredito no Pai Natal nem no Coelhinho da Páscoa.
Mas já acreditei…

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ah pois é...

Quantas vezes nos questionamos sobre a nossa participação activa em algo que até não correu tão bem quanto gostaríamos?
Quantas vezes nos questionamos se aquilo que detestamos num outro qualquer não é, afinal, o mesmo que detestamos em nós?
Poucas. Muito poucas.
Todos, ou quase todos, falamos sobre isso. Todos, ou quase todos, temos alguma consciência de que são as coisas mais desagradáveis aquelas que nos podem mostrar os caminhos mais positivos. Temos essa consciência. Mas raramente a pomos em prática.
Essa história dos outros serem espelho é papagueada por muita gente, mas aproveitada por muito pouca.
As maiores vitórias que obtive sobre muitos dos meus defeitos devo-as a todos aqueles que também os tinham e que me mostravam, incessantemente, o quanto eles, os defeitos, me desagradavam.
Chamo-lhes defeitos apenas por se tratar de características que me causam aversão. Só por isso. Na verdade os defeitos mais não são do que características que nos causam aversão.
Somos bons a lamentarmo-nos. Somos óptimos a apaparicar o nosso ego e melhores ainda a exigir a outros que o façam.
Mas somos muito fraquinhos em auto-análise. Muito fraquinhos em crescimento.
Na verdade somos todos, ainda, uns meninos.

terça-feira, 17 de março de 2009

Vale a pena esperar

A Paz que sinto diz-me que valeu a pena a espera.
E a todos aqueles que temem o tempo que passa, aqui fica a mensagem - Nunca é tarde. O amor aparece, em qualquer altura. Não escolhe idades. Aparece...e pronto.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Parem lá com a má-língua

Se há coisa que me deixa irritada são aquelas mensagens escritas por brasileiros e mal adaptadas à realidade portuguesa. Ele há quem meta isso a circular como se fosse o relatório da descoberta da pólvora e o mais irritante é que, geralmente, é um chorrilho de disparates.
Hoje de manhã abri uma com o brilhante título de – Tudo Mudou.
Claro que tudo mudou! Graças a Deus! Queriam o quê? Que ficasse tudo na mesma? Mas alguma vez em alguma parte do mundo as coisas param?!
O “artigo”, não sei que nome hei-de dar a essa coisa, começa por fazer referência ao aparecimento da televisão, do chuveiro eléctrico…chuveiro eléctrico?!... Depois segue-se a Declaração dos Direitos Humanos e a Playboy, duas coisas que estão, obviamente, relacionadas, uma não pode passar sem a outra.
Estas tinham sido, na opinião da mente brilhante que escreveu aquela coisa, as coisas boas que aconteceram nos últimos 50 anos, estas e mais o facto das pessoas que têm agora mais de 40 vestirem o mesmo que os filhos e terem um excelente aspecto. Segundo o artigo, as avós agora são “aviões”.
A partir daqui é tudo mau. Tudo o que tem acontecido por este mundo e segundo o, ou os, autores deste e doutros textos do mesmo género, é tudo mau. Até assinam como anónimos para não irem presos! Nossa Senhora!
Gente desta, que acha que isto vai de mau a pior, merecia ter vivido em pleno século XIV; deveria ter sido Judeu na Segunda Grande Guerra; deveria ter sido comunista durante o Regime Salazarista, o que mesmo assim teria sido um mal menor; ou deveria viver, neste momento, no Médio Oriente.
Gente desta, que só sabe dizer mal, que se queixa e distribui queixas a toda a hora não conhece nada de História.
Nunca se viveu tão bem, neste país, como se vive agora. Nunca o nosso parque automóvel foi tão grande e tão rico, nunca houve tantas televisões nem tantas calças de marca. Nunca os adolescentes gastaram tanto do erário dos pais como gastam agora. Nunca este país teve tanta cor como tem agora e, por muito má que esteja a educação, nunca tanta gente teve tantas oportunidades de ser o que quiser ser.
Não, não estamos na mesma. E ainda bem que não estamos na mesma. Éramos um país cinzento e agora temos cor. Temos cor, ainda que o cinzento ande por lá, metido no meio das outras cores. Temos cor.
E bom mesmo era que nos alegrássemos com essa cor, em vez de ficarmos a carpir em cima do cinzento.

domingo, 15 de março de 2009

Do chumbo, ferro, alumínio e outros metais

Um domingo fabuloso e eu aqui fechada, sem saber o que me apetece, sem inspiração para nada.
Olho lá para fora e digo para mim mesma, o que me apetecia era estar na praia. Vou à varanda; levo com o sol; começo a espirrar e digo para mim mesma, talvez não seja boa ideia. Volto para dentro. Vegeto. A cabeça pesa-me. Acredito que o meu cérebro solidificou de tal maneira que em vez de miolos tenho chumbo cá dentro e, quase imediatamente, sou invadida pelo terror de não fazer a mínima ideia do que é que se faz com chumbo. E se esta porcaria desata para aí a atrair tudo o que é metal? Como é que eu vou aguentar o peso de tanto peso?! Já me estou a imaginar – um magneto humano. Bom, pelo menos, provavelmente não teria de trabalhar, bastar-me-ia a peculiaridade, e em vez de andar para aí a dizer às criancinhas que estudar é bom, mostrava-lhes que, afinal, o Super-Homem existe. O que nem sequer é novidade nenhuma. O Nietzsche esforçou-me por vender essa ideia; passada uma quantidade de anos parece que a Rhonda Byrne a comprou, ainda que com algumas (bastantes) nuances pelo meio, e agora temos o Obama a confirmar tudo – Yes We Can.
Com tudo isto já estive mais longe de concluir que este súbito aumento do peso me vai trazer grandes vantagens. Não há nada como organizarmos as nossas ideias. Agora estou muito mais descansada.
Se nos próximos dias se cruzarem com uma pessoa de chapéu de alumínio, sou eu. Parece que o alumínio isola o magnetismo.
É que vou precisar de tempo para aprender a controlar estes meus novos poderes.
P.S. - Se, por acaso, o chumbo não tiver propriedades magnéticas e o alumínio não as tiver de isolamento, peço desculpa aos entendidos e agradeço que os substituam, automáticamente, pelos metais adequados já que o que conta é a ideia porque eu de ferros não percebo nada.

sábado, 14 de março de 2009

A cura do sono e a puta da alergia que não quer dar tréguas

Diz a DECO, que mais de oito horas de sono por dia podem ajudar a combater a gripe.
Pena é que não ajudem a combater as alergias...
Eu que sempre achei que as sextas-feiras 13 só poderiam trazer coisas boas. Eu, que até escolhi uma para o lançamento de um livro, sou agora, assim, sem mais nem menos, atraiçoada e obrigada a assinalar uma sexta-feira 13 como o dia em que se instalou, em mim, uma alergia que se esforça, a todo o momento, por me estragar a vidinha. Mal sabe ela com quem se meteu...

sexta-feira, 13 de março de 2009

À Alergia dos Fenos, essa grande prostituta

De todas as alergias com que a idade me tem vindo a presentear, a dos fenos é, sem dúvida, a que me faz sentir mais miserável.
Desde que me levanto até que me deito devo espirrar, para aí… sei lá, umas centenas de vezes. Caem-me, permanentemente, lágrimas que fazem de mim a pessoa mais infeliz do mundo quando, na verdade, a única coisa que me põe infeliz, neste momento, é a estúpida da alergia.
Tudo me sabe a nada e não consigo respirar se tiver a boca fechada, por isso tenho a garganta, os lábios e a língua tipo papéis de música e nem sequer gozei os bons momentos duns copos a mais.
Nada disto me parece bem, até porque eu não sou dada a estas coisas.
Das duas uma, ou é o meu organismo que anda com dificuldades em aceitar a realidade dos pólens primaveris, ou são os pólens que este ano estão mais sofisticados…

Da Comida e do Comer

Os membros da minha, não muito grande, família, sempre tiveram a mania de andar dispersos por aqui e por aí.
Neste momento, por exemplo, estão duas em Londres, uma na Lituânia e um em Barcelona.
Uma das que está em Londres chegou esta semana. Já me ligou para almoçarmos e, de que fala ela?, de comer. Fala de comer quando vai; fala de comer quando vem. E são as sardinhas; e é o cabrito; o pão, meu Deus, o pão! Ela é tão maneirinha, que não sei onde mete o que come cada vez que cá vem. Todas as saudades, à parte aquelas que nos dirige e que nem sequer se questionam, vão para a comida e para o clima. Saudades do pão; do cabrito; das sardinhas; das esplanadas cheias de sol…a comer sardinhas, evidentemente.
Ontem falei com a que está na Lituânia. Está feliz. Farta de passear. Desconfio que já conhece todas as cidades do Leste e arredores. Mas, dizia ela, nunca pensei ter tantas saudades disso aí. Tenho tantas saudades do pão!
Olha outra, pensei eu. Mas esta família só pensa no que come, ou será que nós realmente temos o melhor pão do mundo, o melhor peixe, o melhor cabrito? Enfim, a melhor comidinha?! Sim porque, pela parte que me toca, não posso pensar em nós sem me lembrar dos queijos, do pão, dos vinhos. E os enchidos?!...As farinheiras?! As morcelas?! Xiiiiii!!! Até os grelos! As hortaliças! A fruta!
Quem tem o costume de fazer compras no mercado, quem tem o hábito de ir à praça, sabe bem do que falo. A praça é um lugar onde tudo se ri para nós. Deve ser o único lugar do mundo onde tudo o que está morto parece vivo e nos pede, insistentemente, para ser consumido. Nos mercados mais afastados dos grandes centros urbanos, ainda se consegue comprar as hortaliças do senhor Joaquim e as maçãs da dona Ermelinda.
Quanto aos supermercados...
"Quanto aos supermercados, basta acordar cedo e ir ler os rótulos das caixas que chegam nos camiões - é uma deprimente viagem à volta do mundo agro-totalitário, geneticamente modificado e Terminator 5. É fruta que nunca apodrece nem morre porque - tapem os ouvidos às criancinhas - nunca chegou a nascer. Brrr..." (Miguel Esteves Cardoso, Em Portugal Não Se Come Mal, Assírio & Alvim).

quinta-feira, 12 de março de 2009

Eles andam aí

Acho estranho que um individuo cujo pai tem em casa um arsenal de armas de fogo; que pratica tiro diariamente; que gosta de filmes de terror e que é, imagine-se, adolescente, desate aos tiros e mate gente. Acho estranho, pronto.
Warum?!
Isto está a tornar-se prática corrente. E deixou de estar confinado aos EUA. Não há dúvida de que temos muito com que nos preocupar hoje em dia. Não nos faltam temas para reflexão.
Nós por cá temos a mania que somos um povo de brandos costumes e que estas coisas não acontecem, mas eu já acreditei mais nisso. De resto não é preciso muito para ficarmos de olhos abertos, basta abrir os ouvidos a certas coias que saem, de mansinho, da boca de certos miúdos...

Contrariedades

Ultimamente a minha vida rodeou-se de estranhos ruídos.
Ontem acordei à uma e um quarto da manhã com aquilo que me parecia ser um martelo no seu melhor desempenho. Assim de repente julguei que fosse sonho ou coisa parecida. Depois veio-me à ideia que talvez tivesse acontecido uma desgraça qualquer. O barulho tornou-se insuportável. Um batuque imenso Tum Tum Tum , ritmado e violento – Tum Tum Tum, infligido na mesma parede em que a minha cama encosta.
Percebi que se tratava dos vizinhos de cima quando ouvi gemer.
Há um ano que me mudei para aquela casa. Os vizinhos são os mesmos e isto nunca tinha acontecido. Não pude deixar de me lembrar daquela anedota do velhote que grita, feliz e de dedo no ar – É hoje! É hoje!
Mas dizia eu que os ruídos, ultimamente, têm-se sentido atraídos por mim.
Chego ao local de trabalho. Sento-me na cadeira. Ligo o computador e, quase imediatamente, um berbequim inicia o seu trabalho algures por este prédio fora. Passada uma meia hora, já de cabeça em água com o êêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêê………………., levanto-me e tento perceber de onde vem o barulho. Vagueio pela sala de ouvido alerta. Escuto…escuto e…eis senão quando…paro junto ao computador!
Vai de ligar para o representante. Pois…e mais daqui e mais dali… temos de levantar o computador e trazê-lo para as nossas oficinas onde será premiado com cerca de quinze dias de férias. Isso é que não pode ser, digo eu. Isto é uma empresa e não podemos estar quinze dias sem o computador. Nesse caso, diz o rapaz que não pára de me tratar por senhora fulana de tal (antigamente as senhoras eram donas e as empregadas domésticas, um pouco mais velhotas, eram as senhoras. Agora somos todas senhoras. Antes fossemos todas donas…), pode abrir o computador e retirar-lhe a placa gráfica porque é daí que vem o ruído. Então e isso não me vai fazer falta? Não, deixa lá ficar a integrada e mais lá para o Verão, quando puder não ter computador, volta a instalar a gráfica e chama-nos que vamos aí buscá-lo. Então e porque é que não mandam cá alguém buscar a placa e quando estiver arranjada passam por cá para a instalar? AH! É porque esse procedimento não faz parte do contrato de garantia. Mas pode-se fazer? Pode, mas não está no contrato. Mas então o que me está a dizer é que o problema pode ser resolvido com uma certa facilidade, sem me levar daqui o computador, e só não é porque o contrato não o permite? Compreenda, pedia ele, não está nas nossas mãos.
Pergunto-me nas mãos de quem estará!
Vou ver se arranjo alguém que me tire a placa gráfica porque, parece que se pode…não é permitido. Mas pode-se.


quarta-feira, 11 de março de 2009

Dos Nomes

Há coisa de meio século era rara a mulher que não fosse Maria. Viesse antes – Maria Fernanda, ou depois – Ana Maria, a Maria lá estava a marcar presença como se fosse, digamos assim, um adorno. Um adorno para ser usado nos maus momentos. Não conheço nenhuma Maria Fernanda, ou Maria Leonor, ou Maria Margarida a quem não se chame Fernanda, Leonor ou Margarida, mais Guida neste caso. O certo é que nunca ouvi ninguém chamar Maria às pessoas que junto de Maria trazem outro nome.
Agora que ter Maria no nome sempre deu jeito aos educadores…lá isso..
Ana Maria faz isto; Maria Margarida olha aquilo.
Dá jeito, sem dúvida.
É por isso que eu hoje gostaria de revelar aqui, em primeira mão, o verdadeiro nome dos homens da equipa do Sporting Clube de Portugal, aquela que levou ontem um dos maiores bailinhos da história do futebol.
Pois muito bem, todos eles, todos sem excepção, trazem agarrado ao nome que nós, inocentes apoiantes, conhecemos como público, o adereço Coxo. Ele é o Miguel Coxo Veloso; o Paulo Coxo Bento; o Ricardo Coxo Batista; o Helder Coxo Postiga, o João Coxo Moutinho, o Abel Coxo; o Caneira Coxo, este coitado não lhe chegava um, tinha logo de ter dois – Caneira e Coxo. Ele há gente que já nasce com muito azar… e os que não nascem, aqueles que vêm cá parar porque são MUITA BONS, acabam, mais cedo ou mais tarde, por se baptizar também. Veja-se, por exemplo, o Liedson Coxo; o Polga Coxo ou mesmo o Derlei Coxo.
Como diria um familiar meu que já cá não está, mas que acreditou até ao fim:
- São todos uma cambada de Coxos!

terça-feira, 10 de março de 2009

A constância das contradições (não fosse este o blogue das antagonices...)

A vida é uma coisa extraordinária.
Anseio por paz e serenidade quando na verdade me dou bem com o movimento e com os desafios.
Entusiasmo-me quando julgo que me aborreço e aborreço-me muitas vezes quando acredito que me vou entusiasmar.
Tendo a acreditar em realidades que se revelam irreais e duvido de irrealidades que afinal existem.
A vida é uma coisa extraordinária.
Fecho os olhos quando os deveria ter abertos e abro-os muitas vezes quando seria mais sensato mantê-los fechados.
Muitas vezes falo quando deveria estar calada e calo quando é suposto falar.
Mas alegro-me facilmente. Só preciso de tempo para mudar a agulha. As inúmeras frequências por que passo em cada 24 horas, absorvem-me de tal maneira que, entre elas, é necessário que exista um espaço de tempo vazio. O tempo exacto para mudar a agulha.
Há momentos em que sinto, ou pressinto, que algo de importante está para acontecer.
Posso até estar enganada. Ou talvez não.


segunda-feira, 9 de março de 2009

Os Beatos

Beatos são teóricos que sabem quase tudo…em teoria.
Eles existem em todas as vertentes da nossa sociedade. São aqueles que amam os livros e que, por isso, lhes prestam lindíssimas homenagens sob a forma de estantes, poltronas e candeeiros e que, às vezes (alguns, muitas vezes) até os lêem. E são até capazes de decorar certas passagens mais significativas, sem contudo compreenderem como é que uma teoria tão perfeita poderá alguma vez ser posta em prática num mundo tão imperfeito como o nosso.
Os beatos sentem-se amiúde superiores aos demais. A sua extraordinária bagagem de conhecimentos coloca-os muito acima dos restantes mas, como teoricamente sabem que a humildade é uma virtude, esforçam-se bastante por parecer humildes e compreensivos, sobretudo compreensivos. Contudo, a um observador mais atento, não escapa o esforço que fazem para dissimular um certo desprezo pela ignorância.
Os beatos são aqueles que não podem deixar passar uma missa e que batem constantemente com a mão no peito. Que falam com Nosso Senhor – tu cá tu lá. Que sabem exactamente o que Ele quer e o que espera de nós. Sabem o que é o bem e o que é o mal, sem nunca se confundirem. E estão tão firmes nas suas convicções que não hesitam em crucificar seja quem for que não corresponda aos padrões morais vigentes, na religião que defendem, evidentemente.
Os beatos são ainda todos aqueles que se dedicam a desvendar os segredos do Oriente e que de repente acreditam ter descoberto a passagem para “o outro lado” mas que continuam a tratar os desgraçados, cá deste lado, da mesma maneira que tratavam antes, ou pior ainda.
Beatos são todos os teóricos que, ao dedicarem todo o seu tempo a uma aprendizagem teórica, não lhes sobra tempo nenhum para porem em prática tudo o que aprenderam.
Não gosto de beatos. Não tenho paciência para eles. Nem sequer os respeito. E não gosto de beatos porque não gosto de preconceituosos ou, pior ainda, de fundamentalistas. Gentinha limitada e poucochinha, isso sim.

domingo, 8 de março de 2009

Acabei de me despedir do meu irmão.
- Até para o ano – disseram os olhos.
- Até amanhã – gritaram os lábios.

Faz hoje 29 anos

Faz hoje 29 anos que nasceu o meu primeiro filho.
Nasceu às 5 h 25 m da manhã, pelo que, à hora em que escrevo estas palavras, estava eu em trabalho de parto.
Naquela época não eram permitidas visitas ou acompanhantes nos hospitais civis, e ela nasceu na Maternidade Alfredo da Costa.
Assim, vi-me num quarto com mais uma grávida que, por estar em risco, se encontrava ligada a máquinas que eu nunca tinha visto e que a impediam de se movimentar. Gemia; e eu lembro-me de pensar que era suposto ter medo já que alguém mais velho e mais experiente gemia daquela maneira. Não tive. Não tive medo. Confiei e esperei, pacientemente, que o meu rebento chegasse. Na verdade ansiava por conhecê-lo.
Dias antes tinha sonhado que seria uma menina e tinha-lhe dado um nome. Quando as dores de parto começaram lembro-me perfeitamente de ter tido momentos em que a minha certeza de que só poderia ser um rapaz era inabalável. Nasceu uma menina. Uma menina cheia de caracóis que eu reconheci imediatamente e à qual já tinha dado nome.
Nunca me senti sozinha. Nem mesmo quando assim fiquei, meio abandonada, naquele grande hospital. Ela acompanhou-me sempre. Trouxe-me confiança e muita, muita serenidade. Pelo menos até começar a crescer e a pôr à prova a minha maturidade construída, diga-se em abono da verdade, um pouco à pressa.
Há pouco despedi-me dela – até amanhã. O seu carro seguiu o meu até onde foi possível e o meu braço saiu da janela para lhe acenar na bifurcação que nos levou cada uma para o seu lado.
É assim a vida. A testar constantemente a nossa capacidade de adaptação. A nossa capacidade de estar e ser quando é preciso e de nos afastarmos quando tem de ser.
Faz hoje 29 anos que nasceu o meu primeiro filho e parece que foi ontem. Presentes estão todos os cheiros, todos os receios, todas as dores, todos os risos e a extrema alegria e gratidão de quem é mãe pela primeira vez.
Que a minha filha goze sempre de boa saúde; que as suas alegrias sejam incontáveis; que a fortuna a acompanhe sempre e que o amor lhe surja na sua forma mais gloriosa. Que a sua vida seja longa e plena. Que daqui a muitos, muitos anos, todas as suas recordações sejam de alegria para que os seus descendentes se possam maravilhar com elas, mais ainda do que nós hoje nos maravilhámos com as recordações dos seus avós.

sábado, 7 de março de 2009

As perguntas estúpidas que eu, de vez em quando, faço

Sentámo-nos no restaurante. Abrimos o cardápio - Bife de Peru; Bife de Porco; Bife de Vitela.
Não diz – Bife do Lombo; Bife da Vazia; Bife de Alcatra. Não. Bife de Peru; Bife de Porco e Bife de Vitela.
Apetece-me um bife. Geralmente não como carne vermelha. Apetece-me um bife, para variar.
Apetece-me um bife de vaca. Olho para o empregado e pergunto – O bife é tenro?
Ele fixa-me e, com uma convicção inabalável, abana a cabeça.
Incrédula insisto – Não é tenro?!
O rapaz volta a abanar a cabeça – Não, não. O bife é d’hoje.
O meu irmão solta uma gargalhada. O rapaz não compreende. Pede desculpa e diz que vai perguntar à cozinha. O meu irmão não pára de rir.
O bife é d’hoje – exclama ele. – Se é d’hoje não o comas que não presta.
E não parava de rir. Nem ele nem eu.
O rapaz voltou, sorridente e um pouco envergonhado.
- Eu não percebi o que queria dizer – desculpou-se. – O bife é tenro, sim. Não sabia que mole é tenro.
- Mas mole não é tenro - digo eu, sem parar de rir – eu não quero um bife mole, quero um bife tenro.
- É tenro, é tenro.
E não é que até era?! Estava boa a vitela acabadinha de matar!
Lisboa está cheia de vida nocturna. Pelo menos aquela zona do Bairro Alto e do Camões. O largo fervilhava de gente. Entrámos no estacionamento. À nossa frente um senhor introduzia uma nota de vinte euros na máquina. Continuámos a conversa. E parámo-la quando nos apercebemos que haviam já passado alguns minutos sem que o barulho de moedas a cair parasse. Um grupo que estava de saída exclamou – Hum, Jackpot! E as moedas não paravam. O homem já andava de cócoras a apanhar moedas do chão e a murmurar – brincadeira, brincadeira. As mãos carregadas de moedas castanhas – o troco da nota de vinte.
Aprendi que a carne deve ficar pendurada vários dias antes de ser consumida e que é sempre melhor ter dinheiro trocado para pagar o parque de estacionamento.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Toda uma Vida (Ou Quase)

Tenho 50 anos por enquanto, mais dois meses e estou nos 51. Desde os 35 que não tenho patrões. O que equivale a dizer que estou desempregada desde essa altura. Quando, aos 37, fiquei sozinha, decidi voltar a estudar. Consegui entrar numa Universidade pública e regozijei-me. Tratava-se de um sonho antigo, sempre adiado por várias circunstâncias, umas bastante adversas, outras nem tanto.
Ainda assim, com Universidade ou sem Universidade, continuei desempregada. A crise em Portugal dura desde sempre e ninguém aos quarenta anos consegue emprego em lado nenhum. Inventei trabalho. É verdade, o trabalho também se inventa. Inventei trabalho e voltei a estar acompanhada. Lembro-me do sossego que senti nessa altura. Foi um daqueles momentos em que a vida nos deixa respirar. Parecia ter tudo – trabalho, amor e dinheiro.
Mas o amor durou pouco e eu voltei a ficar sozinha. Tinha 45 anos e menos força, pensava eu. O trabalho continuou, como uma luta constante. Um não me vencem. Um hei-de conseguir aguentar o barco. Mas o barco foi-se afundando e eu vi-me na iminência de vender a casa onde vivi a maior parte da minha vida de casada, onde criei os meus filhos.
Assim, aos 49 anos, com a ajuda de um velho amigo, despejei uma casa de três pisos e quase duas décadas de memórias. Uma casa que era lar e local de trabalho. Despejei a minha vida e desfiz-me de quase tudo. Parti para outra, de corpo cansado e coração desfeito, mudei de terra, mudei de vida.
Há cinco meses formei uma empresa. Formei uma empresa em plena crise. Mas eu estou, não estamos todos?, habituada às crises. Formei uma empresa e estou a fazer aquilo que gosto, aquilo que sei. E sei que vai ter sucesso. Sei-o porque eu não sou de desistir.
Recuperei, assim, o trabalho. Quanto ao dinheiro, continua a ser uma luta. Estica-se daqui, encolhe-se dacolá. É prática corrente. Não é novidade para ninguém; ou quase ninguém…
E o amor? Onde anda ele? Perguntar-se-á.
Não anda. Mas andará. A seu tempo, andará. Ou voltará a andar…
Na vida as coisas não acontecem. Somos nós que as fazemos acontecer.
Provavelmente o amor já se cruzou comigo várias vezes e eu não o reconheci. Provavelmente não estava preparada para ele. Temos de estar preparados para as coisas se as quisermos encaixar nas nossas vidas. Para deixar o amor entrar é fundamental uma coisa – saber amar.
Eu ando a aprender. Todos os dias.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O Inverno a dar-nos cabo do corpinho

Não é o Inverno em si, que faz tanta falta como outra estação qualquer.
São estas súbitas mudanças de temperatura. É esta indecisão. Esta mistura que atravessa cada 24 horas e que nos obriga a um esforço suplementar na escolha da roupa.
O que vestir? Será que é caso para se recuperar os abafos mais quentes, ou fingimos que nada disto está a acontecer e arriscamo-nos a ficar de cama com uma amigdalite?, na melhor das hipóteses.
Hoje julguei que levantava vôo em cima do tabuleiro da ponte. Há muito tempo que isso não acontecia.
Cá para mim o Inverno ofendeu-se quando, no outro dia, deixei aqui escrito que estava velho e cansado... e isto é a sua vingança. Servida fria, já se vê.

terça-feira, 3 de março de 2009

A Vida é para Partilhar - Liverpool Station

Haja alegria que a vida é feita de pequenos momentos. Alguns minutos podem transformar um dia inteiro.
Temos estações. Faltam-nos as iniciativas. Aqui fica uma sugestão.


segunda-feira, 2 de março de 2009

Ironias

Lembro-me perfeitamente da dificuldade que tive, nos primeiros anos de escola, para compreender o conceito de infinito. Fazia-me uma confusão tremenda. Era demasiado para mim e para o meu pequeno mundo. Aprendi que os números são infinitos, mas fiquei-me por aí. Os números são infinitos porque nunca mais acabam, e pronto.
Mais tarde, quando me dispus a alargar um pouco mais a minha mente, descobri que dentro de mim coexistiam vários. Descobri a multiplicidade de cada ser na forma como se adapta aos vários papéis que desempenha, na forma como se molda às circunstâncias, na forma como os seus humores se alteram.
Hoje, quando falo com alguém sobre um outro alguém qualquer, sinto muitas vezes que estamos a falar de dois alguéns diferentes. Ao que parece, não existem duas pessoas que vejam uma outra mesma com os mesmos olhos.
Assim, somos múltiplos por dentro, e múltiplos por fora. Poder-se-ía até dizer que somos múltiplos ao quadrado, se é que isso faz algum sentido.
Ora a nossa multiplicidade própria mais a multiplicidade de todos os olhos que nos vêem, faz de cada ser um número tão grande que me atreveria a dizer que, afinal, o infinito habita dentro de cada um de nós.

Uma espécie de amor

Há uma espécie de amor que não sente a lonjura.
O meu irmão chegou ontem e eu tenho a casa cheia de túlipas.
Há uma espécie de amor que nos aproxima tanto que quando finalmente nos vemos é como se nunca nos tivéssemos deixado de ver.
Há uma espécie de amor que não requer a presença ainda que sofra em cada despedida.
Mas eu hoje tenho uma casa cheia de túlipas e, na minha casa, estiveram o meu irmão e o meu sobrinho.
E o meu sobrinho cresceu mas não esqueceu as nossas brincadeiras. Cresceu, do ano passado para este, sem esquecer os nossos rostos, os nossos nomes, o que nos faz rir.
Há uma espécie de amor que a distância não mata. E tê-lo, é maravilhoso.