quarta-feira, 23 de abril de 2014

Este país da Boa-Vontade...

Uma escola de Leça da Palmeira fornece, há 20 anos, voluntários para, na Junta de Freguesia, ajudarem cerca de 80 pessoas por dia a preencher o IRS.

Somos o país do voluntariado – o que só nos ficaria bem, não fossemos também o país dos desempregados e dos mais mal pagos.

O que é que aconteceria se estes voluntários não existissem e estas pessoas – os infoexcluídos que, ao que parece, são ainda muitos -, não entregassem a declaração do imposto por estes motivos? Será que o Fisco os castigava a todos, ou o governo seria obrigado a resolver o problema pagando a quem de direito para os ajudar?

Até que ponto é que esta nossa boa vontade funciona a nosso desfavor? Até que ponto é que estes jovens, sem emprego a maioria, e sem dinheiro, cava a sua própria sepultura com esta predisposição para o voluntariado?

São questões que, ultimamente, me têm assolado bastante, até porque, eu própria sou, de vez em quando – e cada vez menos -, uma voluntária.

É que isto de trabalhar à borla tem duas facetas – a da ajuda a quem verdadeiramente precisa, e a do aproveitamento ilícito de quem não precisa de borlas para nada mas as aproveita para encher, mais ainda, os próprios bolsos. Se calhar convinha começar a separar o trigo do joio. Sempre ouvi dizer que “a quem muito se baixa o cu lhe aparece” e nós somos um povo demasiado habituado a mostrar o dito.


terça-feira, 8 de abril de 2014

E nada de mal me acontecerá

Perco-me na espera de dias melhores que hão de vir na força do calor e da paz que, por andar perdida, tarda em chegar.

Perco-me na esperança de dias melhores que hão de chegar engalanados, garridos, ao som do rufar das peles esticadas dos taróis.

Perco-me na certeza de dias melhores acabados de chegar. Perco-me no seu sabor, não de mel que é espesso, denso, mas de limão doce e fresco, suave, envolto em bolas de sorvete branco enfeitadas com pepitas de chocolate. Perco-me nesses dias mornos, envolta nos teus braços que sei seguros.

E nada de mal me acontecerá. Nunca mais.