terça-feira, 30 de junho de 2009

Pareço um robot


Depois de passar a manhã toda e parte da tarde a entrar e a sair de gabinetes médicos, saí do hospital nesta linda figura.
Para além deste três tenho mais dois iguaizinhos e um mais grosso que dá a volta ao pescoço. Todos ligados a um aparelhómetro preso à cintura que me faz parecer uma grávida tardia.
Que ninguém me diga nada porque posso, a qualquer momento, explodir.
Uma criança já me perguntou se isto parava na pele ou se continuava pele adentro...assim tipo agulhas...



It's all about power

Seja no amor, na vida ou no dinheiro, principalmente no dinheiro, o objectivo é sempre o poder.
Poder para pôr e dispor. Poder para governar. Poder para dominar e, sobretudo, poder para controlar.
Se se pedir a um homem que escolha entre o amor e o poder, ele escolherá, quase invariavelmente, o segundo. Se lhe calhar em sorte o primeiro, tentará exercê-lo aí, seja de que forma for.
O dinheiro começa por ser querido como forma de sustento, depois de qualidade de vida e, podendo já se vê, saltará para um meio para atingir o fim – o poder.
O poder é a maior ilusão do Homem já que não só não serve para nada como, na verdade, não existe. Vai existindo.
Uma vida dedicada ao amor, à compreensão, ao acompanhamento ou à ajuda, marca. Aquela dedicada ao poder esvai-se na hora em que ele se perde e ele pode perder-se em qualquer instante, basta que os submissos acordem e percebam que a força existe dentro de cada um de nós e que cada um de nós é livre de escolher o seu caminho.
O poder só é exercido sobre quem o consente, quem pensa que está dependente, quem tem medo. Vai-se o medo do submetido e vai-se o poder de quem submete. No fim não fica nada a não ser rancor. Ninguém gosta daqueles que exercem ostensivamente o poder porque ninguém gosta de ser vítima de violência e o exercício do poder é sempre uma violência.
Há séculos que os homens andam atrás de uma ilusão. Talvez tenham agora, nestes tempos mais ou menos conturbados, a oportunidade de acordar.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

De vez em quando

sofro de ansiedades.
Já fui pior é certo, mas, ainda assim, de vez em quando sofro disso.
Manifesta-se comummente por uma sensação de perigo eminente à qual se segue um ligeiro desapontamento que culmina na frustração. São ataques que surgem quase sempre na sequência de expectativas logradas e que aliviam quando escrevo.
Parece uma doença mas não é. É apenas uma insegurança, uma incerteza, uma solidão.

domingo, 28 de junho de 2009

A guerrinha dos sexos

Hoje um casal que me é querido zangou-se. Ligaram-me os dois. Primeiro ele, depois ela. Falaram, falaram, falaram. Queixaram-se, queixaram-se, queixaram-se. E disseram os dois praticamente as mesmas coisas. As queixas são as mesmas. A única diferença é que cada um deles sente muito o que o outro faz e pouco aquilo que faz ao outro.
Eu não sou a pessoa indicada para conselhos matrimoniais. Estou sozinha há muito tempo e pelo que vejo, e pelo que vivo, assim ficarei porque entendo que uma alteração dessas tem de ser, necessariamente para colorir a vida e não para a transformar num pequeno inferno. Mas custa-me ver duas pessoas que se amam a zangarem-se por pormenores que não têm importância nenhuma.
O que é que interessa a forma como as coisas se dispõem numa casa? O que é que interessa se este ou aquele objecto está mais ou menos limpo? O que é que interessa se de vez em quando uma peça se parte? Que importância têm as coisas ao lado do amor e do carinho que se tem por quem está connosco? Porque é que insistimos para que o outro seja aquilo que nós achamos que ele deve ser? O que nos leva a exigir algo perto da perfeição? Ou será que aquilo que realmente se exige é que o outro seja um espelho nosso? Que se torne transparente para que não tenhamos de lidar com alguém que vive vê e sente a vida de uma forma diferente da nossa?
No início de uma relação estas questões são de somenos importância. Eles vão aceitando as directivas e elas vão fechando os olhos às tampas das sanitas que ficam abertas. Mas à medida que os anos passam e que o quotidiano passa a ser cada vez mais preenchido com questões desta natureza, a coisa acaba por cansar e azedar.
Porque é que a nossa tolerância diminui exactamente quando era suposto aumentar? Porque ficamos mais velhos? Porque a paciência tem limites?
Mulheres, os homens não querem saber dessas coisas para nada. Não é por mal que não fecham as tampas, que põem as mesas ao contrário, que largam o jornal em qualquer lado. É tão só porque essas coisas para eles não contam, têm outros interesses.
Homens, para as mulheres a ordem das coisas é importante. São elas que cuidam, que limpam, que preservam. As mulheres vivem melhor, são mais felizes, em lugares harmoniosos. Pelo menos a maior parte delas.
Custa alguma coisa ter isso em consideração? Custa alguma coisa fechar os olhos à mesa mal posta? Custa alguma coisa fechar a tampa da sanita?
Se um casal quer ser casal até ao fim tem de aprender a ser tolerante e condescendente. Não há mal nenhum nem na tolerância nem na condescendência, são capacidades que vão muito bem com o amor.

sábado, 27 de junho de 2009

Se não me ponho a pau...

Depois do pão d' alho, da pizza e das profiteroles, sinto-me assim .

Sábados...






Acordei cheia de planos: ir às compras, não tenho nada em casa; ir ao cinema, tenho estes dois para ver e, eventualmente, fazer umas limpezas, a casa bem precisa.
Sentei-me ao computador à procura de outras casas; sentei-me no maple à procura de outros filmes.
O tempo foi passando. Mandei vir uma pizza, uns profiteroles e uns pãezinhos d’alho.
Vou às compras amanhã. Ao cinema também hei-de ir. Provavelmente amanhã...
Daqui já ninguém me tira. Eu sei, eu sei que a preguiça é uma coisa terrível . Mas sabe tão bem , de vez em quando…



A andar, mas devagar...

Tenho uma vizinha que deve ser surda. A televisão dela ouve-se num raio de cem metros quadrados. Vá lá, oitenta.
Só para terem uma ideia, se eu for à varanda não oiço a minha mas oiço a dela, a duas varandas de distância. Não é extraordinário?!
E se juntarmos a isso os carros, os autocarros, as motas, os já bem tocados que saem do café da esquina, os doidos que deambulam pela rua a falar com botões que são com certeza parentes da minha vizinha, os veraneantes noctívagos e mais uns transeuntes ocasionais que gostam de se fazer notar independentemente da hora, digam-me lá como é que eu posso descansar?!
Para cúmulo o banco achou que a casa que eu, com tanto entusiasmo, já imaginava minha, não vale afinal aquilo que custa. Pelo que volta tudo à estaca zero. Ou tento outro banco, outra avaliação, ou procuro outra casa. Entretanto o tempo vai passando e isto não ata nem desata.
Inevitavelmente há alturas em que os remos parecem mais pesados e a água mais densa. Ou são os ventos ou as correntes, ou ambos, que sopram e correm para o lado oposto. Nestes casos o melhor é pousar os remos e deixar-me ir, a ver até onde me levam as ondas. Nalgum porto aportarei. Provavelmente naquele em que é suposto aportar.
Até lá, e como não sei nem posso estar parada, vou tacteando por aí. Pode até ser que um dia destes o vento abrande e eu atine com a direcção da corrente.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dos que nascem e dos que morrem

Foi um dia agitado o dia de ontem. Recheado de acontecimentos antagónicos. Cheguei ao fim do dia, que era já começo deste outro, desorientada como se fica depois de uma volta na montanha russa, sem saber se tinha a cabeça no estômago, o estômago nas costas ou a garganta na barriga.
Felizmente que acabou tudo em bem se não considerarmos, evidentemente, a morte do Rei da Pop. Afinal somos todos humanos, todos nascemos e todos morremos, mesmo que de repente, mesmo que sem avisar, mesmo que sem esperar e isso é o que mais custa.
A notícia apanhou-me, como tudo no dia de ontem, no momento em que me regozijava pelo facto da minha mãe, com quem passei dois pares de horas no hospital, não ter nada de cuidado.
Tal como eu disse – uma montanha russa…
Hoje, quando abri os olhos, a primeira imagem que me veio à cabeça foi a dos dois bebés que nasceram ontem no hospital onde aguardei, ansiosamente, o veredicto sobre o estado de saúde da minha mãe. Passaram por nós, acabadinhos de nascer, enrolados nas suas mantinhas e encostados às mães cansadas.
Todos os dias morrem estranhos, mais-ou-menos-estranhos, absolutamente-nada-estranhos, conhecidos, super-conhecidos e às vezes lá morre um daqueles que todos-sabem-muito-bem-quem-é (foi).
Todos os dias nascem milhares de seres que ninguém conhece, ainda.
Quem sabe se algum deles não virá a ser um Rei de Qualquer Coisa…Quem sabe se ontem, no meio da angústia que a espera traz, não se cruzou comigo um futuro Rei?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Morreu Michael Jackson

Aqui fica a minha homenagem. Que descanse em paz.

À laia de esclarecimento

Eu sei que o amor tem muitas formas, manifesta-se de várias maneiras, é um conjunto de muitas coisas. No entanto não posso deixar de valorizar aquele que considero de todos o mais sublime. E esse, sei-o também, não é perturbador nem doloroso, não provoca angústia ou desespero. Esse é, de todos eles, o que durante mais tempo nos conserva naquilo a que gostamos de chamar – estado de graça.
Esse tipo de amor, que é universal, é um amor que não possui, antes liberta; que não pede, antes dá; que não necessita, porque se basta a si próprio. É um amor que se auto-alimenta e para o qual basta a felicidade de quem se ama, perto ou longe, connosco ou com outrem.
Esse é o tipo de amor que deseja sim, mas deseja o bem alheio, a felicidade alheia, a realização alheia. Esse é o amor que sentimos por aqueles que realmente amamos, como por exemplo, os nossos filhos.
É esse amor maior que eu contraponho àquele outro que dizemos sentir cada vez que nos apaixonamos. Porque, de facto, os estados de paixão nos arrastam muitas vezes para atitudes que pouco ou nada têm a ver com o amor. Que raio de amor é esse que desfaz uma família?! E aquele que persegue o ente que diz amar?! Que raio de amor é esse que nos leva tantas vezes à violência?! Que raio de amor é esse que nos mói de ciúmes por todos e por ninguém?! Que amor é esse que nos impulsiona a prender com braços de polvo aqueles que dizemos amar?!
O “fogo que arde sem se ver” de que fala Camões, não é amor, é paixão. Só a paixão arde assim. Só o desejo extremo aguça a necessidade extrema. Eu já amei assim e sei o quanto dói. Também já descobri o outro, aquele de que falo, e sei o quanto liberta.

Passei a manhã aqui



E o meu pequeno grande carro saiu de lá com o ego completamente restabelecido.

E eu que cheguei a pensar trocá-lo por um outro!!! Nem um reparo! Nem um! É o que faz ser bem tratado.

Do Amor

Poucas palavras têm sido tão faladas, tão discutidas, tão cantadas e choradas como a palavra Amor.
Os Franceses usam-na para tudo. Amam os companheiros e companheiras como amam os pasteis de nata e as bolas de Berlim.
Nós somos um pouco mais comedidos. Adoramos pasteis de nata e gostamos muito dos nossos companheiros e companheiras. Gosto muito de ti, é frase recorrente entre namorados, amantes, maridos ou mulheres. Alguns há que afirmam mesmo, com um ar surpreendido – Eu Gosto Mesmo Muito de Ti! Como se algo de extraordinário estivesse a acontecer. Amo-te já é mais difícil de sair. A não ser que seja em relação a algum filme ou livro que tenham visto – Amei!
Amar, seja quem for ou que for, é um estado de espírito. Quem o encontra e o guarda, sente-o em relação a quase tudo. É um estado de espírito que tem sido, ao longo dos tempos, confundido com paixão, com dependência, com necessidade, com poder, com submissão, com teimosia, com atracção sexual, com disputa, com desafio, com conquista e até com carinho, com amizade, com camaradagem e bom entendimento. Tem sido confundido e continuará a sê-lo quando, na verdade, pouco ou nada tem a ver com tudo isto.
Poucos de nós chegam a perceber, a sentir ou a viver, exactamente, o amor. Madre Teresa de Calcutá, Jesus Cristo, Buda, Santo António, São Francisco e mais uns quantos cujo nome não me vem agora à ideia, souberam exactamente o que é o amor. Os outros não. Nem mesmo Camões que passou a vida a chorar pelas esquinas à pala de paixões inalcançáveis e que por serem isso mesmo, inalcançáveis, o faziam tremer. Assim somos nós. Queremos até termos, depois…nem tanto.
Não significa isto que não tenhamos necessidade de amar e ser amados. Muito pelo contrário, temo-la e de que maneira. Temo-la como quem tem sede no deserto. E como quem tem sede no deserto nos vamos contentando, ou não, com as miragens que ele nos dá.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Irracionalidades

O Verão é para mim a época dos disparates.
Não resisto aos gelados; não resisto aos caracóis; não resisto às cervejas e lá se vai a dieta e lá ganho mais uns quilos precisamente na época em que menos falta fazem.
Ora isto é ou não é irracional?!

E se cuidassem de vossa vidinha, hem?!

De repente o facto de uma pessoa ser ou não fumadora passou a ganhar importância máxima!
Não interessa ser-se honesto, trabalhador, leal, esforçado, determinado, persistente; não interessa ter-se bom coração, ser-se altruísta, vanguardista, elitista ou analista. O que interessa é se se fuma, ou não. Ou não. Principalmente e fundamentalmente – ou não.
Quem fuma é olhado de lado, criticado, excomungado, erradicado e, se possível, expatriado.
Tempos houve em que fumar era chique, dava estilo. Se fosse de cigarrilha então…!
Não estou aqui a defender o uso do tabaco. Tenho perfeita consciência dos seus malefícios. Já deixei de fumar cinco ou seis vezes e já voltei a fumar outras tantas. Não sou uma fumadora inveterada e estou longe de ser profissional. Alterno os meus períodos de fumadora com longos períodos de não fumadora, mas uma coisa é certa, o problema é meu e por muito que certos amigos gostem de mim e me queiram bem, olharem-me com ar de crítica e virem-me com lições de moral…não tenho pachorra. Para já não falar na contraposição desse tipo de atitudes. É que só me dá vontade de, na frente deles, acender mais um…

Da Honra

Eis uma palavra que tem vindo a perder a sua força, se não o seu significado.
Já não se ensina e não se pratica. Deixou de ter importância. Longe vão os tempos em que um Homem se distinguia pela sua honra; em que lutava para a salvar; em que perdê-la era a vergonha máxima. Em certas culturas orientais a honra, uma vez perdida, só era recuperável com a morte.
Reflectindo honestidade, respeito, integridade e justiça o conceito de honra urge ser recuperado. É claro que não ao nível das antigas culturas. É claro que não fará sentido alguém ir ao encontro da morte para salvar a honra. Mas faz todo o sentido que a sua importância seja restabelecida.
Samuel Johnson, no seu Dictionary of The English Language (1755), define-a como “nobreza de alma, magnanimidade ou desprezo à maldade”.
A honra é o sentimento que sobrepõe aos interesses particulares, os colectivos. É o sentimento que nos inspira o olhar para o bem comum, mais do que para o nosso imediato bem.
Mas é sobretudo a prática deste sentido, o da Honra, que nos traz a médio prazo o bem-estar que procuramos.
Bem sei que há muita gente que dorme bem apesar de não a ter. Mas acredito que mais cedo ou mais tarde essa capacidade os abandonará, porque é sempre mais grato fazer o que Deve Ser Feito do que fechar os olhos para satisfazer prazeres mesquinhos e imediatos que de efémeros desvanecer-se-ão.
Existe prazer na abdicação e na dádiva. Até porque é sempre um desafio, e os desafios depois de ganhos são motivo de orgulho.
Cumprir com a palavra dita; respeitar o próximo; ter consciência da importância do bem comum, são valores que não nascem connosco, têm de ser ensinados.
Pensámos que se tinham tornado desnecessários com o surgimento das leis e de quem as fizesse cumprir. Não é verdade. Se no Oeste antigo a sobrevivência dependia, em muitos casos, directamente da honra, nos tempos modernos essa questão não se põe. Contudo, parece-me a mim, que corremos o risco de voltar ao Farwest se continuarmos a ignorar estes valores, fundamentais para a nossa humanização e, principalmente, fundamentais para o nosso relacionamento e para a confiança que precisamos de depositar uns nos outros.
Um Homem sem palavra é muito menos Homem do que os demais.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Das voltas que a vida dá

Às vezes dizemos – passou tanto tempo! Outras – foi mesmo à bocado. Outras ainda – parece que foi ontem!
São situações em que o tempo nem sempre se mede pelo tempo.
Há mais de quarenta anos conheci uma menina. Andámos juntas no 5º ano. Tínhamos, então, dez anos. Gostámos uma da outra. Éramos amigas do peito. Identificávamo-nos. Procuravámo-nos porque nos sentíamos bem uma ao pé da outra.
No final desse ano os pais dela mudaram-se para uma cidade relativamente longe da minha. Ficámos tristes e passámos a escrevermo-nos. Trocámos fotografias e fomo-nos afastando. Quase sem darmos por isso perdemo-nos de vista.
Eu tenho por hábito, sempre que mudo de casa, fazer limpeza à tralha que gosto de acumular ao longo dos anos. Deito sempre muita coisa fora, coisas que, pelo menos naquele momento, me parecem supérfluas e de somenos importância. Duas pequenas caixas ficam sempre. São caixas que me têm acompanhado, que viajam comigo desde que saí de casa dos meus pais. Numa dessas caixas estão as cartas da C.
Não há muito tempo estive de volta delas a pensar no que seria feito dessa minha pequena amiga. Pensei que provavelmente não nos voltaríamos a ver, ou caso nos encontrássemos nos encontraríamos estranhas.
Há coisa de um mês, talvez nem tanto, na sequência de um contacto profissional, recebi um telefonema resposta e…lá estava ela, do outro lado da linha, reconhecendo-me. Tenho muitas saudades tuas, não te vejo há uns dias, brincou.
Hoje finalmente encontrámo-nos. Almoçámos juntas e pusemos a escrita em dia.
Não nos estranhámos. Estamos na mesma, eu e ela. Tal e qual como quando tínhamos dez anos. O tempo não passou por nós!
E eu hoje sinto-me mais rica.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Deixem os putos em paz!

Há alguma coisa que justifique que uma criança que acabou a terceira classe, que até foi um bom aluno, entre de férias com um batalhão de TPCs?! Que veja os outros a brincar e que se sinta pressionado pela obrigação de “despachar” uma quantidade estúpida de deveres?! Não estaremos nós a transmitir o nosso stress a crianças que ainda agora começaram?, que são, e devem ser, crianças?, que precisam de brincar e que têm pela frente uma quantidade de anos de escola?!
Isto não é novo. Já no tempo dos meus filhos as professoras primárias se despediam deles com um batalhão de coisas para fazerem durante as férias. Os meus nunca as fizeram. Eu não deixei. Mais, disse-o claramente às respectivas professoras – os meus filhos estão de férias, escusa de lhes mandar trabalhos para casa porque eles não os vão fazer.
Nunca chumbaram.
Às vezes tenho a sensação que a angústia de ser adulto é tão grande que secretamente invejamos a liberdade infantil e em prol disso não suportamos que sejam crianças, livres e despreocupadas como devem ser as crianças.
Ou será que há certos professores que querem aproveitar o tempo que não é deles para recuperarem algum tempo perdido durante o ano lectivo?! Não há dias suficientes, horas suficientes, para ensinar o que é preciso?! Ou não saberão eles que quando as coisas ficam bem ensinadas não se esquecem ou facilmente se recordam sem ser necessário castigar quem não merece?! Sim, porque sabe a castigo terminar um ano em que se trabalhou e não ter direito a não pensar!

É Segunda-Feira! Let's Start The Dance...

Das intenções

A intenção conta. Pelo menos, para mim, conta. Não me venham cá com histórias tipo, de boas intenções está o inferno cheio.
É certo que o resultado é mais forte, pesa mais, do que a intenção. Pelo menos no imediato. Mas de que me vale a mim que um gajo me proporcione uma noite, digamos que muito simpática, que me leve a jantar a um lugar fenomenal, que me mostre coisas que eu nunca vi se, na verdade, a intenção dele é só uma e eu, por muito que ele disfarce, a sinto?!
De que me vale que alguém me trate nas palmas das mãos, que me olhe nos olhos e me diga que me adora se, na verdade, o que lhe interessa mesmo é o recheio da minha carteira e eu até sei disso?!
O que é que me interessa que alguém me chame amiga a toda a hora, que me fale com respeito, que me abrace e confie se, na verdade, isso acaba no momento em que consegue o que quer e eu até pressenti que seria assim?!
O que é que me interessa que alguém me salve a vida quando, na verdade, a sua intenção era matar-me?!
Pois eu digo-vos que não me interessa nada. Não me vale de nada. Mesmo.
Eu sinto e pressinto as intenções que subjazem nos actos. Ou porque já conheci muita gente, ou porque já cá ando há tempo suficiente, ou porque, na verdade, e é nisto que acredito, todos nós sentimos e pressentimos. Só fingimos que não. Viramos a cara. Porque o resultado, o tal que é imediato, até nem é mau de todo.
E assim vamos adiando a nossa vida, porque, cada vez que deixamos que as intenções se escondam atrás de actos que não as corroboram, estamos a adiar a vida. A nossa e a dos mal-intencionados.

domingo, 21 de junho de 2009

Equilíbrio, precisa-se

Uma das coisas fundamentais na escolha de um companheiro é, na minha opinião, o respeito que ele nos inspira. Seja pelo que é, seja pelo que sabe ou pelo que faz, o respeito é fundamental. Quanto maior for o respeito, maior a admiração e maior a probabilidade de nos apaixonarmos.
Uma outra coisa, não menos importante, é a possibilidade de nos conhecermos através dele.
E, a não ser que a nossa auto-estima ande de rastos, só é possível reconhecermo-nos através de alguém que respeitemos.
Assim, o encantamento está, irremediavelmente, ligado à admiração.
A dificuldade reside precisamente aí. Na incapacidade de admirar o outro. Gostava de poder dizer que essa incapacidade pode estar aliada à incapacidade de nos admirarmos a nós mesmos, mas não acredito muito nisso. Antes pelo contrário, quando não nos valorizamos tendemos a sobrevalorizar o outro. Assim, essa incapacidade deverá estar numa sobrevalorização de nós mesmos que nos leva a sentir que ninguém nos chega aos calcanhares.
A minha vida tem alternado entre uma coisa e outra com alguns, raros, momentos de equilíbrio. Durante uma quantidade de anos, sem saber muito bem se valia alguma coisa, achava sempre que quem estava comigo sabia mais, era mais inteligente, mais esperto, mais capaz. Achava sempre que não tinha nada para ensinar e tudo para aprender.
Depois, à medida que me fui conhecendo melhor, a mim e aos outros, compreendi o erro em que tinha caído e passei a achar que, afinal, em muitos aspectos, eu tinha mais para ensinar ao outro do que para aprender dele. Assim fui andando, de desilusão em desilusão, até que cheguei ao ponto de acreditar que a maior parte dos candidatos sabe muito pouco da vida, o que me chateia já que cada vez é mais difícil encontrar alguém que tenha alguma coisa para me ensinar.
O que equivale a dizer que cada vez é mais difícil encontrar alguém que me surpreenda. O que equivale a dizer que as hipóteses de me apaixonar são cada vez mais reduzidas.
O que, se calhar, equivale a dizer que tenho a mania que sou boa!
Portanto passei, quase directamente, de insecto para super-homem!
Está na altura de voltar a encontrar um desses raros momentos de equilíbrio e aprender a ficar por lá.

sábado, 20 de junho de 2009

Amores incondicionais

Não há nada, nada na vida, que nos fique mais gravado do que o amor que vivemos, que trocamos, que sentimos ou que sofremos, enquanto por cá andamos.
Seja a outro ser humano, seja a um animal ou, até, a uma planta. A relação que estabelecemos com aquele ser particular marca-nos para sempre.
Um membro chegado da nossa família não serve. Tem de ser alguém de fora, um estranho, uma visita, alguém que gentilmente acolhemos, que não faz parte do círculo familiar mas que passa a fazer, como um cão.
Eu tive vários. Quando o primeiro entrou pela porta dos meus pais eu já não era criança, o meu irmão sim. Talvez por isso, ou pelo amor que ele sempre nutriu pelos bichos, apegou-se mais a ele do que eu. Depois veio outro, e outro. Chegaram a coabitar três e mais um gato e pássaros, e ratos da índia e sei lá que mais. Houve uma altura em que a casa parecia um jardim zoológico.
Talvez por isso, pela abundância, eu nunca tenha estabelecido, com nenhum deles, uma verdadeira relação de amizade. Por isso, ou pela consciência de que eu ficaria por cá muito depois deles.
Há duas coisas que nos inibem a dádiva e a dedicação – a abundância de objectos e o medo de os perder.
Hoje, quando vejo certos filmes ou leio certos livros, tenho pena que tenha sido assim. Sinto a falta do amigo que não cheguei a ter por não ter sido.
Há coisas que são, de certa forma, irrecuperáveis no tempo. Ainda que em qualquer altura possamos fazer qualquer coisa, é inegável que há idades mais certas do que outras, mais próprias para receber determinadas vivências.
Quando penso nos meus cães e nos momentos que passei com eles lamento não lhes ter sido mais próxima.
O último que fez parte da minha família partiu não há muito tempo. Foi a paixão da minha filha e compreendo-a hoje mais do que nunca. Hoje…um pouco tarde de mais. Ele foi um amigo dedicado. Ele foi o amigo dedicado. Que me fez companhia em muitas horas de tristeza e de solidão. Costumava apoiar o focinho na minha perna e olhar-me com uns olhos ternos ternos, sem pedir nada, sem esperar nada.
Tenho saudades dele e lembro-o mais do que pensei lembrar. Foi um bom cão. Eu fui uma dona sofrível. Valeu-lhe a minha filha que o amou incondicionalmente, como um bom cão merece ser amado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Momentos

Sempre que ao fim da tarde entro na casa dos meus pais, mesmo que seja de fugida, acabo sentada no maple da sala, entre os dois.
Ficamos ali; trocamos meia dúzia de palavras, às vezes mais, mas acabamos sempre por ficar ali, os três , a olhar o écran da televisão que está, a esta hora, invariavelmente acesa.
Às vezes comentamos esta ou aquela cena, desta ou daquela novela. O meu pai não dispensa as novelas. Vive-as alegremente; ri-se delas; distrai-se da vida.
Por vezes acontece não falarmos durante uns minutos. E é nesse silêncio que a paz mais se instala. É um aconchego, uma proteção, um abandono tal que os meus olhos ameaçam fechar, o meu corpo tende ao abandono e toda eu sossego na certeza de que nada, mas mesmo nada, me pode atingir enquanto os tiver, assim, a zelar por mim.

Ups...

Meti água, pois que meti.
É verdade que o concerto que os Genesis deram em Cascais, em 1975 , foi o concerto da minha vida. É verdade que o álbum que foi apresentado nesse concerto foi The Lamb Lies Down On Broadway.
Mas este tema que hoje aqui postei e que não só vai ao encontro do meu estado de espírito como é um tema de que gosto muito (mas eu sou suspeita porque gosto de Genesis, principalmente do que eles eram no início), este tema, como eu dizia, pertence a um outro álbum - Selling England By The Pound. Tão bom ou melhor do que o primeiro. Sorryyyyyy...

É hoje!

É hoje que o avaliador do banco vai ver a casa que quero e dizer de sua justiça...
Rezem por mim que eu já me vejo lá a morar.





Pois que é o Peter Gabriel, sim senhores. Os Génesis, no concerto da minha vida - The Lamb Lies Down On Broadway.
Enjoy it.

A importância das actualizações

Há cerca de dois ou três meses passou-me pela cabeça voltar para a Faculdade. Dava-me jeito uma licenciatura na área da educação. Afinal de contas é a área em que mais tenho trabalhado nos últimos quinze anos, apesar de não prescindir das revisões. Sem elas sentir-me-ia incompleta. Sou uma apaixonada por textos, mas sou também uma apaixonada pela cultura. Gosto de a dar e de a receber.
Com esta vontade a querer sair e o meu filho a dizer – gabo-te a paciência, atirei-me ao computador em busca de algo que me dissesse alguma coisa. Encontrei uma licenciatura em Ciências da Educação na Universidade de Lisboa, a clássica. Vai de ligar para lá – ah e tal, já passaram muitos anos…tem de passar por um processo de selecção. E lá fui eu para o processo de selecção. Um exame de três horas para responder a três questões, uma entrevista posterior para o caso de passar no dito.
Fiz o exame. Eu e mais cinquenta mil… enfim, éramos muitos. Uns para o curso que eu quero, outros para Psicologia. A maioria para Psicologia.
Hoje (que é já ontem), estava eu descansada à espera que o mecânico me substituísse mais uma peça no meu pobre carro quando tocou o telefone. Então não vem?, perguntava o senhor do outro lado. Mas não vou onde?! Tinha uma entrevista marcada para as 9.30 h, não viu o site? Eu não! Estava convencida que me avisavam e que os resultados só sairiam no final deste mês.
Olhe que não costumamos fazer isto. Não telefonamos para ninguém, mas teve uma boa nota, não quer vir já?
Pois que fui. Não tive nada uma boa nota! Tive um cocó de uma nota! Os outros é que tiveram notas de m… mas para quem não teve tempo para grandes preparações; para quem não fazia um exame há séculos, até que não me saí nada mal. Só um terço dos candidatos é que passou à fase seguinte. Até que fiquei orgulhosa de mim. E a entrevista correu bem, pelo que estou prestes a meter-me em mais trabalhos.
O meu filho só diz – gabo-te a paciência! Mas isso é porque ainda não compreendeu a importância das actualizações…

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Gosto mesmo disto!

Do sexo

O sexo é, de todas as nossas funções vitais, a mais complicada e traumatizante.
Vê-lo apenas como uma função vital capaz de nos melhorar consideravelmente a qualidade de vida, é ainda, atrevo-me a dizer, uma meta a atingir. E, quando digo – a atingir, nem sequer estou segura de que deva ser atingida já que, para tal, será necessário desligá-lo irremediavelmente do amor e sexo sem amor é algo para o qual ninguém está preparado. Nem mesmo aqueles que dizem que estão. Nem mesmo aqueles que fazem dele um hobby ou um desporto, já que quando, por qualquer distracção, o fazem por amor e com amor, dificilmente voltarão a tirar dele o mesmo partido que tiravam antes.
O sexo e a forma como cada um o vive e vê, continua a ser um enigma, um pequeno tabu, uma complicação. Principalmente para quem partilha, diariamente, a sua vida com um outro.
Primeiro porque aqueles que vivem sozinhos têm uma maior liberdade para o viver conforme lhes der na real gana. Segundo porque é muito difícil encontrarmos alguém que tenha o mesmo ritmo que nós. Não creio sequer que haja dois ritmos iguais, pelo que teremos de nos contentar com o mais aproximado que encontrarmos e ir adaptando as diferentes vontades ao longo dos anos.
O sexo é tão capaz de nos juntar como de nos separar, na hora. Assim, sem mais nem menos. E de pouco serve lutarmos contra isso porque, das duas uma, ou nos resignamos ao que temos ou mascaramos o nosso comportamento, mentindo e enganando.
Pode ser que um dia estejamos preparados para nos abrirmos verdadeiramente com quem vive connosco, mas a minha experiência diz-me que, no momento em que os actos se transformam em palavras, a coisa arrefece de tal maneira que dificilmente voltará a aquecer.
Falar abertamente sobre o sexo, o nosso sexo, o nosso comportamento e as nossas vontades sexuais, deixa-nos, às vezes a nós, muitas vezes aos outros, com um aperto no estômago e um nó na garganta.
Atrevo-me a dizer que o nosso conhecimento sobre o assunto está a léguas de ser satisfatório. Não nos conhecemos uns aos outros e, ao pormos no nosso desempenho sexual a prova do nosso amor ou do nosso interesse estamos a pressionarmo-nos e a pressionar o outro. E sexo sob pressão, não dá. É um vírus que mina a relação até a matar. Por isto anda aí muito casal que já morreu e que só existe na esperança de ressuscitar. Alguns até pode ser que consigam. A maioria vai-se arrastando à força de balões de oxigénio esperando que a idade lhes tire a vontade. Mal sabem eles que nenhuma idade, por si só, o faz.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Se fosse hoje...

não tinha comprado esta casa; não tinha casado com esta pessoa; não tinha aceitado este emprego…não tinha feito assim; não tinha feito assado..
É claro que ninguém pode desfazer o que está feito! Mas pode mudar, caramba! Se não gosta da casa – mude-se; se não está bem casado – descase-se; se o emprego não serve – procure-se outro. Passar a vida a chorar o que se devia ter feito e não fez, é que não! Se não fez, faça agora.
O que é que nos diz que temos, em determinada altura da nossa vida, de decidir aquilo que ela vai ser até ao fim?! Nós nem sabemos quando é que será o fim! E depois o que é que, num mundo em permanente mudança, nos leva a pensar que as decisões são imutáveis?! Não andamos nós permanentemente à procura do nosso caminho? É que se o soubéssemos de antemão isto não dava trabalho nenhum! O gozo está, precisamente, na busca, na procura constante, na mudança.
Eu sei, eu sei que já disse aqui várias vezes que as mudanças me causam stress. Se calhar causam stress a toda a gente. Mas o facto é que também são o sal da vida. Muito mais stress me causa ficar sentada no mesmo sítio quando me doem os rins p’ra caraças!
Sabem porque é que a minha vida está sempre a mudar? Porque eu adoeço. Isso mesmo, adoeço. Literalmente. Sempre que me encontro numa situação que contrarie aquilo que sou. Sempre que me encontro numa situação de “sacrifício”, adoeço. Para mim os sacrifícios têm de ter um objectivo maior. O seu resultado tem de ser muito mais importante do que aquilo por que tenho de passar. Fixada no objectivo, o caminho deixa de ser penoso e a paciência deixa de ter limites, porque é aquilo que eu quero.
Sacrificar-me em prol de algo que até não me interessa muito ou que, na verdade, não me aquece nem me arrefece, não faz sentido nenhum.
Outra coisa que as pessoas têm um bocado a mania de dizer é que se sacrificam por outros. Seja pelos filhos, seja pelos pais, seja pelos companheiros. Ora isso é uma treta desgraçada, primeiro porque, na maior parte das vezes, ninguém lhes pediu nada. E depois porque é o primeiro passo para começarem a cobrar favores a quem nada lhes pediu.
Deixem-se mas é de sacrifícios, percam o medo e andem para a frente. Ou para o lado, ou para trás. Olhem, andem para onde quiserem porque, na verdade, as possibilidades são sempre maiores do que aquilo que, muitas vezes, nos querem fazer querer. Mas andem! Não fiquem parados! Parar é morrer.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Nunca mais é sábado!...

Faz hoje quinze dias que entreguei ao banco a papelada toda para se poder fazer a avaliação da casa que quero comprar. Isto agora é uma questão de dois ou três dias, disseram eles. Pois, já faz duas semanas e...nada. Ah e tal...os feriados...as férias dos engenheiros...atrasou tudo.
Atrasou, não! Parou! Dois feriados a meio de uma semana e o país parou!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A saga da lente perdida

Lembram-se de ter dito, na passada quarta-feira, que tinha perdido outra lente e que esperava que o olho a expelisse como fez com a primeira?
Pois bem, não expeliu! Não expeliu e eu fiz trinta por uma linha para a tirar cá de dentro.
Comecei por o inundar de soro. Como não obtive nenhum resultado, lavei-o com água da torneira. Vasculhei-o com o dedo como pude e, em desespero de causa, deixei-o aberto dentro de uma bacia com água. Nada!
Convenci-me que, afinal, não estava lá lente nenhuma. Procurei-a por todo o lado - no chão; em cima da bancada; dentro da gaveta...nada!
Se cá estiver, o organismo há-de deitá-la fora - pensei eu na minha boa fé.
Entretanto, no meio de tanto "meximento" o olho inflamou. As dores não passavam. Olhar para a esquerda era mentira!
Passei a acreditar que tinha arranjado para aqui uma espécie de conjuntivite. Comecei a pôr pomada, de manhã e à noite. Nada. As dores lá estavam. Miudinhas, incomodativas. A dada altura até já o outro olho andava vermelho e inflamado...levou também com pomada e soro para não se armar em parvo.
Como nada resultava resolvi passar pela farmácia para chorar a minha desgraça e pedir uma pomada mais adequada à conjuntivite que acreditava ter. A farmacêutica olhou-me nos olhos e sentenciou:
- A senhora não me parece estar com conjuntivite nenhuma. Deve ir ao optometrista porque pode estar é com uma lesão na córnea.
Fiz o que ela mandou.
Pois não é que a filha da mãe se tinha alojado, des-confortavelmente (o des- é para mim, o resto é para ela), no meu olho esquerdo onde, enrolada, dormia há dias!
O técnico que ma tirou com uma pequena varinha disse que isto só não acontece a quem não usa lentes. Não sei se o fez por ser verdade ou se foi para me consolar...
Se as estúpidas das lentes pensam que me desencorajam, estão muito enganadas. Amanhã já meto outras que é por causa das tosses.

Gente cheia de mania...

Sempre há gente sem um pingo de educação! Educação, sensibilidade, bom-senso…enfim, todas aquelas coisas que são imprescindíveis para que haja harmonia.
Convidaram-me para um evento social, daqueles onde qualquer pessoa pode ir mas em que certas pessoas, neste caso os convidados, ficam, digamos assim, mais bem instalados e desfrutam de certas regalias.
Os lugares estavam assinalados com os nomes dos futuros ocupantes (já vão perceber porque é que esta informação é importante). Indicaram-me os meus e nós sentámo-nos. Pouco tempo depois chegaram os ocupantes dos lugares atrás de nós. Um grupo de cinco pessoas encabeçadas por um senhor que é dono de vinte e tal revistas que circulam pelas nossas bancas, na sua maioria do género “cor-de-rosa”.
Pois a primeira coisa que este senhor fez foi agarrar no telemóvel e, alto e bom som, dizer ao seu interlocutor – Chegámos atrasados pá! Puseram-nos aqui no galinheiro!... Pois é! Como chegámos atrasados mandaram-nos para o galinheiro! A gente já vai ter com vocês aí à tenda.
Quando, no final do evento, se levantaram, reparei que o nome do senhor figurava, em letras garrafais, em todas as cadeiras ocupadas pelo grupo.

domingo, 14 de junho de 2009

Não somos todos iguais

Não temos todos as mesmas capacidades, nem as mesmas vontades, nem as mesmas apetências. Não gostamos todos das mesmas coisas, embora me pareça que andamos todos, mais ou menos, à procura do mesmo – ser felizes.
A questão não está nas igualdades ou nas diferenças que transportamos à nascença. A questão está nos direitos com que nascemos e, esses, deveriam ser todos iguais.
Nascemos todos debaixo do mesmo Sol, para habitar o mesmo planeta o que nos deveria dar, a todos, o direito às mesmas oportunidades. As nossas diferenças residem, basicamente, na forma como as aproveitamos e é aí, e só aí, que a selecção, se assim se lhe pode chamar, deveria ser feita.
Reconhecer o esforço de cada um é um direito que considero básico.
Dar oportunidade para que todos possam lutar pelo reconhecimento, é um direito que deveria assistir a todo e qualquer ser humano.
Há direitos que nos assistem só pelo facto de termos nascido. Os outros conquistam-se, ou não.
Quanto aos deveres, esses crescem connosco e vão-se adaptando à idade de cada um.
Tudo isto me parece básico. Se o escrevo aqui é em resposta a um comentário que me foi deixado num post recente em que “brinquei” um pouco com a distribuição da riqueza a propósito da quantia exorbitante que circulou à pala de um jogador de futebol.
Se chegámos ao ponto em que as diferenças se enraizaram, fadando assim todos os descendentes daqueles que aproveitaram menos bem as oportunidades que lhes foram dadas, não sei, mas é algo em que não acredito, porque me parece que, ao longo da nossa História, sempre houve quem gostasse de subjugar e de tirar para si um pouco mais.
Garantir a igualdade de oportunidades é o dever de toda a sociedade civilizada e é dessa forma que eu considero a igualdade.
À partida, que é como quem diz, à nascença, somos, ou deveríamos ser, todos iguais.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Para quem não teve oportunidade de ouvir o discurso a que fiz referência aqui, siga este link que vale a pena.

Cristiano Ronaldo

Noventa e três milhões de euros é obra!
A primeira coisa que me veio à cabeça foi – O que sentirão os Espanhóis? - Não me refiro aos ferrenhos do Real Madrid. Refiro-me assim ao povo em geral. Aquele que está a passar mal, ou menos bem, nesta época que se diz de recessão! O que sentirão eles? Sentir-se-ão traídos?, enganados?, sentirão falta de solidariedade da parte de quem tem muito?
E foi neste turbilhão de emoções que me veio à ideia, a mim que pouco ou nada percebo de economia – Então e o euromilhões?! O euromilhões põe, semanalmente, na mão de uma pessoa ou, vá lá, de um grupo restrito, quantias que ultrapassam esta. Nesta ordem de ideias pensei que, então, o que fazia sentido, era que todo esse dinheiro que circula a rodos por aí, interrompesse por algum tempo o seu percurso normal e fosse desviado para colmatar as carências de todos aqueles que, sem culpa nenhuma, se têm visto privados de alguma dignidade e, já agora, distribuía-se também pelos desgraçados que passam fome todos os dias. Os ricos deixavam de ser ricos e os agora pobres deixariam de o ser. Ficávamos todos remediados...
Agora, como é que se desenvolve a economia num mundo de gente remediada? Isso eu já não sei dizer porque, como é óbvio, não é a minha área. O que sei e sempre ouvi dizer é que dinheiro puxa dinheiro e que para a economia progredir é necessário que quantias deste calibre circulem por aí. Se isto é dito para conveniência de alguns ou se é verdade…só quem lá anda é que poderá responder. Contudo, na minha pouco modesta ignorância, não posso deixar de pensar que poderia ser uma boa solução se os mais ricos estivessem dispostos a dividir a sua riqueza, que é como quem diz, a prescindir dela. Porque uma coisa é certa, se estivéssemos todos em pé de igualdade, todos teríamos condições para trabalhar e para desenvolver fosse o que fosse. Aí, recomeçaríamos até voltar a chegar ao ponto em que estamos agora, só que um bocadinho mais sábios.
O problema é que, na verdade, nós não sabemos se somos ou não todos iguais…

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Raios os partam!

Ó senhores condutores das camionetas da TST, é preciso andarem à velocidade que andam numa rua que passa no meio de uma população num percurso que, no máximo dos máximos, demora 10 minutos?! É?! Não é pois não? Então para que é tanta pressa, hã, suas bestas?!

Das tradições e afins

Quando me divorciei, o meu ex-marido começou a enviar-me, no dia do meu aniversário, uma cesta de flores. Não sei se para me agradecer a liberdade reconquistada, se para me voltar a cativar ou se para me dizer que, apesar dos pesares, eu poderia continuar a contar com ele. Provavelmente foi para se redimir (ahahahahahah).
Este ano, porém, telefonou para me dar os parabéns e dizer-me que não haveria flores porque os tempos estavam maus e por uma outra razão qualquer que não retive. Só ele saberá o que o levou a suspender uma coisa que estava prestes a entrar no campo da tradição, mas eu concordei dizendo-lhe aquilo que penso – quando os actos se transformam em hábitos perdem parte do seu significado.
O mesmo se passa com certas tradições. Hoje, por exemplo, é dia de Corpo de Deus. Eu atrevo-me a dizer que, para a maior parte das pessoas, hoje é feriado e…aleluia!
Mesmo aqueles que até sabem que é Dia de Corpo de Deus, não fazem a mínima ideia do que isso significa. Não sabem porque é que este dia existe nem para que serve. Eu não sabia.
Fica aqui registado que este dia se celebra, em Portugal, desde os finais do séc. XIII. É um feriado móvel porque está ligado à Páscoa, sendo que se celebra no 60º dia a seguir a esta e que tem de ser a uma 5ª Feira para se unir à última ceia celebrada na 5ª Feira Santa. Quem teve esta brilhante ideia foram os Belgas, em 1246.
O que se celebra é o corpo e o sangue de Cristo. Para os devotos do catolicismo é claro que este dia é especial, para os outros, nem tanto…
D. João I, no início do séc. XV, celebrava-o com uma procissão solene. Ao que parece isso também acabou.
É como eu digo – quando os actos se transformam em hábitos perdem parte do seu significado e, às vezes, até caem no esquecimento – que dia é hoje mesmo?! E o que é que isso quer dizer?!
Enfim… ficam os feriados, que só por si já são motivo de festejo…

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Clap Clap Clap

Um grande Ámen para o discurso de António Barreto na sessão solene das comemorações do 10 de Junho, em Santarém.
Gosto mesmo deste homem!

É assim...o que é que se há-de fazer?

E perdi mais uma lente. Dentro do olho! Gostava que alguém me explicasse este fenómeno – os meus olhos, literalmente, comem as lentes. Para depois as cuspirem, pelo menos é o que espero que volte a acontecer.
E foi nessa esperança que liguei o televisor e me pespeguei a ver o desfile militar que, este ano, foi em Santarém. E comovi-me. Pois que me comovi! O que é que posso dizer mais?! Que, apesar dos pesares, sou uma patriota inveterada. Que, apesar dos protestos, carrego, irremediavelmente, Portugal no coração e que aqueles militares todos e mais o hino, e as tropas especiais, e a marinha, e a aviação, e os miúdos dos colégios e as polícias… enfim, trouxeram-me lágrimas de uma comoção onde se esconde, tímido, um orgulho irremediável.
Pois, mesmo assim, a estúpida da lente não se manifestou e eu já estou na dúvida se anda perdida dentro do olho ou se caiu sem que desse por ela. Porque, na verdade, me custa a acreditar que tenha desaparecido cá dentro, apesar das picadas que me dizem que anda aqui um corpo estranho…

Dia de Portugal

Hoje é dia de Portugal, de Camões e das Comunidades (quais comunidades?!). O Portugal e o Camões eu percebo. Agora as Comunidades…perdoem-me a ignorância, mas não sei a que se referem. Será às comunidades de emigrantes que lutam pela vidinha por este mundo fora e mais além? Aqueles que fazem das tripas coração e cujo sonho, mais ou menos pronunciado, é voltar para este cantinho assim que puderem garantir o que nunca lhes foi garantido aqui? Os mesmos que todos os anos, às vezes mais do que uma vez, vêm cá gastar o que ganharam lá?
É que se forem esses não creio que lhes deva chegar um dia de homenagem…
Por outro lado e pensando bem, se calhar também a nós, que ainda cá estamos a ver se conseguimos fazer alguma coisita por isto, não nos devia chegar…
Bem vistas as coisas o único que se deve regozijar por este dia de festa é o Camões.
Bem… e eu. Afinal de contas é feriado…

Donald Fauntleroy Duck




Os anos parecem não passar por ele, mas já lá cantam 75 primaveras.


Ao contrário de todos nós, a vida deste Pato não muda: a namorada é a mesma, a roupa também; os sobrinhos não crescem e, apesar da fama conquistada em 200 filmes, 1Óscar e mais 11 nomeações, não deixa de viver à sombra do tio que nada em dinheiro. Se calhar é por isso que anda sempre de mau-humor... Só pode ser por isso! Ele nem sequer é português!...

Parabéns para ele.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Simplicidade

Tem sete anos. É franzino. Baixinho de mais para a idade. Os olhos são muito azuis e o cabelo é tão claro que me faz lembrar aqueles miúdos a quem, no meu tempo de miúda, chamavam “russos de mau pêlo”. Nem o remoinho, mesmo por cima da testa, lhe falta.
- Conheces a Portela? – perguntava-me ele, decidido a que eu “visse” a escola onde tinha andado.
- Sei onde é – respondi.
- Estás a ver esta casa? – continuava ele de mão em concha a bater na mesa. – Viras aqui – e a mão fazia o movimento da viragem. – Aqui há aqueles portões grandes, verdes – as duas mãos ilustraram os portões. – São da escola onde eu andava.
Não pude evitar um sorriso perante a determinação e a confiança com que me mostrava o lugar de onde tinha vindo.
- Depois vais por aqui – e as mãos lá continuavam a explanar no tampo da mesa. – Viras. E estás na minha casa.
Eu acenei e espantei-me! Ele acreditou que eu tinha ficado a saber tudo, tudinho.
É esta a delícia de se ser pequenino.

Eureka!

De repente dei conta que o meu maior problema não é não conseguir o que quero mas não saber, exactamente, o que quero.
De repente percebi que a dificuldade está precisamente aí, na exactidão com que defino o que desejo. Os desejos são, na grande maioria das vezes, demasiado vagos. Quero ser rica; quero ser feliz; quero ser amada; quero amar. Tudo muito vago. Difícil de visualizar. E a visualização é muito importante.
Para além disso, esta vagueação obriga-me a mudar constantemente a agulha. Tão depressa me vejo aqui, como ali. Tão depressa me vejo assim, como assado. Uma chatice tanta imprecisão...
Foi um acontecimento exterior que me levou a pensar nisso. Na verdade é quase sempre um acontecimento exterior que me leva a pensar as coisas.
Estava a ler um e-mail que me enviaram e que, de certa forma, me estava a perturbar sem eu perceber exactamente como ou porquê. Há certos sentimentos que habitam dentro de nós, como a inveja, o desalento ou o medo, que se manifestam disfarçados, na presença de sinais subtis. Vale a pena pegar nesses momentos, por muito duros que sejam, e guardá-los pelo tempo que for preciso para serem interpretados. Pois foi o que fiz. E valeu a pena porque, no meio daquela confusão toda, surgiu-me uma imagem de mim que me acalmou indefinidamente.
Agora sei, exactamente, o que quero. Na verdade, já tenho o que quero. É só uma questão de tempo para o desenvolver. E o quero, é o que sou. Não há nada neste mundo que se compare à paz que nos habita sempre que somos.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Dos mono...

Ultimamente tenho andado bastante monodeísta que é como quem diz, incapaz de pensar em duas ou mais coisas ao mesmo tempo, bem como de ver uma ou mais coisas ao mesmo tempo ou sentir uma ou mais coisas ao mesmo tempo.
Ou é isso, ou cansaço…
É claro que não chega a ser tão mau como a monomania. Essa, sendo uma “mania”, já entra na secção dos delírios, ainda que parcial (o delírio, evidentemente). O que tornaria a coisa bem mais grave. Mas caminho a passos largos para a monoplastia, querendo isto dizer que corro sérios riscos de me tornar primitiva, e para a monossemia, que é a qualidade de certas palavras terem apenas um significado. Reparem que são apenas «certas» palavras, não todas. Podendo, portanto, ser postas de parte aquelas regularmente usadas pelos políticos. Esses de “mono” não percebem nada. São “pluri”. O que é claramente uma vantagem. Não fosse por isso e a maior parte deles estaria hoje bastante triste.
Eu passei o dia a vergastar-me por não ter conseguido ir votar. Mas a culpa não foi minha. Foi do cabrão do monodeísmo…

domingo, 7 de junho de 2009

O impossível não existe.
Existe, apenas, o extremamente difícil.
O resto, é uma questão de tempo.

sábado, 6 de junho de 2009

A lente perdida

Consegui finalmente que o optometrista aceitasse receitar-me lentes de contacto, a despeito de uma certa escassez de lágrimas porque nada é eterno e tudo se acaba, principalmente se o seu uso for mais do isso – abuso.
Assim, logo de manhã, atrasada que estava para um compromisso, pespeguei-me em frente ao grande espelho, de lente orgulhosamente vibrando no dedo médio da minha mão direita. Repuxei a pálpebra inferior e, determinada a não usar os óculos, aproximei a lente que tremia, assustada. Encostei-a ao olho direito. Mas ela teimou em colar-se-me ao dedo. Nova tentativa. Novo falhanço. Depois de várias tentativas falhadas lá consegui que a peste ficasse no lugar.
O olho picava. Não lhe passei cartuxo nenhum. Agarrei na outra lente e coloquei-a, sem dificuldade, na vista esquerda. Mas o direito não parava de picar. Olhei o espelho. Nada. Peguei num frasco de soro e afoguei o idiota.
As picadas não passaram e eu resolvi que o melhor seria tirar a lente. De regresso ao espelho, repuxo a pálpebra e ensaio a retirada. Nada. A lente tinha desaparecido! Olhei em frente e confirmei que, naquele olho, nada existia. O mundo encontrava-se dividido em duas partes,uma mais nítida, a outra nem tanto. Voltei a olhar os dedos, não fosse a desgraçada estar para lá colada. Olhei em volta como se fosse possível encontrar uma cabeça de alfinete num chão cor de chumbo.
Foi então que decidi que a lente se tinha extraviado. Abri nova embalagem e coloquei uma outra. Ajudada pela prática a tarefa não se revelou complicada.
Saí para a rua. Meti-me no carro. A dada altura do percurso fui obrigada a olhar o retrovisor esquerdo. O movimento incomodou-me. Algo não estava bem. Baixei a pala que nos proteje do sol e olhei o pequeno espelho.
A lente perdida lá estava, encolhidita, no canto exterior do olho!

Nem eu me percebo!

Há alguns meses mudou-se, cá para o prédio, um casal de gente jovem.
Puseram-me a cabeça em água. Ele era o home video em altos berros; ele era a aparelhagem; as festas até às tantas da manhã; as gargalhadas a meio da noite… Um desassossego!
Hoje, quando entrei, tinha uma camioneta de mudanças à porta. Na escada cruzei-me com ela de candeeiro na mão. Estão de partida.
Estão de partida! Os estúpidos! Tinham alguma coisa que se ir embora?! Logo agora ,que já me tinha habituado à presença deles!

Fui ao Circo pela "primeira vez"

Hoje descobri que nunca lá tinha ido.
Qualquer comparação com o espectáculo a que acabei de assistir e o circo que sempre conheci, é pura coincidência.
Esta gente não se limitou a fazer acrobacias ou a entreter os espectadores com a saga palhaço-rico/palhaço-pobre. Esta gente levou-me para um mundo de fantasia, transportou-me para o maravilhoso. E é para isso que o Circo serve.
Esta gente mostrou-me, como nenhuma outra Companhia, a beleza da Arte Circense.
Estou feliz.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Só visto...

Saiu daqui, agora mesmo, um menino do 7º ano que quando o chamei à atenção para o facto de um dos números com que estava a trabalhar poder ser um número primo, ele olhou-me espantado e perguntou:
- De quem?!
Claro que lhe respondi, sem hesitar:
-Meu! De quem querias que fosse?!
É importante acrescentar que eu estava a brincar. Mas ele, não.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Verdades

Acabei de ouvir o Presidente da República dizer que é muito escrupuloso no cumprimento da Lei. Nem por um segundo pus em causa a palavra dele.
Eu também sou. Porque é que ele não haveria de ser?!
É sempre mais fácil acreditar naquilo que é verdade para nós mesmos e, pela forma como colocamos constantemente em causa a honestidade dos outros, valerá a pena pensarmos se seremos, ou não, um povo de gente honesta.
Não creio que sejamos. Somos um povo de negociantes pintarolas, sempre prontos a puxar a brasa à nossa sardinha, a vigarizar e a enganar, para ganharmos mais meia dúzia de tostões. Somos um povo onde a corrupção não tem dificuldade nenhuma em singrar e, por isso, partimos do princípio que os nossos governantes são como nós, desonestos. Ora se é nisso que acreditamos, será essa a verdade. Quando votamos tendemos a fazê-lo naqueles com quem melhor nos identificamos.
Vale a pena pensar nisto. E vale a pena pensar também que, se calhar, seria uma boa ideia chamarmos a nós todos os escrúpulos, valores morais e integridade que pudermos, antes de ir até lá, pôr a cruzinha em quem quer que seja. São valores que, em maior ou menor quantidade, mais despertos ou mais moribundos, residem dentro de todos nós. Apelemos a eles. Pode ser que um dia tenhamos governantes que dêm muito mais trabalho a toda a Comunicação Social que se alimenta de escândalos.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Coisas"...

Pois. Não fui a Veneza. Não é Carnaval. E as sombras do dia são bem mais claras do que as da noite. Talvez por isso a solidão se sinta menos. E não é que seja grave. Não é. É antes aquela solidãozinha que, de vez em quando, se instala em seres solitários, como eu.
Depois é a noite. Esta minha “coisa” com a noite. Já pensei em chamar-lhe aversão, mas desisti. Achei demasiado radical. Depois pensei que talvez estivesse, de alguma forma, relacionada com o medo. Aí deixei-me ficar porque não me parece disparatado de todo. Mas, no fundo no fundo, o que se passa é que eu sou uma criatura diurna. Toda a minha natureza está virada para o dia, especialmente para a manhã. Se perco alguma por ter perdido a noite, fico com essa sensação mesmo – de perda. Quando o Sol entra no ocaso entro eu, ou desejo entrar, no acaso dos sonhos. Digamos que, ocasionalmente não entro com ele.
Ontem, ao olhar as fotografias de uma festa onde não estive pensei que, um dia destes, os meus amigos esquecem-se de mim. Todos os sábados tenho para onde ir e nunca vou para lado nenhum. Não à c…que aguente tanta recusa. Começo por decidir que vou. Penso várias vezes nisso durante o dia. Depois vou adiando porque me parece cedo, as festas e os espectáculos são sempre assim um bocadito para o tarde. Deixo-me ficar sentada e, quando chega a hora em que era suposto já lá estar, já não estou. Adormeci ou desinteressei-me. O esforço para sair e lá chegar torna-se impossível e fico a desejar já lá estar sem me ter deslocado.
Muitas vezes ponho-me a imaginar a viagem de volta e os pés, sem eu querer, colam-se-me ao chão.
Enfim, ainda bem que é Verão. Os dias são maiores, as noites muito menos tenebrosas e eu vou começar a sair. Ah pois vou!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

De um momento para o outro

Faz-me confusão quando oiço as pessoas dizer, acerca de qualquer revelação , “foi de um momento para o outro”.
Se ficam à espera de uma decisão, quando a conhecem exclamam – Então só me dizem agora?! Assim, de um momento para o outro?!
Mas como é que as coisas podem ser ditas sem ser de um momento para o outro?! Às prestações? Do género, tome lá estas duas palavras e volte daqui a uma ou duas horas para as que se seguem. A gaguejar?! A gaguejar também dá. Leva-se tanto tempo a acabar a frase que já ninguém pode dizer que a notícia foi dada de um momento para o outro.
Criaturas, não há nada na vida que não seja de um momento para o outro. Esse é o tempo de tudo – um momento. Num momento estamos vivos. Já no outro…não se sabe.
O que pode dar tempo ao tempo é a preparação das coisas, não a sua ocorrência.

Somos aquilo que acreditamos ser

Subtilmente vamo-nos transformando na imagem que vemos no espelho. Não somos nós que nos vemos com os olhos dos outros, são os outros que nos vêem com os nossos olhos.
É preciso muito cuidado com a forma como nos olhamos, com a forma como nos vemos. É preciso cuidado com a imagem que projectamos no espelho. Parece um exercício fácil mas não é. Muitas vezes temos de lutar contra um sem número de vozinhas que nos segredam que não prestamos, que somos uma fraude, que não somos capazes disto ou daquilo, que estamos demasiado velhos, ou que somos demasiado novos, que somos feios, ou que não somos suficientemente bonitos. Enfim, um rol de opiniões que não interessam para nada porque o que na verdade interessa é aquilo em que acreditamos e, isso, com mais ou menos esforço, educa-se. É uma questão de mentalização.
Qualquer um de nós pode ser o que quiser. Basta deixar de dar ouvidos às dúvidas, aos medos e aos outros. Principalmente aos outros. Quer existam fisicamente quer se limitem a ser uma vozinha irritante e redutora a azucrinar-nos a cabeça.
Eu adoptei uma atitude que pretendo impor a todo o momento, esteja onde estiver, e sempre que uma dúvida, um medo ou um idiota qualquer tente abalar a minha estrutura. Ensurdeço, desligo; concentro-me em mim e naquilo que sei que sou, e deixo-me ai ficar até que essa sensação de bem-estar e de confiança deixem de ser sensação e passem a ser eu mesma. Como acredito que é tudo uma questão de treino, há que ser disciplinado e intransigente. Não convém deixar passar nem uma nesguinha de incerteza. Já basta os períodos de terror! Esses sim, dão trabalho com’ó caraças.