domingo, 30 de outubro de 2011

O gigantismo do infinitesimamente pequeno

Ultimamente tudo me entristece. Entranhou-se-me uma mágoa da vida que me afoga devagar em lágrimas que não chego a chorar. Tudo é enorme. E tudo é infinitesimamente insignificante e é essa insignificância que  dói. Essa enormidade de tudo ser, afinal, tão insignificante. E apertam-me as saudades das pessoas, dos abraços, dos beijos, das carícias. Andamos todos tão extravagantemente sozinhos. Fechados nos medos e nas desilusões. Tão extravagantemente desamparados.

sábado, 29 de outubro de 2011

Afinal vivem!

Julgava-os mortos, todos eles:  Inês, Picuinhas, Mariana. Especialmente a Mariana, vítima de preconceitos e medos, se é que não são uma e a mesma coisa, que isto de olhar de frente para certas realidades requer alguma coragem.

Julgava-os mortos mas afinal estão vivos. Aqui. E em todos os pontos de venda destes senhores ou, se não, pelo menos junto à cafetaria do metro do Marquês, onde um amigo teve a gentileza de os fotografar.





"Alguém viu por aí o meu estatuto?"*

Há dias, numa dependência da CGD, enquanto esperava para ser atendida, vi alguém sair de um gabinete posicionado numa zona, digamos assim, mais privada. Convencida que um gabinete é um gabinete, avancei.

Que não, que aquele era para os clientes da Caixa Azul.

E quando quis saber mais sobre esses clientes recebi um daqueles sorrisos cínicos e altivos que só por si nos excluem automaticamente do rol. Ter-me-ia sentido a Julia Roberts em Pretty Woman se fosse americana. Mas como sou portuguesa senti-me uma peça atirada para o molhe. E recuei. Recuei uma série de anos e esse recuo deprimiu-me porque de repente pensei – meu Deus! devagarinho vai tudo voltar ao mesmo! Só os personagens vão mudar!

E imaginei a quantidade de gente que vai andar para aí deprimida porque se há coisa tramada de se perder é o estatuto. 

Pior do que isso, só ver o ar de satisfação de quem não o tinha e passou a ter...eu vi-o, em muitas caras, logo a seguir ao 25 de Abril. 

* Frase proferida pela actriz Florbela Queirós num teatro de revista, de que não me recordo o nome, que esteve em cena no Parque Mayer.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quando a vida é madrasta

Costumo ter sentimentos mistos perante aquelas pessoas, muitíssimo bem informadas, experientes e capazes de classificar, com alguma facilidade, as escolhas alheias.

(Esta frase deveria ter começado com: Acho muita graça. Assim sim, seria coerente – toda ela irónica) Recomeçarei, portanto:

Acho muita graça àquelas pessoas muitíssimo bem informadas, experientes e, por isso, habilitadas a classificar as escolhas alheias. São geralmente pessoas que entraram na vida almofadadas e com a possibilidade de a manter assim até ao momento em que puderam fabricar as suas próprias almofadas.

E acho-lhes graça porque quando penso no assunto o que me vem à ideia é – Quem raio é que, em seu perfeito juízo, faz escolhas erradas?! Não são certas, para quem as faz no momento em que as faz, todas as escolhas? O que pode existir, e existe, é o tipo de pessoa que não escolhe de todo, que se deixa ir na onda. Mas os que escolhem! Quer dizer, convenhamos que seria bastante estranho escolherem o pior!...

O que acontece, mesmo com alguns almofadados, é que as coisas mudam, as circunstâncias mudam, e o que na altura parecia uma boa escolha revela-se, para mal de muitos pecados, um logro.

No entanto, é nos logros que se vê a raça de cada um, não nos êxitos, não nas almofadas. Nos logros. Nas mudanças. Nas escolhas que afinal correram mal. Aí sim, é que nós nos revelamos. Aí, e nos maus momentos alheios. E desses fugimos, quase todos, como o diabo foge da cruz – dão medo. Recordam-nos, constantemente, que a vida pode ser madrasta.  

domingo, 23 de outubro de 2011

O La Féria, o Fado, a História de um Povo e a Moeda

A moeda surgiu na Idade Antiga para facilitar as trocas de produtos já que por vezes vendedor e comprador não estavam de acordo quanto aos valores das respectivas mercadorias. Ela podia, e pode, ser qualquer coisa: conchas; sal; bois; facas; discos de pedra; metais… desde que todos estivessem, estejam, de acordo em relação ao seu valor.

Quanto ao significado muito se tem dito por aí, mas uma coisa é certa – tratando-se de uma invenção do Homem ele pode ser fabricado, reinventado, transformado... O problema reside nas regras que ao longo dos tempos foram envolvendo esta nossa invenção.

Eu pouco ou nada percebo de economia mas recordo-me de ter aprendido há alguns anos que a emissão de moeda estava directamente relacionada com a produção de cada país.

Em determinado momento, que não sei precisar mas que suponho esteja relacionado com a emissão de uma moeda única e com este sonho de uma economia global em que cada país deixa de ser um produtor de bens para passar a desempenhar um determinado papel no conjunto da união a que pertence, sendo que esse papel pode ou não ser o de produtor, a coisa mudou. A emissão de moeda deixou de estar directa, e simplisticamente, relacionada com a produção de bens para se relacionar com os mercados – esses quase-enigmas que lembram os deuses da Antiguidade Clássica – cruéis, impiedosos, habitantes de um Olimpo distante, absolutamente inatingível para os pobres mortais que somos todos nós.

Contudo, apesar de ter mudado, parece-me a mim que a filosofia subjacente se mantém. Isto é, aquilo a que se atribui valor continua a estar relacionado com a produção de bens, sendo que o conceito de bem não se alterou. Não se considera, por exemplo, um bem, um produto exclusivamente cultural, ou um serviço prestado aos cidadãos sem retorno financeiro. As contas continuam a ser feitas com o “deve” e o “haver” por base, a relação custo/benefício sendo que só se considera benefício o lucro financeiro – um bem ou um serviço pode ou não ser rentável e para um governo prestar um serviço não-rentável terá de cobrar impostos porque ele tem de ser pago de alguma maneira.

Mas porque é que não se considera que o facto de, por exemplo, haver médicos que tratam prontamente as pessoas evitando males piores, é um valor? Um valor contável, evidentemente. Porque é que não se contabiliza, por exemplo, o avanço humano que um projecto cultural pode proporcionar a quem dele desfruta? E, a partir destes novos braços do conceito de lucro, não se emite moeda e não se acaba com este disparate? Por exemplo…

E estava eu nestes preparos e o La Féria a desfiar o Fado pelo palco do Casino, o do Estoril.

sábado, 22 de outubro de 2011

O desconhecido

Nascemos, crescemos e morremos sem saber exactamente qual o propósito de tamanha travessia. E sabendo de fonte segura que mais cedo ou mais tarde partiremos desta vida, confundimo-nos amiúde com o valor das escolhas. Qual deverá ser o seu fundamento? O nosso prazer? O prazer de outrem? O presente? O futuro?

Mas mais profunda que todas estas imprecisões é a sua inexistência. O passar pela vida sem pensar sequer, sem olhar para dentro, sem querer saber dos porquês e para quês que, não dando respostas precisas, servem para nos conhecermos e para nos ajudar a redefinir o trajecto, abrindo caminho aos que hão-de vir, ajudando o todo a crescer e prevenindo, porque "mais vale prevenir do que remediar", a passagem para o desconhecido, é um risco. Porque é isso a morte – um desconhecido que tanto nos pode transportar para o vazio, para o nada, como para outro lugar qualquer onde conte, quem sabe?, os progressos que alcançámos enquanto por cá vivemos. 

E aqueles que se revoltam, sempre que este tema vem à baila, e aqueles que afirmam do alto da sua sabedoria que "se morre e pronto. Tudo acaba", têm medo de admitir que da morte sabem tanto quanto aqueles que afirmam que "partem para outra vida" e que a legitimidade das suas palavras não é maior e que quem manda em todas as matérias sobre as quais o Homem não alcança, ainda, qualquer tipo de conhecimento, é a crença e nada mais do que crença. Que é como quem diz - é tudo uma questão de fé. Mesmo para aqueles que precisam, incessantemente, de a  negar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Muamar Kadafi - De Bestial a Besta ou Como a História tem Contornos que Desconheceremos para Todo o Sempre



Espero que a forma como os rebeldes trataram Muamar Kadafi não seja prenúncio da forma como tencionam reger o país. Na História não faltam ditadores e assassinos com fins que elevam quem os condena. Não foi o caso de Kadafi. A violência  que envolveu a sua morte e a divulgação exaustiva dessa violência são o comprovativo de uma ideia primitiva de que as presas se transformam em perdedores mais cruéis ainda se isso for possível. E é sempre – a imaginação do Homem não tem limites.

Desejo tudo de bom para o povo Líbio. Sobretudo que saiba viver a Liberdade que tanto ambicionou.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Eu não disse?

Começam a aparecer mais Vitais. Desta vez são os da EDP. Bom, não serão bem Vitais, são mais Imerecedores. António Mexia diz que não pode aplicar as novas medidas aos exemplares funcionários da EDP que tão bem se têm portado!

Já dos restantes funcionários públicos não se pode dizer o mesmo. E é assim que os cortes nos subsídios passam de Necessários, ou mais uma das tantas Medidas de Solidariedade para com os filhos da megera que deram cabo disto tudo, a Castigo para quem se portou mal.

Eu sei – ultimamente parece que tenho o disco riscado. Mas é que estas coisas não me saem da cabeça, o que é que querem?! Prometo que vou fazer os possíveis por mudar de agulha.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Banco de Portugal


E dizia esta manhã o governador do Banco de Portugal que existem, no Banco, certos quadros que não podem estar sujeitos às medidas exercidas sobre os funcionários públicos uma vez que não podemos correr o risco de ineficiência em sectores vitais.

Esqueça já aqui quem pensa que estas medidas agora aplicadas e a aplicar pelo governo são daquelas que unem um povo solidário e determinado a ultrapassar problemas. Um povo capaz de punir responsáveis e capaz de seguir em frente.

Esqueça já aqui quem pensa que os médicos nos hospitais ou os professores nas escolas e nas universidades são figuras vitais, desempenhando serviços vitais. Não são. 

Os quadros do Banco de Portugal, sim. Esses são vitais. E, devagarinho, ainda vamos descobrir mais Vitais escondidos por aí, vocês vão ver...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

1974/1975

Olho-me aqui, há tantos anos atrás, e parece-me que foi, não ontem, seria um exagero, mas tão próximo quanto o é a identidade. Quem sou eu? Esta que aqui vejo ou a figura que me olha ao espelho? Por vezes penso que a minha alma cristalizou neste ano.

Poucos meses antes toda a minha vida tinha mudado, arrastada por uma doença que incapacitou o meu pai, até hoje. Por vezes pergunto-me se algum dia saí deste liceu. Há uns dias uma velha amiga levou-me às lágrimas quando, para ilustrar a flacidez das suas carnes, me dizia que a uma determinada velocidade, de braço apoiado na janela, os ossos chegavam ao destino muito antes dela que, empurrada pelo vento, tendia a deixar-se ficar para trás. Talvez isso nos aconteça a todos – os ossos andam em frente, mas a carne teima em deixar-se ficar.

Um dia destes saio à rua

Não participei no movimento de sábado passado, o dos Indignados. Não significa isto que não esteja indignada. Estou. Estou indignada com os salários que o Estado tem andado a pagar a gente que dirige empresas, e um país, que dão prejuízo ano após ano. Maus quadros, maus gestores. Estou indignada com as medidas que vão recair sobre quem já pouco tem e sobre a classe média deste país que, mais cedo ou mais tarde, provavelmente desaparecerá, não porque ascenderá aos céus, mas porque descerá aos infernos.

Estas pessoas que andaram a usufruir de ordenados muito acima daquele que era suposto marcar o limite dos salários da Administração Pública – o do Presidente da República, e todos aqueles que permitiram esse estado de coisas, principalmente esses que permitiram esse estado de coisas, têm de ser chamados à responsabilidade e eu não estou só indignada, estou a ficar muito zangada. Sim, eu sei que isso pouco importa, pelo menos assim parece. Mas, acreditem, pesa. E eu explico porque é que pesa.

Não sou pessoa de grande alarido. Nem grande nem pequeno. Sou aquilo a que se convencionou chamar um low profile. Não me exalto facilmente nem tenho grande apetência para participar em manifestações. Não acredito em grandes mudanças com origem em manifestações, acredito que é na atitude e na mentalidade de cada um que as mudanças se operam, na educação, na cultura. Acredito que cada um de nós pode mudar o seu pequeno mundo e será essa a sua colaboração para uma mudança maior que se arrastará ao longo dos tempos, excepto em alturas de crises graves, como esta. Nessas alturas a coisa costuma ficar muito preta e deixar sempre pelo caminho um rasto de vítimas, na maioria inocentes, porque os culpados já se fingiram de mortos. Em alturas como, começo a temer, esta, o mundo costuma rebentar em guerra. E isso provavelmente acontece quando pessoas como eu – pacíficas – começam a sentir vontade de sair à rua.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dos poemas e dos Poetas

O que é ser Poeta? Quando é que determinado texto pode ser considerado poético? Quando rima? Quando é composto de versos?

Uma vez, há seis anos atrás, enviei para um amigo que estava longe o seguinte e-mail a propósito de umas fotos tiradas nas ilhas gregas:

Achas que se me esforçasse muito conseguiria, um dia, arranjar aqui um trabalho que me sustentasse para poder por lá ficar a viver? E depois, com o tempo e todo aquele mar, que me conseguiria transformar, como que por magia, numa escritora de renome e conseguiria, assim, um dia também, deixar de servir às mesas para me poder dedicar só, exclusivamente, aos meus livros que escreveria, sempre, em frente àquele mar imenso, sentada numa daquelas cadeiras azuis, que se encontram em frente às mesas azuis que dão para as portas azuis das casas quase imaculadamente brancas?
Achas que, se me esforçasse muito, poderia um dia vir a ser uma cidadã de reconhecido direito a habitar num lugar como este? A andar sempre de sandálias e vestir blusas sem mangas, daquelas que deixam os ombros ao sol, e que eu gosto tanto? Achas que, se me esforçasse muito poderia passar o resto dos meus dias a beber, o que quer que seja que eles bebem, até me fartar de ver tanto mar, tão azul? Tanto horizonte meu Deus quem me dera!

Ele respondeu-me dizendo, entre outras coisas, que tinha gostado do poema!

Para Espanca, “ser poeta é ser mais alto, ser maior/Do que os homens!”. Para Pessoa é ser "fingidor". Sophia diz que o poeta vê mais, vê tudo. Para Sophia, por detrás de um poeta, da própria poesia, está a visão do mundo numa ânfora, está uma “túnica sem costura”. Para ela a poesia é união e o poeta o unidor. Para todos o poeta é o que VÊ, o que vê para além de…o que compreende a totalidade do mundo e depois, para a mostrar, “finge que é dor a dor que deveras sente”.

É poético todo o texto que nos mostra um horizonte maior do que aquele que veríamos se o não lêssemos. É poeta todo aquele que, num momento de inspiração, é capaz de nos mostrar que afinal não há nenhuma costura na união de todas as coisas.

Assunção Esteves ou Porque Carga D’água Não São Públicos os Percursos dos Nossos Políticos

Recebi, por e-mail – um daqueles e-mails que circulam por aí – uma mensagem acerca da nossa Presidente, ou será ta, da Assembleia da República denunciando uma reforma antecipadíssima - aos 42 anos; simpática – de cerca de três mil euros; conseguida ao fim de um curto período laboral – dez anos.

Ao longo destes anos de www tenho aprendido que o melhor é tentar confirmar estas afirmações que correm por aí tantas vezes suportadas, a maior parte das vezes até!, por boatos espalhados porque sim ou por outros motivos que não vêm agora ao caso.

Assim, andei por aqui a “passear” em torno do nome Assunção Esteves, para concluir que não existe – pelo menos eu não encontrei – uma biografia completa da senhora, à disposição do público votante, que somos nós.

Está certo que não votamos para este cargo (se calhar devíamos já que é o segundo mais importante do país). Mas, ainda assim, não teríamos nós direito a saber o que é que estas pessoas que tão facilmente põem e dispõem da nossa vida andaram a fazer a vida toda? Onde estudaram; o que estudaram; onde trabalharam; com quem; durante quantos anos; o que os levou a sair de um lugar para outro… não teremos nós direito a ter acesso a informação que, na minha opinião, é fundamental para a avaliação de alguém que pretende sentar-se em cargos públicos desta natureza? Não nos é exigido, a cada um de nós, um CV completo cada vez que nos candidatamos seja ao que for? Não somos nós os eleitores? Os que votam? Então?!... 

domingo, 16 de outubro de 2011

Novos caminhos e pneus abandonados

Tenho tirado umas fotos ultimamente. Não muitas. Mas tenho tirado. Fotos de coisas que me chamam a atenção. Fenómenos naturais que me assaltam quando conduzo. 

Creio estar relacionado, este meu novo interesse, com a Estrada Nova. A Estrada Nova leva-me e traz-me aos mesmíssimos lugares que outras antes, mas por caminhos diferentes. E, digam lá o que disserem, os caminhos por onde vamos são fundamentais. São eles que mudam a nossa visão dos lugares. Este lugar pode até ser lindo mas se o caminho que me levou até lá estava enlameado, eu não quero lá voltar.

A Estrada Nova é nova. E percorre caminhos francos, honestos, bem alcatroados – os homens descobriram há pouco que as estradas ficam mais lisas se nelas calcarem os pneus abandonados. Estamos sempre a aprender, e os caminhos, até os caminhos! só lucram com isso.




Nevoeiro

Há dois dias que é isto! Acordo e o nevoeiro recorda-me que vivo numa Charneca. Separa-me do resto do mundo e expulsa-me da varanda ao entranhar-se-me na carne. Depois levanta. Mas deixa-me sempre com a sensação de que só existe aqui.



sábado, 15 de outubro de 2011

Um pouco mais de paciência

Por vezes interrogo-me quanto ao propósito deste espaço, que afinal é ainda mais privado do que o imaginei, mas depois vêm pessoas dizer coisas assim, como estas, e eu fico desarmada e tenho muita vontade de lhes pedir um pouco mais de paciência até que a minha vida me deixe abrandar um bocadinho e eu possa voltar a pensar, sentada no fundo de mim.

E depois, se me deixarem, volto a contar-vos as palavras que por hora vão repousando tranquilas.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Só de passagem

Confesso que se este fosse o primeiro ano da licenciatura e não último, eu provavelmente desistiria. Ou por ser a recta final ou porque a urgência de concentração numa tarefa exclusiva – a empresa -  me detém, ou porque na realidade sinto que já tirei do curso aquilo que precisava para andar para frente – pelo menos o mais gritante, este ano está a exigir de mim um esforço hercúleo que me rouba até a vontade de passar por aqui, ou o tempo, ou ambos, e a capacidade de pensar em outras coisas que não uma ou outra, sempre as mesmas – a empresa, o que é bom; ou o curso, agente de um stresse que nenhuma falta me faz.

E agora que desabafei, vou ali no instante comer para me pôr a andar que tenho uma aula às dez..

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Morreu o homem da Apple.

Steve Jobs morreu aos 56 anos sabendo que ia morrer. Em 2004, se não estou em erro, numa conferência, revelou que todos os dias pela manhã, olhando-se ao espelho, se perguntava o que faria se aquele fosse o último dia da sua vida. O resultado desse exercício foi o fazer sempre exactamente o que faria se na realidade o fosse. Quando revelou este seu segredo, disse que era uma prática que levava já alguns, largos, anos.

Poucos temos a sorte de ter como resultado de um exercício destes, “fazeres” que gerem a riqueza que geraram os “fazeres” do génio. Eu não sei o que faria. Provavelmente deixar-me-ia levar pela disposição do dia. Mas sei que dificilmente faria o que faço a maior parte dos meus dias. Até porque no último, pouco pesará aquilo que agora pesa. Por isso o mais certo seria passar o dia a escrever e a cirandar por aí. Sim, era isso que faria – escrevia e cirandava, em busca de inspiração.

Steve Jobs morreu cedo de mais mas deixou mais obra do que a maioria que vai tarde. Que descanse em paz.

domingo, 2 de outubro de 2011

De intervalo em intervalo

Sem vontade e sem inspiração temo que por ora este cantinho vá sendo deixado ao abandono, não pelos leitores que nunca foram muitos, mas por mim.

Os temas politicamente correctos cansam-me e os outros inibem-me pelo que, ou me rendo à falta de reservas, ou me fico por este mesmo – a ausência dos ditos.

Não me apetece falar do tempo, o atmosférico, que me tem recordado um ano não muito distante em que cheguei a acreditar que o Natal seria brasileiro. Nem me apetece falar do tempo, o histórico, que me deprime de tal maneira, provavelmente por falta de modelo experiencial já que aquilo que aconteceu enquanto eu por cá não andava é algo que só posso imaginar e me aterroriza como a toda a gente. Nem sei falar de experiências, que as tenho vivido tão intensamente que ainda não tive tempo de as teorizar.

Portanto não falo de nada, limito-me a viver intensamente todas as expectativas que fervilham cá dentro e me arrastam ora para o céu ora para o inferno, esperando que a coisa se componha e eu possa, por fim, sossegar e contar-vos tudo o que me vai na alma.