sábado, 30 de abril de 2011

Da Piedade

Tinha dezasseis anos quando o meu pai, vítima de um acidente cardiovascular, deu entrada num hospital, e depois noutro e noutro, até voltar para nós, escondido num outro corpo, tão escondido que eu, zangada com o mundo, com os homens e com ele, não fui capaz, nem na altura nem durante anos, de o encontrar.

Porque quando se perde algo desta dimensão não se aceitam substitutos, não se aceita nada mais, nada menos, do que o original que nos foi abruptamente roubado, a minha zanga perdurou e estendeu-se a áreas e gentes bem mais distantes. A zanga; a descrença, enfim tudo aquilo que se alimenta por quem se admira e se perde de repente como se o mais alto, mais belo e mais sólido castelo se desmoronasse com um sopro de vento porque não se sabe e nem se quer saber a dimensão do sopro ou dos estragos por ele causados. Só se sabe da desilusão. Da brutal e imensa, desilusão.

E durante anos vive essa dor escondida, espreitando de vez em quando. Doendo sempre. Desiludindo sempre. Desprezando, porque não? Não é isso que acabamos por sentir por quem assim nos desilude? desprezo?

Até ao dia em que o cansaço nos vence.

O cansaço é extraordinário porque é o único sinal verdadeiramente eficaz da imensa falta de respeito com que cada um se agracia sempre que não é capaz de respeitar a voz que lhe vem da alma.

E nesse dia, em que o cansaço me venceu, decidi saber, exactamente, o que se tinha passado – os danos; a sua extensão e os reflexos no dia-a-dia. Nesse dia, abri a pasta onde se guarda a única TAC feita muitos anos depois do acidente, li o relatório e, com as imagens e as palavras diante de mim, devorei toda a informação que consegui encontrar sobre o cérebro e o seu funcionamento.

Nesse dia, voltei a chorar. À piedade, encontrei-a ainda a tempo, perdida no meio da realidade que durante anos mascarei de uma outra mais fácil, mais imediata. Nesse dia reencontrei o meu pai e sei que tudo farei para que não nos voltemos a separar, porque nesse dia renasceu o meu respeito, a minha admiração e o meu amor.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Más línguas

Há quem diga, com desdém, que estão na moda os encontros de amigos que não se vêem há anos – colegas de escola; amigos de bairro; colegas de vida, por ela afastados mas cujo rasto não se perdeu porque este ou aquele sabe do outro mas, fundamentalmente, porque a blogosfera funciona como repositório de todos os nomes, ou quase, substituindo o saudoso Henrique Mendes no seu esforço por encontrar e voltar a juntar gentes perdidas…

Há também quem não se canse de elaborar longas listas de malefícios do mundo virtual, esquecendo que o ser humano tem uma capacidade única de transformação e que por muito maléfica que seja uma coisa, ela pode sempre ser transformada no seu oposto, dependendo da vontade de cada um.

E se há quem tenha encontrado o céu atrás do anonimato de um computador, há também quem saiba aproveitar a janela que, através dele, se abriu para o mundo. É o que fazem aqueles que se decidem juntar fisicamente depois de se terem encontrado virtualmente, e isso é bom.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Desabafo e ódios de estimação

Irrita-me aquelas pessoas “muito boazinhas” que “só querem o bem dos outros” e, de tão absorvidas que andam com o “fazer bem aos outros”, esquecem-se de olhar para eles – para os outros evidentemente. São um dos maiores logros da humanidade – aqueles que vivem completamente absortos na sua “preocupação com os outros” sem perceberem que a única coisa que os preocupa é o papel que eles próprios desempenham, porque dos “outros” nada sabem – nem quem são; nem do que gostam; nem sequer do que os pode, ou não, fazer felizes. De resto isso não é importante já que eles é que sabem o que convém aos outros! Mais até do que os próprios! É extraordinário! São aqueles que nasceram para ser pais de meninos pequeninos durante toda a vida! São aqueles que dão os melhores ditadores da História! E olhem que, muitos deles, até se dizem de esquerda!...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Greenpeace & CA.

Em 2007 a organização internacional Greenpeace resolveu construir uma réplica, em grande escala, da Arca de Noé no Monte Ararat, na Turquia Ocidental. Porquê? Porque a crença popular diz que foi lá que a verdadeira Arca parou quando as águas retrocederam. Vinte voluntários, turcos e alemães, dedicaram-se afincadamente à construção da dita com o objectivo de chamar a atenção para as alterações climáticas.

Este é apenas um exemplo de uma das formas de intervenção levada a cabo por este tipo de organizações. Eu tenho um grande apreço pela Greenpeace quando, em alto mar, interfere impedindo o que é de impedir. Desiludem-me quando perdem tempo com merdas destas que só servem para nos distrair daquilo que realmente interessa, exaltando o ego dos que intervêm – vejam só o que estamos a fazer pelo planeta! Que queridos que somos! – e deitando à rua dinheiro que alimentaria alguns dos que andam a passar fome por este planeta fora e que se alguém os quiser MESMO contar há-de chegar à conclusão que são mais do aqueles que comem!...

Há anos que se fala das alterações climáticas; dos direitos humanos; dos OGM e sei lá que mais…e cada vez há mais organizações a defenderem o que era suposto existir por geração espontânea! E cada vez há mais do que não é suposto existir e é cada vez mais combatido! Alguém me sabe explicar esta contradição?!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Portugal

Nem a consciência de que todos pertencemos à mesma raça – a humana - me alivia a dor que sinto sempre que penso no meu país, na minha nação. Porque nós somos uma Nação. Portugal é uma Nação e, como tal, deveria ser independentemente dependente; originalmente global; caracteristicamente universal. Talvez este nosso hino – A Portuguesa - cuja letra tem vindo, nos últimos anos, a perder o sentido, deva voltar a ser ouvido com fervor, empenho e vontade. Talvez que devamos reunirmo-nos em torno de António Vieira; Camões; Pessoa; Teixeira de Pascoaes; Agostinho da Silva… Toda a gente precisa de um elo de ligação. Façamos deles o nosso.

25 de Abril, sempre!

Sempre, aquela sensação de vitória, de mudança, de liberdade. Sempre, aquela certeza de possibilidades infinitas. Sempre, aquilo que, ao fim e ao cabo, só pode existir, sempre, num limitadíssimo período de tempo. Sempre é coisa que não existe. Nada é sempre. Nada é para sempre.

Talvez o problema seja esse – desejamos tanto uma coisa, que muitas vezes não é mais do que uma mudança aquilo que desejamos, esquecendo-nos de desenhar a sua continuidade. Ou então, como nada é para sempre, precisamos de uma mudança de tempos a tempos. Hoje, que festejamos a última mudança, aproximamo-nos da necessidade de uma outra e, da mesma forma que não festejámos nada durante 41 anos, pelo menos que eu me lembre..., temos mais cinco para nos desligarmos destes festejos, que levam já 37 anos de existência, e começarmos a pensar em outros – os da próxima mudança.

Se fosse possível, o que eu duvido, seria excelente que desta vez fossemos capazes de desenhar um pouco melhor o futuro.  Em vez de nos preocuparmos fundamentalmente com o ter, como nos preocupámos há 37 anos atrás - compreensivelmente já que a maioria tinha tão pouco - era bom que nos preocupassemos com o ser. Eu sei, está muito batido.  Mas não deixa de ser urgente por isso.

No entanto, pelo andar da carruagem, não falta muito para que uma consideravel parte da população atinja o mesmo grau de pobreza que tinha há... precisamente, 37 anos atrás... isso pode dificultar um bocadinho as coisas... oh well, vale sempre a pena sonhar...

sábado, 23 de abril de 2011

Assim sou eu...

Não sou uma pessoa fácil, não sou. Sou determinada; exigente, mais até comigo do que com os outros mas basta sê-lo para o ser sempre…; dou tanto de mim em tudo o que faço, e a maior parte do que faço só mesmo dando, não há outra forma, que por vezes se me vai a paciência às urtigas e sinto, deveras, que se fecho a boca rebento; sou ciosa do meu espaço e do meu silêncio, ainda que ultimamente ande a treinar consegui-los dentro de mim, independentemente das condições ambientais ou das circunstâncias, o que não é fácil, nada fácil...; dou ares de independência e autonomia – e sou, na verdade, independente e autónoma, por vezes até mais do que gostaria de ser, aliás passo por muitas situações em que preferia mil vezes não ser capaz de…, para que alguém me ajudasse, alguém o fizesse por mim, mas depois vem todo este mau feitio ao de cima e chego à conclusão que a maior parte das vezes as coisas só ficam como eu acho que devem ficar quando sou eu a fazê-las porque a maior parte das pessoas sofre de uma incompetência crónica – o que também não é verdade, eu sei. Mas às vezes parece…parece…

Tudo isto para dizer que apesar dos pesares sou uma pessoa como as outras, com defeitos e virtudes, forças e fragilidades, enfim tudo aquilo que os outros têm – o fardo, se não é o mesmo, nunca é, será parecido -; zango-me quando tenho de me zangar e faço as pazes quando tenho de as fazer; não guardo rancores; evito fazer juízos de valor, na verdade sou uma mente bastante aberta – detesto radicalismos, absolutismos, fundamentalismos e outros ismos, tanto quanto detesto preconceitos… Mas há uma coisa que não me podem fazer – ignorarem-me. Ignorarem os meus sentimentos, as minhas razões, as minhas zangas, as minhas queixas, como se elas não tivessem a mínima importância, como se se tratasse de uma qualquer “pancada” de momento e não fossem sequer dignas de atenção, consideração ou interesse. Isso, ninguém pode fazer. Nunca.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tempos dificeis exigem medidas extremas

Acabei de enviar a minha proposta de adesão para aqui.

Ao que parece, está a renovar-se a minha fé nos homens. Aleluia!

Do Medo

Quand je me jette dans la vie

C’est la peur qui m’emmène

La peur du noir, de la pluie

La peur du monde, de moi-même



C’este la peur que je combats

Tous les jours sans m’arrêter

Car c’est elle qui m’enlace

À la peur je dois parler



Pour lui dire que c’est urgent

De s’en aller tout de suite

Pour lui dire que j’ai besoin

De laisser la vie infinie



Ah ! Ma chère, elle me dit

Sans moi tu serrais rien

Tu n’aurais pas grandit

Tu ferais pas ton chemin.



Estes fracos e toscos versos foram escritos há muito muito tempo e traduzem, com simplicidade, a dualidade do Medo.

Não me lembro de sentir medo até aos nove anos, mas lembro-me dos cuidados da minha mãe, da sua preocupação constante e dos seus medos. E o medo é como outra coisa qualquer - pega-se.

Aos nove anos mudei de casa e de lugar e o medo tomou conta de mim. A minha maior preocupação, desde que me levantava até que adormecia, era combatê-lo. Caso contrário ver-me-ia incapaz de dar dois passos fora de casa - todos os perigos do mundo me espreitavam em cada esquina; ou mesmo de adormecer - o silvo do vento e do mar que se esgueirava violentamente por entre as frinchas da janela faziam-me crer que habitava no pior dos infernos e que em qualquer momento uma criatura horrenda irromperia quarto adentro, sem pedir licença e sem, pior ainda, abrir a janela - na minha imaginação os vidros já estavam partidos e a janela aberta de par em par. Lembro-me que o meu irmão, uns anos mais novo do que eu, dormia de cabeça tapada. Nunca consegui. Faltava-me o ar.

Mas, se por um lado o medo nos restringe, por outro protege-nos, diz-se. Eu sinceramente não me recordo desta enorme vantagem! Pelo contrário, sempre senti que o tempo que era obrigada a despender no combate ao dito poderia muito bem ser aproveitado para algo verdadeiramente gratificante e enriquecedor.

Ora nós não nascemos com medo. Uma criança não tem medo de nada. Porque não tem consciência, dir-me-ão vocês, não conhece os perigos. E como não os conhece a gente mostra-lhos e impinge-lhes os nossos medos.  Pois…mas afinal o medo vem da consciência ou do instinto de sobrevivência? É que, ao que parece, esse nasce connosco… Ou será que nem uma coisa nem outra nos faria realmente falta se nascêssemos num mundo diferente? Num mundo sem perigos, por exemplo…Se não existissem perigos, o medo não teria razão para existir também.

Então e se o vice versa também fosse verdade? - Se não existissem medos, os perigos não teriam razão para existir também. E se forem os medos a gerar os perigos?

É que a questão é esta – até que ponto é que o cabrão do medo nos corta as asas?! Até onde voaríamos sem ele?

Já pensaram que se não voamos até ao Sol é só porque alguém nos disse que foi lá que o Ícaro se queimou?! E se as nossas asas forem à prova de fogo? Hem?!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Mas quem é que quer uma coisa destas?!!!!!




Imaginem lá a casa onde vivem estas criaturas:

Hoje chora-se;Amanhã ri-se.
Hoje discute-se; Amanhã ama-se.
Hoje é dia de gripe, ninguém vai trabalhar.
Amanhã está tudo fino, embora lá passear.

Nem siamêses!!!

Eu não existo. Tu não existes. Tudo o que existe é este ser híbrido, dependente e handicapado que somos nós: tu + eu = teu.

Quem és? Sou Teu.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Da Liberdade!

Porque a sensação de impotência da parte de quem dirige cada vez se adensa mais em mim; porque a dúvida relativamente ao facto de fazer diferença se quem ganha as eleições é este ou aquele cada vez se adensa mais em mim, pergunto-me até que ponto é que conhecemos realmente os rostos de quem nos comanda e até que ponto teremos nós consciência da amplitude do poder exercido sobre nós, diariamente!

Olho os rostos dos candidatos, oiço os seus discursos e não é que ponha em causa as suas intenções, quem sou eu?!, mas não vislumbro convicção em ninguém, não vislumbro poder…

Cada vez acredito mais que somos, todos, meros fantoches de uma elite que não dá a cara! E isso assusta-me! Sempre defendi a necessidade de aumentar substancialmente o poder local de forma a aproximá-lo das massas populacionais – só assim aumentaria em cada um de nós a noção de cidadania, a noção de pertença, de participação, de obrigação. Porque uma coisa que me incomoda é esta noção de direito que este nosso povo tem, sempre tão superior à de dever!...

Em vez disso, cada vez sinto que o centro de poder se afasta mais e mais de nós. E quanto mais distante, mais incontactável! Mais anónimo! Mais poderoso!...

Não sei se quero viver num mundo em que a liberdade é uma ilusão, um conceito num pedaço de papel, um sonho!

Perante uma ditadura há formas de enveredar esforços para lhe resistir e, nesses esforços, vive-se e aprende-se liberdade. Num mundo em que quem controla é um olho orwelliano teremos de ser mais conscientes, mais unidos e mais, muito mais, criativos, se não nos quisermos transformar em autómatos num qualquer matrix.

sábado, 16 de abril de 2011

Todos iguais. Todos diferentes.

A consciência é insuficiente para se avaliar seja o que for. Eu posso saber, e sei, que determinado fenómeno se processa desta ou daquela maneira e acredito até que sou capaz de o imaginar. Mas quando, por um qualquer motivo, a minha vida se cruza com ele e sou obrigada a movimentar-me no éter que é a sua atmosfera, caio em mim e sei que a distância que medeia o que eu julgava conhecer e o que eu verdadeiramente conheço é imensa, transreal e transformadora de sábios em ignorantes.

Que todos somos diferentes, já se sabe. Mas sabe-se com a certeza das pequenas diferenças porque lá no fundo o que queremos mesmo é ser iguais, e dizemo-lo – todos diferentes, todos iguais. Esta igualdade que reclamamos e que nos faz sentir em casa, entre os nossos, entre a gente que todos somos, ilude-nos relativamente às diferenças que nos separam e que são, tantas vezes, imensas, transreais! Tão imensas e transreais quanto aquelas que separam, não os planetas, não as galáxias, mas os universos.

E, de vez em quando, dou por mim em frente de um outro sem fazer a mínima ideia do que estou a ver ou a ouvir. Dou por mim como “um burro a olhar para um palácio”, temendo que um qualquer fenómeno me tenha transportado para um estranho universo sem que disso me tenha apercebido. De vez em quando, dou por mim na quinta dimensão.

Oiço o que tem para me dizer mas é como se estivesse a falar numa língua por inventar, o que é muito pior do que uma língua estrangeira que embora não entenda sei que existe. Compreendo-lhe as palavras, conheço-as até, mas a utilização que delas faz é-me completamente desconhecida – um outro mundo, uma outra realidade! Tento seguir-lhe os pensamentos e chego mesmo a pôr em causa as minhas capacidades, em vão! Tudo em vão! É então que tento o contrário – expor-lhe as minhas razões, dar-lhe a conhecer o que penso – em vão! Estou até convicta que me é mais fácil comunicar com um animal doméstico do que com certas pessoas. Não são mundos diferentes – é todo um universo de diferenças, de ambiguidades.

Quando tal acontece falha-me a razão. Não a razão que se encontra do lado de quem a tem, mas a razão que está ligada ao raciocínio – falha-me, e em sua substituição, e em meu socorro, vem a sensibilidade. Quando houver dúvidas sobre o momento em que tal acontece basta registar aquele em que deixo de pensar e passo a sentir aversão; raiva; ódio; desprezo…enfim, toda uma panóplia de sentimentos comuns que despertam em situações de pânico e desorientação.

Só muito mais tarde, quando a poeira assenta e me resgato de mim, é que volto a ser capaz de avaliar o fenómeno e concluir que as distâncias entre certos “nós” são bem maiores do que aquelas que teimamos em propagandear. Maiores do que aquelas com que somos capazes de viver, porque ainda não crescemos o suficiente para existir cada um por si e é também por isso que não nos entendemos – porque o todo só pode funcionar quando cada uma das partes for inteira, verdadeiramente única. Quando deixarmos de nos procurar no outro. Quando deixarmos de precisar dele como sustento. Quando a valia das nossas crenças não depender do derrube das crenças alheias. Quando a nossa integridade deixar de depender da “desintegridade” do outro. Quando o nosso equilíbrio não balançar naquele do próximo. Quando nos bastarmos e afastarmos de nós a necessidade insana do constante e eterno confronto, da eterna e constante comparação. Quando assumirmos, de uma vez, tudo aquilo que nos separa.



sexta-feira, 15 de abril de 2011

Não estive de férias, não me fui embora. É só preguiça.

Amontoam-se os envelopes ainda por abrir em frente ao computador. O Outlook transborda, enquanto as Finanças vão lembrando, o melhor que podem, que o prazo para o imposto está quase a expirar. A factura da água passou-me ao lado! Quando me resolvi a resolvê-la era tarde de mais. Entretanto já chegou outra que estas empresas não brincam em serviço e até parece que quando isto acontece se apressam ainda mais…

A mim só me apetece relaxar. Não sei se é do calor ou se do momento. Creio que será dos dois. O Verão é sempre o mais difícil, ou tem sido até agora, e assim que o sol aquece um pouco mais o meu inconsciente sobressalta-se. Eis mais uma coisa sobre a qual me pretendo debruçar – recuperar os meus verões de menina. Os verões da minha despreocupação. Sei que logo que o consiga se evaporarão estes sobressaltos e ansiedades que um simples e maravilhoso dia de sol tem o condão de me oferecer.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Não se pode andar para trás no tempo. Todos sabemos isso. Não quer isto dizer que não tentemos, de vez em quando, repor ou reaver algo que o tempo nos roubou ou que deixámos ficar para trás. E isto pode até ser positivo, assim como uma segunda hipótese, uma segunda oportunidade. O problema é que a natureza das coisas que pretendemos recapitular é sempre humana e, por isso, depende de outros e não apenas de nós. Como explicar a esses outros que se lamenta a perda? Como dizer-lhes que esperamos deles aquilo que já nos foi devido mas que, ainda que continue a ser, já não faz tanto sentido? Como?

Por força das circunstâncias deixei de contar com os meus pais no início da adolescência. Por circunstâncias bem mais ténues tenho-os, hoje e novamente, ao fim de tantos anos!, a habitar a mesma casa. É estúpido da minha parte querer que eles sejam uma coisa da qual se desabituaram há tanto tempo – ser pais? Provavelmente é. Até porque, se sempre fui vista como a detentora da força, por que carga d’água haveria eu de precisar, agora, de pai e mãe?!

domingo, 10 de abril de 2011

O alívio da certeza

Às vezes tomam-se decisões, fazem-se juízos, arrumam-se ideias, mas, vá lá saber-se porquê, ficam pendurados uns fios, a causar desconforto – será que fiz bem, será que fiz mal…aquela dúvida miudinha a minar-nos a paz…

Até que de repente, caído sabe-se lá de onde, um momento, um singelo momento, surge como uma resposta e, para nosso deleite, o corpo respira e os anjos descem e deitam-se ao nosso lado.

É claro que só com o passar do tempo se saberá se é definitivo ou se se trata apenas de um momento de “fiz bem”, um pouco mais largo do que os anteriores…ou não.

sábado, 9 de abril de 2011

Sexta à noite

Tenho de sair mais, caso contrário corro o sério risco de me transformar num daqueles seres que se exaltam e endoidecem sempre que vêem a luz do dia.


Claro que esta descrição é não só obscura como a atirar para o melodramático o que só confirma o enunciado… Precisamente – cheguei agora. Se me diverti? Claro que me diverti! Quer dizer, estive com amigos que não via há muito, ouvi música e cantei, que é como quem diz, tentei cantar…sem me levantar da cadeira, entenda-se.

Acho que sim, que me diverti. Considerando que o conceito de diversão mudou radicalmente de há uns bons anos a esta parte, passei um belo de um bocado, com boa conversa que é, pelos vistos, o que me move. Só espero não ter desgastado ninguém com as minhas tiradas. O que vale é que é gente que já sabe do que a casa gasta, e os amigos são para isso mesmo.

Fez-me tão bem, meus amigos. Obrigada.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sinto-me sozinha e isto é tão mais estranho quanto há gente a pensar – Estás sozinha porque queres, como se para deixar de o estar fosse suficiente a existência de quem está disposto a que eu deixe de estar; como se fosse possível a solidão depender de uma só vontade e não de um conjunto de circunstâncias que permitem aquele aconchego de quem sabe, de fonte segura, que não está só.

Estamos presos por fios...

A julgar pelas caras e atitudes que me rodeiam nem quero pensar o que será isto daqui a uns meses quando as coisas nos começarem mesmo a cair em cima – isto no caso de virem a cair mais do que já caíram até agora.

As pessoas andam “esquisitas”...

Vê-se gente empertigada, de pescoço hirto como quem se recusa a olhar o chão que pisa e teima em manter os olhos no céu.

Vêem-se outros de costas curvadas, vencidos já – provavelmente há muito – pelo peso do fardo que carregam. Estes dizem, insistentemente: Se a carga aumentar transformar-me-ei num primata porque a distância que dele me separa já é curta de tanto ter andado para trás no tempo.

Outros ainda riem por tudo e por nada! Os nervos é pr’ó que dão…Dizem disparates enfiados uns nos outros e nem dão por isso. Depois riem! Riem como se não houvesse amanhã – e se calhar não há…

Uma terceira espécie anda de cenho carregado e transpira agressividade. Convicta que está de saber muito bem como sair do buraco, não compreende como é que os outros não vêem o mesmo que ela.

Há ainda uma quarta – a daqueles que teimam em preservar a fé e os sorrisos. Aqueles que acreditam que interiormente se estão a preparar para o pior, certos de que as desgraças só o são quando aparecem porque com o passar do tempo mudam de categoria e passam a fazer parte da normalidade.

Mas nenhuma destas espécies faz a mínima ideia do que vai ser o dia de amanhã e, tirando aqueles que tiveram a sorte, a esperteza ou a oportunidade de amealhar qualquer coisita ou de manter um verdadeiro low profile, que é como quem diz - não fazer muitas ondas, andamos todos demasiado ocupados no combate ao medo o que nos limita a concentração no que é importante, que é o dia-a-dia seja de que trabalho for, de forma a que as coisas saiam o mais bem feitas possível e que não pareçamos um bando de atarantados, disparatados, antipáticos, provocadores, miserabilistas, derrotistas e pouco, muito pouco, produtivos.

É que é sempre quando mais se precisa seja do que for que o "seja do que for" mais se nos escapa por entre os dedos!

Calma! Neste momento precisamos de calma e de concentração. Concentrem-se no que é verdadeiramente importante e, se não conseguiram ainda descernir o principal do secundário, peçam o livro de instruções, perguntem a quem sabe ou pesquisem na internet mas, por amor de Deus, tenham calma. E sejam positivos. Aproveitem este momento histórico - sim, é um  momento histórico, provavelmente ao nível do crash novaiorquino. Um momento histórico! - para aprenderem a dar valor a tudo aquilo que os rodeia. Até aos passarinhos, não vão eles desaparecer de um momento para o outro... É aproveitar gente! É aproveitar! Sem alegria, boa-vontade, profissionalismo e, já agora, alguma simpatia, não se vai a lado nenhum.

O Blog do Desassossego vai deixar saudades

A minha desassossegada filha que há cinco anos, ou talvez mais, se lançou na blogosfera com unhas e dentes e que andou alguns anos atrás de mim, a chatear-me que um blog era quase obrigatório e que não percebia porque é que eu não tinha um, fechou contas com a blogosfera, disse adeus aos desassossegos.

Não foi ao acaso o nome que escolheu para o sítio onde durante todos estes anos desabafou, barafustou e nos fez rir. O Blog do Desassossego espelhou bem a fase desassossegada da minha primogénita.

Hoje, quer fazer outras coisas, quer escrever outras coisas e os blogs têm esta particularidade de esgotar palavras - pela assiduidade, pela procura diária de algo para dizer, mesmo quando o que apetece dizer é nada. Por muito que se diga que é um canto nosso e que o ritmo é aquele que nós quisermos que seja, a verdade é que se  se está uma semana ou duas sem escrever arriscamo-nos a voltar à estaca zero, isto é, voltarmos a escrever para ninguém...

 No caso da Diana penso que se lhe esgotou, igualmente, o desassossego, e isso é bom. Tenho pena de já não a ter aqui - era uma forma de estar com ela sempre que me apetecesse. Mas fico feliz por sentir que ela, finalmente, sossegou.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

“Santos à porta não fazem milagres”.

Tive hoje uma conversa, em tom de entrevista – uma entrevista em tom de conversa, é mais correcto – com alunos do 12º ano, de uma escola do concelho de Oeiras, que me convidaram para esse fim no âmbito de um programa de Música & Arte por eles organizado, e que terá a duração de uma semana.

Fui convidada na qualidade de escritora, o que muito me honrou, pelo que os meus livros, todos os três, foram depositados em cima da mesa onde me sentaram, defronte de uma audiência que superou as expectativas, as minhas evidentemente.

As perguntas foram previamente preparadas por uma das alunas e por uma das professoras que estava presente e eu dei comigo a gostar de estar ali, a gostar de responder e a emocionar-me ligeiramente, muito ligeiramente, ao ler versos e parágrafos sobre os quais os meus olhos não poisavam desde o momento em que deixaram de ser meus para ser de quem os quisesse ler. Falou-se de justiça e injustiça; da condição da mulher; das desigualdades sociais; de Pessoa e Saramago; de Eça e do despropósito das leituras obrigatórias. Falou-se de ensino e de revolução; de protestos e de iniciativas; de estar vivo e desperto. Falou-se de pais e filhos; de esqueletos em armários; da “guerra” dos sexos; de compreensão e respeito. Falou-se de quase tudo o que importa.

Foi uma experiência muito gratificante e tenho pena que não haja mais alunos, de outras escolas, com este tipo de iniciativa porque, se houvesse, gostaria que me convidassem. Não gosto de dar palestras, mas tenho jeito para pequenos discursos e para discussões, sobretudo para discussões, e os meus conterrâneos não conhecem essa minha faceta, e eu tenho pena.



terça-feira, 5 de abril de 2011

Podia ser aquela anedota. Mas não é. Mas podia ser. Mas não é.

Foi hoje! Foi hoje o dia em que a Olívia costureira mandou passear a Olívia patroa e tomou, sem dó nem piedade, as rédeas da vida. Da sua e da dela, evidentemente, já que são uma e a mesma pessoa. Mas isso agora não interessa para nada, como diria aquela senhora pequenina a quem ao nascer tiraram o pescoço.

A verdade é que se encheu de coragem, a Olívia costureira. Ou de coragem ou de apreensão, já que o acordar não foi famoso e chegou mesmo a passar-lhe pela cabeça que não sairia de casa ou que, se saísse, seria de maca – epifanias que surgem sempre que o cansaço aperta e as ideias lhe fogem para o pé do coração e do ar que teima em não passar…

Assim, decidiu-se a relaxar, sendo que as alternativas para além de serem escassas não eram, de todo, animadoras, e foi tratar da vida, que é como quem diz – de si. Pois que parece outra! Pode até ser que seja sol de pouca dura, mas que está mais animadita, lá isso está. E mais jeitosa, também.

domingo, 3 de abril de 2011

A propósito aqui desta menina pus-me a pensar no tempo.

Sempre se disse que há tempo para tudo. Há tempo para tudo, uma ova. Se houvesse tempo para tudo não andávamos nesta correria desenfreada e não nos estávamos constantemente a queixar dele.

Outra coisa que sempre se disse é que a criação é perfeita, tipo máquina afinadíssima, e que tudo corre exactamente como deveria correr. Mas a verdade é que só o facto de aceitarmos isso como um dado adquirido é o suficiente para nem sequer pararmos para pensar um bocado.

Na minha opinião falta-nos tempo para “estroinar”. Deveríamos ter uma certa quantidade de anos para “estroinar”, para sermos ou, melhor dizendo, para descobrirmos quem somos. Sem obrigações de coisa nenhuma que não fosse a descoberta de nós. Os pais seriam aqueles que teriam a obrigação de nos ensinar a ler e a contar e que poriam à nossa disposição toda uma gama de livros para que os pudéssemos ler, cada um ao seu ritmo. Nada de escolas. O encaminhamento seria familiar e sempre, sempre, no sentido da descoberta do EU.

Após o clic do “Eureca!” decidiríamos o caminho a tomar e tomá-lo-íamos. Todas as obrigações teriam início a partir desse momento – a especialidade; a profissão; o casamento; os filhos – todas.

O tempo não estaria programado porque, neste contexto, viveríamos muito mais do que aquilo que já vivemos. A esperança média de vida – porque seríamos mais felizes e logo, muito mais inteligentes, produtivos e sábios, seria de 150 anos. Sendo que, como referi no comentário que fiz ao post da CF, aos 100 estaríamos no auge da nossa pujança.

Isto sim, seria quase perfeito.



A quem de direito

Para que, em Junho, me desloque às urnas, será necessário que:

 Fique, até lá, a saber exactamente o que se passa com o meu país. Todos os pormenores, mesmo os mais escabrosos – principalmente os mais escabrosos. Não me escondam nada.

 Tenha, até lá, o conhecimento de todas e cada uma das medidas que cada partido pretende tomar para resolver cada um dos problemas.

 Que os porta-vozes dos partidos me convençam da exequibilidade das medidas que defendem e da garantia que dão de que as cumprirão.

Caso estas reivindicações não sejam atendidas, não votarei e alhear-me-ei, tanto quanto me for possível, do facto de ser portuguesa e de viver em Portugal. Passarei a viver como têm vivido até aqui os gajos que têm os bolsos cheios e dormem bem todas as noites, aqueles a quem a crise afecta “só um bocadinho”.

É claro que não será possível ficar, como eles, rica de um dia para o outro. Mas deixarei de pertencer ao grupo dos “tansos” e estar-me-ei nas tintas para se continuamos a ser uma nação ou passamos a ser um protectorado qualquer desde que a minha vida me deixe respirar um bocadinho.

Sacrifícios fá-los-ei sob a garantia de que quem mexe os cordéis tudo fará para que os sacrifícios sejam partilhados duma forma igualitária por todos, e que TODOS fazemos parte do todo. Sem excepções.

sábado, 2 de abril de 2011

Dos limites e das catarses

São assustadores os extremos! Qualquer corda, esticada até ao limite, ameaça partir e dá medo. Medo porque se sabe que, se chegar a partir, não mais será a mesma.

E, no entanto, há situações que só se resolvem se a corda for esticada até ao limite. Situações que exigem catarse, e os limites são excelentes catarses.

Passei por um esta semana que me deixou de rastos. Sei, contudo, que se o tivesse evitado, o que teria sido possível, me estaria a enganar a mim mesma – eu, que, ou não sei como engolir sapos, ou já engoli tantos na vida que só o cheiro me dá vómitos e o próprio corpo me impede a aproximação aos “bichos”! Mais cedo ou mais tarde o que aconteceu aconteceria, não tenho dúvidas acerca disso. Por vezes o que pensamos evitar não é mais do que um adiamento.

Mas ainda bem que aconteceu já – tudo ficou bem mais leve e o ar, muito mais respirável.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

1º de Abril

Sendo que hoje é o dia das mentiras, o que equivale a dizer que todas as verdades podem ser disfarçadas - apresento-lhes o meu pai:


Fomes Guerras e Catástofres

Já que a humanidade tem vivido a balões de oxigénio, eu gostava de andar por cá quando entregassem o próximo.

É que não tenho dúvidas de que, a seguir a isto, um novo Renascimento virá. Cheio de oportunidades, luz, humanidade! E, com tudo aquilo que já se alcançou, não posso deixar de sentir uma inveja profunda daqueles que por cá andarão.

Até lá, procuro uma fuga mas não vislumbro nada! Só se for o Canadá…ao que parece aquilo tem andado pacífico. A não ser que comece a levar com os degelos…