quarta-feira, 28 de outubro de 2015

COM TODA A CONVICÇÃO


Cada vez que oiço, ou leio, alguém defender aquilo em que acredita, acho que essa pessoa está cheia de razão. Se eu acreditasse no que ela acredita, também eu defenderia assim a minha posição – com toda a certeza absoluta posta nas palavras. Com toda a convicção.

E é por isso mesmo que a minha opinião sobre as coisas se vai desvanecendo, desvanecendo…até quase desaparecer para o mundo por falta de argumentos – porque as ideias só existem quando há argumentos para as defender -, e fica a opinião guardada cá dentro de mim, com toda a convicção de que qualquer discussão será estéril porque a verdade é que vivemos fechados nas nossas verdades e só a experiência, aquela vivida de corpo e alma, nos pode demover. Nada mais.

Ando assim com a política.

Oiço o meu filho defender veementemente o neoliberalismo, convencido de que não existe no mundo regime mais capaz de trazer justiça e tratar todos por igual, e acredito nele. Acredito que ele tem razão. Acredito que ele defende aquilo em que acredita porque vê o mundo com os olhos dele. Acredito na sua convicção e na sua boa fé e, por isso mesmo, qualquer discussão sobre o assunto transformar-se-ia numa experiência estéril.

Depois oiço a minha filha, mais inclinada para a esquerda, revoltada com o país onde vive. Desiludida com tantas promessas logradas. Revoltada com um mundo onde imperam as injustiças, onde os poderosos, que são menos do que poucos, têm a coragem de exibir os seus galões – ganhos à custa sabe Deus de quê! – perante gente que morre à míngua. À míngua de justiça, à míngua de saúde, à míngua de cultura, à míngua de conhecimento e, tantas vezes, à míngua de comida, de condições básicas de saneamento, de amor, de carinho, de apoio, de companhia…de trabalho. E compreendo-a tão bem! Meu Deus, como a compreendo!

E depois, e este depois é o mais importante de todos, vejo-os defenderem pessoas e partidos, e tremo porque me parece que essas pessoas e esses partidos não têm as mesmas preocupações que os meus filhos. Porque se as tivessem. Se essas pessoas e esses partidos acreditassem, como os meus filhos querem  acreditar que eles acreditam, que muito mais importante do que a satisfação das suas necessidades pessoais, sejam lá elas quais forem, é o bem estar do país – de todos os cidadãos do país -, juntavam-se todos, esqueciam os partidos e lutavam, juntos, para nos tirarem deste buraco onde nos forem enterrando ao longo dos últimos 40 anos.

Se estas pessoas em quem os meus filhos querem acreditar – e eu também -, fossem pessoas em quem se pode confiar,  juntar-se-iam em torno deste governo que está feito e governariam, com todos os poderes que ao parlamento são dados e com um único móbil – o bem estar deste povo que está cansado de míngua e o progresso deste país que já merece melhor sorte.


Governariam. Com os olhos postos em nós que estamos aqui e que carregamos às costas este país que já conta com 870 anos. Governariam. E deixavam-se de merdas de machos que lutam por um território, por ideias, por poder. Governariam. Juntos. E cagavam de muito alto nos partidos que defendem. Não que os largassem. Mas podiam deixá-los em banho Maria, porque nós agora precisamos mesmo é que trabalhem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Puca


Não foi uma semana fácil. No domingo, quando a levei ao veterinário, foi-lhe detectado uma espécie de colapso do fígado. Da barriga tiraram-lhe três litros de água e ela, coitada, feliz por estar mais leve, parecia que tinha renascido – dava saltos, abanava a cauda… estava tão feliz! Tão feliz!

Saímos de lá para um passeio um pouco maior do que o habitual. Era preciso que ela obrasse. Já não o fazia havia vários dias. Aliás, eu estava mesmo convencida que era esse o seu mal – prisão de ventre -, e que logo que estivesse resolvido ela voltaria a ser a minha cadela alegre que saltava para nós por tudo e por nada, que nos cumprimentava de manhã como se a noite tivesse durado meses e nos recebia em casa como se a nossa ausência tivesse sido de anos. Mas ela não obrou. Não no domingo, não nos dias seguintes. Nunca mais. Até ontem, quando nos encaminhávamos para o veterinário. Como se tivesse pressentido o que ia acontecer. Como se tivesse compreendido a luta dentro de mim, a hesitação, o não saber o que fazer. E as fezes eram negras, tão negras, a dizerem-me não te preocupes, vais fazer o que está certo, o que tem de ser feito.

E fiz.

E hoje ando p’raqui, como uma mosca tonta sem saber para onde ir – e o nosso passeio? E o meu bom-dia? E aquele olhar tão doce que me faz sentir a pessoa mais importante do mundo? Onde está? P’ra onde foi?

E à Amália? O que é que eu vou dizer à minha neta quando ela entrar por esta porta e procurar pelo cão Puca?

Ontem, enquanto lhe segurava a cabeça e a olhava nos olhos para me despedir, prometi-lhe que, embora não tenha sido a primeira, haveria de ser a última.

Mas não sei se vou conseguir cumprir...



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O MAIOR AMOR DO MUNDO






Que me perdoem todas aquelas e aqueles que decidem passar pela vida sem deixar descendência mas aquela sem ela é pouco. É muito pouco. Pouco de tudo. De alegrias, de preocupações, de orgulhos, de realizações, de felicidades extremas e medos disparatados, de frustrações e ansiedades, de amor incondicional, de saudades imensas quando partem, porque têm de partir.

Faz hoje 28 anos que dei à luz o meu filho mais novo e não o tenho aqui para o abraçar. Tenho pena. Mas não tanta quanta teria se aqui o tivesse e o sentisse frustrado, triste, sem saber o que fazer da vida porque era mais ou menos assim que ele andava quando o fazia por cá.

Hoje, no dia dos seus 28 anos, está por Londres, a trabalhar. E eu vejo-o de vez em quando, nas reportagens que faz, e encho-me de orgulho porque o meu filho, que faz hoje 28 anos, encontrou o seu caminho e é feliz.