sábado, 26 de dezembro de 2015

Inteireza, verticalidade, unidade e libertação em 2016


A inteireza, a verticalidade, a busca da unidade interior, da coerência possível entre a minha racionalidade e os meus sentimentos por vezes tão contrários e qui ça incompreensíveis até mesmo para mim, sempre me fascinou. Ser inteira apesar do medo sempre foi um objectivo para o meu crescimento e essa vontade um importante atributo naqueles com quem me dou. Nunca busquei, em momento ou lugar algum, justificação ou apoio para essa importância que a minha alma sempre atribuiu a essa qualidade mas hoje ela surgiu-me nas palavras de Tomé:

"Quando fizerdes de dois um e quando tornardes o interior como o exterior e o exterior como o interior, a parte de cima como a de baixo, e fizerdes do homem e da mulher uma só coisa, de modo a que o homem não seja homem e a mulher não seja mulher, quando tiverdes olhos no lugar dos olhos, mãos no lugar das mãos, pés no lugar dos pés, e cara no lugar da cara, então entrareis no Reino!"

Pensem nisto.

Temos uma semana para decidir se 2016 vai ser um ano de Verdade ou apenas mais 365 dias de um faz-de-conta para agradar a todos menos a cada um de nós.

Lembrem-se que aquilo que aceitamos numa espécie de obediência a outros que não nós mesmos não nos atrasa só a nós mas também a esses outros. Sempre que aceitamos a manipulação alheia, mais ou menos descarada, estamos a aceitar que ela pode existir e a dizer aos manipuladores que podem continuar a manipular.

Naturalmente, são sempre aqueles que mais amamos e que mais nos amam que mais recorrem, por medo de nos perder ou de perder a sua ligação connosco, à manipulação. Servem-se de sentimentos profundos para o fazerem e fazem-no, a maior parte das vezes, inconscientemente. Estou a pensar em pais e mãe, em irmãos, em maridos e mulheres, em todos aqueles de quem acreditamos depender a nossa felicidade e a nossa paz. Tantos de nós que vivem presos em caixas no medo de ferir, de perder, de magoar, libertando-se.

Quem ama amará sempre e a libertação dos oprimidos é uma mensagem de amor porque mostra a quem oprime a sua verdadeira humanidade.

Temos uma semana para decidir se 2016 vai ser um ano de uma condescendência que continua a pôr em causa o verdadeiro crescimento que só existe na Liberdade de Ser e na União de quem Somos, ou um ano de libertação.

Lembrem-se que estamos no ano da Misericórdia e que só a Verdade poderá semeá-la nos corações humanos.




terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O Papa Francisco e a Igreja Católica



Eu poderia ficar aqui horas e horas parafraseando o Papa Francisco, citando os seus textos, as suas palavras, que ainda assim muito ficaria por dizer. Poderia até afirmar, ou imaginar, que foi a sua personalidade que me levou de volta à Igreja. Mas estaria a mentir – creio eu. Não conheço o Papa Francisco suficientemente bem e não foram os seus escritos, as suas palavras ou as suas atitudes que me guiaram os passos até à porta da Igreja da Imaculada Conceição e me fizeram entrar e ficar.

Em Deus sempre cri. Desde que me lembro, que estou naturalmente em contacto com Ele. Sempre me senti bem, dentro de espaços espirituais, independentemente da religião professada.

Raramente ignorei a espiritualidade que há em mim. Ela nunca me assustou, pelo contrário, sempre me deu força nos momentos mais difíceis da minha vida. Sempre me valeu no desespero.

No entanto, nunca me senti à vontade na missa. Ia, eventualmente, a uma ou outra para acompanhar alguém ou homenagear alguém mas, à parte o Pai Nosso e a Avé Maria, nunca soube rezar a não ser por minhas próprias palavras.

Aos sete anos pedi para ser baptizada e fizeram-me a vontade mas não baptizei os meus filhos porque a Liberdade é para mim um dogma e cada um tem o direito de escolher o caminho que quer seguir.

Mas, neste Natal, posso afirmar que me converti e que apesar de todos os erros, dos ímpios erros cometidos ao longo da História por homens e mulheres ditos cristãos, há uma verdade no catolicismo que me toca a alma, que me invade o espírito e que torna obsoleta a minha por vezes excessiva racionalidade.


Como comecei por dizer, não creio que o Papa Francisco tenha algo a ver com esta minha conversão mas, por outro lado, não me surpreenderia se tivesse. Porque os mistérios de Deus são insondáveis e é bem possível que um só homem opere milagres, basta que a Força esteja com ele.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Feliz Natal e um Ano Novo cheio de Prosperidade

Presépio feito por um grupo de escuteiros da paróquia da Imaculada Conceição, 
Charneca da Caparica

O Natal está mesmo aí. Mais um Natal! E, logo a seguir, fecha-se um ano mais.

A vida passa a correr e, ao contrário de nós que nos vamos alentando, ela corre mais depressa de ano para ano.

Não me estou a queixar. Apenas a relembrar que há que viver. Há que aproveitar, não no sentido do esbanjamento, mas no do crescimento, no da ascensão, no do conhecimento e das boas práticas que é para isso que por cá andamos, para nos melhorarmos como pessoas, como humanos que somos, como gente de bem.

É costume, nesta quadra, deixarmos os nossos votos a todos os que nos são queridos. Eu tento estar o ano inteiro o mais junto deles possível, por isso, nesta quadra, deixo os meus votos a todos os outros – os que conheço, os que talvez venha a conhecer e os que me são completamente estranhos. É para todos eles esta mensagem. E para mim, este balanço.

Deus ajuda quem se ajuda e não quem perante Ele se ajoelha mas nada faz. Eis o que aprendi este ano. Ele quer ver-nos felizes e proactivos. Actuantes. Alegremente actuantes. Quem Nele confia liberta-se de medos porque se entrega.

Ter fé é ser capaz de confiar na vida, em Deus, no Universo, em si mesmo… de corpo e alma. Ser capaz de o fazer, incondicionalmente, apesar do medo. E, se já os antigos diziam que a fé é que nos salva, eu reitero essa máxima porque só ela nos liberta. Sem fé, ficamos presos aos nossos medos e toda a gente sabe que os medos encerram o pior que há em nós.

Desejo-vos, pois, um Natal de muita Paz, de muito Amor e de muita Harmonia. Desejo-vos uma noite de Luz porque é dela, da Luz, que o medo foge.

Desejo que o Novo Ano seja de reflexão e que a Fé nos liberte a todos, para que a Felicidade entre pelas nossas portas adentro, já que a Prosperidade é isso mesmo – uma vida cheia de Luz, de Fé e de Amor. Uma vida verdadeiramente Feliz.

Bem hajam


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Jornal i – uma morte anunciada



Não faço ideia se é assim com todos os meios de comunicação social mas num jornal a gente afeiçoa-se a tudo – às pessoas; às imagens; ao lugar; ao funcionamento; às regras e desregras e, mesmo que não se esteja lá todos os dias, mesmo que seja só um dia por semana, custa à brava deixar de estar.

Trabalhei no i todos os domingos durante cinco anos, até que deixei de trabalhar mas, ainda assim, o i continuava lá e chamou-me. Voltei mais duas vezes, dias seguidos. Matei saudades e, mesmo voltando só pontualmente, sabia que eles estavam lá. O jornal estava lá. Com aqueles jornalistas do caraças! Com os prémios que recebeu. Com o projeto com que começou. O i ia mudar tudo se vivêssemos num mundo onde vence o que realmente interessa.

Mas não vivemos. E ontem o i acabou. Acabou porque todos os que lá estavam, todos os que acreditaram no projeto quando o i começou,  já lá não estão hoje. E o meu coração está apertado como se alguém que me é querido tivesse partido.


A todos aqueles que conheci no i, a todos com quem tive o privilégio de trabalhar, o meu mais sincero e apertado abraço de obrigada.  Desejo que este país abra os olhos e reconheça o valor de quem o tem. Porque quando isso não acontece as pessoas murcham e podem morrer. E, se duvidam, recuem no tempo e voltem a ler o i de 2009.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

COM TODA A CONVICÇÃO


Cada vez que oiço, ou leio, alguém defender aquilo em que acredita, acho que essa pessoa está cheia de razão. Se eu acreditasse no que ela acredita, também eu defenderia assim a minha posição – com toda a certeza absoluta posta nas palavras. Com toda a convicção.

E é por isso mesmo que a minha opinião sobre as coisas se vai desvanecendo, desvanecendo…até quase desaparecer para o mundo por falta de argumentos – porque as ideias só existem quando há argumentos para as defender -, e fica a opinião guardada cá dentro de mim, com toda a convicção de que qualquer discussão será estéril porque a verdade é que vivemos fechados nas nossas verdades e só a experiência, aquela vivida de corpo e alma, nos pode demover. Nada mais.

Ando assim com a política.

Oiço o meu filho defender veementemente o neoliberalismo, convencido de que não existe no mundo regime mais capaz de trazer justiça e tratar todos por igual, e acredito nele. Acredito que ele tem razão. Acredito que ele defende aquilo em que acredita porque vê o mundo com os olhos dele. Acredito na sua convicção e na sua boa fé e, por isso mesmo, qualquer discussão sobre o assunto transformar-se-ia numa experiência estéril.

Depois oiço a minha filha, mais inclinada para a esquerda, revoltada com o país onde vive. Desiludida com tantas promessas logradas. Revoltada com um mundo onde imperam as injustiças, onde os poderosos, que são menos do que poucos, têm a coragem de exibir os seus galões – ganhos à custa sabe Deus de quê! – perante gente que morre à míngua. À míngua de justiça, à míngua de saúde, à míngua de cultura, à míngua de conhecimento e, tantas vezes, à míngua de comida, de condições básicas de saneamento, de amor, de carinho, de apoio, de companhia…de trabalho. E compreendo-a tão bem! Meu Deus, como a compreendo!

E depois, e este depois é o mais importante de todos, vejo-os defenderem pessoas e partidos, e tremo porque me parece que essas pessoas e esses partidos não têm as mesmas preocupações que os meus filhos. Porque se as tivessem. Se essas pessoas e esses partidos acreditassem, como os meus filhos querem  acreditar que eles acreditam, que muito mais importante do que a satisfação das suas necessidades pessoais, sejam lá elas quais forem, é o bem estar do país – de todos os cidadãos do país -, juntavam-se todos, esqueciam os partidos e lutavam, juntos, para nos tirarem deste buraco onde nos forem enterrando ao longo dos últimos 40 anos.

Se estas pessoas em quem os meus filhos querem acreditar – e eu também -, fossem pessoas em quem se pode confiar,  juntar-se-iam em torno deste governo que está feito e governariam, com todos os poderes que ao parlamento são dados e com um único móbil – o bem estar deste povo que está cansado de míngua e o progresso deste país que já merece melhor sorte.


Governariam. Com os olhos postos em nós que estamos aqui e que carregamos às costas este país que já conta com 870 anos. Governariam. E deixavam-se de merdas de machos que lutam por um território, por ideias, por poder. Governariam. Juntos. E cagavam de muito alto nos partidos que defendem. Não que os largassem. Mas podiam deixá-los em banho Maria, porque nós agora precisamos mesmo é que trabalhem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Puca


Não foi uma semana fácil. No domingo, quando a levei ao veterinário, foi-lhe detectado uma espécie de colapso do fígado. Da barriga tiraram-lhe três litros de água e ela, coitada, feliz por estar mais leve, parecia que tinha renascido – dava saltos, abanava a cauda… estava tão feliz! Tão feliz!

Saímos de lá para um passeio um pouco maior do que o habitual. Era preciso que ela obrasse. Já não o fazia havia vários dias. Aliás, eu estava mesmo convencida que era esse o seu mal – prisão de ventre -, e que logo que estivesse resolvido ela voltaria a ser a minha cadela alegre que saltava para nós por tudo e por nada, que nos cumprimentava de manhã como se a noite tivesse durado meses e nos recebia em casa como se a nossa ausência tivesse sido de anos. Mas ela não obrou. Não no domingo, não nos dias seguintes. Nunca mais. Até ontem, quando nos encaminhávamos para o veterinário. Como se tivesse pressentido o que ia acontecer. Como se tivesse compreendido a luta dentro de mim, a hesitação, o não saber o que fazer. E as fezes eram negras, tão negras, a dizerem-me não te preocupes, vais fazer o que está certo, o que tem de ser feito.

E fiz.

E hoje ando p’raqui, como uma mosca tonta sem saber para onde ir – e o nosso passeio? E o meu bom-dia? E aquele olhar tão doce que me faz sentir a pessoa mais importante do mundo? Onde está? P’ra onde foi?

E à Amália? O que é que eu vou dizer à minha neta quando ela entrar por esta porta e procurar pelo cão Puca?

Ontem, enquanto lhe segurava a cabeça e a olhava nos olhos para me despedir, prometi-lhe que, embora não tenha sido a primeira, haveria de ser a última.

Mas não sei se vou conseguir cumprir...



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O MAIOR AMOR DO MUNDO






Que me perdoem todas aquelas e aqueles que decidem passar pela vida sem deixar descendência mas aquela sem ela é pouco. É muito pouco. Pouco de tudo. De alegrias, de preocupações, de orgulhos, de realizações, de felicidades extremas e medos disparatados, de frustrações e ansiedades, de amor incondicional, de saudades imensas quando partem, porque têm de partir.

Faz hoje 28 anos que dei à luz o meu filho mais novo e não o tenho aqui para o abraçar. Tenho pena. Mas não tanta quanta teria se aqui o tivesse e o sentisse frustrado, triste, sem saber o que fazer da vida porque era mais ou menos assim que ele andava quando o fazia por cá.

Hoje, no dia dos seus 28 anos, está por Londres, a trabalhar. E eu vejo-o de vez em quando, nas reportagens que faz, e encho-me de orgulho porque o meu filho, que faz hoje 28 anos, encontrou o seu caminho e é feliz.


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

DANTE OU A SERVENTIA DA ARTE



É alto, magro e tem os olhos azuis.

Na boca três dentes.

O quintal onde se move é um depósito de desperdícios amontoados entre as casotas dos dois cães e alguns canteiros onde crescem folhas não sei de quê.

Um tanque de lavar traz à cena o pormenor rústico. As janelas da casa que não é pintada há muitos anos estão cobertas de pó e, por entre as grades ferrugentas, descortinam-se panos amarelados pela força do sol.

Os dois cães que ele mantém presos por curtas correntes às respectivas casotas são de tamanho médio e pequeno. Ambos de feições afáveis e de rabo no ar – ou não é preciso muito para se sentirem felizes ou a nossa passagem dá-lhes alegria.

Ele vem sempre espreitar para ver a Puca, a minha cadela que passeia com uma trela mais comprida do que as correntes com que ele amarra os cães. Espreita para confirmar que ela vem presa e nunca perde a oportunidade de me alertar para o animal feroz que tem no quintal. “Ele é que está preso! Porque se estivesse solto! Ai meu Deus! Dava cabo dela”. E sempre que ele diz isto eu não consigo desviar o olhar do simpático animal que, se não fosse a corrente, correria para nós para que lhe fizéssemos festas. Tivesse eu a mesma certeza no número da sorte grande…

Hoje, quase nem nos cumprimentou. Estava demasiado ocupado.

Ouvi os gritos assim que dobrei a esquina. Lá dentro, ameaçada de “não tarda nada levas uma galheta que nem t’aguentas” estava uma mulher de rosto deformado por um tumor duas vezes maiores do que cara dela. Não lhe consegui ver os olhos, não se virou para mim, só de lado vi o gigantesco tumor que a mulher transporta. Nem sei como é que a cara não lhe cai para o lado.

Na rua não há passeio. Os carros tentam abrandar quando me vêem. Principalmente se a cadela decide que se quer aliviar ali, à beira da estrada, num fio de terra. Ou quando eu me baixo para apanhar o que ela faz.

Sinto a alma encarquilhar-se sempre que dobro essa esquina. Mas é ali que a cadela gosta de ir e, na verdade, as alternativas não são muitas.

Volto para trás. Curvo à direita e na primeira à esquerda. Um reduto de bom gosto num jardim cuidado tranquiliza-me. Demoro um pouco mais na passagem. Paro para lhe absorver as cores. Foi arranjado há pouco tempo. Uma pequena obra de arte. Respiro fundo e esqueço rapidamente as vozes e os cheiros da rua de trás.

Não sei como é que há gente capaz de afirmar que a arte não tem serventia!



DAS AUTO.

Anda uma pessoa a educar crianças para depois ser confrontada com este tipo de comportamentos.

A Volkswagen enganou 11 000 000, assim mesmo – com seis zeros -  de clientes e vários Estados por este mundo fora, isto para não falar nos prejuízos inerentes ao facto de, afinal, os veículos serem mais poluentes do que deveriam ser, ou mesmo totalmente poluentes, o que é ainda mais grave, a não ser que esta história do que é ou não poluente seja também uma conveniência deste ou daquele grupo económico, deste ou daquele lobby. Tudo é possível.

É que os universos paralelos onde nós, comuns mortais, não contamos para nada, existem mesmo. São universos onde tudo se passa de acordo com uma lógica  que nada tem a ver com aquela que pessoas como eu tentam explicar às crianças. Tudo se passa de acordo com a necessidade de manter em equilíbrio algo superior, transcendente mesmo, muito mais importante do que a corja de ignorantes que habita a base desta pirâmide onde o que realmente interessa está lá em cima, no alto, bem longe das nossas vistas e só desce cá abaixo quando alguém, por qualquer rebate de consciência ou por um interesse muito privado, bate com a língua nos dentes. Aí a coisa abana um bocadinho. Mas nada de demasiado sério.

Foi o que aconteceu com a Volkswagen que anda há anos a enganar o pessoal deliberadamente mas onde tudo corria bem, e poderia continuar a correr se não houvesse alguém, lá está, a espernear sabe Deus em prol de quê.

Não sei quem foi o parvalhão, ou parvalhona que se lembrou de pôr a boca no trombone porque agora quem vai pagar as favas são os suspeitos do costume.

O CEO já foi de carrinho com um “prémio” de despedida de 30 milhões de euros - 2,73 milhões por cada automóvel boicotado. Assim, sim, vale a pena ser vigarista. 

(Temos mesmo de repensar os valores que estamos a ensinar às crianças. Será que as estamos a preparar para o futuro?)

Mas tudo se vai compor porque a empresa, mais do que idónea, vai-se reestruturar. E se está a pensar que vão ser apuradas responsabilidade e punidos os responsáveis, é melhor pensar outra vez. 

Evidentemente vão rolar cabeças. Cabeças pequenas, de preferência. Talvez uma ou outra um pouco maiorzinha mas que não exija muito porque o grosso da coisa já foi com o CEO. 

Provavelmente vai-se falar em indemnizações mas os processos vão ser tão morosos que acabarão por cair no esquecimento. 

É preciso um plano para mostrar ao mundo que a Volkswagen assume os seus erros e, por isso, há que tratar dos 11 milhões de veículos “defeituosos” de forma a acalmar as hostes ou a vencê-las pelo cansaço. 

Pelo menos as tácticas já nós temos obrigação de conhecer. São sempre as mesmas...




sábado, 12 de setembro de 2015

Pretérito mais-que-perfeito

Acabei de passar à porta dos escritórios de uma empresa especializada em portas de luxo, modernas e originais, tal e qual os candeeiros lá na rua da Vitória [não se preocupe mais...].

Não, não se preocupe, porque se tiver menos de 50 anos provavelmente não perceberá o paralelismo e isso não tem importância nenhuma. O que interessa aqui é que os ditos escritórios estão ao abandono. Faliram. Eles, a firma e mais umas poucas que aqui na zona vendiam materiais de construção de primeira água.

Como é que eu sei disso? É fácil, foram eles que nos forneceram todos os materiais que usámos nas obras de remodelação da casa de família.

O tempo passa. Inexoravelmente, passa. E tudo o que é novo será velho, ou morto. 

No entanto, tudo o que passa merece lamento. Porquê? Porque tudo o que passa foi perfeito, foi bom, foi belo. Na nossa memória evidentemente.

É claro que nada do que acontece agora se pode comparar ao que já passou. 

Porque ainda não passou.

Perfeitos? só os pretéritos. Os presentes não passam de momentos que até podiam ser mas não são e, mesmo que fossem, não os veríamos.

E como poderíamos, se os nossos olhos apontam sempre noutra direcção?

Aqui para nós que ninguém nos ouve: não me fez grande mossa o abandono das portas.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Descendentes de Viriato

Dos refugiados sírios


Há coisas que não podem ser levadas de uma forma leviana e esta é uma delas.

Esta gente anda a fugir de uma guerra sem quartel. Anda a fugir da morte, da maior das misérias, do horror que uma guerra semeia, e fá-lo com os filhos às costas.

Esta gente luta para salvar a prole da guerra e da fome. Há até quem defenda que esta guerra começou exactamente com uma seca sem antecedentes na história da Síria que transformou a zona agrícola num verdadeiro deserto.

A Síria era um país estável. Onde se vivia normalmente apesar da ditadura. As pessoas  trabalhavam, alimentavam-se, divertiam-se e criavam os filhos pacificamente.


Dos portugueses



Por cá não há guerra. Mas também não abunda o trabalho. O desemprego cresceu consideravelmente e as pessoas passaram a ganhar menos e a pagar mais impostos. O número dos sem-abrigo aumentou e desconhece-se o número real daqueles que passam fome porque continua a existir, por aí, muita pobreza envergonhada.

Somos um povo que viveu uma ditadura de quase 50 anos de que poucos se lembram mas que continua  no nosso imaginário colectivo, deixando-nos de pé atrás. Afinal de contas, e apesar dos pesares, somos hoje um povo livre que pode rezar a quem quiser, vestir o que quiser, dizer o que quiser mesmo que sejam disparates, e não queremos perder essa liberdade. Aliás, não o saberíamos fazer. Pelo menos eu, pela parte que me toca, estaria disposta a morrer por ela.

As mensagens que recebemos sobre o povo muçulmano em geral, venham elas de onde vierem, não são as melhores. A forma como esta religião trata as mulheres é, em certas zonas do mundo, absolutamente escabrosa; o fundamentalismo de certas facções muçulmanas é medieval, e as notícias constantes sobre terroristas que entram disfarçados na Europa onde montam, muitas vezes, quartel, leva muitos de nós a questionar até que ponto corremos riscos com esta entrada em massa, não apenas no nosso país mas na União Europeia.

Da humanidade

Cristãos, islâmicos, hindus, budistas, jainistas, confucionistas e mais as outras centenas de fés que eu não conheço, têm uma coisa em comum – são humanos. Pertencemos todos à mesma espécie e, apesar de ser creio que a única a matar-se a ela mesma ao ponto do genocídio, é também a única capaz de coisas extraordinárias como a extrema humanidade onde se alberga o amor infinito e a compaixão.

Do medo

Eis o único mal que pode dar cabo de toda essa humanidade! O Medo! O Medo é, tantas vezes, a nossa desgraça. Aquilo que nos impede de sermos maiores, de irmos mais longe. Pensem em todos aqueles que o conseguiram e vejam o que é que eles deixaram de ter: Medo.

Nós não estamos em guerra. Não sabemos sequer o que é ter a guerra instalada no nosso país, ver as cidades e os campos destruídos, as nossas crianças mortas nas ruas.

Estes refugiados, estes migrantes vêm de uma situação pior do que a nossa. Uma situação que eles próprios não previram como nós não previmos aquela em que estamos agora e não podemos prever aquela em que estaremos amanhã. Sejamos então humanos. Sejamos fiéis à fama que sempre tivemos de povo acolhedor, de bom anfitrião. Afinal de contas não é a primeira vez que nos entra gente pelo país adentro e nós continuamos por cá.

E se, por qualquer estranho acaso, no meio deles entrarem terroristas, nós estamos aqui para lhes fazer frente. Afinal somos ou não somos descendentes de Viriato?



sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O IMPOSSÍVEL NÃO EXISTE. EXISTEM, SIM, VONTADES FRACAS

Obrigada a quem não descansou enquanto não inventou o avião


Sempre quis dizer isto. Aliás, sempre soube que isto é verdade. Não foram poucas as vezes que me lamentei perante terceiros sabendo muitíssimo bem que se a coisa não tinha acontecido era tão só porque a minha vontade que acontecesse não era assim tão grande.

Querer é Poder não é treta nenhuma. É verdade. A gente é que quer pouco porque querer dá muito trabalho ou, se calhar, porque afinal não somos seres de grandes quereres, de fortes vontades – somos assim mais fraquinhos, mais pequeninos, mais de gostares. Ah! E tal, eu gostava que me saísse o euromilhões; Eu gostava de encontrar a minha alma gémea; Eu gostava…

Mas nunca acreditando mesmo que uma coisa dessa dimensão possa acontecer! Bolas! E se me sair mesmo o raio do euromilhões?! O que é que eu faço a tanto dinheiro? Será que vou voltar a ter descanso na vida? E essa coisa da alma gémea? Se me engano e passados uns anos dou por mim a viver num inferno? Ná… deixa-me mas é estar assim que para complicações já basta o que basta.

E pronto. Não passamos da cepa torta.

Excepto, claro, aqueles raros que querem mesmo muito uma coisa qualquer e não sossegam enquanto não a conseguem. Esses são uns sortudos. Uns gajos que nasceram com o cu virado para a Lua.

Eu também acho que sim, mas não por terem conseguido o que queriam. Antes por terem descoberto o que era.

sábado, 22 de agosto de 2015

Sol e Sombra – Dos touros e das touradas


Cresci a ver touradas. A estar presente na feira da Golegã. A ver embolar touros dez vezes mais pesados do que eu. Conheci pessoalmente os toureiros Alfredo Conde e  José Mestre Baptista. O primeiro cavalo que montei era grande e branco e pertencia a um deles – não me recordo qual.

Nessa época, nas histórias que se contavam de morte e sangue, os protagonistas eram os toureiros – homens valentes, capazes de fazer frente a um animal feroz. Nunca assisti a uma tourada no país vizinho. Nunca vi matar um touro. A maior emoção que senti numa corrida foi ver o touro saltar a cerca semeando o pânico nos espectadores.

Havia, não sei se ainda há, em Lisboa, um clube para aficionados onde serviam refeições e se falava de touros e de cavalos. De toureiros e criadores.

Cresci a amar e a respeitar as tradições que alguém, que não eu, fez chegar até mim. Hoje sei que não existem tradições imortais. Que não existe tradição que não morra, mais cedo ou mais tarde.

Hoje sei que as tradições podem ser, e são na maior parte das vezes, forças que nos mantêm estáticos contrariando a dinâmica da própria vida.

Há que analisar muito bem aquilo que se defende. Há que reavaliar se a tradição em causa é ou não útil para o crescimento humano e as touradas, por muito que me custe dizer isto – e já me custou  mais – não são.

Tenho assistido a cenas de uma crueldade terrível. Uma crueldade que nunca vi antes porque nunca vi crueldade nos animais. Os animais não são cruéis. São só animais. E se um toureiro morria ou saía da arena mal tratado, eram ossos do ofício. A responsabilidade só a ele poderia ser imputada.

O mesmo não se pode falar do sangue que corre dos animais – quer dos touros quer dos cavalos. Esse é de uma crueldade sem igual porque é infligido, directa ou indirectamente, por quem não é apenas um animal. Ou não deveria ser.

Está na hora de acabar com esta tradição. A não ser que haja, como em tantas outras, capacidade de adaptação à nossa presente humanidade que, pelos vistos e contra certas más línguas, está em franco crescimento.
Bem haja.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Abandonos de mim


Às vezes abandono-me.

Por tristeza ou por preguiça, um abandono de mim como quem deixa o pó apoderar-se da casa para depois ter o prazer de a ver limpa.


Às vezes abandono-me sem pensar se vou ter força para me renovar, sem calcular o limite desse meu abandono, e como mal, durmo mal, rejeito-me prazeres fechando-me ao mundo só para ter o derradeiro prazer de me ver renovar, como as águias, como a fénix, acreditando que todos estes abandonos me protegerão do tempo que passa.


terça-feira, 28 de julho de 2015

Ninguém me liga nenhuma


Não tem idade este sentimento. Esta terrível frustração de não ser para os outros o que se acha que se deveria ser.

Não tem direcção. Tanto faz se estamos a falar de quem nos é próximo, de quem nos é menos próximo ou daqueles que julgamos conhecer só porque todos os dias nos deixam algumas palavras, tantas vezes arrancadas à solidão, nas redes sociais.

Nem tem sentido. Porque só pode ser fruto das baixas auto-estimas com que a sociedade, cada vez mais, nos presenteia.

Não é, por tudo isto, uma razão vectorial. Mas existe. Vive em nós e é real.

Ninguém me liga nenhuma!


E, se ninguém me liga nenhuma é porque eu não presto para nada. Mas como, cá no fundo, às vezes muito no fundo, eu até sinto que presto. Eu até quero prestar. Então são os outros que não prestam porque não olham, não vêem e não merecem que eu fique. E, numa desgarrada tentativa, serei inconveniente, agressivo, insultuoso até. Ou, simplesmente, virarei costas para voltar, logo a seguir, quando ouvir o público que tanto anseio bater as palmas por um encore.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Não Tenho Medo de Nada


"Não tenho medo de nada". E ouvi-la era ouvir-me a mim há alguns anos. Não sei  exactamente o que muda, se cada um de nós se a própria vida mas o medo parece ter fases. Fases e preferências.

Aos nove anos eu morria de medo de tudo o que me rodeava - o vento, o mar, os cães, o macaco que a vizinha tinha preso a uma corda que o deixava chegar ao muro rente ao qual eu tinha de passar, o bode que pastava atado a um poste e que um dia fugiu, o homem que se atravessava, ébrio, no meu caminho... Enfim, tudo ou quase tudo o que existia constituía uma ameaça que me obrigava a correr, a fugir, a tremer que nem varas verdes, a espreitar, a hesitar, a escolher os caminhos por onde passar.

Depois tudo isso se foi e eu tornei-me, creio que por força das circunstâncias, numa corajosa - numa Maria Sem Medo. Ai de quem me ameaçasse! fosse cão, gato ou gente. Ai de quem entrasse sem ser convidado no espaço que era o meu!

E para provar e comprovar essa minha coragem adquirida, a vida tratou de me oferecer vários momentos de alimento egónico. Momentos de glória e garbo que consolidaram ainda mais a minha capacidade de enfrentar qualquer ameaça, de liquidar qualquer inimigo.

A seguir fiquei só e o medo ganhou coragem. Primeiro devagarinho, como quem não quer a coisa, depois determinado, paralisante, sufocador. Não era o mesmo medo de antes, era um medo maior, mais vasto, mais profundo. Era um medo que não desaparecia mesmo que eu corresse. Um medo do qual não se pode fugir porque ele vive dentro de nós e não nos larga assim do pé para a mão. Segue-nos para onde formos, o estupor.

Escusado será dizer que este me deu muito mais trabalho. Um trabalho interior e diário. Um trabalho muito mais profundo e, verdade seja dita, muito mais profícuo. A este medo devo o meu maior crescimento. Mas na vida nada se sabe. Ela é, só por si, uma surpresa constante e os meus velhos medos estão agora, saberá Deus porquê, a voltar.

Ainda ontem foram pernas para que vos quero! Eu e a cadela a fugirmos de três outras, grandes, potentes, zangadas. E as minhas pernas a tremerem outra vez e o meu coração a querer saltar do peito e eu sem saber se fugia por mim ou por ela - a pequena cadela que nem esperou que eu puxasse a trela para desatar a correr ao meu lado, como que sentindo o meu medo ou, quem sabe, o dela.


Hoje, a propósito dessas outras que por aí andam completamente desvairadas e que, fiquei a saber, guardam no ninho cerca de vinte rebentos que dentro em breve correrão pelas ruas ao lado das mães reclamando alimento e território, as minhas pernas tremeram mais ainda e da boca saiu-me a confissão do medo. Desse medo quase irracional que me leva a agir. Esse medo das coisas. Esse medo tão mais pequeno do que outro que há bem pouco tempo consegui combater. Esse medo que,  mais depressa do que o outro, voltará a despertar em mim essa Maria Sem Medo e, tal como a corajosa que habita na mesma rua que eu, voltará a pôr na minha boca palavras que já foram minhas e que por enquanto são só dela: "Não tenho medo de nada."

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O Apego e a Traição



"O apego fere a alma da mesma forma que a traição fere o corpo. Ambas as exacerbações ou desequilíbrios geram violências. A violência à alma é contra a própria vida, e responde pela depressão; ao corpo, por sua vez, se expressa contra o mundo externo, no ódio e na vingança."

                                                                                                 Bonder, Nilton, A Alma Imoral

E quem é que se pode gabar de nunca ter sentido uma e outra coisa?! O apego é a forma mais primitiva de amor, a mais brutal, aquela que leva infalivelmente à traição, já que nunca é correspondida porque só pede, só exige, e pouco ou nada dá. Quem ama assim é sempre atraiçoado, mesmo que não seja.

Poucas coisas são tão difíceis na vida como a conquista de um equilíbrio entre a depressão, o ódio e a vingança, de forma a podermos caminhar rumo ao desapego e à aceitação da inevitabilidade, e até da importância, da traição. Sem ela não há evolução. Sem eles - o desapego e a traição -, não há evolução.

Só quando traio o status quo, quando tenho a coragem de questionar a ordem vigente é que me liberto, é que saio do meu conforto para o desconhecido. Só traindo cresço e, para isso, tenho de aprender a amar, tenho de sair de mim, do meu papel, daquele papel que atribui a mim mesma ao longo da vida pela forma como me fui vendo, a mim, aos outros e ao mundo.

Tenho de sair de mim e olhar tudo com um novo olhar. Tenho de reescrever a minha história. Só assim crescerei. Só assim serei feliz e farei feliz quem me rodeia.


domingo, 12 de julho de 2015

A Minha Filha - À Minha Filha


Nunca me senti verdadeiramente importante, disse-me ela ao fim de 35 anos como se disso dependesse o mundo. E dependia. O facto é que dependia. O dela. O mundo dela.

Em que momento das nossas vidas estamos preparados para ser pais ou mães? provavelmente em nenhum, mas há sempre quem consiga superar o desafio de forma mais harmoniosa, mais segura, mais madura até.

Dependerá da idade? Também.

Eu era muito nova quando decidi, pela primeira vez, que seria mãe. Mais nova ainda quando soube que não poderia deixar de o ser. E fui. E teria sido muito mais se tivesse conseguido ultrapassar sozinha - porque foi como sempre me senti, sozinha -, todos os obstáculos que a vida se foi empenhando em colocar-me no caminho.

Se mudaria alguma coisa podendo voltar atrás? Muita! Muita coisa! O que sei hoje é exponencialmente mais do que aquilo que sabia então.


Mas uma coisa é certa - apesar dos pesares, ela ainda vai sendo capaz de me dizer estas coisas. E isso é bom.


segunda-feira, 6 de julho de 2015

Memórias de Gabriela


Passei hoje pela tua antiga casa tiazinha. Aquela onde viveste durante mais de cinquenta anos a despeito da vontade do senhorio. Aquela onde lutaste contra o tempo. Aquela onde acabaste por vencer tantas adversidades mal sabendo que a maior estava para vir.

Passei hoje pela tua antiga casa tiazinha. Mudaram-lhe a porta e as janelas. Agora são brancas, daquele material novo e frigorificamente branco que em nada condiz com a rusticidade da casa.

O pequeno limoeiro que se deixava cair pelo peso dos limões já não existe. Aquele pequeno jardim cuja cancela nos separava da estrada cada vez mais barulhenta, já lá não está. Agora quem passa no passeio roça essa outra porta de um branco despropositado, violando a intimidade de quem a habitou.

Vieram-me à memória os degraus de madeira, a porta de postigo, o quintal das traseiras. O cheiro do soalho, lustroso de tantos cuidados. Os móveis nórdicos da Helina. A carpete do corredor. Aquela casa de banho onde facilmente nos perdíamos. A banheira de pés altos. O lava loiça de mármore, o fogão em cima da chaminé.


E pensei que gostava de voltar a entrar nessa casa. Não nesta, de porta e janelas despropositadamente brancas, mas nessa outra onde também eu fui crescendo. Pensei que talvez o proprietário estivesse à espera da tua morte para que esse despropositado branco não te ofendesse. E pensei que talvez a Helina quisesse lá entrar, comigo, só para bisbilhotar, para ver até que ponto as coisas mudam. E foi então que me lembrei que ela partiu ainda antes de ti tiazinha e que foi essa a tua maior provação, aquela que nunca conseguiste ultrapassar.


domingo, 21 de junho de 2015

Dos Arraiais e das Danças


Há muito tempo que não dançava! E não é que não goste de dançar porque gosto, mas tenho mergulhado naquilo que a vida diz que tem para mim, aceitando o frenesim de todos os dias sem me mexer para dizer agora chega, agora vou ver se me divirto um bocadinho. Mesmo que seja num arraial. Mesmo que a música não seja aquela que gosto de ouvir. Aliás, de preferência que não seja aquela que gosto de ouvir porque essa raramente serve para dançar e eu preciso mesmo é de dançar - de me mexer, de saltar, de dar aos pés, de cansar as pernas e ficar com a certeza de que os meus joelhos não estão assim tão maus, que o meu peso não está, ainda (e espero ter a vontade que preciso para que nunca chegue a estar) de modo a não me deixar mexer mais de meia hora sem ficar a arfar de cansaço.

Enfim... há muito tempo que não dançava, mas ontem dancei e fez-me bem.


Obrigada a este grupo dos antigos alunos do Liceu de Almada que se mantém tão activo por via de meia dúzia - se calhar nem tanto - de carolas que não desistem de nos arrastar para este lado da vida. Este lado despreocupado, descontraído, meio louco, onde se vão carregar as baterias para aguentar os mergulhos naquilo que a vida diz que tem para cada um de nós e que insistimos em aceitar sem espernear de vez em quando. Ontem esperneei.