sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo

Estamos a chegar ao fim de mais um ano, ainda que um bocadinho aldrabado este tempo que determinámos para as voltinhas que a Terra dá, o facto é que, mais minuto menos minuto, ela lá deu mais uma volta connosco por cá.

O fim do ano e o meu aniversário são datas quase religiosas, que gosto de interiorizar como se realmente fossem, e não representassem apenas, um novo começo.
Raramente traço objectivos mas gosto de desenhar intenções. Intenções que se prendem, fundamentalmente, com aquilo que sou e aquilo que ainda posso vir a ser. Estas datas são, para mim, momentos em que interiorizo tudo o que fui capaz de aprender, respiro fundo e começo de novo, cá dentro.

Este ano vou repousar lá para os lados do Alentejo, numa herdade pacífica, onde as galinhas da canja são alimentadas a grãos e a dita traz ovinhos. Vou namorar, que bem preciso, vou jantar ensopado de borrego, também ele criado a erva, e vou entrar o ano de mão dada a passear pelo campo. É isso que vou fazer. Vou estar em paz.

E é essa paz que vos desejo a todos aqueles que aqui vêm, e aos que não vêm também. Que entrem em 2011 com o coração cheio de amor e a alma carregada de paz, que cada um chame a si toda a força que puder e que nem o engenho nem a arte nos falte.


Por favor não se zanguem se eu não atender o telemóvel.

Um MUITO FELIZ 2011.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um dia destes sou despedida

Fora de brincadeiras, não sei como há quem me ature, e isto é sincero!
Mora em mim um egoísmo resinoso, não sei se mais resinoso até do que o altruísmo que também cá habita, que se manifesta sempre que os objectivos são mais prementes.
Eu explico: Sempre que uma puta de uma coisa se me mete na cabeça não descanso enquanto não a levo a bom termo.
Não se pense, no entanto, que as coisas me nascem assim do nada! Ainda que ontem, num dos muito fraquinhos momentos em que fui capaz de parar o meu cérebro para olhar para mim e pensar um bocadinho, a suspeita de que preciso disto para viver me tenha atormentado… Mas o facto é que são coisas que têm de ser feitas, na medida em que seja o que for “tem de ser feito”, evidentemente. Se forem feitas talvez! talvez! as coisas corram melhor! É isso – talvez!...Mas se eu não as fizer nunca chegarei a saber se elas tinham melhorado se eu as tivesse feito…
Adiante, aquilo que interessa é que, no meio desta azáfama vertiginosa em que me envolvo, até parece que não gosto, que não amo, que não quero. Quando, na verdade, gosto, quero e amo. O problema é que sou incapaz de consolidar as duas coisas em momentos de crise como este. Não sou capaz de dar “uma no cravo e outra na ferradura”, como se diz por aí. Então, trato de despachar o mais depressa possível o que há para fazer, se eu pudesse nem comia nem dormia até terminar, para poder, depois, dedicar-me à partilha da vida e das coisas.
Ora não é qualquer pessoa que aguenta isto: Olha, agora, se não te importas, espera lá uma ou duas semaninhas que eu não estou por cá, tenho muito que fazer!...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Despeito...

...do latim despectu-, significa "olhar do alto, de cima"; no dativo, quer dizer "desprezo".
Muito semelhante ao ódio, ao rancor e, até ao amor, não tem origem no outro, mas em nós mesmo. É claro que não aparece por geração espontânea, mas nem o ódio, nem o rancor e nem o amor, aparece por características internas e não externas, e vira ao contrário qualquer um.
Tem, em relação aos outros sentimentos, a desvantagem de ser gerador. Odeio porque fui despeitada; detesto pela mesma razão e sou bem capaz de amar, ou pensar que amo, porque me deram atenção…
São raras as pessoas que não se deixam dominar pelos sentimentos, nem que seja temporariamente. Portanto, são raras aquelas capazes de vislumbrar o papel que desempenharam em cada acto da sua própria vida.
Fui abandonada, enganada, despeitada e, por isso, sou vítima e o outro, ou os outros, são os culpados, aqueles sobre os quais eu hei-de, mais cedo ou mais tarde, despejar a minha raiva e o meu ódio!
Há até quem alimente aquela velha máxima da «vingança que se serve fria», sem perceber que, à espera que arrefeça, terá de não deixar morrer os sentimentos que a justificam e se vai envenenando por dentro, porque é isso que certos sentimentos fazem - envenenam. E, muitas vezes, o outro só seguiu o seu caminho. Muitas vezes o outro só tentou ser feliz, porque, convenhamos, não é muito comum abrirmos, assim, mão da felicidade. Todos nós a procuramos, alguns a vida inteira… A mudança de rumo é, na grande maioria dos casos, apenas a concretização de algo que já existia, nada mais do que isso.
Odiar em certos momentos é compreensível e até saudável. Alimentar esse ódio ad aeternum, é doentio. Estendê-lo a quem nada tem a ver com o assunto, é irracional. Mas os sentimentos são mesmo assim – irracionais. E ainda bem que o são.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Manuel Maria Carrilho

É de Julho, mas vale a pena ler e reler. Pode ser que nos acalme um pouco e nos ajude a desacelerar em 2011.

«Sem tempo, nem paciência!...
por Manuel Maria Carrilho, Diário de Notícias, 29.07.2010

Se há ideia com que se tenha identificado a evolução técnica e tecnológica do último século, foi sem dúvida com a da promessa que ela propiciaria mais tempo à humanidade, libertando-a de diversas pressões que condicionam a vida quotidiana dos indivíduos.
E contudo, apesar da proliferação dos inventos que substituem o trabalho humano, e da multiplicação das inovações tecnológicas que permitem fazer tudo mais depressa (fax, Internet, telefone portátil, etc.), que tornaram possível que hoje se trabalhe metade do que se trabalhava há cerca de cem anos e se viva muito mais longamente, é exactamente o contrário que se verifica: vivemos hoje com a noção de, afinal, não ter tempo para nada…
Tudo se passa como se uma lógica mais forte se impusesse a todas essas ilusões, contrariando-as. E essa lógica existe, é a da aceleração: isto é, a de um aumento constante da velocidade que, na perspectiva do sociólogo alemão Hartmunt Rosa (autor de um magistral estudo sobre a aceleração), se tornou num traço central dos tempos modernos, que se tem vindo constantemente a intensificar.
Uma aceleração que começou por ser técnica e incidir nos meios de transporte. Que depois alterou os ritmos de produção e as características das relações colectivas, atingindo todos os modos de vida. E que por fim se tornou social e cultural, transformando-se um imperativo constante que atravessa todas as actividades humanas, sejam elas profissionais, pessoais ou políticas.
Uma boa imagem deste facto encontra-se, como lembra H. Rosa, na circunstância de se terem passado 38 anos entre a invenção da rádio e o momento em que a sua difusão atingiu os 50 milhões de aparelhos, enquanto bastaram três ou quatro anos para a conexão à Internet atingir a escala das centenas - e, depois, dos milhares - de milhões.
É a aceleração que, a nível subjectivo, se encontra na raiz do stress, da hiperactividade, da depressão, pelo modo como ela bloqueia o desenvolvimento de qualquer projecto individual. É a aceleração que, como Maggie Jackson explica num livro extraordinário, Distracted, provoca a erosão da nossa capacidade de atenção, seja de concentração em algo, seja em relação às mudanças que ocorrem à nossa volta, seja ainda de adaptação a essas alterações. É a aceleração que multiplica simultânea e contraditoriamente os apelos de urgência e os comportamentos reactivos, estropiando o tempo de reflexão necessário à decisão esclarecida e eficaz nos domínios económico, social ou político. É a aceleração que conduz à consagração do curto-termismo, como se ela fosse na verdade, na bela expressão de Milan Kundera, o único êxtase do homem moderno.
A aceleração dilui a percepção do tempo, condenando-nos a viver num presente perpétuo em que os acontecimentos se multiplicam na razão inversa da compreensão do seu sentido. A torrencial multiplicação dos pontos de vista tem como único efeito seguro o de privar o homem contemporâneo de qualquer perspectiva consistente sobre o quer que seja.
O curto-termismo, que decorre automaticamente desta aceleração e se impõe em todas as vertentes da vida contemporânea, é o que melhor define a mutação radical que ocorreu na nossa relação com o tempo. É ele que nos priva de qualquer horizonte onde se possam instalar verdadeiros projectos de vida, individuais ou colectivos. É ele que cria novas formas de irresponsabilidade, como se tem vindo a observar no decurso da crise financeira, com a cínica generalização da máxima "I'll be gone, you'll be gone". É ele que fragiliza todos os processos de deliberação, colocando-os sob a pressão das urgências mais diversas. É ele que estropia a atenção à complexidade das sociedades contemporâneas, impondo-lhes um registo de instantaneidade e de imediatismo de natureza suicidária. É ele que empurra todas as actividades humanas para o modelo do turboconsumo e das múltiplas dependências que ele cria.
Vivemos, em suma - a analogia é de J.L. Servan-Schreiber, no livro Trop Vite -, como se nos deslocássemos de noite num automóvel cuja velocidade aumenta à medida que o alcance dos faróis diminui. É por isso que, mesmo em férias, se torna tão difícil desacelerar? Habituados que estamos, por um lado a viver como se a velocidade por si só desse sentido à vida e, por outro lado, a associar a aceleração com a intensidade, é cada vez mais comum reagirmos com ansiedade a qualquer vislumbre de lentidão e identificarmos a mais pequena desaceleração com uma assustadora ameaça de tédio. Como se, quando finalmente há tempo, faltasse a paciência? »

In http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1629529&seccao=Manuel%20Maria%20Carrilho&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco#AreaComentarios (visionado em 28-12-10)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

À simpática Anónima que alegrou o meu dia com um comentário que, infelizmente, tive de recusar

A inveja é uma coisa muito feia mas ainda bem que há quem a tenha. É que se não fossem essas infelizes que se envenenam por dentro, eu era bem capaz de me esquecer o quanto valho.
Muito obrigada à invejosa “anónima” que teve a gentileza de me dar a conhecer o seu estado de espírito. Animou-me.

Decidi esticar o cabelo e agora ando com um colchão em cima da cabeça.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Estou bem. Estou a lutar.

Ultimamente, quando me perguntam como estou, respondo num tom sério, profundo – Estou bem. Estou a lutar.
E apercebo-me que estou, realmente, a lutar há muito tempo! Provavelmente toda a minha vida, ou uma grande parte dela. E não estaremos todos?
A lutar. A lutar por aquilo que queremos, por aquilo que acreditamos ser o nosso caminho, até mesmo quando parece que não fomos nós que o escolhemos mas aquele que nos saiu em sorte, estamos a lutar.
E à medida que o tempo passa, esse estar entranha-se e aos olhos dos outros somos uns lutadores. É, ou passa a ser esse o nosso orgulho, o nosso suporte quando vacilamos. Afinal não podemos, somos lutadores e um lutador não vacila. Pode perder, mas perde a lutar. Não vacila, não baixa os braços, não baixa as defesas. E, de repente, estamos transformados em verdadeiras fortalezas, penosas para quem quer entrar. Tão penosas que corremos o risco de ficar entrincheirados…
Lutar é indispensável. Tão indispensável quanto o é a salvaguarda daquela reserva de fragilidade que nos habita, e a certeza de que, se a utilizarmos, não sucumbiremos.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Um dandy

Não a via há 15 anos. Saímos juntas uma meia dúzia de vezes mas as nossas diferenças acabaram por nos separar. Ela corria atrás de homens e dinheiro como quem corre atrás de pão quando a fome aperta. “Eu…é mais bolos…”. A autonomia e o amor sempre me gritaram mais alto.
Encontrei-a hoje. Próspera, parece ter, finalmente, encontrado o que sempre procurou. Vive numa mansão que é também o seu local de trabalho. Trata da facturação do negócio que o companheiro de há seis anos gere. De sorriso nos lábios fez questão de o chamar para me apresentar. Uma amiga de longa data, gritou ela para o outro extremo onde ele se encontrava. A criatura nem se moveu. Alto, todo branco, com o cabelo a cobrir-lhe a parte de trás do pescoço, virou-lhe a cara como se ela nem existisse e a mim, atirou-me um sorriso amarelo e um fraco menear de cabeça. O “chega aqui” que ela lhe gritou, perdeu-se no espaço que os separava.
Saí de lá a pensar que ela encontrou, realmente, o que procurava. E eu também…

Feliz Natal


Este ano, vá lá saber-se porquê, tudo o que eu pudesse dizer para além disto me pareceria supérfluo. Feliz Natal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vamos lá a ver se é desta...

De vez em quando dá-me para desafiar o instinto. Agarro-me à razão, compilo todos os factos e sigo-a, ainda que o instinto me continue a azucrinar o aparelho digestivo gritando que há algo que não bate certo.
Vamos lá a ver se é desta que o desgraçado se engana…

Raposa

Eu sou como a raposa da fábula. Quando as uvas estão demasiado altas, digo que estão verdes, que não prestam...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

De volta ao estado de graça

Ora bem - criar filhos não é nada fácil, que não é. Exige uma grande capacidade de sofrimento e um grande poder de abnegação, que é como quem diz – esquecermo-nos de nós para nos centrarmos, única e exclusivamente, neles.
Assim, sempre que tivermos de os contrariar, contrariamos e aguentamos firme a dor de os ver contrariados. Nem que tenhamos de nos enrolar sobre nós mesmos como quem se agarra ao estômago quando ele, insuportavelmente, dói.
Pouco importa o que nos custa a nós. O que importa é o que lhes vai custar a eles, mais tarde, a nossa incapacidade de sofrimento.
Sempre ouvi dizer que é preferível que chorem quando são pequenos do que mais tarde, depois de adultos…

....

Irrita-me a ignorância e, sobretudo, transtorna-me a incapacidade de educação de certos pais!
Ó gente! Um compromisso é um compromisso! Um programa é um programa! Existe como um todo. Não se inscreve uma criança para um programa de três dias para depois permitir que ela decida se vai ou não e quando!
Ah! E tal!...ele hoje prefere ir para ali.
Mas o que é isto?! Ele é que manda?! E não se percebe que ao aceitar este tipo de comportamento se está a dizer às crianças que os compromissos não valem nada?! Que não faz mal saltar por cima deles?!
Depois surpreendemo-nos com homens que dizem uma coisa e fazem outra! Pois pudera! Foi assim que foram habituados!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Objectivos para 2011

Encher o meu coração de amor; os bolsos de dinheiro e o corpo de saúde.
Vou amar tudo e todos; vou andar em estado de graça. Vou trabalhar nisso todos os dias – olhar para tudo e ver o belo e o bom. Dá trabalho. Um trabalho que é mais do que diário, é horário. Mas já o comecei e estou a conseguir. Quando chegar a 2011 serei uma expert na matéria. Atrás disso virá o resto, por arrasto – os bolsos encher-se-ão de dinheiro e o corpo de saúde.
O mais difícil vai ser deixar de fumar. Provavelmente terá de esperar uns meses. Mas far-se-á.

sábado, 18 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Vamos lá perceber isto...

Quando eu andava na escola primária as festas de Natal eram um must; uma excitação, como se vivêssemos o ano inteiro para aquilo. A vida parava e nós atropelávamo-nos por uma cadeira. Nem todos faziam parte do elenco teatral mas toda a gente participava, nem que fosse apenas no coro ou como figurante.
Hoje os putos vão à escola de manhã só para não terem falta e fogem para casa. É uma seca! dizem eles da festa da escola. Uma seca!...

Relatividades

Dizia o meu irmão há cerca de dois dias:
- Aqui (numa ilha do Mar do Norte) o dia está lindo! O sol brilha e estão 3 graus ACIMA DE ZERO!! UAU!!! QUE FELICIDADE!!!!
Pois aqui está um frio de rachar! Estão 11 graus positivos! Brrrr.......

Dos filhos e enteados

Quando acabei de escrever o meu primeiro romance, há uns bons anos atrás, imprimi uma série de cadernos que enviei para tudo quanto era editora.
Nos meses que se seguiram fui recebendo cartas: “Obrigado, mas…”; “Lamentamos que…”. Até que um dia o telefone tocou e uma voz do outro lado do fio se fez anunciar como representante de uma grande editora, das maiores à época e agora, ainda. Perguntou-me Quem eu era! Ninguém, respondi, apenas alguém que escreveu um livro e gostava de o ver editado. Mas pertence à família de…? - insistia a criatura. Não, não pertenço. Gostámos do livro. Entraremos em contacto consigo.
E isso bastou-me. Esperei…em vão. Passaram alguns anos. Tirei o livro da gaveta e revi o que tinha escrito, cortei aqui e ali, acrescentei acolá e voltei a enviá-lo para uma série de editoras. Passados uns meses recebi um outro telefonema. Uma pequena editora estava interessada. O livro foi para as prateleiras.
Mas a editora era, e é, francamente pequena. De parcos recursos não divulgou, não publicitou, não teve poder de negociação perante os livreiros, e o livro, que durante os primeiros dias teve honras de destaque em FNACs e Bertrands, acabou escondido nas prateleiras; invisível no meio de tantos outros.
Ainda assim esta pequena editora entusiasmou-se com o segundo e repetiu a proeza. Mas, fosse eu filha de fulano ou íntima de sicrano e seria hoje uma conhecida escritora, a viver, apenas e só, das vendas dos livros. E pouco importa se escrevo bem ou mal – seria. Porque é assim que a selecção é feita neste país e, nos entretantos, lá vão aparecendo, por sorte, aqueles que até merecem…

Assim Acontece...

Era uma pessoa alegre. Não me parece que a vida lhe tenha pesado muito, beneficiou daquilo que o país tem de melhor: as cunhas e os compadrios. O desfecho não lhe deu as mesmas oportunidades, veio sem aviso... Que descanse em paz.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Reencontros

Éramos três. Dois rapazes, uma rapariga. Dois brancos, um preto. Inseparáveis. Nos primeiros anos do liceu, para onde ia um, íamos todos. Magros, brincávamos com as nossas parecenças. Gostávamos de dizer que, embora não fossemos irmãos, tínhamos sido feitos com o mesmo molde.
Fomos crescendo; começaram os namoros; fomo-nos afastando até que eu voei para a Holanda e, pouco tempo depois, um deles também. Eu voltei, ele ficou. Perdemos o contacto. Lembro-me dele muitas vezes e, em conjunto com um outro amigo que não o primeiro, esse nunca mais o vi, procurámo-lo no Facebook mas nada, nem sombra! Houve momentos em que nos passou o pior pela cabeça…
Há coisa de dois ou três dias, numa bomba de gasolina, um condutor duma carrinha deu-me passagem. Não me olhou mas eu olhei-o – era um do trio, o branco, o que ficou por cá! Ainda lhe fiz sinal mas, como eu não aproveitei a oportunidade de passagem, ele desapareceu no meio do trânsito. Deu para ver que está bem. E gordo!
Hoje, esse outro amigo que comigo lembra o que não voltou, ligou-me para me dizer que o I. estava cá!
Andei de beco em beco para me lembrar da morada da família. Passaram mais de vinte anos! Encontrei a mãe e, numa outra casa que não a dela, o filho.
Abraçámo-nos de lágrimas nos olhos. Está bem. Muito bem. E, tal como o outro – bastante maior! Gostei tanto de o rever!

Um dia destes...

...deito fora tudo o que tenho nos armários. Tudo.
E compro tudo novo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Particularidades

Sou daquelas pessoas a quem o Verão ilumina e o Inverno envelhece.
Para quem não sabe a quantas anda, que me olhe. Transporto comigo as estações como composições da alma e, no meio de tudo isto, é imperativo que deixe de fumar.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

E pronto, é isto...

Estou muito cansada, sem inspiração e a sentir-me estúpida porque, mais uma vez, me armei em Madre Teresa...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Encontros

Um dia destes faço uma compilação de disparates e enganos. Tenho para dar e vender.
Ontem fui conhecer esta menina. E para todos aqueles que gostam muito de dizer mal da Internet, esqueçam, trata-se de uma ferramenta que, como todas as outras, tem de ser bem utilizada e as vantagens podem ser, e são, inúmeras. Mas como eu dizia, fui conhecer a CF. Já nos lemos uma à outra vai para dois anos e as pessoas vão-se conhecendo e reconhecendo naquilo que escrevem e lêem, por isso decidimos encontrarmo-nos e jantar.
Ela veio de longe e, como quem vem de longe chega sempre primeiro, vá lá saber-se porquê!..., chegou primeiro do que eu. Pelo telefone trocámos marcas e cores de viaturas e foi com a marca e a cor, do carro dela, na cabeça que entrei disparada no parque de estacionamento. Não foi difícil avistar o dito - a cor; a marca; o modelo - luzes acesas e uma menina lá dentro. Estacionei mesmo ao lado e saí disparada direita a ela que entretanto também saiu para me receber. Dois beijinhos, isto não se faz a ninguém - esperar meia-hora, disse eu em tom de desculpa quando a vejo perplexa a fixar-me e me pergunta pela R.! Mas quem é a R?! pergunto eu e ficámos a olhar uma para a outra - isto deve ser engano!...
A CF, dentro de um outro carro assistia à cena convencida que eu não era eu mas uma outra qualquer que tinha ido ter com aquela que esperava, sentada, num carro igual ao dela.
Na verdade não nos conhecemos ontem, porque já nos conhecíamos. Apenas tratámos de encaixar as imagens que fomos construindo, na realidade das nossas figuras. Acabou por ser um encontro a três já que fomos ouvir este menino tocar. E como a nossa maior riqueza é constituída pelas pessoas com quem nos cruzamos, a minha vida ficou um bocadinho mais rica.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A geração do silêncio

A minha geração não esteve, nunca, autorizada a contar aos pais aquilo que fazia – as bebedeiras que apanhava; as experiências malucas; os namoros às escondidas…Não havia comunicação que permitisse isso nem mesmo depois de adultos. Os pais da minha geração não estavam, nem estão, preparados para saber pormenores do crescimento dos filhos ou da sua vida íntima.
Mais tarde, a tendência de muitos foi quebrar o mais que pudesse essa barreira, com os filhos. Eu caí, muitas vezes, em exageros de confidencialidade, numa sede de proximidade que faltou com a geração anterior. Essa sede foi criticada, e as confidências, ou desabafos, mortos à nascença – os filhos não são, não podem ser diziam eles e muito bem, confidentes dos pais. Pelo menos enquanto não se tornarem verdadeiramente adultos.
Tiveram contudo o privilégio de poder confessar o que muito bem entendessem confessar, e nunca sofreram, pelo menos uma grande parte deles, dessa distância feita de ignorância e secretismo. Hoje, mercê deste fenómeno de comunicação global que é a internet, todos os pais podem, se quiserem, saber o que os filhos fazem, fizeram; deixam ou deixaram de fazer – basta ir ao Facebook.
Quanto a nós, lá vamos deixando, de vez em quando, escorrer qualquer coisita mas o hábito faz o monge e há coisas que permanecerão secretas para todo o sempre. Coisas que, uma vez caladas, caladas para sempre.
Assim, a minha geração é, costumo eu dizer por graça, a geração do queijo e do fiambre. A geração entalada entre duas sem ter podido, na verdade, confidenciar com nenhuma. A geração do silêncio.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quanto terão eles pago...

...às duas senhoras para dizerem que o fundador da WikiLeaks as tinha molestado?

Mode Disparate

O mode Disparate é aquele mode em que se abre a boca, ou se estica os dedos no teclado, para dizer tudo aquilo que nos vem à cabeça sem nos lembrarmos que quem vai ouvir ou ler pode não estar no mesmo mode que nós.
Eu tenho alturas em que funciono neste mode. Geralmente são momentos de ansiedade e alguma insegurança que precedem outros de importância alta, pelo menos para mim. São momentos em que faço questão de vomitar tudo o que penso e sempre de uma forma tão desgarrada que sai uma espécie de salada cujos ingredientes, para serem identificados, têm de ser mexidos e remexidos por quem tem paciência para o fazer e são poucos os que a têm…Daí ser um mode em que tudo o que sai soa a disparate desconexo vindo de uma cabeça que não pensa, pensa pouco ou se está nas tintas para o que os outros pensam – o que não é, de todo, verdade.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O barato sai caro

Não me canso de comprovar isto mas parece que nunca aprendo. Entre um disparate e outro pode até mediar muito tempo mas, mais cedo ou mais tarde, acabo sempre por cair nesta armadilha das baratezas.
Fui comprar lenha «barata». Na verdade a metade do preço!... A estupor, para além de não querer arder - tem mais água lá dentro do que madeira..., vem cheia, mas cheinha mesmo, de formigas gigantes!
Tenho formigas a passearem pela casa cada vez que enfio um tronco na lareira. A minha mãe leva o dia todo a «caçar formigas» e a rezar para que elas não descubram a marmelada...
Entre a água e as formigas sobra muito pouca madeira! Metade do preço my ass!

Os Críticos...

...são aquelas pessoas que percebem imennnnnnso de uma coisa, embora não sejam, na verdade, capazes de fazer nada.
Avaliam pormenorizadamente um quadro, ainda que nunca tenham pintado nenhum. Uma obra literária, embora as suas se fiquem pelos textos críticos.
Os críticos são, ao fim e ao cabo, aquilo que todos nós também somos - perfeitamente capazes de resolver os problemas alheios.
Os críticos não fazem a mínima ideia do que é ter necessidade de «estar dentro do convento para saber o que vai lá dentro», porque eles sabem tudo, e mais alguma coisa...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Foi um fim-de-semana frio. Muito frio. E eu andei a cirandar entre temperaturas – aqui está quente; aqui está frio – o resultado foi uma daquelas constipações que passam pela garganta e pelo nariz, e seguem directamente para os brônquios porque houve uma altura em que os médicos cortavam amígdalas e adenóides por dá cá aquela palha e como se não houvesse amanhã.
Mas ter quem se levante a meio da noite para fazer chá e tratar de nós não é para todos. Por isso, e só por isso, estou muito melhor.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quando for grande...

...quero ser gestora de uma empresa pública.
Um estudo da Deco revela que as Empresas Públicas são as mais mal geridas, e como os seus gestores são mais bem pagos do que o Presidente da República, deste e doutros países como os Estados Unidos e a Alemanha, é isso que eu quero ser - Gestora de uma Empresa Pública.
Não há para aí uma vaga?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Nós - os portugueses

Não vou dizer mal do 25 de Abril, nem da nossa entrada na UE. Temos hoje, apesar de tudo, um povo mais instruído do que aquele que tínhamos em 1974. Talvez, por isso mesmo, tenha chegado o momento de ler Eduardo Lourenço, Agostinho da Silva e, porque não?, Fernando Pessoa. Talvez tenha chegado o momento de nos virarmos um pouco mais para nós, porque a globalização é boa – dá-nos uma visão do mundo e do nosso lugar nele, mas cada povo tem as suas particularidades e o seu próprio temperamento.
Somos um povo «manso», de «brandos costumes», e lamentamos, muitas vezes, um certo divórcio político, de participação activa. Fechamo-nos, tantas vezes, cada um de nós, na nossa individualidade e na nossa humanidade, sem saber que, se calhar, partilhamos, todos nós, estas características. E é essa ignorância do todo que impede que nos organizemos e que tomemos parte verdadeiramente activa no que nos está a acontecer.
Tenho por mim que as tendências humanistas são difíceis de conciliar com a ambição de poder, mas trazem vantagens que aqueles que partilham essa ambição não têm. Tenho por mim que o destino da humanidade é humanizar-se e, assim, distanciar-se, mais cedo ou mais tarde, das mesquinhas questão da ambição, do poder e da riqueza conseguida à custa da miséria das bases. Tenho por mim que nós, os portugueses, poderemos ser grandes candidatos à liderança humanitária. E tenho por mim que só aumentando os nossos conhecimentos; só investindo numa educação que contemple, sobretudo, quem somos e do que somos capazes, conseguiremos cumprir o nosso fado.
Está na altura de nos conhecermos.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ver, escutar e dizer

Se víssemos tudo aquilo que olhamos; escutássemos tudo aquilo que ouvimos e pesássemos todas as palavras que dizemos, provavelmente não nos aguentaríamos vivos muito tempo – cansar-nos-íamos.
Há, realmente, muita coisa que não vale a pena ser vista e muita que não vale a pena ser escutada.
Mas não me parece difícil pesarmos todas as palavras que dizemos, ou, pelo menos, a maior parte delas. É que há também muita coisa que não vale a pena ser dita…

domingo, 28 de novembro de 2010

Hoje



Conhecemos o novo membro da família - o meu «neto», Ramone de Sousa. Como podem ver ele sentiu-se muito bem cá em casa e até nos deixou tratar dos enfeites de Natal! É um cão muito bem comportado.

sábado, 27 de novembro de 2010

A falta de memória e a figura de urso (neste caso, de ursa)

Eis que entro no recinto! Mais do que atrasada, espreito por uma frincha. O meu amigo já está há uma hora de pé, em frente a uma tela onde passa um powerpoint. Hesito; ele pára tudo, manda-me entrar; abraça-me como de costume e aponta uma cadeira. Penso que me está a indicar um lugar vago mas não, está a apontar para uma pessoa. Olho essa pessoa e reconheço-lhe o olhar. Tudo, na sua cara, me é familiar. Instintivamente dirigi-me a ela e dou-lhe dois beijinhos. Ela faz-me uma grande festa e eu sento-me atrás, comprometida por ter interrompido a apresentação e confusa por não fazer a mínima ideia de quem é a pessoa que acabo de cumprimentar.
Pouco tempo depois toda a gente se levanta. Cumprimento uma série de pessoas e aproveito para acertar pormenores de uma parceria com um dos presentes, sempre de olhos postos na pessoa que cumprimentei à entrada e de cabeça às voltas a tentar lembrar-me de quem será! Ela dirige-se a mim, apresenta-me o filho e o marido e pergunta-me por uma quantidade de gente comum. E sicrana? E beltrana? E como foi que nunca mais nos vimos? E eu ia respondendo… a medo não fosse meter água pelo caminho. E meti! A dada altura ponho-a a viver num lugar que nunca foi. Meia engasgada, corrijo o disparate. Ela dá-me o telefone que eu anoto, sem nome…
Despercebidamente agarro o meu amigo por um braço e segredo-lhe ao ouvido: Como é que se chama aquela pessoa que me indicaste? Ele responde e eu fico na mesma. Mesmo assim faço o meu papel até ao momento em que dou com os dois a comentarem a morte de um amigo comum de outros tempos e pergunto-me o que é que ela tem a ver com esse que já morreu. A minha memória não responde e eu despeço-me, frustrada.
Assim que me sento no carro vejo-a há 30 e tal anos atrás: pequena; muito morena; com aqueles olhos inconfundíveis! À memória vêm-me momentos únicos que a ligam, indelevelmente, a mim; ao que morreu; e a todos os outros por quem perguntou.
O meu coração disparou. Agarrei no telefone e gritei para o bucal: Ó mulher! Só agora é que se me fez luz!
Assim que desliguei liguei para a sicrana: Epá! Tu lembras-te da…? Então não é que…!
São estas, principalmente, as alturas em que tenho consciência da idade e do tempo que já passou.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Das saudades que não tenho

Um destes dias recebi um mail, daqueles que circulam por aí, a falar de Saudades. Falava de saudades disto e daquilo, de tudo e mais alguma coisa. Saudades do passado e do futuro. Saudades de quem não vive o presente e deixa a vida passar sem lhe dar grande importância por ter, provavelmente, os olhos permanentemente postos no amanhã que nunca chega porque já cá está.
Não me identifiquei com ele, pelo menos no momento em que o li.
É claro que há coisas, momentos talvez, das quais tenho saudades, às vezes. Provavelmente quando sinto a falta de outras. Mas desde que tenho memória de mim que vivo tudo de uma forma tão intensa que não é possível sentir essas saudades tão gerais e tão empedernidas. Desde que me conheço que ponho em tudo o que faço um entusiasmo tão desgarrado que pouco resta de mim para depois. E quando caio, levo tempo a levantar-me porque até as quedas são profundas. Tudo é profundo. E de tal forma que nos entretantos fico sem forças para sentir o que quer que seja.
Talvez por isso precise tanto de momentos de vazio. E talvez por isso, também, não me aventure em grandes voos. Provavelmente queimaria as asas no sol ou morreria de ataque cardíaco.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Perigo da Austeridade (e prometo que, pelo menos hoje, não chateio mais ninguém com isto)


Andei para aqui às voltas com o raio do vídeo para ver se o minguava mas não consegui. As minhas desculpas. Podem sempre fazer duplo clic e vão directos para o Youtube. Se quiserem comentar, façam-no no post anterior, já percebi que, com estas gingajogas todas, os comentários desapareceram...

Do Fosso entre Ricos e Pobres ou As Causas da Crise

Agora é que eles descobriram a pólvora!
Aquilo que toda a gente já sabe, passa a ser verdade quando é dito pelos tipos do FMI... e sai nos jornais, evidentemente...aqui.

Um pedaço de terra

Há uns anos atrás, quando comecei a pensar em vender a minha casa, poisaram-me os olhos, e a vontade, num hectare de terra lá para os lados do Alandroal. Tinha uma série de oliveiras, duas ou três pereiras, poço e sítio de casa. Não tinha luz mas o que eu queria mesmo era ficar independente da EDP; da Companhia das Águas e dos supermercados, por isso fiz uma proposta ao vendedor, ele aceitou e eu assinei o contrato de promessa, que me dava um ano para vender a minha casa e acabar de liquidar o terreno.
A casa não se vendeu. Perdi o dinheiro e a terra.
Na época vários amigos me alertaram para a loucura da minha decisão. O que iria eu fazer, sozinha, para lá do mundo, isolada de tudo e de quase todos!... Um chegou mesmo a dizer que não me bastaria comprar um cão, que teria de ter uma espingarda. Talvez a casa não se tenha vendido por isso mesmo. Talvez eu tenha, em determinado momento do percurso, ficado com medo. Talvez tenha recuado na minha decisão e tenha tratado mal cada potencial comprador que me ia batendo à porta.
Hoje creio que foi o melhor que me aconteceu. Creio, sinceramente, que não estava preparada, como ainda não estou e não sei se virei a estar, para deitar tudo para trás das costas, sozinha. Mas, não estando sozinha, penso muitas vezes nesse sonho, ainda vivo, de ter um pedaço de terra, de me auto-sustentar, de me independentizar, o mais que me for possível, deste sistema que nos suga o corpo e, tantas vezes, a alma.
Hoje, ao que parece, há muito mais gente a pensar assim. As permaculturas, as hortas e os jardins comestíveis, os regressos à terra e os abandonos da cidade, proliferam. Hoje, essa minha ideia, não parece tão disparatada.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Esta greve e a luta de classes

Há pessoas para quem a luta de classes é uma forma de estar na vida. Assim, tipo, uma segunda profissão. Sendo que a primeira lhes alimenta o bolso e a segunda, a consciência.
A luta de classes existe como uma necessidade criada pela própria sociedade mas que a alimenta, como todas as necessidades criadas por ela. Numa sociedade que se preze têm de existir lutas de classes; centros de desintoxicação; organizações sem fins lucrativos; polícias e outras coisas assim, daquelas que só existem porque existe o outro extremo. E tanto um lado como outro, que aliás se alimentam mutuamente, são alimentados e até estimulados e incentivados, pela ordem vigente.
É claro que era suposto aqueles que lutam pela defesa dos mais desprotegidos e pelos seus próprios direitos, não estarem aqui incluídos nesta lista porque se eles, REALMENTE, lutassem, esta lista, provavelmente, nem sequer existiria.
O problema é que eles lutam sossegaditos. Lutam nas horas livres; lutam mas não querem abdicar daqueles prazeres que esta sociedade de vícios; injustiça e desigualdade lhes vai dando. Não querem abdicar dos rebuçados!
Afinal que raio de luta é essa?! Que Governo é que cede perante este tipo de luta? Quem é que acredita que as pessoas andam, realmente, insatisfeitas?!
Eu não!...
Dizem os sindicatos que houve uma adesão de três milhões. Somos dez. Não chega a metade! Desses 3 milhões quantos é que não foram trabalhar por não ter transporte?! Quantos não compareceram no local de trabalho por não terem onde deixar os filhos?!
Uma professora ficou, sozinha, ostentando um cartaz à porta da escola onde lecciona e lamentando que os colegas não estivessem ali com ela. Pois…ficaram em casa…
Quais foram as conquistas deste «dia de férias»? O que vai mudar depois desta «greve geral sem precedentes»? Quem lucrou com isto? Quem perdeu?
Provavelmente lucraram os sindicatos. Ah! e os candidatos à Presidência da República que aproveitaram para fazer campanha… Perderam, com certeza, os mais pobres. Os que dependem dos transportes públicos; os que ficaram à porta dos Hospitais públicos porque não têm meios para recorrerem aos privados.
É claro que toda a gente sabe que quando há luta sofrem mais as bases. Mas então que a luta seja renhida! Que seja uma luta! Que seja uma guerra! Que não se descanse enquanto não houver justiça! É isso que se espera daqueles que dedicam a sua vida à defesa dos mais fragilizados. Onde estiveram as manifestações?! Onde se meteu toda a gente?!
Ah! é verdade! A Praça da Figueira estava cheia (também não é preciso muito) de gente para assistir ao espectáculo!...E que tal? O José Mário Branco esteve bem?

Da Greve Geral

A greve é uma arma legítima e poderosa em qualquer Estado que se diz democrático. É um bater de pé; um dizer – Não trabalho nestas condições; um parar tudo.
Quando imagino uma greve vejo sempre os trabalhadores às portas dos seus locais de trabalho, de pé, de braços cruzados, marcando uma posição sem se demoverem enquanto as suas reivindicações não foram satisfeitas. Uma greve assim, pode durar um dia, dois ou três…o tempo que for preciso para se alcançar aquilo que se crê justo e necessário.
Hoje, neste país, é Feriado! Os «grevistas» ficaram na cama a dormir e à tarde, por volta das cinco horas, alguns deles rumarão a Lisboa para assistir a um espectáculo de música onde cantores de intervenção, como José Mário Branco, cantarão cantigas de outros tempos. Todos passarão um bom bocado. Será um dia de festa!
E porque não?! Afinal para a semana também será feriado, precisamente na 4ª Feira; e, para a outra, também. Significa isto que teremos três semaninhas maravilhosas em que se trabalhará/produzirá, quatro dias por semana, o que é suficiente para um país que tanto produz e que está tão rico que não sabe o que fazer ao dinheiro!
Já agora podíamos tirar férias, todos! Assim como assim, estamos a precisar…
A única chatice é que, com todos em casa a dormir, os blindados não terão qualquer préstimo. A não ser, lá está, como estátuas no Terreiro do Paço.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não sei se hei-de rir se chorar...

Chegaram ontem os blindados encomendados para proteger a cimeira da NATO dos possíveis ataques deste povo de guerreiros que somos nós.
Estou muito mais descansada. É que apesar da cimeira já ter terminado, nunca se sabe até que ponto os blindados não vão dar jeito…afinal amanhã temos uma greve geral...
Depois disso...quem sabe não ficariam bem no Terreiro do Paço! Aquilo está tão vazio...
Se entretanto se achar que não, podemos sempre tentar vendê-los aos Coreanos. E, já agora, pode ser que eles também venham a precisar de um ou dois submarinos...

Humanidades

Tudo aquilo que fazemos, todas as nossas acções, são em proveito próprio.
Seja para aplacar culpas, acalmar o ego ou por simples vaidade, são sempre em proveito próprio.
O altruísmo é a característica de quem encontra, na felicidade e no bem dos outros, a sua própria.
A inveja é a característica de quem encontra, na desgraça alheia, o seu alimento.
Ter consciência disto é sermos capazes de nos conhecer e de nos enfrentar.
Ninguém evolui escondendo, atrás das rosas, os espinhos dos caules. Sabermos porquê e para quê fazemos nós determinadas coisas ou temos determinado tipo de atitude é fundamental para que, se for caso disso, possamos mudar. Andarmos a ser bonzinhos só para ganhar o reino dos céus não nos servirá de nada. É bom quem é bom, é mau quem é mau – e as duas espécies existem, acreditem.
Não são apenas as nossas acções que nos mudam mas a descoberta dessa alegria interior que vem da alegria do outro. Se não a descobrirmos dentro de nós, então é porque ela não existe. Existirá outra coisa qualquer.
Desenganem-se aqueles que pensam que serão salvos, amados e honrados, porque se esforçam para ser bonzinhos. Mais cedo ou mais tarde, consciente ou inconscientemente, reclamarão os dividendos só porque não foram capazes de os cobrar de imediato com a alegria que lhes podiam ter dado as suas boas acções.
Sacrifícios são coisas que não existem. Desculpas esfarrapadas de quem não tem ou não teve força para seguir o seu próprio caminho e se deixou ficar encostado, aconchegado e quentinho. Sempre que me vêm falar de sacrifícios com voz chorosa e arrependida eriçam-se-me os cabelos, até onde não os tenho, e penso cá para mim: Pronto! Chegou a hora da cobrança...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ainda está para nascer o gajo, ou gaja, que invente um tubo de cola verdadeiramente eficaz e funcional!
Se a cola cola, o tubo não deita! Se o tubo deita, a cola não cola e quando a cola cola e o tubo deita, só se pode usar uma vez porque fica impróprio para consumo a não ser que se ande a colar este mundo e o outro antes que a porcaria da cola entupa a saída do tubo!
Isto para não falar do estado em que os dedos ficam e mais o papel quando se passam os dedos por ele para ver se colou ou não! Olha-se para o trabalho pronto e está uma verdadeira javardice com o envelope preto dos dedos que ficaram pretos, vá lá saber-se porquê!...
Ó senhores que fazem tubos de cola, lá por o volume de correspondência ter diminuído por via dos mails, não quer dizer que tenha parado! E não me venham cá com o argumento de que os envelopes trazem cola porque toda a gente sabe que a cola que os envelopes trazem não cola nem o menino Jesus!...

E se levassem os cãezinhos a cagar à vossa porta, hem?!

Com tantas leis e extorsões em forma de impostos, não há uma porcaria de uma multa pesada para quem abandona animais e/ou excrementos dos mesmos na via pública!!

Das acções e reacções

Complicadas as relações entre as pessoas. É muito mais fácil relacionarmo-nos com animais, tipo canários, ou peixes dentro de aquários que não dão mais trabalho do que aquele de lhes ir deitando, de vez em quando, uns pozinhos de perlimpimpim. Já as pessoas dão uma trabalheira! Ou porque não sabem o que dizem; ou porque não dizem o que pensam; ou porque o que pensam não presta; ou porque nem sequer pensam…
Eu tenho o estúpido hábito de reagir primeiro e pensar depois. Ninguém me pode acusar de não me debruçar sobre mim mesma. Faço-o como poucos, devo dizer. Vejo e revejo as acções; as reacções; os porquês e os devias…mas depois. Primeiro reajo. E que a mostarda não me chegue ao nariz que eu tenho mau feitio…
Estou-me pouco importando para as intenções. Não tenho capacidade, tempo ou mesmo disposição para tentar perscrutar no fundo dos olhos de cada um qual a intenção que o move. A mim o que me desperta são as acções. Se agem – eu reajo. Se agem bem – reajo bem; se agem mal – reajo mal. Neste campo estou mais próxima dos animais…é depois, no sossego do meu lar interior, que me torno gente e sou capaz de ver o que há para ver e mesmo além.
A boa notícia é que aprendo sempre qualquer coisa e cresço. A má é que se a razão estiver deste lado é uma grande chatice…

domingo, 21 de novembro de 2010

Parabéns ao pai

Hoje foi dia de anos cá em casa. 78! Não que seja uma idade redonda, que não é, mas é domingo - dia de fácil ajuntamento familiar - e a partir de certa idade (não sei ao certo qual) todos os anos pesam no que à importância diz respeito. Portanto, aproveitou-se a ocasião para um ensaio natalício. Cabem todos, não cabem; há mesa, não há; e cadeiras...essas tiveram de as trazer que o número reduziu-se com as mudanças. E com as mudanças, duas nos últimos dois anos, perdeu-se muita coisa de vista. Umas foram dadas, outras não e só se dá pela falta quando voltam a ser necessárias. Passar de uma casa grande para outra infíma e depois para uma média faz com que se lamentem certas perdas - que jeito que davam agora e até já há sítio para elas...
Mas até aí ainda a coisa vai que não me é extraordinariamente difícil aceitar que abri mão de coisas, mas que fui eu que a abri...O que me custa aceitar e me deixa para aqui a remoer os dentes daquela raivinha miúda, são aquelas coisas, como por exemplo uma toalha de mesa - a única capaz de tapar uma mesa para doze pessoas, que veio de terras distantes e que, pelos vistos, se perdeu para aí por um caminho qualquer, ela e os guardanapos e tudo, porque eu não me lembro de me ter desfeito dela e nem sequer me vejo capaz disso.
É que fico mesmo danada quando perco qualquer coisa! Mas o pai está feliz, e isso é que importa.
É claro que se a toalha não tivesse desaparecido o dia tinha sido quase perfeito...

sábado, 20 de novembro de 2010

Roupas e acessórios

Não vou dizer que a parte estética não pesa. Pesa. Mas não é determinante.
É claro que não compro peça com a qual não me goste de ver, mas posso muito bem recusar uma paixão se ela não responder às minhas necessidades.
Talvez por isso me surpreenda com os – Que giro!! Onde é que compraste? – É que o sentido prático acaba por abafar a visão estética da coisa e transformar os olhos com que as vejo. A verdade é que compro o que preciso, quando preciso e, às vezes, nem isso…Não gosto de ir às compras e se uma indumentária me ocupa ou entusiasma é só porque é necessária para aquele jantar que, esse sim, é capaz de prender toda a minha atenção e euforia.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Não me comprometam...

Falar muito e não dizer nada é, infelizmente, apanágio português. Fundamentalmente das classes dominantes, quer políticas quer económicas.
Nos dias que correm já não há saco para rodeios. Frontalidade precisa-se! O português é uma língua rica. Mais que capaz de chamar as vacas pelos nomes! Então porque é que toda a gente percebeu perfeitamente o que Hilllary Clinton disse e ninguém compreendeu o texto do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros?!
«Acordo bilateral» foi o termo que sobressaiu do pequeno discurso do senhor, assim como quem diz – Será o que vocês quiserem que nós ainda não tivemos tempo para pensar nisso…

Paralelismos

Portugal está de olhos postos no ecrã, curioso com a chegada de tantas estrelas. Uma se destaca – Barack Obama.
Há qualquer coisa neste líder da maior economia mundial, por enquanto…, que nos prende. Pode ser a simpatia, a juventude, a simplicidade. E os olhos seguem o Air Force One e as Bestas, tentando adivinhar em qual delas estará o Homem. Por momentos somos transportados além-fronteiras e o sonho de voar mais alto lá se alimenta, devagar, destes enganos que nos vão dando.
Não sou anti-NATO. Considero uma ameaça o extremismo islâmico e entendo que o mundo livre, mesmo que não seja tão livre quanto isso, deve ter meios para se defender – com unhas e dentes se for preciso.
Mas no meio de tudo isto o que sinto são saudades. Saudades das viagens. Saudades dos teatros londrinos; do circo em Zurique; do gelo dos Alpes. Saudades dos concertos vienenses e das marionetas em Salzburg. Saudades das viagens.
Não da época. Mas das viagens.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Desejos

Eu, que ultimamente pouco mais tenho feito senão queixar-me das sucessivas mudanças da vida, desejando paz, sossego e estabilidade, dou comigo a desejar uma reviravolta nesta ordem de coisas. Mais – dou comigo a sentir que isto não vai lá sem ela. A reviravolta.
E não é só em relação à minha vida que falo, que essa só precisa de se adaptar às novas circunstâncias. Falo, precisamente, das novas circunstâncias que exigem adaptações, se é que existem adaptações que se encaixem…
E se há momentos em que acredito que estou a viver uma época conturbada que o tempo se encarregará de endireitar, fazendo com que tudo volte ao mesmo; outros há em que pressinto que vivo numa época conturbada que não se endireitará sem profundas mudanças, e que essas mudanças não passam pelas costumeiras revoluções mas por verdadeiros fins – assim a rondar o caos – que permitirão novos começos.
O que mais me assusta é o desejo que sinto cá no fundo (e já esteve mais fundo…) de fim, de caos, de novos – mas mesmo novinhos em folha – recomeços. É que já não acredito em nada. Sobretudo, não acredito em paninhos quentes, em tapa-buracos, em remendos. Acredito, isso sim, na urgência de enterrar bem fundo o que está podre e na urgência de chamarmos toda a criatividade que conseguirmos de forma a que, à semelhança da construção de um Novo Mundo, se inventem novas ordens, quer sociais, quer económicas, quer, sobretudo, políticas.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O primeiro, e o último!

Esta expressão é geralmente utilizada quando a experiência é tão má que não se pretende repetir – Foi a primeira e a última vez! Nunca mais me meto noutra! – ou quando, tratando-se, por exemplo, de namoro, se casa com o primeiro e se fica até ao fim sem conhecer mais nenhum (esta última hipótese é cada vez mais rara como se sabe e está, definitivamente, fora de moda há já largos anos).
No entanto existem fenómenos estranhos que permitem que esta expressão seja utilizada num outro contexto. Imagine-se alguém que, depois dos cinquenta, resolve reatar relações com o primeiro namorado que teve aos 13 ou 14! E que, ao cabo de uma vida cheia de peripécias, tentativas e falhas, chega à conclusão que é ali que a paz mora e que, embora não seja de todo possível afiançar que será o último já que ao futuro, tirando o Michael G. Fox, ainda ninguém viajou, sinceramente deseja que a coisa se mantenha – que o primeiro seja o último! Tem a sua graça! Já para não falar nas teorias que podem nascer de tamanho acaso. Se é de acaso que se trata, evidentemente…

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Antiguidades

O carro da minha mãe não tem direcção assistida. Ela tem 78 anos e uma força de braços que a mim me escapa em absoluto. Tem também uma grande aversão a todos os «novos» caminhos, pelo que só circula pelos mais antigos, que são também os mais estreitos; os mais desgastados e, por conseguinte, os mais difíceis e perigosos, não para a vida mas para a chapa. Não para ela, que prefere ver os carros de frente a senti-los a passar a velocidades «alucinantes». Depender dela para ir à injecção e para vir para o trabalho tem-se revelado um exercício de paciência e compreensão, sem igual.
Hoje foi preciso meter gasolina. Fiquei dentro do automóvel a sorrir para as caras de caso dos condutores obrigados a grandes manobras para conseguirem aceder à bomba da frente. É que ela deixou a traseira do carro a meio metro de distância…Mas vê-la a rodar aquele volante, num esforço quase titânico é, acreditem, motivo de orgulho. Quanto ao resto, é só uma questão de se sair de casa com tempo…

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O fruto proibido...

Se é já tantas vezes complicado conseguir que os dedos encontrem as teclas certas à velocidade do pensamento quando se escreve com as duas mãos, contar apenas com uma e ainda por cima a esquerda, para quem, como eu, é dextro, transforma um pequeno texto num exercício de estilo e agilidade fora do comum.
É sem dúvida útil se eu quiser aproveitar para imaginar as dificuldades de alguém que tem o azar de ficar aleijado para o resto da vida. Mesmo assim, só posso mesmo imaginar uma vez que a certeza de que durará apenas alguns dias me acompanha sempre. Contudo, deixo aqui a minha homenagem a todos aqueles a quem azares desse tipo batem à porta porque não é fácil, apesar de não ser de todo impossível, a adaptação permanente a uma circunstância extraordinária, e esta nem é das piores…
Mas nem era nada disto que eu queria escrever. Na verdade nem sei bem sobre o que queria escrever, senão sobre uma amálgama de ideias difusas já que me encontro, ou pelo menos me sinto, privada de um normal funcionamento e, portanto, tudo o que realmente quero é escrever, seja lá aquilo que for, porque o que importa é que o faça e me prove que o posso fazer – juntar, no ecrã, letra a letra, formar palavras e depois frases, é tudo o que me apetece, tal e qual a vontade quase incontrolável de fazer exactamente aquilo que não se pode ou não se deve, mas de que se não é capaz de prescindir. Creio ser isto a teimosia.
E neste momento estarão vocês a pensar – que culpa tenho eu?; Que tenho eu a ver com isso?! Nada, na verdade. A não ser que se identifiquem com este tipo de teimosia…

sábado, 13 de novembro de 2010

À canhota

A boa notícia é que tenho o ombro impecável - sem calcinações ou desgaste.
A má notícia é que tenho o tendão todo lixado.
Pode ser que me safe em três ou quatro dias. Até lá ando a treinar a mão esquerda que isto nunca se sabe...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Anna Karénina


Para quem estiver interessado em ler ou reler Tolstoi, recomendo esta edição de Anna Karénina, editada pela Relógio d'Água, com posfácio de Nabokov.
Não se deixem intimidar, nem pelo número de páginas, nem pelas, por vezes exaustivas, descrições do autor. Levem o tempo que for preciso mas não deixem de o ler - vale mesmo a pena e, no final, não descurem o posfácio. Não direi que é tão importante quanto a obra, mas completa-a. É sempre uma mais valia sabermos de um autor por um seu conterrâneo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

«Não há Bela sem senão»...

... e outras frases do género, ganha todo o sentido naquelas ocasiões em que é óbvia a proporcionalidade directa entre o bom e o mau.
Eu explico: Quanto maior for uma coisa, maior é a sua ausência.
O vazio que por cá fica, sempre que os meus filhos por cá passam, é tão grande quanto foi a alegria de os ter por cá.
E como não existe medida para isto, só posso dizer que o vazio é absoluto.

Transparência, precisa-se

Não sei se é falta de coragem, se de outra coisa qualquer, o que leva certas pessoas a não manifestarem o seu desagrado relativamente a determinadas situações. O resultado é o incumprimento. Mais cedo ou mais tarde falham os compromissos porque andam insatisfeitos mas não tiveram a coragem de expor as suas razões ou de tentar mudar as condições que, inicialmente, aceitaram.
Não há desculpa para a falta de frontalidade. Se têm medo comprem um cão ou consultem um psicanalista. A vida já é suficientemente complicada para se complicar ainda mais com os sapos que se engolem e não se chegam a vomitar. Nada funciona numa base de insatisfação e contrariedade.
Gente que à minha frente é toda salamaleques e que depois me deixa na merda não merece a minha consideração. Ainda se eu fosse assim…mas não sou! sou frontal; sincera; desbocada às vezes, confesso. Mas quem lida comigo sabe com o que pode contar e sabe que não ando com «cartas escondidas nas mangas». Quanto mais não seja, por solidariedade paguem-me com a mesma moeda.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pormenores

É disso que o amor é feito – de momentos, de pormenores, de pequenos detalhes que por qualquer razão o inspiram e o tornam tão profundo que qualquer palavra o ofende.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

É isto a Liberdade

Sentir-me refém da vida é mais de meio caminho andado para me sentir profundamente infeliz e eu não nasci para sofrer e é isso que sinto, sempre que a vida decide mudar.
Uma coisa são aquelas mudanças programadas, voluntárias, que têm como objectivo a melhoria, pelo menos é o que se espera, da própria vida; outra são as mudanças desestabilizadoras que baralham a ordem das coisas e fazem com que a base de sustentação mude de tal forma que deixam de ter cabimento, nessa nova ordem, os procedimentos anteriormente adequados.
O que me interessa a mim, o que nos interessa a nós, andar a remar contra a maré?!
O que faz um marinheiro quando o vento muda? Vira as velas, com certeza, e aproveita o vento o melhor que pode, sempre com os olhos postos no destino que escolheu. O meu é ser feliz e só o não sou quando me sinto refém do vento. Há que estudar muito bem as circunstâncias, bem como os instrumentos de que se pode dispor, para se poder voltar a navegar a favor da maré. É a isso que me tenho dedicado nos últimos dias - a estudar as circunstâncias; os instrumentos; as possibilidades e só isso, só esse exercício, já é o suficiente para me sentir melhor. Posso até chegar à conclusão que não, que não é o que quero, que não me satisfaz, mas saber que as hipóteses existem, que estão lá e que posso dispor delas, é mais de meio caminho andado para ser feliz.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Algum sossego

A confusão e o desarrumo transtornam-me. Seja ela interna ou externa. No meio da confusão perco o norte; perco o controlo e o rumo da vida e uma vida sem rumo é como um buraco negro. De tal forma negro que fico sem saber se é muito ou pouco profundo. Assim, passo a depender do meu estado de espírito – se for optimista, o buraco é pouco fundo; se for pessimista, é imenso!...
Oscilo então entre a angústia do precipício e a esperança do pequeno salto. E, nos entretantos, lá vou conseguindo pensar. E é enquanto penso que vou pondo alguma ordem nas coisas e acabo por retomar, pelo menos assim parece, o tal controlo sobre a vida. E sossego.
Infelizmente todas as mudanças trazem desarrumação e, infelizmente também, a minha vida parece ser feita delas, das mudanças. Têm sido tão constantes, tão sequenciais ou mesmo simultâneas, que chega a ser para mim um mistério esta minha capacidade de voltar a pôr ordem na desordem…

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Trabalho no pátio das cantigas! Já faltou mais para ver a Beatriz Costa e o Vasco Santana a desfilar na marcha do S. António...

E pronto...

...acabou a época dos exames de rotina. O cancro não quer nada comigo, e nem as outras coisas esquisitas. Saúde tenho, falta-me o dinheiro. E, sim, quero as duas coisas e muito mais.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cansada de mim

Ando cansada de mim. Tanto mais agora que o contacto com os meus pares tende a escassear. Só me tenho a mim e pouco mais. Sem desprestígio para aqueles que me acompanham mas com quem não estou, evidentemente, todos os dias a toda a hora.
Deixei de ir às aulas. Teve de ser, diz a vida. A puta da vida, desculpem a expressão mas não há outra, pelo menos para já e para mim. Os dias passo-os rodeada de crianças mas não tanto como gostaria, não tanto quanto preciso...; e de mim. De mim, que ando cabisbaixa; desiludida; amargurada. De mim a quem nem o sol arranca uma alegria. De mim.
E eu que até sou, ou costumava ser, optimista, vejo-me a lutar constantemente contra a negritude que teima em cercar-me a alma!
Não sei que faça! Queria que isto desaparecesse e não sei que faça para que desapareça. Queria voltar a sentir-me segura; inteira; confiante. Queria que esta espécie de tristeza, esta estranha tristeza, desaparecesse. Era o que eu queria. É o que eu quero.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Chama-se controle...

Ultimamente tenho reparado na dificuldade que certas pessoas têm em escolher; em dizer, alto e bom som, aquilo que querem. Principalmente no seio dos mais antigos.
Mas, mais do que isso, aflige-me o alimento que outros dão a essa incapacidade, decidindo por eles.
Não acredito, nunca acreditei, no estúpido ditado «Burro velho não aprende línguas». Pode ser até que não aprenda línguas dado que há uma idade própria para tal. Mas este ditado, como todos os outros, extrapola para o geral e é nisso que não acredito. Pessoas a quem nunca foi dada a liberdade de escolha, naturalmente anulam-se e esperam que escolham por elas. Nunca é tarde para crescer e crescer passa por sabermos o que queremos e não queremos. Passa pela assunção das nossas escolhas e pela sua responsabilidade e, acima de tudo, passa por esse sentimento único de liberdade; de responsabilidade; de autonomia. Alimentar esta incapacidade é alimentar dependências; é impedir a autonomia e a liberdade. E é, sobretudo, uma intromissão na vontade alheia a que ninguém tem direito.

domingo, 31 de outubro de 2010

Giboiar

Um velho amigo atirou-me, pela primeira vez e há muito tempo, com este termo «giboiar», numa tarde chuvosa de domingo, para me dizer o que estava a fazer em casa àquela hora.
Hoje sou eu que giboio e sabe-me bem. Leio o que me apetece e dormito pelo meio; oiço o vento lá fora e aconchego-me no meu espaço cheio de luz apesar das nuvens que deambulam por esse céu.
Há muito tempo que não tinha um dia assim. Será talvez por isso, por falta de hábito, que, de vez em quando, a meio de um sonho estremeço como estremece o ladrão quando é apanhado! Como se o tempo na verdade não me pertencesse! Como se o estivesse a roubar sabe-se lá a quem!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010



Não sei se serei o cavalo se a árvore. Nem sei se me cansarei, um dia, mais do que aquilo que já estou, ou se ele, o vento, acabará por me derrubar. Mas é assim que me sinto - Running against the wind...
Em dias como o de hoje penalizo-me por não ter comprado um Jeep.
Ou um barco...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Azar

Falar com os olhos e não ter medo do que se diz, tem as suas vantagens, principalmente em situações em que existe apenas um visado.
Não sei se uma certa loucura já se instalou entre nós ou se sempre cá esteve e fui eu que não dei por isso. O facto é que ando com azar no que diz respeito a consultórios médicos, eu, que só os frequento uma vez por ano que é quando dou conta de tudo o que há para dar e fico despachadinha desta deambulação pelas capelinhas dos especialistas!
Ontem foi a vez da oftalmologista, de quem gosto muito e por quem tenho uma grande consideração (só por isso é que não abri a boca, note-se).
Então não é que a meio da consulta um dos colegas da dita entra pelo consultório adentro e, como se eu não existisse, desata a falar sobre o fim-de-semana, a fazer perguntas e à espera que a colega lhe responda entre máquinas e medições de tensões oculares! Não é que o animal, que não tem outro nome, não se calava, não se ia embora e não deixava a outra trabalhar! Não é que foi preciso eu parar e fixar o meu olhar no dele para ele perceber, (perceber, e não «tomar consciência» que este tipo de gente não toma consciência de nada), que o melhor seria pôr-se a mexer?!
Desconfio bem que Deontologia foi uma cadeira à qual muitos se esquivaram, afinal não é com ela que se abrem barrigas; se tiram dentes ou se curam cancros…daí que pode muito bem passar para segundo plano, a gente copia ou faz isto à rasquinha que depois logo se vê…
Ou é isso ou então há uma grande necessidade, diria mesmo - urgência, em rever as matérias dessa cadeira em particular, se calhar estão desactualizadas, se calhar remontam ao Estado Novo…

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ainda o Acordo Ortográfico

As publicações infanto-juvenis já vêm de acordo com o Acordo, o que faz todo o sentido. De resto já tive oportunidade de expressar aqui a minha opinião relativamente a este assunto.
Contudo, e como disse na altura, num dos comentários ao meu post, esta menina, a supressão do acento da terceira pessoa do singular do Presente do Indicativo do verbo Parar faz uma confusão danada!
Não me queixo de mais nada, mas da falta deste acento, sim!
Ontem, altas horas da noite, deparo com a seguinte frase: « ...mas ela não para para pensar...»! Eu parei! A primeira reacção foi tirar um dos «para» - estava a mais, pensei eu - e espetar-lhe com uma vírgula: ...mas ela não, para pensar... Voltei a trás e não fazia sentido! Foi quando percebi!...
Pode até ser uma questão de hábito. Mas que faz confusão, faz. Para além de que fica feio! Olha uma pessoa explicar isto a um estrangeiro que queira aprender português!...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

De como pode ser terapêutica uma ida ao médico

Temendo a aproximação de uma ligeira depressão, apressei-me a marcar uma consulta de Psiquiatria.
Assim que entrei no consultório julguei ter entrado num quarto onde alguém, dormindo, corria o risco de apneia de tal forma era ruidosa a sua respiração! Obeso naquilo que me parece o limite da obesidade, o senhor respirava a contragosto, num esforço incomodativo e perturbador. Agarrado a uma caneta de onde sobressaiam unhas roídas para lá do sabugo e peles levantadas até se ver sangue, não me olhou sequer! Ao cabo de duas perguntas, desatou a escrever e, quando se preparava para me responder à, creio que única, pergunta que lhe fiz, um telefone tocou! O senhor deitou a mão a um dos bolsos do casaco de onde tirou uma pequena bolsa, de feltro verde bandeira. Na pequena aba, as quinas. Não era aquele que estava a tocar – pousou-o suavemente na secretária, ao seu lado, e meteu a mão na outra algibeira de onde tirou uma outra bolsinha, igual à primeira mas, desta feita, vermelha! Falou entusiasticamente ao telefone, desligou, pousou a bolsinha ao lado da que lá estava - uma bandeira portuguesa passou a marcar presença naquele consultório, e voltou à escrita. E o que escrevia o senhor?! Uma receita que comportava injecções e três espécies de comprimidos! Quando o indaguei sobre os efeitos, respondeu-me que eram antidepressivos.
E foi assim que, sem me conhecer; sem saber fosse o que fosse da minha história ou mesmo dos meus sintomas, este senhor decidiu que eu precisava de me encharcar em medicamentos!
Saí de lá convencidíssima que estou em muito, mas muito melhor estado do que ele, coitado!...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

El gran casino europeo from ATTAC.TV on Vimeo.

«Cheio de medo e assustado...»

Caem corpos à minha volta. Não são corpos, ainda. São ensaios de corpos, ensaios de quedas. Ensaios de quem sabe ou teme que, se ainda não caiu, cairá.
Hesito em usar palavras negras, termos caóticos, dramáticos. Fazem-me mal. Fazem-nos mal. Mas têm o condão de nos acordar, e o cerco adensa-se e é isto que vejo: gente aflita; gente em pânico! gente que não compreende porque é que de repente corre o risco de não ter que comer; de não ter casa!
Hesito em usar palavras negras, termos caóticos, dramáticos. Mas até quando é que nos vamos esconder atrás de um falso optimismo? E como iremos nós, portugueses, viver mais esta privação? De braços caídos e olhar submisso? de almas conformadas? Durante quanto tempo? É que, em média, costumamos aguentar cerca de 50 anos...

Tristeza...

...por favor vai-te embora, que nem a luz do Sol te afugentou!
Tens até ao fim do dia para te pirares.

domingo, 24 de outubro de 2010

À geração dos trinta que nunca tive por rasca. Ao André Valentim Almeida e ao documentário «Uma na Bravo outra na Ditadura»

Posso estar enganada mas parece-me que entre os 30 e os 40, mais precisamente quando se entra nos 30, as pessoas tendem a fazer balanços à laia de despedida que é para o que servem os 10 anos que os separam dos entas.
Inevitavelmente esses balanços visam as vitórias e as derrotas; as responsabilidades e as oportunidades, ganhas ou perdidas. E, nesse arrastar de razões e des-razões, vem sempre à baila a geração anterior, aquela que nos legou isto e aquilo, de bom e de mau, quase sempre de pouco… nunca, aos olhos dos filhos, os pais fizeram o suficiente muito pelo contrário, fizeram merda pela certa porque senão eles estariam muito melhor do que estão.
Eu estava quase a bater nos entas, faltariam talvez três ou quatro anos, quando decidi «cobrar» da minha mãe o que «havia para cobrar»; desprestigiar o mais possível a geração que me antecedeu olhando-os como incapazes e ignorantes, uma cambada de carneiros!...e por aí fora que, logo a seguir, se o arrependimento matasse eu tinha caído naquela hora sem ter tempo de dizer ai! Ainda não tinha acabado de «despejar» o que me ia na alma e já um nó no peito ameaça parar-me o coração.
É claro que, antes de mim, já eles, os meus progenitores e outros como eles tinham, se não feito, pelo menos sentido e pensado o mesmo em relação àqueles que os trouxeram ao mundo e os educaram. É mesmo assim, se assim não fosse seria sinal de inexistência de evolução e de crescimento, seja lá isso o que for…
Mas vem isto a propósito de uma série de zunzuns que para aí andam e que visam a minha geração, já que foi ela que deu à luz as criancinhas que nasceram encostadas ao 25 de Abril ou alguns anos depois, enfim, a geração dos que dobraram agora a barreira dos 30.
Meus queridos, se vocês se sentem defraudados imaginem nós! Imaginem aqueles que foram educados desde a mais tenra infância numa verdade incontestável para depois e de repente, a meio da juventude, lhes dizerem que afinal era tudo mentira!
Mas há uma coisa que eu percebo perfeitamente. É que nós já tivemos o nosso protagonismo, afinal de contas vivemos uma revolução!... Agora chegou a hora do vosso. Falem sobre vós; contem a vossa História; insultem e apontem dedos mas, fundamentalmente, olhem à vossa volta com olhos de ver e deliciem-se com a oportunidade que têm de mostrarem o que valem. Esta é a época da consolidação ou da ruptura e são vocês que a têm, ou podem ter, na mão. Vocês são hoje mais velhos do que eu era aquando do 25 de Abril! Mexam-se. Mudem! Endireitem esta merda. E não me venham cá dizer que estamos agora a empurrar para cima de vocês a merda que fizemos! Fizemos o que fomos capazes de fazer e foi, sem dúvida, mais do que aquilo que nos legaram a nós! Façam o mesmo na certeza de que, ainda assim, hão-de ouvir das gerações vindouras o mesmo que nós e outros antes de nós.
Se me piquei?! Piquei-me sim senhor! Não se nota?!

sábado, 23 de outubro de 2010

O complexo raciocínio nacional

Tenho à minha frente o Nº x de uma revista cultural cujo tema é Arte e Design. A revista é composta de vários artigos, uns mais longos do que outros, de autores nacionais e estrangeiros. A minha missão é a de a rever.
Os artigos traduzidos, dos autores estrangeiros, são claros, directos, entendíveis até para um leigo que de Arte e Design nada saiba. Alguns até têm o condão de prender o leitor mais curioso.
Pois bem, vamos para os nacionais! Atenção que ainda não acabei o trabalho, podendo, por isso, estar a generalizar injustamente mas, até agora, como são os artigos escritos pelos autores portugueses?
* Carregados (mas carregados ao ponto de ser obrigatório ter ao lado a página das notas já que elas se sucedem umas às outras!), de referências a autores estrangeiros. Do estilo: Fulano diz isto; sicrano diz aquilo e o beltrano então! Nem se fala! (mas fala-se…). É como se não tivessem opinião própria ou, simplesmente, não a quisessem dar e gastam páginas e páginas a enunciar o que os outros disseram.
* E fazem-no numa linguagem de bradar aos céus; num intrincado de termos e frases que parecem existir só para nos confundir ou para esconder o pouco que sabe o autor sobre a «coisa»…
* Last but not least como diriam os nossos amigos britânicos, numa completa ignorância no que à acentuação diz respeito! Atenção que não se trata de ausência de acentuação. Trata-se de acentuação deficiente…
Que tal acrescentarmos à já demasiado extensa lista de disciplinas e matérias (algumas com um francamente baixo nível de utilidade) uma que ensinasse os portugueses a serem Práticos; Directos e Objectivos? Se gostam de pensar, pensem, mas pensem com objectividade, racionalizem os pensamentos, estruturem-nos, não divaguem que para divagar temos os rios, os montes e os pôr-do-sol que são tão lindos! E as paixões também… tanta coisa com a qual podemos e devemos divagar, não lhes parece?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

E se parássemos um bocadinho para pensar?

Talvez a maior diferença entre cada um de nós esteja na forma como se «adapta» às constantes mudanças que o Homem, talvez pelo seu crescente número, tem vindo a produzir ao longo dos tempos.
E digo « talvez pelo seu crescente número», porque acredito que, na verdade, ninguém gosta de mudanças e que todos nós seríamos mais felizes se elas não se fizessem sentir de uma forma tão dramática e tão constante.
Há mesmo quem defenda que a sociedade não gosta, nem anseia por elas. Ora se a sociedade não gosta e nem anseia por elas, cada um de nós, que compomos essa mesma sociedade, também não pode gostar ou ansiar. Ansiamos, isso sim, pela estabilidade e pelo sossego.
Então, porque é que não paramos para pensar?! É que cada vez mais produzimos, e nos produzimos, seres sociais e cada vez mais nos afastamos da nossa individualidade; da nossa privacidade; daquilo que somos e que nos compõe como seres únicos e particulares. Cada vez mais aceitamos que sejam «outros» a determinar as nossas necessidades, divorciando-nos da responsabilidade de sermos felizes. Cada vez mais aceitamos que sejam «os outros» a ditar as regras do nosso bem-estar e da forma como caminhamos no nosso dia-a-dia!
Cada vez mais nos entregamos e nos afastamos de nós mesmos, até adoecermos sem compreender porquê; até deixarmos de existir; até nos tornarmos transparentes, simples números numa tabela estatística.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Alegoria

Hoje tirei de cima do móvel alguns valores que escondi dentro de um armário.
Não que desconfie da empregada de limpeza ou que ela alguma vez me tenha dado motivos para tal. Mas porque entendo que não tenho o direito de tentar seja quem for.
É claro que exibir valores não é a mesma coisa que expô-los com um cartaz onde se escreve: Leve o que quiser. Cada peça custar-lhe-á um ano de trabalho.
Neste caso a pessoa faria contas e, com os olhos a brilhar perante a possibilidade de usar algo com que nunca sonhou, aceitaria o acordo.
Entretanto, por via de uma má gestão, eu entraria em recessão e exigir-lhe-ia não um, mas dois anos de trabalho gratuito. A coitada, que fez contas a um ano, espernearia e considerar-se-ia enganada e eu, do alto de toda a minha sabedoria e de todo o meu poder, responder-lhe-ia:
- A responsabilidade é sua! Não tivesse aceitado a oferta!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Das biografias

Tenho um preconceito, estúpido, com biografias.
Sempre que me aparece uma, seja sob a forma de filme ou de livro, a primeira reacção é de rejeição.
Isto, provavelmente, daria um excelente tema para ser analisado no divã do psicanalista, se eu tivesse um. É que, ultrapassada a rejeição, acabo sempre por concluir que as biografias podem ser óptimas conselheiras.
Não são só as crianças que aprendem com os exemplos - somos todos nós, e um bom exemplo de vida é sempre uma fonte inesgotável de energia já que, por muito díspar que seja a vida do outro, acabamos sempre por encontrar, aqui e ali, nem que seja à lupa..., paralelismos ou semelhanças que nos deixam a dizer de nós para nós: Estás a ver?! Estás a ver?! Assim é que é! Tudo é possível! Se ele(a) conseguiu, eu também consigo!
Isto para não falar das lágrimas que acabam sempre por correr, não pelo outro evidentemente, mas por nós mesmos quando acreditamos «sentir exactamente o mesmo que ele(a)».
Excelente terapia, as biografias...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dos lucros de certas Empresas e da sua desigual repartição

Os privilegiados deste país não se reconhecem como tal. Presos ao seu umbigo sentem que trabalharam toda a vida, e não duvido que o tenham feito; que estudaram mais do que os outros, e não duvido que o tenham feito; e que, portanto, têm direito à disparidade de ganhos existente entre eles e «os outros».
Esquecem-se, contudo, que sem «os outros» não os poderiam ter obtido e esquecem-se ainda que se no fim de cada ano distribuíssem os lucros das empresas de uma forma mais equitativa, provavelmente teriam trabalhadores mais empenhados, mais felizes e mais dispostos a produzir mais, aumentando, dessa forma, a possibilidade de competir com os mercados internacionais, objectivo que tanto ambicionam e tão necessário é, pelos vistos, à nossa salvação.
Esquecem-se que, se sempre o tivessem feito, se calhar não estávamos como estamos. Esquecem-se que se, mesmo a reboque da crise mundial, estivéssemos como estamos hoje, talvez até pudessem agora baixar os salários – os «dos outros» e os deles evidentemente, porque provavelmente os trabalhadores estariam mais dispostos aos tais sacrifícios que agora lhes são pedidos porque teriam sempre no seu horizonte a justa repartição dos lucros a que estariam, justamente, habituados.
Mas acima de tudo esquecem-se que, se estudaram mais do que «os outros» e se chegaram onde chegaram, ainda que trabalhando, é porque já eram, à partida, privilegiados. Porque num país como o nosso as oportunidades, se não são ainda hoje, não foram de todo, durante muitos anos, iguais e que, se eles trabalham muito, há «outros» que trabalham, suam e sofrem muito mais, e que talvez seja por isso que a produtividade é o que é.
Ao invés de nos dizerem que é necessário produzir mais para depois distribuir os lucros de forma equitativa, distribuam-nos primeiro. Talvez a produtividade cresça.
A uma sociedade que estava habituada a ter tão pouco e a quem fizeram acreditar que podia ter quase tudo, não podem agora tirar esse «quase tudo» sob pena de transformar este pequeno país num grande manicómio.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Preparem-se...

...para começar a pagar o oxigénio que respiram. Já estivemos mais longe de andar com um aparelhómetro qualquer agarrado ao corpo que meça os litros de oxigénio que respiramos e pimba - quem respirar mais, paga mais.

Criatividade e jogo de cintura

Com as surpresas que há por aí, não vale a pena fazerem-se grandes planos - geralmente saem furados e perde-se demasiada energia a tentar encaixar o planeado em cenários que já nada têm a ver com os anteriores. E para quem acredita que «assentou», desengane-se - a vida só acaba quando fechamos os olhos de vez. O melhor mesmo é ser criativo e ter jogo de cintura, muito jogo de cintura, para chegar ao fim mais inteiro do que se estava à partida. Se não mais inteiro, pelo menos não demasiado quebrado.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Eu apito!

Vá lá saber-se porquê, mas apito! Apito quando entro e apito quando saio de qualquer loja ou supermercado, e hoje passei pela vergonha de virem atrás de mim para me conferirem a factura. É claro que estava certa. Por enquanto...
A menina, cheia de boa vontade, voltou a passar tudo pela máquina para desmagnetizar, mas o facto é que eu continuei a apitar! E, apitando, voltei a entrar noutra loja. E quando de lá saí assustei-me com a estridência do apito!
Cá para mim alguém me enfiou um chip qualquer sem eu dar por isso...
Preciso de ir ao Porto e estou indecisa entre o avião e o comboio.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Força; a Fragilidade e a Resistência

A Força é filha da Fragilidade e do Instinto de Sobrevivência. É um movimento com a mesma direcção e sentido oposto à Adversidade. Os Resistentes não a têm porque não precisam dela. Basta deixarem-se estar. Para eles, as Adversidades são como moscas que poisam e que eles sacodem sem olhar. Não há Adversidade que quebre um Resistente.
Só os Frágeis são fortes. Aos Resistentes basta-lhes resistir.
Eu sou forte porque sou frágil, e a minha força dissipar-se-á à medida que me for tornando resistente.
No entretanto, espero não me partir irremediavelmente e peço ao que me une que não me transforme num ser empedernido para que consiga, apesar de tudo, conservar alguma resiliência.

Carta ao Ministro das Finanças ou O País dos Mamões

Exmo. Senhor Ministro das Finanças,
Tomei conhecimento através da Comunicação Social que o Governo indemniza certas Empresas que, tendo sido concebidas para um determinado número de utentes, estão a funcionar, vá lá saber-se porquê, a meio gás. Soube também que estas indemnizações são calculadas a partir do número de utentes previsto inicialmente e o número que, na verdade, a empresa consegue angariar.
Ora a minha Empresa foi projectada para receber cerca de cem utentes mas, infelizmente, ainda só conseguimos cinquenta pelo que venho por este meio, junto de V. Exa., reclamar a minha quota-parte de indemnização.
Não o vou maçar com a descrição das inúmeras providências que já tomei para resolver a situação; das dores de cabeça que tenho tido; das noites de insónias; das faltas de ar… Mas não posso deixar de manifestar o meu desagrado perante a falta de informação! Soubesse eu da existência, da possibilidade, de um contrato desta natureza e não me teria preocupado como me preocupei; não me teria esforçado como me esforcei; não teria, em suma, posto em causa a minha saúde, física e mental.
Assim, agradeço desde já toda a celeridade na resolução deste problema, que não é só meu é de todos já que as Empresas são o sal de Portugal, e digo «sal» no sentido figurado evidentemente – naquele sentido em que o Padre António Vieira a ele se referiu, e apresento os meus melhores cumprimentos certa de que, esta noite, dormirei muito mais descansada.

De V. Exa.
Atenciosamente
Esta sua criada

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Da ordem das coisas. Da ordem da vida.

Questionava-me há dias sobre esta ordem, um tanto ridícula, que o Homem imprimiu ao Mundo e à vida. Tentei imaginar uma outra qualquer, onde o trabalho não fosse tão essencial; onde as trocas não exigissem moeda…sei lá, qualquer outra coisa até, que ainda ninguém foi capaz de inventar ou de que ninguém se lembrou mas que nos trouxesse mais felizes, mais descansados, mais virados para nós mesmos – a Humanidade.
É que se formos a ver bem o Homem sustenta-se com as coisas mais disparatadas, como se o único propósito fosse o movimento, quer de bens quer de braços. Como se, na verdade, não fossemos capazes de estar parados e inventássemos coisas que não adiantam nem atrasam mas nos trazem distraídos, ocupados, vem-me muitas vezes à ideia a imagem daquele que sobe a montanha a empurrar um pedregulho gigante para depois o deixar rebolar por ela abaixo para que o possa empurrar outra e outra vez. Mas, a verdade, é que é disso que precisamos. Precisamos dessa ilusão de utilidade activa. Um ser parado é um ser inútil.
Não sei quem é que nos meteu essa na cabeça! Não sei até se foi alguém ou se já nascemos assim! Mas olho para certas pessoas, como a minha mãe por exemplo, e vejo que a sua luta consiste na manutenção da actividade. O prolongamento da sua vida sustenta-se no facto de ser necessária fazendo e cuidando de coisas e de outros. Sem isso, a vida deixaria de ter propósito. Talvez nos falte aprender que para sermos úteis não temos, necessariamente, de andar activos, e muito menos de criar necessidades e, com elas, preocupações, que na verdade podem, muito bem, não existir.
Será tarde, certamente, para mudarmos as coisas a não ser a partir daquilo que já temos. Estamos demasiado embrenhados nesta ordem, qualquer outra que venha será apenas um sucedâneo desta. Mas se tivéssemos de começar do zero o que faríamos?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Evolução, ou de como eu comecei a compreender o poder alienante do futebol

Há alguns anos atrás eu não era propriamente uma adepta de futebol. Isto para não dizer que não lhe achava gracinha nenhuma e que, cada vez que olhava um jogo, via negócio; interesses…enfim, tudo menos desporto.
Hoje já não sinto nada disso, principalmente se se tratar de jogos de selecção. Aperta-se-me a garganta quando oiço o hino; vibro com cada aproximação à baliza e salto cada vez que a bola entra, na deles evidentemente.
Hoje vejo uma selecção jogar e parece-me uma nobre forma de batalha; um levantar de cabeças, que andam baixas, todas elas, à pala da crise.
Hoje vejo uma selecção e creio, durante uns escassos 90 minutos, que tudo está bem, que os Homens são fortes e que a vitória, mesma que seja a deles, será sempre nossa.

Ultimamente...

...oscilo entre o stress que me tira o sono e me deixa exausta e um estado meio catatónico que me dá algum descanso mas me baixa os braços.
Não sei qual deles o melhor...
Acho que me estou a transformar numa bipolar!

Afinal voltaram!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mas que raio de altura para a RTP1 ter um colapso!!!

Então cala-se assim um ex-presidente?!!
O que é que terá acontecido na Aula Magna para deixar o país inteiro à espera, quase de esperança perdida, para acabar de ver isto?

De um momento para o outro...

...os orçamentos das famílias baixam, as necessidades mantêm-se e, consequentemente, os problemas aumentam.
Andamos todos a tentear o possível na esperança de mantermos as mesmas soluções a preços mais baixos, sem compreendermos que, baixando os preços, baixam também as possibilidades de quem os cobra; sem nos lembrarmos que quem vende também compra e, das duas uma, ou baixamos todos as calças ou não baixa ninguém. É que não pode ser andarem uns de cu à mostra e outros de calças de veludo!
Há uns tempos dizia-se de certas pessoas que queriam galinha gorda por preço magro. Agora acho que já ninguém quer galinha gorda - o que realmente as pessoas querem é continuar a comer galinha, mas como o dinheiro que têm para a pagar vai sendo menos, ou temem que seja e poupam-se a gastá-lo..., querem a galinha mais barata. O que é legítimo dadas as circunstâncias. Mas, convenhamos que não é assim muito inteligente! É que quanto mais barata for a galinha, menos dinheiro fica para quem a vende e mais baratas ainda terão de ser as outras coisas todas. Já pensaram nisso?! Se calhar vale mais, em vez de duas galinhas comprar só uma mas comprá-la pelo preço justo. Não sei, digo eu...Outra coisa que me parece valer também a pena, só assim para ver se conseguimos não transformar isto num verdadeiro pandemónio, é fazermos tudo o que pudermos para enfrentar o terror e não desatarmos para aí, quem pode e tem evidentemente (e não são assim tão poucos), a aferrolhar como se não houvesse amanhã! É que assim, dessa maneira, não haverá mesmo! Sabem porquê? Porque o dinheiro fez-se para circular. Não circula - é o pandemónio! e - adeus Amanhã!

sábado, 9 de outubro de 2010

Diz-se que...

...a vida não é feita de escolhos mas de escolhas. A merda toda é que há certas escolhas que exigem escolhos e uma pessoa não pode fazer nada contra isso...

Acho que já falei disto aqui, mas pronto...

A vida encarrega-se de nos ensinar aquilo que nenhuma escola ou livro nos ensina. E não é pela quantidade, porque se um mesmo tipo de coisa nos vai acontecendo uma e outra vez é porque a aprendizagem com certeza não foi bem feita à primeira e nem à segunda…mas é pela variedade de obstáculos que nos vai colocando pelo caminho.
Assim, são aqueles que mais obstáculos enfrentam que mais aprendem. Quer queiram quer não. Os outros, aqueles para quem a vida é suave, ou é porque já nada têm para aprender ou porque ainda não estão preparados para tal. Mas que ela nos ensina a todos, ensina. Seja agora ou mais tarde, na próxima ronda…eu como acho que já aprendi umas coisitas, gostava que o resto ficasse para a próxima ronda, se faz favor.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Do Senso Comum

Tem algum jeito que, sendo eu sapateiro, decida desatar a dar conselhos ao meu vizinho carpinteiro?! – Ah! e tal…você veja lá! Quando serrar tenha cuidado com os dedos! Olhe que a madeira tem farpas!..
E não será natural que o carpinteiro, nestas circunstâncias, me mande dar uma curva e me diga – Meta-se mas é na sua vida que você percebe é de sapatos que para madeiras estou cá eu?!
E o que é que se pode pensar de um sapateiro que, perante uma reacção destas se sinta ofendido e ainda diga com desprezo – Pois, você é que sabe tudo!...
Mas isto não é senso comum?! O cada um saber do seu métier; o não se dar conselhos sem que nos peçam?! Isto não é senso comum?! Isto não faz parte daquelas coisas que toda a gente sabe que é assim mesmo que não se saiba porquê?!
Ou há certos homens que ainda vivem num mundo em que as mulheres, coitadas, nunca sabem verdadeiramente nada de coisa nenhuma, e se sentem na obrigação de as «ajudar»?!! É que se é isso, convém que acordem para a vida; se olhem ao espelho com olhos de ver e tenham mas é juízo. É que se continuam com essa predisposição tosca; saloia; provinciana, eu sei lá… sujeitam-se a ouvir o que não gostam.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um pouco de calmaria

Devagar vou tirando do caminho os obstáculos. Devagar como quem separa trigo e joio. E a vida vai-se reajustando mais uma vez e, mais uma vez, eu me perco na esperança de um dia ela ser, só ser; suavemente, sem grandes percalços, sem grandes agitações...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Da (des)educação judaico-cristã

Há momentos em que a realidade me atinge de forma tão feroz que tudo em mim se crispa.
Mulheres de outros tempos, educadas para a obediência e para a submissão. Ontem dos pais, hoje dos maridos. Mulheres que não sabem, não sentem, que têm direitos. Que se culpabilizam por sentimentos humanos de cansaço e saturação e, por se culpabilizarem, não agem – nem sabem como! Vêem-se vítimas das circunstâncias e sentem-se na obrigação de aguentar o mais firme que podem, carregando até ao fim a cruz que não pediram, que não desejaram, que nem sonharam sequer.
E, quando o cansaço vence, sucumbem porque nada mais há a fazer senão sucumbir. Qualquer solução que lhes seja apresentada é uma agrilhoada de culpa insuportável de aguentar. Zangam-se para dentro porque lhes ensinaram que não se podem zangar para fora.
É nestas alturas que dou graças a Deus, passo a contradição, de já não impingirmos às nossas crianças a filha da puta (porque só uma filha da puta castra desta maneira) da educação judaico-cristã.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Viva a Anarquia!

Faz cem anos a República! Se sair ao Manoel de Oliveira durará, talvez, mais três ou quatro, quiçá cinco…duvido que muitos mais.
Há quem lhe chame a terceira. Outros há que afirmam que não senhor, que é a segunda já que o Estado Novo lhe contrariou todas as regras. Segunda ou terceira tanto faz.
Reis e Rainhas; Ditadores ou Presidentes e Primeiros-ministros têm servido e mantido os povos pequeninos, de gente ignorante e tacanha que pouco se tem esforçado por crescer e continua a precisar de quem dela tome conta. E é para isso que servem todas essas figurinhas – para tomarem conta de nós; para tomarem decisões por nós; para serem progenitores até ao fim e nos manterem nessa doce ilusão de que não precisamos de crescer, nem de nos responsabilizarmos por actos que, afinal, não são nossos mas deles.
Eduquem-se os povos; responsabilizem-se os cidadãos; cortem-se os cordões umbilicais e deixaremos de precisar de manda-chuvas.
Nem Monarquia; nem República! Está na hora de nos prepararmos para a Anarquia – a mais elevada forma de governação! Aquela que é, realmente, a governação de e para todos.
VIVA A ANARQUIA! VIVA!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

De como o rádio matou o carro

Agora que a senhora aqui do lado já desligou o frenesim brasileiro, já vos posso contar como tudo aconteceu:
Há uma série de anos atrás, eu nasci...
Há uma série de anos atrás o rádio do meu carro (sim, é velhote), decidiu stressar sem motivo aparente e, quando eu o ligava, as estações sucediam-se ininterruptamente, como loucas, e o som, esse, nem ao longe... Levei-o ao mecânico que me disse que o rádio não tinha nada, para além de uma qualquer loucura, e que bastava desligar a bateria e voltar a ligá-la que o tipinho fazia reset; pedia-me o código e voilá! música no ar!
Como sou boa de aprender, quando passados mais uns anos (sim, é verdade, o carrito é velhote mesmo), aconteceu a mesma coisa, eu não fui de modas - desliguei-lhe a bateria; voltei a ligá-la; introduzi o código no rádio e resolvi, sozinha, a questão.
Anteontem, depois de ter passado quinze dias no mecânico que me levou o couro e parte do cabelo (felizmente tenho muito porque senão tinha ficado careca...), o rádio voltou a endoidar. Na altura não tinha chave que servisse na bateria e estacionei-o à porta de casa na promessa que, assim que saísse, desligava a porcaria da bateria.
Foi hoje de manhã. Mas, na pressa de chegar a Lisboa não deu para o fazer à porta de casa. Como o trânsito parecia de domingo cheguei suficientemente cedo para o fazer no parque de estacionamento da faculdade e, com a ajuda do jardineiro, lá desligámos a coisa.
Funcionou! Tal como de costume, o rádio ressuscitou. Alegria das alegrias! Ainda estive um bocadinho lá sentada, de sorriso estúpido nos lábios, a ouvir uma música qualquer, até ao momento em que o jardineiro disse - ponha-o lá a trabalhar.
Pimba! O rádio matou o carro! Tive de chamar o reboque! E por mais que o mecânico me diga que não tem nada uma coisa a ver com a outra, o facto é que o carro ainda trabalharia se não fosse o rádio...