quarta-feira, 27 de novembro de 2013

G'anda Malha

Com o computador avariado e uma neta nova redescobri as maravilhas da malha que aos quinze anos me levaram a confecionar praticamente todas as camisolas que vestia.

Quando os meus filhos eram pequenos ainda cheguei a fazer qualquer coisita mas nada que se comparasse à produção dos quinze anos.

Agora, tantos anos depois, ando a descobrir as maravilhas das pequenas peças, aquelas que só um bebé pode vestir e que, depois de prontas, me deixam maravilhada com o que consigo fazer. Talvez seja essa a principal benesse desta minha nova atividade – a constatação de que continuo pronta a aprender qualquer coisa que considere um desafio e se concretize, rapidamente, aos meus olhos.

A minha filha, sempre preocupada com as minhas finanças (como eu a compreendo…) decidiu que seria um desperdício não aproveitar esta minha vontade de mexer nas agulhas e deixar a mente divagar para além das palavras e da intelectualidade que as acompanha, e criou uma página no Facebook para expor e pôr à disposição de quem estiver interessado, as minhas mais recentes obras. Como se isso não bastasse, lá me vai lançando desafios em forma de fotografias e de frases como: Se conseguires fazer isto és a maior, que eu vou superando umas vezes melhor outras pior mas sempre cheia de entusiasmo. Um entusiasmo que há muito não sentia e que muito bem me tem feito. O nome, foi criação do meu genro, rapaz inteligente que gosta tanto de música que todos os nomes saem musicados - G'anda Malha - não sei de quem fizesse melhor.

Assim, desde o final de domingo até agora, a página já vai com mais de 200 gostos e ontem recebi a minha primeira encomenda de dois pares de sapatinhos. O primeiro já está pronto. Aqui vo-lo deixo.




Quanto à página – espreitem-na aqui e, já agora, gostem dela por favor.


sábado, 16 de novembro de 2013

O Instagram e eu


No processo da minha tecnodepedência, e na sequência deste texto, fiz para o meu telemóvel o download do Instagram.
Nunca fui famosa na arte dos retratos, antes pelo contrário. Desde mãos a tremer, a dedos que aparecem onde não devem, há de tudo. No entanto acredito que a prática pode fazer milagres e há na fotografia algo que me fascina – obriga-nos o olhar o pormenor, e isso é bom.
Já os pequenos filmes levam mais tempo até ao domínio da coisa.
Hoje, por exemplo, perdi uma oportunidade única a pensar que estava a filmar uma cena entre a minha cadela, uma mula e um burro que por aqui pastam. Mais valia tê-los fotografado, ainda que, a meio do processo, tivesse ficado sem saber como passar de vídeo a foto…enfim...
Mas, como já disse, acredito que a prática é minha amiga e atrevo-me, porque creio na vossa bondade e porque é importante que se registe todo o processo, a deixar aqui alguns dos meus primeiros passos neste maravilhoso mundo do retrato (palavra muito mais gira do que fotografia).
Só mais uma coisa: como ainda não descobri como passar as fotos do Instagram para aqui, estas que aqui vos deixo estão virgens, que é como quem diz, não foram adulteradas com as possibilidades (maravilhosas na verdade) que o Instagram oferece.






 
 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Portugal e o fim da recessão. A morte e a importância da vida. O NADA de Fernando Pessoa

 
A France-Press avançou hoje a notícia de que Portugal saiu da recessão. Segundo esta, com um PIB de 0,2, e depois da última avaliação da troika, Portugal entrou num novo ciclo – um ciclo de progresso, digo eu, porque se não andamos para trás, ou ficamos no mesmo lugar ou andamos para a frente e ficar no mesmo lugar não é muito diferente de andar para trás, por isso, se saímos da recessão é porque demos início a uma marcha qualquer. Para onde, não faço ideia mas também não é essa a questão.
 
A questão é o efeito que estas notícias têm em cada um de nós. Saber que Portugal saiu da recessão pode, para os mais crentes, ser uma forma de ele sair mesmo e, ainda que isso possa levar algum tempo a concretizar-se no quotidiano de cada um – especialmente dos desempregados e de todos aqueles cujos salários foram trucidados -, espalhando-se, a notícia ver-se-á nos semblantes dos mais carrancudos – se forem crentes, evidentemente -, o que poderá levar a um novo espírito de sacrífico, de trabalho e de progresso.
 
Se tudo isto tem importância, não faço ideia. Para aqueles mais pessimistas que veem nos dias de hoje catástrofes de todas as espécies – daquelas mesmo grandes, capazes de nos extinguir em três tempos -, a notícia será mais um motivo de risada e, acima de tudo, mais uma prova de que somos manipulados e manipuláveis. Para os outros, será um respirar fundo, uma crença renovada que trará mais vontade de andar para a frente e de fazer com que a extinção se atrase, de fazer com que a vida, enquanto existe, seja uma realidade.
 
É claro que da forma como as coisas têm andado e sendo nós vítimas de tanta aldrabice, torna-se difícil aquele acreditar acreditar, pelo que a crença vem mais da vontade de…do que da fonte. Isto para dizer que, com o objetivo de deixar aqui um link para a tão afamada notícia, procurei procurei e, na France-Press, nada encontrei. Juro, no entanto, que foi essa a fonte citada no noticiário da RTP. Contudo, se se visitar o site desta cadeia de televisão, encontrar-se-á uma outra fonte – o INE. As ilações ficam por conta de cada um.
 
Não me vou embora, no entanto, sem referir uma crónica publicada na Revista do “Expresso” do passado dia 2. Nessa crónica, José Tolentino Mendonça fala-nos da necessidade de aprender a morrer e diz, em determinado momento:
 
“A morte pode representar no itinerário pessoal, e nos nossos caminhos entrecruzados e comuns, a oportunidade para olharmos a vida mais profundamente. A vida não é só este tráfico de verbos ativos, esta marcha emparedada e sonâmbula, este vogar entre deve e haver, esta contabilidade no lugar da metafísica. A vida não é só isto. A morte amplia-a. Revela-lhe um fundo que não vemos.”
 
Nada disto, que aqui acabei de referir, nos livra de duas responsabilidades primordiais: a de sermos felizes e a de transmitir esse legado aos nossos descendentes. Tudo o mais, como diria o grande Pessoa, é NADA.
 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Tecnodependência


Tal como os primeiros consumidores de substâncias psicotrópicas, os ainda novatos consumidores desta substância a que se dá o nome de novas tecnologias não têm presente a fronteira que separa a utilização da dependência.

Existem mais dependentes do que aquilo se conhece, reconhece ou imagina. E o mais grave é que, como de costume, se encontram, em maior número, entre os adolescentes e os pré-adolescentes.

Rapazes e raparigas – mais estas do que aqueles -, incapazes de se concentrar em tarefas exteriores à internet e sem saber o que fazer às pontas dos dedos se não estão a clicar em teclados ou em ecrãs, há mais do que se sabe. É vê-los, de telemóvel escondido no colo, ou mesmo debaixo das pernas, a percorrerem as páginas do Facebook enquanto os livros e os cadernos descansam em cima das mesas, alheios, eles e elas, aos seus conteúdos.

Todos os sintomas nos empurram para a dependência, mas, dado que se trata de vício recente, preferimos ignorar. Pois é minha convicção que a coisa pode vir a ficar séria se não formos capazes de aprender a utilizar as novas tecnologias em nosso proveito ao invés de nos deixarmos dominar por elas mas, sobretudo, urge controlarmos o uso que os nossos adolescentes e pré-adolescentes fazem delas. Os smartphones foram, na minha opinião, a gota de água que fez o copo transbordar – são mais pequenos, mais fáceis de esconder e, por isso mesmo, mais difíceis de detetar.
 

domingo, 10 de novembro de 2013

A teda do mundo e a inexistência do acaso

Somos personagens de um enredo que nem sempre foi, ou é, escrito por nós. Afogamos, na certeza, o nosso desejo de controle, ainda que a nossa vista pouco alcance e, de vez em quando, só para podermos ter consciência da sua imensidão, surge uma revelação capaz de nos espantar – alguém da família é, há anos, responsável pela educação dos filhos de um outro alguém, filho, por sua vez, de outros alguéns que fizeram, em tempos passados mas marcantes, parte das nossas vidas. Eram os filhos pequenos ainda. Tão pequenos, que nos nossos corações jamais cresceriam. E agora, no entanto, são já pais cujos filhos aprendem pelas palavras de um outro recente membro familiar, na cabeça de quem não existe, entre nós e os seus educandos, qualquer espécie de elo. Como se engana!
 
Vivemos no centro de uma teia que não construímos mas que não deixa, por isso, de ser real. E, sempre que insistimos em tomar para nós os louros de todos os nossos feitos, algo nos é revelado. E espantamo-nos com as coincidências cuja existência nos interessa defender.
 
As redes sociais são, para quem estiver atento, instrumentos capazes de nos surpreender nesse campo. Alguma vez lhes aconteceu descobrir que um amigo de infância, ligado ao grupo dos amigos de infância, afinal trata por tu um outro amigo, ligado a um grupo que julgávamos tão distante dos nossos amigos de infância quanto a Lua está da Terra? Pois pode não acontecer todos os dias, mas acontece. E são estes pequenos acontecimentos que vão salpicando a vida aqui e ali – alguns de forma tão discreta que chegam a passar despercebidos -, que me permitem vislumbrar, levemente, muito levemente, a imensidão desta trama que é o mundo e a vida.
 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

E pronto...é isto


Mais do que nas ações, é nos sentimentos que se revela a qualidade de cada um. E não me venham cá com conversas de que não existem pessoas boas e pessoas más e de que todos temos tudo dentro de nós. Temos sim senhores, mas temos em porções suficientemente diferentes para podermos ser classificados bons ou maus. É claro que a maior parte de nós deambula pela vida sem se conhecer – ou por medo ou por vergonha. Mas não deixam de ter lá dentro esse maravilhoso desequilíbrio que as define e que se manifesta, como comecei por dizer, não apenas nas ações mas nos sentimentos que as regem e que se revelam subtis nas tais pessoas que, por medo ou vergonha, não se conhecem.

São sentimentos negros, no caso dos maus, e brancos, no caso dos bons. São sentimentos detetáveis através dos silêncios ou de alguns comportamentos desviantes que servem muitas vezes de desculpa para os exprimir ainda que a eles não estejam necessariamente ligados.

Eu explico – houve qualquer coisa que me ficou atravessada por a ter engolido sem protestar, tipo aqueles sapos que muitos de nós ainda acreditam que são obrigados a engolir, ora, à primeira oportunidade lá estou eu a vomitar o sapo deixando o outro aparvalhado por encontrar despropósito na minha reação. Acontece que, se esse outro for uma pessoa inteligente e de mente aberta, daquelas que não tem medo nem vergonha, acaba por perceber o porquê do vómito. Mas, regra geral, o vómito por lá fica, despropositado, abandonado, descabido…

A título de exemplo enuncio aqui alguns dos sentimentos negros e alguns dos sentimentos brancos:

Sentimentos Negros: Inveja; rancor; culpa: medo; vergonha; ódio; ciúme… enfim, todos os sentimentos que nos fazem sentir mal connosco e desejar mal a outros. Em suma - todos aqueles que nos impedem de rejubilar perante a felicidade alheia; que nos impedem de querer que o outro cresça e singre e vença e seja feliz.

Sentimentos Brancos: Todos aqueles que são absolutamente contrários aos de cima; todos os que têm o Amor como base e fundamento – a sinceridade; a espontaneidade; o desejo sincero de ver o outro feliz. O Amor. O Amor. O Altruísmo. O Amor…

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Não se acanhem nos donativos

O meu avô, que se fosse vivo teria cerca de 112 anos, costumava dizer que quem não chora não mama. Mas como também não se cansava de dizer que já nada o surpreendia, que já tinha visto tudo o que há para ver na vida e que, à superfície deste pequeno planeta, não existe nada de novo, o que é claramente falso, eu nunca acreditei muito nele. Por isso, nunca fui muito de chorar por mama.
 
Mas, ontem, ao abrir uma carta de uma dessas instituições que vivem de donativos, pensei que talvez ele não estivesse tão enganado como isso e que a idiota tenho sido eu com esta mania da coragem de enfrentar os touros com que, volta não volta, me deparo sem deitar uma lágrima. De facto, estas instituições, algumas de uma dimensão internacional, vivem mais do que sobrevivem do choro permanente com que abordam gente que, como eu, ou já não tem lágrimas ou tem tão poucas que as poupa para momentos que realmente as merecem em vez de as aproveitar para aumentar lucros.
 
Assim, ficarei à espera da derradeira prova do engano do meu avô, que há-de chegar sob a forma de carta a oferecer-me justas quantias por todo o esforço que tenho demonstrado ao longo da minha vida e como prémio de batalhas ganhas, mesmo não tendo eu concorrido a coisa nenhuma, isto é, exibido os meus feitos, ou chorado baba e ranho pedinchando à porta de estranhos. Que de família e amigos, não conta.