domingo, 21 de junho de 2015

Dos Arraiais e das Danças


Há muito tempo que não dançava! E não é que não goste de dançar porque gosto, mas tenho mergulhado naquilo que a vida diz que tem para mim, aceitando o frenesim de todos os dias sem me mexer para dizer agora chega, agora vou ver se me divirto um bocadinho. Mesmo que seja num arraial. Mesmo que a música não seja aquela que gosto de ouvir. Aliás, de preferência que não seja aquela que gosto de ouvir porque essa raramente serve para dançar e eu preciso mesmo é de dançar - de me mexer, de saltar, de dar aos pés, de cansar as pernas e ficar com a certeza de que os meus joelhos não estão assim tão maus, que o meu peso não está, ainda (e espero ter a vontade que preciso para que nunca chegue a estar) de modo a não me deixar mexer mais de meia hora sem ficar a arfar de cansaço.

Enfim... há muito tempo que não dançava, mas ontem dancei e fez-me bem.


Obrigada a este grupo dos antigos alunos do Liceu de Almada que se mantém tão activo por via de meia dúzia - se calhar nem tanto - de carolas que não desistem de nos arrastar para este lado da vida. Este lado despreocupado, descontraído, meio louco, onde se vão carregar as baterias para aguentar os mergulhos naquilo que a vida diz que tem para cada um de nós e que insistimos em aceitar sem espernear de vez em quando. Ontem esperneei.

domingo, 14 de junho de 2015

Ir aos Figos


Seja lá de que maneira for, ir aos figos é sempre muito agradável - goste-se  ou não dos ditos.

Neste caso a referência pretende ser literal.  É fruta que, sempre que posso, não dispenso. E viver num lugar onde as figueiras abundam e deixam cair os ramos, e os frutos, para fora dos quintais, é um privilégio.

Todos os dias passo por várias. Observo-os, aos figos, e penso que com ou sem companhia lhes hei-de deitar a mão - assim que amadurecerem.

Já consegui saborear dois. Eu sei, é coisa pouca. Mas prefiro deixá-los amadurecer um pouco mais. Prefiro que absorvam todo o sol que puderem porque a fruta, tal como o amor, é boa quando está madura e alberga, dentro de si, o calor e a energia de um raio de sol.

Mas nem tudo é como se espera e os figos, cujo crescimento tenho vigiado, os figos pelos quais pacientemente tenho esperado, estão a sucumbir a esta chuva fora de horas.


Esta água que cai do céu desprevenida e despropositada retrai os frutos e fecha-os, como aos homens, dentro de cascas mirradas deixando-me sem figos e sem homens mas na esperança, sempre na esperança, que haja quem sobreviva às intempéries e, sem medo, amadureça para mim.


terça-feira, 9 de junho de 2015

Ditos e Mexericos


Tenho em mim uma incapacidade de crítica às questões públicas que me deixa a oscilar entre a possibilidade de eu ser realmente ignorante, despersonalizada e indecisa, ou simplesmente incapaz de falar sobre aquilo que não conheço verdadeiramente e não gostar, de todo, de especulações baratas.

Não que não goste de mexericos, que gosto, de vez em quando. Mas no privado. Os mexericos fazem parte das coisas que se partilham com os amigos, na intimidade e na cumplicidade das amizades que se querem divertidas porque todos sabemos que não passam disso, de mexericos e que, provavelmente, estarão sempre demasiado longe da verdade que nem sequer entra nesta equação.

Mas expor publicamente a minha ignorância, mesmo que disfarçada de sabedoria, como agora se faz nas redes sociais onde toda a gente opina com certezas absolutas, não está na minha natureza.

Tempos houve em que admirei esse opinadores convictos acreditando que sabiam o que diziam. Mas acabei por perceber que, na verdade, as suas opiniões não passam de formas de extravasar o que lhes vai na alma – aquilo em que acreditam, aquilo em que querem acreditar e ou aquilo em que precisam de acreditar porque lhes acalma as frustrações. 

Com o tempo descobri que não é possível ter uma visão suficientemente global das coisas para poder opinar de forma verdadeiramente democrática, que é como quem diz – isenta.

Nenhum de nós tem o panorama todo. Por isso, as palavras que se vomitam não passam de opiniões mal fundamentadas por visões limitadíssimas das coisas. 

Não passam, ao fim e ao cabo, de verdades particulares, de realidades pessoais que podem, ou não, contagiar quem as ouve, dependendo da convicção com que são transmitidas.




quinta-feira, 4 de junho de 2015

Estado de graça



Estar apaixonado é um estado de graça. Porque não é comum – por muita paixão que tenhamos cá dentro é sempre bom que haja uma motivação externa para que ela se manifeste, um objeto de paixão, um alvo, enfim algo que a mereça -, e porque nos aproxima desse lado místico que transcende o nosso corpo físico relembrando-nos que somos muito mais do que ele. Relembrando-nos que somos, também nós, divinos.