quarta-feira, 6 de maio de 2015

Cães como flores no jardim!


Vivo num sítio onde as pessoas têm cães como flores no jardim, dia e noite. Há animais que só vejo porque passo aos portões dos quintais e eles ladram, invejosos da Puca que passeia acompanhada, que é acarinhada, que raramente está sozinha e, mesmo quando está - coisa que acontece de vez em quando -, volta para junto das nossas festas e dos nossos sorrisos de felicidade por a vermos.

Vivo num sítio onde vivem cães que não sei a quem pertencem porque vivem sozinhos, isolados, presos nos quintais. Nunca passeiam. Comem, dormem, cagam e mijam no mesmo lugar. Desculpem o vernáculo mas as circunstâncias não permitem outro, é isto mesmo: comem, dormem, mijam e cagam, tudo no mesmo lugar. Já vi donos apanharem as fezes dos respectivos e lançá-las muro acima. Quem quiser que as apanhe!

A Puca, uma cadela que adoptei há cerca de quatro anos, vive connosco e passeia duas vezes por dia. Com a idade tem-se recusado a ir à rua sozinha por isso, quando eu chego mais tarde, tenho de ir com ela.

Hoje cheguei à uma da manhã e fomos passear as duas. Não lhe pus a trela porque ela gosta de correr e quando estou com ela tem por hábito não se afastar muito.

Acontece que os outros infelizes não podem com ela e, quando passamos perto dos portões, ladram desgraçadamente.

Hoje, um velho veio cá fora para me insultar. Diz que vai chamar a GNR porque eu não tenho nada que andar a passear o cão a esta hora!

Não sabia que havia horas para passear os cães! O certo é que o ignorante, que tem um animal, menos animal do que ele, abandonado no quintal a noite toda, acha que eu sou responsável pelo ladrar do dele e dos outros coitados que vivem também abandonados pelos quintais.

A Puca não ladra de noite quando passo por eles. Eu faço o sinal do silêncio e ela obedece. Afinal de contas não tem razões para invejar nada nem ninguém.


Continuamos um país de ignorantes e brutos e, pelo andar da carruagem, a coisa não vai para melhor, o que é de lamentar. Pela parte que me toca, estava convencida que o cinzentismo e o peso da ignorância do Estado Novo tinham acabado. Parece que me enganei. Estão vivos e de saúde. A minha esperança é que morram com os velhos do Restelo. Afinal, nada é eterno.

1 comentário:

Majo disse...

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~~ Totalmente conivente com a sua indignação.

~~ As autarquias não deviam licenciar
a posse de animais destinados a ficarem presos por correntes, ao relento...

~~ Só assim seria possível terminar com a praga de tão crassa inumanidade.

~ ~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~ ~
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