sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Puca


Não foi uma semana fácil. No domingo, quando a levei ao veterinário, foi-lhe detectado uma espécie de colapso do fígado. Da barriga tiraram-lhe três litros de água e ela, coitada, feliz por estar mais leve, parecia que tinha renascido – dava saltos, abanava a cauda… estava tão feliz! Tão feliz!

Saímos de lá para um passeio um pouco maior do que o habitual. Era preciso que ela obrasse. Já não o fazia havia vários dias. Aliás, eu estava mesmo convencida que era esse o seu mal – prisão de ventre -, e que logo que estivesse resolvido ela voltaria a ser a minha cadela alegre que saltava para nós por tudo e por nada, que nos cumprimentava de manhã como se a noite tivesse durado meses e nos recebia em casa como se a nossa ausência tivesse sido de anos. Mas ela não obrou. Não no domingo, não nos dias seguintes. Nunca mais. Até ontem, quando nos encaminhávamos para o veterinário. Como se tivesse pressentido o que ia acontecer. Como se tivesse compreendido a luta dentro de mim, a hesitação, o não saber o que fazer. E as fezes eram negras, tão negras, a dizerem-me não te preocupes, vais fazer o que está certo, o que tem de ser feito.

E fiz.

E hoje ando p’raqui, como uma mosca tonta sem saber para onde ir – e o nosso passeio? E o meu bom-dia? E aquele olhar tão doce que me faz sentir a pessoa mais importante do mundo? Onde está? P’ra onde foi?

E à Amália? O que é que eu vou dizer à minha neta quando ela entrar por esta porta e procurar pelo cão Puca?

Ontem, enquanto lhe segurava a cabeça e a olhava nos olhos para me despedir, prometi-lhe que, embora não tenha sido a primeira, haveria de ser a última.

Mas não sei se vou conseguir cumprir...



2 comentários:

Majo disse...

~~~
~ Lamento muito, estimada amiga.

~~~~~ Sei como é doloroso...

~~~~ Longo e grande abraço.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Alda Couto disse...

Obrigada Majo. É triste sim.
Beijinho