A capacidade de parar o tempo é uma das minhas fantasias de super-mulher, apesar de vir sempre associada a imagens românticas de invulgar felicidade em que ela se eleva, mal tocando os malmequeres, enquanto um cordeiro pasta no horizonte revestido de múltiplas cores sob um céu azul, tão castamente transparente que pode ferir a vista mas não fere, enquanto um pouco mais adiante ele corre para ela, de braços abertos para a receber e movendo-se ainda mais lentamente, se é que isso é possível, ao sabor de uma brisa que não existe. É muito importante que os cabelos sejam longos e estejam soltos. Ah! e ela traz um vestido nem muito comprido nem muito curto, de cor suave. Tem de ser suave se não não flutua. Quando finalmente se encontram, ao fim de longos minutos, uma eternidade na maior parte das vezes, beijam-se longamente e todos nós sabemos que vão ser felizes para sempre.
Ultimamente esta fantasia, a de ser capaz de parar o tempo, tem-me ocorrido muito pela manhã, mal acordo, com ou sem despertador. Viro-me para o outro lado, aconchego-me nos lençóis, sinto-os como não fui capaz de os sentir na véspera quando me deitei, e acredito, piamente, que o tempo pára, que não vai fazer qualquer diferença levantar-me naquele instante ou uma hora depois porque isso não existe – uma hora depois – são apenas uns minutos, sem significado, precisamente aqueles minutos que todas as manhãs juro a mim mesma oferecer-me ao fim de cada dia e que depois acabo por adiar para a manhã seguinte onde tudo se repete e o tempo nunca pára a despeito da minha absurda e férrea vontade, facto que me tem custado muito aceitar já que ele parece não se incomodar quando se oferece sem pudor a uns e a outros, basta ver o tempo que os dois lá de cima, os que correm no prado, levam para se encontrar. Só a mim, que tanta falta me tem feito pela manhã uma paragenzita é que o estupor faz um manguito!
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