Não sou saudosista. Pelo menos não em demasia. Com o
tempo tenho-me vindo a adaptar melhor às mudanças, mesmo àquelas que se revelam
menos boas. Aprendi que as únicas mudanças que importam verdadeiramente são
aquelas que se realizam dentro de nós. As outras, são pontuais – uma vez
adaptados, tudo regressa à normalidade, tudo entra no ram-ram do dia-a-dia. É a
adaptação que dá trabalho, causa stresses e angústias, principalmente porque a
tendência puxa sempre para a transformação do que é no que era, e raramente
para o aproveitamento de uma oportunidade única de crescimento. Isto dito assim
pode parecer um pouco confuso. Mas não deixa de ser verdadeiro.
A nossa resistência à mudança, seja ela particular ou
comum, é histórica e visceral. Veja-se, por exemplo, a reação geral aquando da
invenção do comboio – “o diabo de ferro” -, da indústria, ou mesmo dos
computadores. Sempre que surge algo de novo as nossas pernas tremem, o coração
sobressalta-se – todos sabemos que alguém vai cair para outros se levantarem um
pouco mais. É assim a vida. Sempre foi. Dinâmica.
O que importa aqui é que as mudanças privilegiem a
maioria e que todos, ou quase todos, possamos crescer com elas – tornarmo-nos
mais humanos, nem que para isso seja necessário mudar de caminho numa espécie
de retorno que nunca o é. Numa espécie de aproveitamento da filosofia de ontem –
se ela for melhor do que a de hoje – e da tecnologia de hoje – se ela for
melhor do que a de ontem.
O que importa aqui é que sejamos capazes de aprender
verdadeiramente com a experiência e, para isso, não podemos esquecer o passado.
O que importa aqui é que sejamos capazes, através desse passado,
de compreender o presente e de, sobre ele, termos uma palavra a dizer.
O que importa aqui é que não nos deixemos adormecer mas
que não esqueçamos que o bem maior é sempre o bem comum e que nem sempre, por
muito boa vontade que exista, a fronteira entre um e outro é clara. Basta
termos a consciência de que a visão do mundo muda com o olhar de cada um de
nós.
Por isso, talvez possamos, e devamos, começar pela
simplicidade de dividir o mundo em dois, os sentimentos em dois, as vontades em
duas – bons para um lado e maus para o outro. É, sem dúvida, um cliché, mas a
rejeição dos clichés também é um preconceito.
As mudanças ensinaram-me – estão a ensinar-me -, a
crescer. E esse crescimento passa, necessariamente, por eliminar, o mais
possível, o que em mim faz mal e alimentar, o mais possível, o que em mim faz
bem. É esse o caminho para a nossa humanidade.
5 comentários:
La misma vida muchas veces nos enseña a crecer. Un calido saludo!
Bom dia
Ontem, em conversa com um GRANDE e especial amigo, o João, o seu nome veio à baila. Eu respondi: Não, não conheço.
Há poucos minutos fui ao Google* e, de entre "as pessoas que talvez conheças" - ou qualquer coisa deste género... - vi o seu nome, e lembrei-me imediatamente que era o "tal" que ontem surgiu na tal conversa.
E ainda dizem que não há coincidências - pelo menos a Margarida Rebelo Pinto diz... :)
Resolvi entrar aqui e confesso que gostei do que vi.
Para início de dia foi muito bom ler esta sua última reflexão.
Como calculo que não se importe... vou fazer-me sua seguidora e voltarei sempre que possível.
Que seu dia seja aprazível.
Beijinhos
Muito obrigada às duas :)
Antígona...
Do meu cantínho tenho que te confessar que quem falou à Mariazita em ti (como uma Amiga muito especial) e no teu blogue, fui eu... porque a Mariazita também é uma Amiga muito querida.
Lendo o teu post,magnífico como sempre, deixa que te diga que, ao longo da minha vida, vivi, participei, assisti a muitas mudanças. Para alguma coisa se tem 66 anos, não é? Para muitas dessas mudanças olhei de soslaio. E a quase todas acabei por dar as boas vindas. Elas fizeram-me crescer, amadurecer.
O passado sempre o coloquei no seu devido lugar: no passado. Mas para mim, passado não é sinónimo de esquecimento. É algo de muito vivo, onde regresso com frequencia, para colher ensinamentos. Uma vida sem passado é algo que não consigo conceber.
Um abraço
João
Muito obrigada querido Jardineiro. Sempre generoso :-)
Beijinho
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