sábado, 22 de agosto de 2015

Sol e Sombra – Dos touros e das touradas


Cresci a ver touradas. A estar presente na feira da Golegã. A ver embolar touros dez vezes mais pesados do que eu. Conheci pessoalmente os toureiros Alfredo Conde e  José Mestre Baptista. O primeiro cavalo que montei era grande e branco e pertencia a um deles – não me recordo qual.

Nessa época, nas histórias que se contavam de morte e sangue, os protagonistas eram os toureiros – homens valentes, capazes de fazer frente a um animal feroz. Nunca assisti a uma tourada no país vizinho. Nunca vi matar um touro. A maior emoção que senti numa corrida foi ver o touro saltar a cerca semeando o pânico nos espectadores.

Havia, não sei se ainda há, em Lisboa, um clube para aficionados onde serviam refeições e se falava de touros e de cavalos. De toureiros e criadores.

Cresci a amar e a respeitar as tradições que alguém, que não eu, fez chegar até mim. Hoje sei que não existem tradições imortais. Que não existe tradição que não morra, mais cedo ou mais tarde.

Hoje sei que as tradições podem ser, e são na maior parte das vezes, forças que nos mantêm estáticos contrariando a dinâmica da própria vida.

Há que analisar muito bem aquilo que se defende. Há que reavaliar se a tradição em causa é ou não útil para o crescimento humano e as touradas, por muito que me custe dizer isto – e já me custou  mais – não são.

Tenho assistido a cenas de uma crueldade terrível. Uma crueldade que nunca vi antes porque nunca vi crueldade nos animais. Os animais não são cruéis. São só animais. E se um toureiro morria ou saía da arena mal tratado, eram ossos do ofício. A responsabilidade só a ele poderia ser imputada.

O mesmo não se pode falar do sangue que corre dos animais – quer dos touros quer dos cavalos. Esse é de uma crueldade sem igual porque é infligido, directa ou indirectamente, por quem não é apenas um animal. Ou não deveria ser.

Está na hora de acabar com esta tradição. A não ser que haja, como em tantas outras, capacidade de adaptação à nossa presente humanidade que, pelos vistos e contra certas más línguas, está em franco crescimento.
Bem haja.


2 comentários:

Majo disse...

~~~
~~ ESTUPENDO 'POST'!

~ Compreendo a coragem.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

~~~~ Dias felizes. ~~~~

~~~ Grande abraço.~~~
~ ~ ~ ~

Alda Couto disse...

Obrigada Majo :-)
Um abraço