domingo, 4 de outubro de 2009

"Velhos são os trapos"

A propósito de um comentário deixado aqui por um amigo, dei por mim a pensar, o que também não é muito difícil, acerca dos termos e do seu uso.
As palavras têm alma. Transportam consigo, independentemente do seu significado, um determinado carisma, uma determinada força.
Isso não nos foi ensinado numa altura em que quando abríamos a boca havia sempre alguém para dizer – Não é assim, é assado! Isso não se diz…velhos são os trapos…não são pretos, são “de cor”… e mais uma quantidade de subtilezas a roçar um certo cinismo inconsciente, de que eu agora não me lembro e nem interessam.
À medida que fui crescendo e lendo, e lendo…fui escolhendo as palavras que mais me tocavam, que mais me diziam. Até porque sem essa escolha não se consegue escrever, o dicionário de sinónimos de nada serve se nós não formos capazes de “sentir” a alma de cada termo para o poder aplicar no sítio certo, à hora certa.
Existem três termos, pelo menos, para designar os mais velhos, são eles: Idoso; Sénior; Velho.
De todos o mais fraco é “idoso”. Sendo um termo terno, é molinho, doce, subtil, cheio de comiseração e de complacência. Um idoso é frágil, dependente, cheio de piedade por si. Triste, vive no arrependimento de ter deixado a vida passar sem dela ter tirado grande partido.
Um “sénior”, é alguém que não se entrega aos males do corpo; que continua a fazer exercício; que tem uma fala grossa; que encolhe a pouca barriga que tem e estica o peito. Um sénior pode ter 80 anos mas nunca vergará. É rijo, resistente, estará bem vivo até ao momento em que a morte o levar, provavelmente de repente, sem aviso prévio.
Um “velho”, é alguém que foi posto à prova durante toda a vida, alguém que sabe o que é sofrer e sorri porque aprendeu. Um velho é um sábio. Alguém que está em paz consigo, alguém que compreende o mundo e que é capaz de o reduzir à sua verdadeira dimensão.
Uma velha é aquilo que eu quero vir a ser.

3 comentários:

CF disse...

Tb quero um dia ser velha. Lindo o teu texto Antígona. Um sorriso :)

sabes quem sou... disse...

Lamento minha amiga mas não concordo nada com a tua argumentação...
A tua argumentação prende-se com ideias e imagens que agarramos às palavras... quando elas já valem tanto por elas e só por elas.
Vejamos: não se trata nada de ser fofinho, ou de ter fala grossa, ou de ter sido posto à prova toda a vida... trata-se de como digo do valor das palavras.
Vou retirar da análise o sénior porque não gosto deste tomo de anglicismos agarrados a conversas de pessoas... isso fica lá para o futebol e para o basket, etc!
Não há pessoas juniores nem séniores!
Ficamos então no idoso e no velho, Ok?
Ora a grande diferença é que velho se adapta a tudo: um livro velho, uma velha história, um móvel velho, um velho texto,... um velho trapo!
Idoso aplica-se fundamentalmente a gente, a pessoas, a homens e mulheres.
Não existem livros idosos, idosas cantigas, idosos amores, etc.
Se tudo isto não chegasse, e como bem sabes, eu tenho o privilégio de ter uma Mãe já idosa (embora não muito), cheia de ternura, cuja vida sempre foi e é sinal de resistência, e colocada sempre perante grandes desafios e obstáculos, e assim continua.
Não é velha, não é sénior,... é a minha linda Mãe que vai ficando mais idosa.
Um beijinho para ti Antígona.

Alda Couto disse...

:) É uma bela explicação essa :), linda :). Visto assim até eu sou obrigada a concordar :) Mais uma vez as palavras têm alma e cada um de nós sente-a à sua maneira :) Eu adoro o termo: Velha Senhora :)
Um beijinho para ti também