Estranhos que somos! A mim, basta-me prever que não terei
tempo, disposição, vontade ou inspiração para escrever por aqui, que logo se me
acalma a ansiedade e as palavras surgem sem qualquer tipo de esforço. É o peso
da obrigação que me demove, é esse que eu não suporto e que transporto, sem dar
por isso, para tudo o que faço, ou assumo fazer, mesmo quando não há motivo
para tal. Complica-se assim a vida. E deixa-se de respirar. Sem mais nem menos,
sem razão e sem motivo.
Que estranhos somos! Presos na obrigação de nunca envelhecer
a despeito dos males dos ossos, dos órgãos, dos músculos. Sempre a correr para
o socorro como se não fizessem parte do peso dos anos, as cruzes; as tendinites
e as gastrites; os males de pele e o cansaço.
Queremos que a vida seja o que não é e sorrimos sempre que
vimos que afinal somos livres, que há males maiores do que os nossos e que os
cabelos brancos têm, apesar de tudo, a sua beleza, desde que os olhos brilhem e
os lábios se curvem num sorriso rasgado.
Estranhos que somos!
2 comentários:
A ressurreição deu sorriso nasceu com o dia
Ah este inverno que abraça a primavera
Este céu que arroxa meu peito
Estas negras pedras plantadas na terra
O curso do meu errante espirito
Levou-me ao infinito e ao incomensurável
Este orvalho das pequenas coisas
Recorta meu corpo a golpe de cisel
Ocultei meus sonhos numa porta da eternidade
Porque o desespero é voo baixo e sinuoso
Vi ontem dois amantes jurarem uma partilha de vida
Vi olhos que irradiam luz em gesto assombroso
Um imenso abraço
... "desde que os olhos brilhem e os lábios se curvem num sorriso rasgado". É isso! "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". A nossa predisposição para a felicidade deve sobrepor-se a tudo o resto. É mesmo determinante :-)
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