quarta-feira, 7 de abril de 2010

Das ofertas e das procuras

Não há muitos anos atrás as coisas eram bem mais simples, mais fiáveis. Havia poucas escolhas, é certo. Mas o tempo que poderíamos despender a escolher, despendíamos, talvez, a criar. Agora as ofertas são muitas, o que é tentador e nos dá a ilusão de benefício. Se este servidor é caro, há sempre um outro mais barato. Se este não nos serve bem, ameaçamo-lo de mudança e, nesta espécie de guerrilha, ocupamos grande parte da nossa vida – a escolher a quem pagaremos o telefone; a quem compraremos as provisões; a quem pagaremos a electricidade, ou o gás, só falta a água; em que escola estudarão os nossos filhos; a que banco confiaremos o nosso dinheiro; que televisão nos entrará pela casa dentro…
Mas a verdade é que, com o número de ofertas, alargam-se as fileiras das promessas e promete-se aquilo que não se pode cumprir. Ou escondem-se fragilidades.
As pessoas do antigamente, aqueles que têm agora 70 e tantos anos, não estão preparadas para enfrentar um mundo onde não se pode acreditar cegamente em quem nos bate à porta, e assinam contratos porque a senhora era simpática e prometeu gastos menores, só ninguém se lembrou de perguntar – então e se avaria? quem arranja? quem paga? quanto paga?
Embandeiramos em arco com tanta promessa e enterramo-nos todos os dias, perdidos nos incumprimentos e nas letras miudinhas dos contratos que nunca lemos.

1 comentário:

CF disse...

Pior é mesmo isso. Os que não se sabem defender. E que ainda são muitos...