domingo, 18 de abril de 2010

Me, me, me...

Quando, por qualquer motivo, nos zangamos com um amigo, ou com uma amiga, daqueles mesmo queridos e próximos, sentimos o coração apertado e na cabeça uma voz que repete, exaustivamente, tudo o que ao longo dos anos fizemos por ele, ou por ela. Os momentos em que esse amigo ou amiga beneficiou do privilégio da nossa amizade passam-nos em modo contínuo pelo cérebro, over and over again. Ingrato, nem sabe a sorte que tem tido! é uma das possíveis frases que no meio de tantas outras nos perseguem até a crise, naturalmente, se desvanecer.
Raramente, quase nunca, bem…nunca, os nossos pensamentos se debruçam sobre os momentos em que directa ou indirectamente beneficiámos dessa amizade. Nunca, porque o momento em que isso começa a acontecer é o mesmo em que a zanga se começa a esvair.
Quando atravessamos na vida fases de assoberbamento de tarefas, afazeres ou prazos para cumprir, raramente pensamos nos afazeres, nas tarefas ou prazos para cumprir, dos outros, por muito queridos que eles nos sejam, quer-se lá saber! os nossos prazos são, sem sombra de dúvida, muito mais apertados; as nossas urgências muito mais prementes, ainda que a razão nos diga que se calhar não, mas isso não interessa para nada, o coração é que sente e ele está chateado e pronto.
Tudo isto é a prova provada da gigantesca dificuldade que temos, todos nós, de nos colocarmos na posição do outro. Isso é tudo muito bonito mas é quando a vida do outro está complicada mas a nossa flui, calma e pacificamente, sem stresses ou dissabores. Aí sim, somos capazes de nos encher de compreensão, altruísmo e boa vizinhança. Agora se não for esse o caso, temos pena mas o meu é sempre sempre, mais urgente do que o teu… a minha desgraça é sempre sempre muito maior do que a tua e o meu azar!... Desse nem se fala.
Já alguma vez vos aconteceu perceberem de repente, a meio de uma conversa, que fazem parte de um concurso em que o vencedor é aquele que mais sofre? aquele que tem mais dores, e mais graves; aquele que mais desgraças tem para contar?! Ridículo, não é?

2 comentários:

Sputnick disse...

Nunca vi a coisa por esse prisma, mas és capaz de ter razão. Olha, as tortas e os ésses, estavam uma delícia, tens de lá ir :)

Goldfish disse...

Nada como terminar essas conversas com umas boas gargalhadas. Mais do que percebermos a nossa própria idiotice, sermos capazes de nos rirmos dela!