Há momentos em que nada me satisfaz. Nem o que faço, nem o que leio, nem o que sinto ou vejo ou fico a saber. Nada. É como se sofresse de uma insaciável sede de qualquer coisa que desconheço – de tudo e de nada. E se o tudo é inatingível, nada existe, e eu vivo no nada, “no nada que é tudo”.
São esses os momentos em que mais proveito tiro do facto de por cá andar.
São esses os momentos em que mais proveito tiro do facto de por cá andar.
Há outros em que desejo tudo o que existe. E mais do que desejar, acredito que tudo é alcançável, tratando-se apenas de uma questão de tempo. Nesses momentos irrito-me com tudo aquilo que se atravesse no meu caminho, mesmo que esse caminho exista apenas na minha cabeça. Irrito-me com qualquer percalço que me atrase ou me iniba de fazer ou chegar seja onde for. É um sentimento odioso esse tipo de irritação. Dá-me suores e ansiedades. Coloca-me demasiado próximo do medo. Faço sempre os possíveis por o evitar ou, quando sou por ele apanhada, por fugir a sete pés.
Depois há os intermédios, que não são carne nem peixe mas passagens, meras passagens, entre uns e outros. Aqueles em que ando quase adormecida, inebriada por afazeres que a mim mesma impus ao enredar-me na vida da forma que o fiz. Aqueles em que, precisamente, pareço mais desperta. Aqueles em que sou verdadeiramente eficiente e capaz. Aqueles em que o meu cérebro comanda, tão perfeitamente quanto pode, a minha voz, os meus braços, os meus olhos, as minhas mãos e, às vezes, as minhas pernas. Aqueles em que ponho à prova aquilo que penso ser. Aqueles em que os outros vêem aquilo que querem ver.
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