Estou convicta que um dos legados dos Árabes é este desporto – o Lamento. Mesmo sem muro, é um desporto apreciado especialmente pelos mais idosos. Consiste em dar relevo ao lado negativo de todas as coisas e depois desenrolar o novelo das desgraças por que passaram, passam e passarão. Não, não inventam!, estão agendadas. Por exemplo: dia tantos do tal têm de estar às tantas horas em tal sítio – uma chatice! um transtorno!; o médico manda fazer um batalhão de exames todos os seis meses - outra chatice! outro transtorno!; as formigas já chegaram à varanda e pouco falta para entrarem pela casa adentro - uma desgraça!...
Ganha quem tiver o novelo maior. E ganha o quê? Compaixão, atenção?, penso que não. Ganha importância. Ganha visibilidade. Confere, perante ele próprio e perante os outros, o facto de ser uma pessoa atarefada, como manda a lei. Qual lei, perguntam vocês?, pois não sei. Provavelmente a lei que maldiz o ócio e o descanso, e promove o sacrifício e a penitência. Aquela lei que foi inventada pelos verdadeiramente ociosos quando se aperceberam que era preciso que alguém trabalhasse. Ou aquela outra que dá relevo aos desgraçadinhos. Também pode ser essa. Aquela que diz, em todas as religiões, que será deles o reino dos céus. Então, no caso de até se viver mais ou menos, dramatiza-se a coisa não vá Deus, Alá ou o Universo, acreditar que somos menos do que outros, tipo os africanos ou coisa assim...
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