Era um diabo o estupor do puto. Montado num cavalo de pau passava por cima de toda a cepa e de vassoura em punho distribuía espadeiradas a torto e a direito. Ai de quem se lhe atravessasse no caminho!
Um dia quis por força almoçar lá em casa. Lembro-me de ver a minha mãe a limpar o tecto de onde pendiam fios de esparguete.
Mas amava-nos o sacaninha. Não passava um dia que não aparecesse aos murros à porta a gritar pela minha mãe – XANINHA! XANINHA! ABRE A PORTA XANINHA!
De nada servia que a mãe corresse atrás dele, e não me lembro que o fizesse amiúde, o puto era escorregadio. Só se acalmava quando íamos lá para baixo, para o quintal do prédio, mexer na terra e brincar às pontes sobre o Tejo. Um dia encontrámos um fio de ouro. Nunca se soube de quem era.
Só esta semana é que voltei a ver unhas negras como aquelas que ele levava do quintal. Mas não tenho a certeza que fosse terra. Penso que o mais provável era ser outra coisa qualquer. São raros, já, os putos que escavam na terra ou sobem às árvores. Agora são especialistas em condução em pista, armas de fogo e viagens intergalácticas, nos jogos de computador.
2 comentários:
E tanto que perdem...
e ficam doentinhos, e com tendinites, e com a vista torta, e.....
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