quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Portugal e o fim da recessão. A morte e a importância da vida. O NADA de Fernando Pessoa

 
A France-Press avançou hoje a notícia de que Portugal saiu da recessão. Segundo esta, com um PIB de 0,2, e depois da última avaliação da troika, Portugal entrou num novo ciclo – um ciclo de progresso, digo eu, porque se não andamos para trás, ou ficamos no mesmo lugar ou andamos para a frente e ficar no mesmo lugar não é muito diferente de andar para trás, por isso, se saímos da recessão é porque demos início a uma marcha qualquer. Para onde, não faço ideia mas também não é essa a questão.
 
A questão é o efeito que estas notícias têm em cada um de nós. Saber que Portugal saiu da recessão pode, para os mais crentes, ser uma forma de ele sair mesmo e, ainda que isso possa levar algum tempo a concretizar-se no quotidiano de cada um – especialmente dos desempregados e de todos aqueles cujos salários foram trucidados -, espalhando-se, a notícia ver-se-á nos semblantes dos mais carrancudos – se forem crentes, evidentemente -, o que poderá levar a um novo espírito de sacrífico, de trabalho e de progresso.
 
Se tudo isto tem importância, não faço ideia. Para aqueles mais pessimistas que veem nos dias de hoje catástrofes de todas as espécies – daquelas mesmo grandes, capazes de nos extinguir em três tempos -, a notícia será mais um motivo de risada e, acima de tudo, mais uma prova de que somos manipulados e manipuláveis. Para os outros, será um respirar fundo, uma crença renovada que trará mais vontade de andar para a frente e de fazer com que a extinção se atrase, de fazer com que a vida, enquanto existe, seja uma realidade.
 
É claro que da forma como as coisas têm andado e sendo nós vítimas de tanta aldrabice, torna-se difícil aquele acreditar acreditar, pelo que a crença vem mais da vontade de…do que da fonte. Isto para dizer que, com o objetivo de deixar aqui um link para a tão afamada notícia, procurei procurei e, na France-Press, nada encontrei. Juro, no entanto, que foi essa a fonte citada no noticiário da RTP. Contudo, se se visitar o site desta cadeia de televisão, encontrar-se-á uma outra fonte – o INE. As ilações ficam por conta de cada um.
 
Não me vou embora, no entanto, sem referir uma crónica publicada na Revista do “Expresso” do passado dia 2. Nessa crónica, José Tolentino Mendonça fala-nos da necessidade de aprender a morrer e diz, em determinado momento:
 
“A morte pode representar no itinerário pessoal, e nos nossos caminhos entrecruzados e comuns, a oportunidade para olharmos a vida mais profundamente. A vida não é só este tráfico de verbos ativos, esta marcha emparedada e sonâmbula, este vogar entre deve e haver, esta contabilidade no lugar da metafísica. A vida não é só isto. A morte amplia-a. Revela-lhe um fundo que não vemos.”
 
Nada disto, que aqui acabei de referir, nos livra de duas responsabilidades primordiais: a de sermos felizes e a de transmitir esse legado aos nossos descendentes. Tudo o mais, como diria o grande Pessoa, é NADA.
 

1 comentário:

Majo disse...

A informação sobre Portugal, quer interna, quer externa; é o exemplo perfeito da aplicação das "DEZ REGRAS DE MANIPULAÇÃO MEDIÁIICA", denunciadas por Noam Chomsky e bastante divulgadas pela comunicação social, como se pode verificar na NET.

Ainda não passámos pelo pior...

Para a maioria dos portugueses está difícil ser feliz e não há ânimo para transmitir nada que não seja, esperança, pois esta é última a morrer.

Não estou de acordo com o egocentrismo de Ricardo Reis e penso que a Antígona também não, já que não nos calamos.

Beijinhos...

Com muita simpatia.