Passei hoje pela tua antiga casa
tiazinha. Aquela onde viveste durante mais de cinquenta anos a despeito da
vontade do senhorio. Aquela onde lutaste contra o tempo. Aquela onde
acabaste por vencer tantas adversidades mal sabendo que a maior estava para
vir.
Passei hoje pela tua antiga casa
tiazinha. Mudaram-lhe a porta e as janelas. Agora são brancas, daquele material
novo e frigorificamente branco que em nada condiz com a rusticidade da casa.
O pequeno limoeiro que se deixava
cair pelo peso dos limões já não existe. Aquele pequeno jardim cuja cancela nos
separava da estrada cada vez mais barulhenta, já lá não está. Agora quem passa
no passeio roça essa outra porta de um branco despropositado, violando a
intimidade de quem a habitou.
Vieram-me à memória os degraus de
madeira, a porta de postigo, o quintal das traseiras. O cheiro do soalho, lustroso de tantos cuidados. Os móveis nórdicos da Helina. A carpete
do corredor. Aquela casa de banho onde facilmente nos perdíamos. A banheira de
pés altos. O lava loiça de mármore, o fogão em cima da chaminé.
E pensei que gostava de voltar a
entrar nessa casa. Não nesta, de porta e janelas despropositadamente brancas,
mas nessa outra onde também eu fui crescendo. Pensei que talvez o proprietário
estivesse à espera da tua morte para que esse despropositado branco não te
ofendesse. E pensei que talvez a Helina quisesse lá entrar, comigo, só para
bisbilhotar, para ver até que ponto as coisas mudam. E foi então que me lembrei
que ela partiu ainda antes de ti tiazinha e que foi essa a tua maior provação,
aquela que nunca conseguiste ultrapassar.
4 comentários:
Vi. Li. Gostei... te sigo... me segues tmb
~~~
~~ Memórias para sempre...
~~~ Grande abraço, AC. ~~~
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A tia Gabriela está à janela? E contigo?
Não Isabel :) A Tia Gabriela está com a avó em baixo. À janela está a minha mãe com o meu irmão :)
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