sexta-feira, 22 de abril de 2011

Do Medo

Quand je me jette dans la vie

C’est la peur qui m’emmène

La peur du noir, de la pluie

La peur du monde, de moi-même



C’este la peur que je combats

Tous les jours sans m’arrêter

Car c’est elle qui m’enlace

À la peur je dois parler



Pour lui dire que c’est urgent

De s’en aller tout de suite

Pour lui dire que j’ai besoin

De laisser la vie infinie



Ah ! Ma chère, elle me dit

Sans moi tu serrais rien

Tu n’aurais pas grandit

Tu ferais pas ton chemin.



Estes fracos e toscos versos foram escritos há muito muito tempo e traduzem, com simplicidade, a dualidade do Medo.

Não me lembro de sentir medo até aos nove anos, mas lembro-me dos cuidados da minha mãe, da sua preocupação constante e dos seus medos. E o medo é como outra coisa qualquer - pega-se.

Aos nove anos mudei de casa e de lugar e o medo tomou conta de mim. A minha maior preocupação, desde que me levantava até que adormecia, era combatê-lo. Caso contrário ver-me-ia incapaz de dar dois passos fora de casa - todos os perigos do mundo me espreitavam em cada esquina; ou mesmo de adormecer - o silvo do vento e do mar que se esgueirava violentamente por entre as frinchas da janela faziam-me crer que habitava no pior dos infernos e que em qualquer momento uma criatura horrenda irromperia quarto adentro, sem pedir licença e sem, pior ainda, abrir a janela - na minha imaginação os vidros já estavam partidos e a janela aberta de par em par. Lembro-me que o meu irmão, uns anos mais novo do que eu, dormia de cabeça tapada. Nunca consegui. Faltava-me o ar.

Mas, se por um lado o medo nos restringe, por outro protege-nos, diz-se. Eu sinceramente não me recordo desta enorme vantagem! Pelo contrário, sempre senti que o tempo que era obrigada a despender no combate ao dito poderia muito bem ser aproveitado para algo verdadeiramente gratificante e enriquecedor.

Ora nós não nascemos com medo. Uma criança não tem medo de nada. Porque não tem consciência, dir-me-ão vocês, não conhece os perigos. E como não os conhece a gente mostra-lhos e impinge-lhes os nossos medos.  Pois…mas afinal o medo vem da consciência ou do instinto de sobrevivência? É que, ao que parece, esse nasce connosco… Ou será que nem uma coisa nem outra nos faria realmente falta se nascêssemos num mundo diferente? Num mundo sem perigos, por exemplo…Se não existissem perigos, o medo não teria razão para existir também.

Então e se o vice versa também fosse verdade? - Se não existissem medos, os perigos não teriam razão para existir também. E se forem os medos a gerar os perigos?

É que a questão é esta – até que ponto é que o cabrão do medo nos corta as asas?! Até onde voaríamos sem ele?

Já pensaram que se não voamos até ao Sol é só porque alguém nos disse que foi lá que o Ícaro se queimou?! E se as nossas asas forem à prova de fogo? Hem?!

1 comentário:

Anónimo disse...

Amei o post, viajei... E se forem a prova de fogo, hem? Só aposta quem tem fichas. Só vamos saber se tentarmos.