sábado, 16 de abril de 2011

Todos iguais. Todos diferentes.

A consciência é insuficiente para se avaliar seja o que for. Eu posso saber, e sei, que determinado fenómeno se processa desta ou daquela maneira e acredito até que sou capaz de o imaginar. Mas quando, por um qualquer motivo, a minha vida se cruza com ele e sou obrigada a movimentar-me no éter que é a sua atmosfera, caio em mim e sei que a distância que medeia o que eu julgava conhecer e o que eu verdadeiramente conheço é imensa, transreal e transformadora de sábios em ignorantes.

Que todos somos diferentes, já se sabe. Mas sabe-se com a certeza das pequenas diferenças porque lá no fundo o que queremos mesmo é ser iguais, e dizemo-lo – todos diferentes, todos iguais. Esta igualdade que reclamamos e que nos faz sentir em casa, entre os nossos, entre a gente que todos somos, ilude-nos relativamente às diferenças que nos separam e que são, tantas vezes, imensas, transreais! Tão imensas e transreais quanto aquelas que separam, não os planetas, não as galáxias, mas os universos.

E, de vez em quando, dou por mim em frente de um outro sem fazer a mínima ideia do que estou a ver ou a ouvir. Dou por mim como “um burro a olhar para um palácio”, temendo que um qualquer fenómeno me tenha transportado para um estranho universo sem que disso me tenha apercebido. De vez em quando, dou por mim na quinta dimensão.

Oiço o que tem para me dizer mas é como se estivesse a falar numa língua por inventar, o que é muito pior do que uma língua estrangeira que embora não entenda sei que existe. Compreendo-lhe as palavras, conheço-as até, mas a utilização que delas faz é-me completamente desconhecida – um outro mundo, uma outra realidade! Tento seguir-lhe os pensamentos e chego mesmo a pôr em causa as minhas capacidades, em vão! Tudo em vão! É então que tento o contrário – expor-lhe as minhas razões, dar-lhe a conhecer o que penso – em vão! Estou até convicta que me é mais fácil comunicar com um animal doméstico do que com certas pessoas. Não são mundos diferentes – é todo um universo de diferenças, de ambiguidades.

Quando tal acontece falha-me a razão. Não a razão que se encontra do lado de quem a tem, mas a razão que está ligada ao raciocínio – falha-me, e em sua substituição, e em meu socorro, vem a sensibilidade. Quando houver dúvidas sobre o momento em que tal acontece basta registar aquele em que deixo de pensar e passo a sentir aversão; raiva; ódio; desprezo…enfim, toda uma panóplia de sentimentos comuns que despertam em situações de pânico e desorientação.

Só muito mais tarde, quando a poeira assenta e me resgato de mim, é que volto a ser capaz de avaliar o fenómeno e concluir que as distâncias entre certos “nós” são bem maiores do que aquelas que teimamos em propagandear. Maiores do que aquelas com que somos capazes de viver, porque ainda não crescemos o suficiente para existir cada um por si e é também por isso que não nos entendemos – porque o todo só pode funcionar quando cada uma das partes for inteira, verdadeiramente única. Quando deixarmos de nos procurar no outro. Quando deixarmos de precisar dele como sustento. Quando a valia das nossas crenças não depender do derrube das crenças alheias. Quando a nossa integridade deixar de depender da “desintegridade” do outro. Quando o nosso equilíbrio não balançar naquele do próximo. Quando nos bastarmos e afastarmos de nós a necessidade insana do constante e eterno confronto, da eterna e constante comparação. Quando assumirmos, de uma vez, tudo aquilo que nos separa.



2 comentários:

Sputnick disse...

Embora as nossas diferenças sejam enormes, visíveis e palpáveis lol, identifico-me com este texto.

CF disse...

Ui Antígona, profundo o texto. E muito real... Julgo ser o estado de evolução puro o que referes, e onde muito poucos chegam. O caminho, segundo consto, nem me parece fácil. Receio até, que a grande maioria nem lá chegue, e se fique algures pela metade. Nós, em Psicologia, chamamos a esse estado final o ser-se Pessoa. Toma sorrisos :) E que se ainda não chegas-te lá, que chegues depressa. Diz-se que é algo de bom.