A moeda surgiu na Idade Antiga para facilitar as trocas de produtos já que por vezes vendedor e comprador não estavam de acordo quanto aos valores das respectivas mercadorias. Ela podia, e pode, ser qualquer coisa: conchas; sal; bois; facas; discos de pedra; metais… desde que todos estivessem, estejam, de acordo em relação ao seu valor.
Quanto ao significado muito se tem dito por aí, mas uma coisa é certa – tratando-se de uma invenção do Homem ele pode ser fabricado, reinventado, transformado... O problema reside nas regras que ao longo dos tempos foram envolvendo esta nossa invenção.
Eu pouco ou nada percebo de economia mas recordo-me de ter aprendido há alguns anos que a emissão de moeda estava directamente relacionada com a produção de cada país.
Em determinado momento, que não sei precisar mas que suponho esteja relacionado com a emissão de uma moeda única e com este sonho de uma economia global em que cada país deixa de ser um produtor de bens para passar a desempenhar um determinado papel no conjunto da união a que pertence, sendo que esse papel pode ou não ser o de produtor, a coisa mudou. A emissão de moeda deixou de estar directa, e simplisticamente, relacionada com a produção de bens para se relacionar com os mercados – esses quase-enigmas que lembram os deuses da Antiguidade Clássica – cruéis, impiedosos, habitantes de um Olimpo distante, absolutamente inatingível para os pobres mortais que somos todos nós.
Contudo, apesar de ter mudado, parece-me a mim que a filosofia subjacente se mantém. Isto é, aquilo a que se atribui valor continua a estar relacionado com a produção de bens, sendo que o conceito de bem não se alterou. Não se considera, por exemplo, um bem, um produto exclusivamente cultural, ou um serviço prestado aos cidadãos sem retorno financeiro. As contas continuam a ser feitas com o “deve” e o “haver” por base, a relação custo/benefício sendo que só se considera benefício o lucro financeiro – um bem ou um serviço pode ou não ser rentável e para um governo prestar um serviço não-rentável terá de cobrar impostos porque ele tem de ser pago de alguma maneira.
Mas porque é que não se considera que o facto de, por exemplo, haver médicos que tratam prontamente as pessoas evitando males piores, é um valor? Um valor contável, evidentemente. Porque é que não se contabiliza, por exemplo, o avanço humano que um projecto cultural pode proporcionar a quem dele desfruta? E, a partir destes novos braços do conceito de lucro, não se emite moeda e não se acaba com este disparate? Por exemplo…
E estava eu nestes preparos e o La Féria a desfiar o Fado pelo palco do Casino, o do Estoril.
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